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Custo de produção de semente de soja em Rondonópolis (RNP) – Segunda fase

5 Panorama setorial no Brasil

6.3 Custo de produção de semente de soja em Rondonópolis (RNP) – Segunda fase

soja com o objetivo de produzir semente para comercialização. A região mais importante do Estado do Mato Grosso nesta produção é a de Rondonópolis, onde fica a sede da Associação dos Produtores de Semente de Mato Grosso (APROSMAT).

No geral, a produção de soja para semente exige maiores cuidados do que a soja em que o objetivo será a comercialização do grão. Assim, O custo de produção de semente de soja é superior ao de grão devido ao rigoroso processo de tratamento e controle realizado na multiplicação da semente.

Para computar os custo de produção da soja por hectare considerou-se uma produtividade média de 2.100 kg/ha, tomando como base a região do alto da Serra da Petrovina, região próxima a Rondonópolis. A menor produtividade de áreas para multiplicação de semente em relação a produção de grão, deve-se a forte estiagem que ocorreu na região considerada, que prejudicou o desenvolvimento vegetativo das lavouras tardias.

Para comparação dos custos agrícolas totais para a multiplicação de semente e para a produção de soja grão, na Tabela 7 consta a descrição dos valores de cada item do custo para ambas as operações. Em termos gerais, observa-se que o COT para produção de semente ficou 7,8% superior ao COT para grão. Para compreender essa diferença, analisar-se-á os subgrupos do custo de produção da multiplicação da semente.

Analisando o item de insumos, observa-se que os adubos e corretivos participam com 25% no custo total, mas cujo valor monetário é cerca de 29,7% superior à produção de grão. O maior gasto com fertilizantes e corretivos na multiplicação de semente em relação a produção de grãos, deve-se a aplicação de 100 kg de Cloreto de Potássio, o que não foi observado na produção de grão.

No subgrupo do inseticida tem-se um gasto de 70,7% a mais na multiplicação de sementes em relação à produção de grão. A produção de semente requer maior cuidado no controle de pragas, assim foram aplicados dois produtos químicos a mais em relação à produção de grão na região de RNP. A preocupação dos sementeiros no controle de pragas transmissores de vírus na semente é superior aos produtores de soja para indústria, pois um lote com maior ataque da praga pode comprometer a qualidade do produto e diminuir o aproveitamento da produção para semente, elevando o custo da saca do produto final.

No gasto com a semente, nota-se que a produção para multiplicação de semente possui um custo que representa 84% do gasto obtido na produção de soja grão. O menor gasto decorre do menor custo de aquisição, assim como da menor quantidade de semente utilizada. Na pesquisa realizada, considerou-se 60 kg de semente por hectare ao preço de R$1,50/kg para produção de grão e 55 kg/ha ao preço de R$1,38/kg, para multiplicação de semente.

Tabela 7. Custo de produção de semente de soja nas regiões de Rondonópolis – safra 2004/05 – levantamento em mai/05

Descrição Grãos Sementes

Produtividade agrícola (kg/há) 2.400,00 2.100,00 Produtividade liquida (kg/há) 2.344,80 2.075,85 Sistema de plantio Direto Direto Tipo de colheita Mecânica Mecânica

R$/ha Part. R$/ha Part.

Item de custo Insumos Semente de milheto 6,25 0,4% 6,25 0,4% Adubos e corretivos 311,40 20,8% 403,78 25,0% Herbicidas 149,50 10,0% 149,50 9,2% Inseticidas 43,19 2,9% 73,73 4,6% Fungicidas 137,50 9,2% 137,50 8,5% Semente de soja 90,00 6,0% 75,63 4,7% Outros1 97,69 6,5% 104,66 6,5% Sub-total 8,35,53 55,7% 951,04 58,8% Operação mecânica Preparo do solo 62,52 4,2% 62,52 3,9% Plantio da soja 41,82 2,8% 41,82 2,6% Tratos culturais 96,64 6,4% 108,19 6,7% Colheita 36,54 2,4% 53,22 3,3% Sub-total 237,53 15,8% 265,75 16,4% Serviços Frete 50,00 3,3% 43,75 2,7% Estocagem 40,00 2,7% 0,00 0,0% Sub-total 90,00 6,0% 43,75 2,7% Arrendamento 185,24 12,3% 185,24 11,5% Capital de giro 125,23 8,3% 142,31 8,8% Assistência técnica 26,97 1,8% 28,92 1,8%

Custo Operacional Total (COT1) 1.500,48 100,0% 1.617,00 100,0% Custo Operacional Total por saca de 60Kg 38,40 46,74

Fonte: Dados de pesquisa

Em relação à produção de soja grão, não houve diferenças nos gastos com fertilizante de base, com corretivo, com semente de milheto, com herbicidas e com fungicidas.

