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2. O LUGAR CIENTÍFICO DO PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE PARA A

2.4 CUSTÓDIA E JURISDIÇÃO ARQUIVÍSTICA

Entendemos que o Princípio da Territorialidade está diretamente ligado à compreensão do conceito de custódia, por sua vez relacionada à responsabilidade sobre os documentos. Para Jenkinson (1965, p. 11, tradução nossa), um arquivo só possui qualidade como tal se for possível provar uma “imaculada linha de custodiadores responsáveis”. Em sua definição de arquivos, o autor diz que os documentos só pertencem à classe dos arquivos se forem “subsequentemente preservados em sua própria custódia pela sua própria informação, pela pessoa ou pessoas responsáveis por essa transação e seus legítimos sucessores” (JENKINSON, 1965, p. 11, tradução nossa).

Segundo o Dicionário de Terminologia Arquivística de Camargo e Bellotto (1996, p. 21, grifos nossos), temos: “Custódia: responsabilidade jurídica, temporária ou definitiva, de guarda e proteção de documentos dos quais não se detém a propriedade”. Já para Cruz Mundet, em seu Diccionario de Archivística, custódia é:

1. Responsabilidade sobre o cuidado dos documentos que estão em sua posse física e que nem sempre implica em propriedade jurídica, nem no direito a controlar o acesso aos documentos (ISADG). 2. Pessoa ou unidade administrativa que tem a posse e a guarda dos documentos. (CRUZ MUNDET, 2011, p. 131, tradução e grifos nossos).

Outra obra que deve ser destacada é o Glossary of archival and records terminology, de autoria de Pearce-Moses (2005) e publicado pela Society of American Archivists (SAA). De acordo com Silva (2016, p. 42), “os verbetes se baseiam principalmente na literatura arquivística dos Estados Unidos e do Canadá, e o Glossary também é disponibilizado pelo site da entidade”. No referido glossário, o termo “custódia” é descrito como “Cuidado e controle,

especialmente para a segurança e preservação; guarda. Custódia não implica necessariamente título legal sobre os materiais” (PEARCE-MOSES, 2005, p. 101, tradução nossa).

No dicionário de terminologia arquivística do Conselho Internacional de Arquivos (ICA), denominado Multilingual Archival Terminology (2018), o termo “custódia” pode ser pesquisado em cinco línguas diferentes: português, inglês, francês, espanhol e italiano. Em português, é definido como “responsabilidade pela tutela de documentos arquivísticos, que consiste na sua posse física, e não necessariamente em sua posse legal”. Já na língua inglesa, o termo custody é descrito como “1. a responsabilidade pelo cuidado de documentos com base em sua posse física. A custódia nem sempre inclui a posse legal ou o direito de controlar o acesso aos registros. 2. A localização física dos documentos ou arquivos” (CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2018, tradução e grifo nosso).

Em francês, o glossário não define o termo garde, mas, quando inserimos essa palavra no campo de busca, o resultado apresentado é o termo dépositaire, assim definido: “pessoa a quem é dado um depósito ou é confiada a custódia de bens” (CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2018, tradução nossa). Em espanhol, custodia é definida como:

1. A responsabilidade básica pela tutela dos documentos de arquivo ou arquivos, baseada na posse física deles sem que necessariamente implique um título legal. 2. O controle físico e legal sobre a existência, autenticidade, localização e acessibilidade dos documentos de arquivo. (CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2018, tradução e grifo nossos).

Por fim, na língua italiana, a busca pelo termo custodia retorna o seguinte significado: “A responsabilidade substancial da proteção dos arquivos atuais ou históricos que se baseia na disponibilidade de fato de sua posse material, mas que não implica necessariamente um título legal” (CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2018, tradução e grifo nossos).

Como é possível notar, o termo “custódia” está diretamente ligado à responsabilidade sobre os documentos. No dicionário do ICA, observamos que, em português, inglês, espanhol e italiano, o termo “responsabilidade” relaciona-se à “custódia”. Destacamos, como é demonstrado pelas definições, que essa responsabilidade é material, mas, nem sempre, legal.

O próprio significado de contencioso arquivístico, também objeto de nosso estudo, passa pelo entendimento do que venha a ser custódia. Segundo o DBTA (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 54, grifos nossos), “contencioso arquivístico: litígio quanto à propriedade, à custódia

legal e ao acesso a arquivos”. Ainda de acordo com esse dicionário, custódia significa:

“responsabilidade jurídica de guarda e proteção de arquivos, independentemente de vínculo de propriedade” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 62, grifos nossos). É importante destacar que, para o referido dicionário, custódia tem um significado diferente de propriedade, uma vez

que esta última tem seu sentido mais ligado ao pertencimento, ao direito legal de possuir um bem e de, consequentemente, reavê-lo do poder de quem ilegalmente o possua. Já a custódia, reafirmamos, não implica necessariamente propriedade ou posse por direito.

Relacionado ao conceito de custódia – ligado à responsabilidade sobre os documentos – está o de jurisdição arquivística, vinculado à competência sobre eles. De acordo com o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (DBTA) (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 111, grifo nosso), a jurisdição arquivística é a “competência de arquivos sobre a produção, tramitação, entrada de documentos, avaliação, eliminação, preservação e/ou acesso, definida por leis ou regulamentos”. Já para Camargo e Bellotto (1996, p. 46, grifo nosso), jurisdição arquivística é a “competência legalmente atribuída a uma instituição quanto à entrada, custódia, propriedade, transferência, eliminação e recolhimento de arquivos”.

Outra definição que merece destaque, e está ligada à jurisdição, é a de “domicílio legal do documento”, a qual, segundo Camargo e Bellotto (1996, p. 32), “é a jurisdição a que pertence cada documento, de acordo com a área territorial, a esfera de poder e o âmbito administrativo onde foi produzido e recebido”.

É importante lembrarmos ainda que uma das definições de “arquivo” do DBTA é a de “instituição ou serviço que tem por finalidade a custódia, o processamento técnico, a conservação e o acesso a documentos” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 27, grifos nossos). São esses serviços que têm a competência e a responsabilidade sobre a preservação dos documentos.

Desse modo, o Princípio da Territorialidade transita entre a definição de “arquivo” como fundo, do DBTA: “conjunto de documentos de uma mesma proveniência” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 97), ou seja, conjunto de documentos produzidos e acumulados em razão das atividades de pessoas físicas, jurídicas, públicas e privadas; e também a definição de “arquivo” como instituição ou serviço, que diz respeito à responsabilidade sobre a custódia. Por isso, entendemos que o Princípio da Territorialidade perpassa essas duas perspectivas, já que ele está relacionado ao contexto de produção, acumulação e custódia.

Em nosso estudo, as definições de custódia e jurisdição arquivística estão ligadas diretamente aos contenciosos arquivísticos e, como consequência, à aplicação do Princípio da Territorialidade na solução desses. Como pode ser observado, a custódia não significa necessariamente propriedade intelectual, que está muito mais relacionada ao conceito de jurisdição arquivística.