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6 ANÁLISE DOS DADOS

6.1 Caracterização dos participantes

6.1.5 Cursos realizados

Gráfico 5: Quantidade de cursos que os participantes concluíram.

Fonte: elaboração da autora.

A quantidade de cursos que participaram os jovens deste estudo em sua maioria fizeram entre 1 a 3 cursos (10 pessoas), seguido por 4 a 6 cursos (8 pessoas) e de 7 a 9 cursos (2 pessoas). Dos cursos que os jovens participaram, o de Operador de Computador foi o mais citado, seguido por auxiliar administrativo, ambos são do PRONATEC/BSM. Os outros três cursos mais citados e que ficaram empatados no relato dos participantes foram: confeccionador de calçados (PRONATEC/BSM), informática básica e soldador (PRONATEC/BSM).

10 8 2 0 2 4 6 8 10 12

1 a 3 cursos 4 a 6 cursos 7 a 9 cursos

CURSOS REALIZADOS

1 a 3 cursos 4 a 6 cursos 7 a 9 cursos

Quando foi perguntado aos alunos os motivos de fazerem cursos de eixos tecnológicos diferentes a resposta de todos foi unânime: eles não podem ficar parados porque o mercado de trabalho exige uma qualificação profissional. Oliveira (2011, p. 52) afirma que os jovens pobres sofrem com o atual cenário econômico:

[...] seu sofrimento é resultado de sua intrínseca situação de jovem inexperiente; da sua falta de formação escolar adequada para atender às necessidades do mercado e, finalmente, da falta de incentivos em políticas de geração de empregos especificamente focada em seu grupo.

Tal fato pode explicar a participação em tantos cursos de eixos diferentes. Oliveira (2011) afirma ainda que os jovens pobres que participam de muitos cursos extracurriculares não percebem a existência de uma limitação nos cursos em relação à exigência do mercado de trabalho e que, sem ter alternativa acabam por participar de qualquer curso acerca de qualquer assunto, mesmo que não seja útil para a atividade profissional futura. Explica a autora que os jovens com currículos tão recheados acreditam ser possível serem absorvidos pelo mercado de trabalho, ainda que eles não aproveitem o conteúdo estudado. Apesar do aumento dos anos de escolaridade da classe trabalhadora, Costa (2015b) explica que o desemprego ainda persiste, assim como a pobreza e o subemprego. A educação é, segundo a autora, percebida como uma solução para essas situações que criam a ideia da mudança nas condições de vida por meio do trabalho.

Segundo Lipovetsky (2004), vive-se em uma sociedade liberal e fanática pelo desempenho, caracterizada pela fluidez, movimento e flexibilidade ancorada, no mercado, na eficiência técnica e no indivíduo. O autor explica que a sociedade atual valoriza o desempenho, onde todos devem ser operacionais e superativos em diferentes âmbitos da vida. O objetivo desse esforço seria elevar ao máximo os potenciais dos indivíduos como beleza, forma, saúde e sexualidade. Para chegar a tanto, Lipovetsky (2007) diz ainda que é necessário que se atinja o topo, ser competitivos, assumir riscos para que se possa alcançar a excelência e o sucesso. Na emergência de atender essas necessidades, os jovens participantes deste estudo buscaram fazer quaisquer cursos de qualificação para conseguirem um trabalho. E não importava qual era o trabalho, o importante era ter um. Eles acreditam que com a qualificação profissional poderiam sair da condição a qual se encontram.

No trabalho desenvolvido por esta pesquisadora durante um ano (2012- 2013) no município de Sobral como psicóloga do ACESSUAS Trabalho, programa que executava o PRONATEC/BSM era nítido, durante as pré-matrículas, essa realidade dos alunos. No processo de pré-matrícula que era efetuado pelo demandante, os jovens queriam saber quais cursos tinham vagas, eles nem sequer perguntavam sobre a programação dos cursos, mesmo ela sendo disponibilizada no momento da pré-matrícula. A programação era apresentada aos alunos, mas eles pouco se interessam por ela a não ser quando incluía disciplinas como matemática ou geometria. Como a maioria dos cursos não possuía essas disciplinas, eles costumavam se inscrever nos cursos, mesmo que eles não estivessem relacionados aos anseios e desejos de ter uma profissão.

Como visto anteriormente, na seção que descreve os pontos positivos e negativos do PRONATEC, dentre eles encontra-se a rapidez com que as matrículas deveriam ser efetivadas e, do mesmo modo, o início dos cursos. Como psicóloga, esta pesquisadora tinha acesso ao SISTEC, sistema responsável por realizar a pré- matrícula para o demandante e a matrícula para a instituição ofertante. As vagas do PRONATEC/BSM poderiam ser compartilhas com outras instituições demandantes do município de Sobral como o Tribunal de Justiça, Secretaria de Educação entre outros. Quando as vagas dos cursos pactuados com as instituições ofertantes abriam no sistema, era necessário correr para realizar a mobilização e fazer a pré- matrícula no sistema antes que outros demandantes fizessem o mesmo e as vagas disponibilizadas acabassem. Por vezes parte das vagas dos cursos era perdida e, por vezes, também se conseguia pegar cursos inteiros de vagas compartilhadas.

Ao descrever esses fatores da experiência com o programa, tenta-se demonstrar que a realidade para os jovens que se matriculavam nos cursos era bastante atípica. Um dos fatores que os faziam desejar se matricular em qualquer curso advém dessa dificuldade também de ter vagas e o fato de elas acabarem muito rapidamente.

Gráfico 6: Quantidade de cursos realizados por instituição.

Fonte: Elaboração da autora.

Acerca dos locais onde os jovens fizeram os cursos de qualificação se sobressaiu as instituições públicas, com 27 (vinte e sete) e as privadas, com 14 (catorze). Dos cursos citados, dos 27 das instituições públicas somente 4 (quatro) não eram do PRONATEC/BSM, totalizando 23 cursos do PRONATEC/BSM que os jovens participaram.

O Sistema “S” oferece cursos gratuitos para a população. O Programa SENAC de Gratuidade existe desde julho de 2008, por meio do Decreto nº 6.633/08 e tem por objetivo ampliar o atendimento do gratuito do SENAC (SENAC, 2016). Este programa destina-se a pessoas de baixa renda (per capita de até 2 salários mínimos), que sejam alunos matriculados ou egressos da educação básica, trabalhadores empregados e ou desempregados, priorizando aluno e trabalhador no momento da escolha das vagas (SENAC, 2016). O SENAI também possui o programa de gratuidade, instituído pelo Decreto nº 6.635/08. Os cursos são ofertados para pessoas de baixa renda, preferencialmente trabalhadores empregados ou desempregados, matriculados ou que tenham concluído a educação básica.

A situação de baixa renda é atestada mediante autodeclaração do futuro participante do curso (BRASIL, 2008). Os programas do SENAC e SENAI são procurados pelos alunos de baixa renda quando eles não podem pagar um curso em instituição particular, segundo os jovens pesquisados. Quando não há cursos

27 14 0 5 10 15 20 25 30 INSTITUIÇÕES PÚBLICAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS

gratuitos, seja do PRONATEC/BSM, ou de programas de gratuidade, os jovens buscam cursos em instituições privadas e consideram que não podem ficar sem fazê-los como uma forma de conseguir algum emprego.