Mesmo assim, o item insumos passou a representar 58,8% do gasto total para a produção de semente de soja. Em relação à produção de soja grão, esse valor é 13,8% maior, quase que totalmente justificado pelo gasto mais elevado de adubos e corretivos e de inseticidas.

Nos gastos com operações mecânica e manual, observam-se os mesmos gastos no preparo do solo e no plantio. Nos tratos culturais e colheita, tem-se aumento no custo de produção da multiplicação de semente de 12% e 45,6%, respectivamente, em relação a produção de grãos. O maior custo no trato cultural deve-se a três pulverizações aéreas para multiplicação de semente, enquanto que na produção de grão foram duas. Já o aumento no custo da colheita deve-se a colhedeira axial, máquina especial para sementes. O seu rendimento técnico assemelha-se à colhedeira comum, mas os custos de manutenção e depreciação são maiores que as máquinas convencionais. No total, os gastos com operações mecânica e manual foi 11,9% maior na multiplicação de semente, comparativamente à produção de soja grão.

Em serviços, foram computados apenas os gastos com frete, que foi de R$ 1,25/sc de 60 kg. Esse é o mesmo valor considerado na soja grão. O menor custo deste item deve-se à diferença de produtividade considerada. Dado que a partir da produção agrícola, são incorporados alguns itens específicos para a produção de semente, não há gastos com estocagem, da forma como descrito nos gastos com soja grão.

Não houve diferenças de valores no custo com arrendamento. Já o cômputo dos gastos com capital de giro e assistência técnica foi efetuado da mesma forma que para produção de grão. Para calcular o custo de assistência técnica, considerou-se uma taxa de 2% sobre o custo das operações mecânica e manual e dos insumos. Para computar o custo do dinheiro necessário para pagamento dos custos variáveis (semente, outros, herbicidas, inseticidas, fungicidas e assistência técnica), aqui denominado de capital de giro, considerou- se uma taxa de 8,75% a.a. para 50% do recurso total necessário. Sob o restante do recurso necessário foi computado uma taxa de 17% a.a. Esses cálculos foram efetuados devido à restrição de crédito ao produtor com juros abaixo da taxa de mercado. Como os preços de insumos foram considerados para pagamento à vista, objetivou-se obter algum parâmetro de gasto adicional que o produtor teria caso optasse em pagar os insumos somente no final da safra.

Com os custos supracitados, o Custo Operacional Total (COT) ficou em R$1.617,00/ha ou R$46,74/sc de 60 kg, que equivale a R$ 31,16/sc de 40 kg.

A partir deste ponto, são inclusos os custos específicos envolvidos na produção de semente. O primeiro ponto a realçar é o fato de que da produção total de semente por hectare, somente se aproveita 50%, neste caso de 1.050kg/ha. O restante da produção é comercializada como soja grão. Assim, a partir desse aproveitamento da produção é que se calculou o custo de produção do beneficiamento da semente por hectare.

Na Tabela 8 são descritos os principais itens envolvidos nesta etapa (sob o aproveitamento de 1.050 kg/ha). Observa-se o custo geral desta etapa foi de R$ 281,33/ha. Dentre os principais itens se destacam os gastos com beneficiamento e secagem, que representou 28,9% dos custos desta etapa. Neste caso se considerou o custo unitário de R$ 3,10/sc de 40 kg.

A comissão sobre venda também teve uma participação expressiva sob o custo, sendo de 25,7%. Neste caso, os gasto foi computado como sendo de 5% sob o rendimento de semente por hectare, ao preço médio de compra da semente (R$ 1,38/kg). A parcela de despesa com mão-de-obra (11,2%) foi calculada como sendo de R$ 1,20 por saca de 40 kg. Este foi o valor médio repassado pelos produtores e técnicos presentes no painel.

Em termos de participação, em seguida está o gasto com sacaria (9,3%), cujo preço médio anotado foi de R$ 1,00/sc/40kg. A participação do custo de oportunidade do imobilizado e circulante, por hectare, foi descrito como sendo de 2,55% dos gastos com a produção agrícola, com beneficiamento e secagem, com despesa de sacaria, com mão-de-obra e armazenagem. Esse custo representou 8,8% dos gastos nesta etapa.

Já o custo de armazenagem foi computado como sendo de R$ 0,67/sc/40kg. O valor do gasto com departamento pessoal foi de 1% sobre o valor de compra da semente para plantio, enquanto o custo envolvido na análise e certificação foi de R$ 0,30/sc/40kg. Os royalties foram computados como sendo de 9 kg de semente por hectare, ao preço médio de venda da soja grão (R$ 30,87/sc de 60 kg). Por fim, foi adicionado o gasto com marketing, como sendo de 0,05% sobre o valor de compra da semente (R$ 1,38/kg).

Somando o Custo Operacional Total da parte agrícola, descrito na Tabela 7, com os gastos gerais totais específicos para a produção de semente (Tabela 8), tem-se um custo operacional para produção de semente de R$ 1.898,33/ha ou US$668,19/ha. Ponderado pelo

aproveitamento de 1.050kg/ha de semente, tem-se o custo operacional dos gastos gerais de R$10,72/saca de 40kg, que adicionado ao COT agrícola tem-se o custo de R$41,88/sc de 40kg.

Tabela 8. Custos específicos para produção de semente de soja na região de Rondonópolis – safra 2004/05 – levantamento em maio/05

Gastos gerais específicos com semente R$/ha Part.

Custo de beneficiamento e secagem 81,38 28,9%

Despesa com sacaria 26,25 9,3%

Despesa com mão-de-obra 31,50 11,2%

Custo com armazenagem 17,50 6,2%

Comissão sobre venda 72,19 25,7%

Marketing 0,72 0,3%

Departamento comercial 14,44 5,1%

Custo de analise e certificação e frete – qualidade 7,88 2,8%

Custo oportunidade imobilizado e circulante 24,85 8,8%

Royalties 4,63 1,7%

Sub-total 281,33 100,0%

Fonte: Dados de pesquisa

Contudo, nem toda produção de semente é comercializada, devido, por exemplo, ao fato de que alguns dos sacos rasgam durante o manuseio e outros são descartados por falta de qualidade. Dessa maneira, admitiu-se para o cálculo do custo da saca de semente uma perda de 10%, aumentando o valor do custo operacional líquido da saca para o custo operacional bruto (COB) de R$46,52/sc de 40 kg.

Contudo, o produto descartado será comercializado no mercado físico como grão. Assim dos R$ 46,52/sc/40kg, deve-se descontar o valor obtido com a venda desse produto. Para isso, foi considerado a taxa de 10% do valor de venda da soja grão (R$ 30,87). Com esses cálculos, o custo operacional efetivo da saca de semente ficou em R$44,47/sc/40kg (Tabela 9). Dado que toda área de cultivo foi destinada para multiplicação de semente, o custo da soja descartada (50% da produtividade por hectare) para o mercado de grão será superior ao custo de produção da oleaginosa caso fosse produzida com a finalidade de soja de industrialização. Assim, como forma de adequar essa diferença entre soja grão e semente, rateou-se a diferença entre custo de produção da soja grão (R$ 25,60/sc/40kg) e semente (R$ 31,16/sc/40kg). Desta forma, adicionou-se 50% dessa diferença à produção de semente (R$2,78,00/sc/40kg)

Com esses cálculos, o custo da saca de semente totalizou R$ 47,25/sc/40Kg. Para encontrar um valor de venda sugerido, adicionou-se uma margem de comercialização de 20%, chegando ao valor final de R$ 59,06/sc/40kg, ou R$ 1,47/kg (Tabela 9). Sem adicionar a margem de comercialização, o valor de venda proposto seria de R$ 1,18/kg.

Tabela 9. Determinação do valor de venda bruta do saco de semente de soja de 40Kg na Região de Rondonópolis-MT para safra 2004/05.

Descrição dos gastos R$/sc de 40Kg

Custo Operacional Líquido (agrícola e semente) 41,88

Descarte por problemas de qualidade 4,65

Custo Operacional Bruto – COB 46,53

Venda do descarte e semente não comercializada 2,05

Custo Operacional Efetivo da saca de semente 44,47

Diferença entre produção normal e semente 2,78

Custo Operacional Efetivo corrigido 47,25

Valor de venda Bruta com margem de comercialização de 20% 59,06

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal deste trabalho foi apresentar uma perspectiva quanto aos custos de produção de algodão e soja nas principais regiões produtoras do Estado do Mato Grosso, atualmente o maior produtor nacional destas culturas. Também se computou os gastos para produção de semente de soja. As regiões analisadas foram: Rondonópolis (algodão, soja e semente), Lucas do Rio Verde (algodão), Sorriso (soja) e Campo Novo do Parecis (algodão e soja). Os dados foram coletados no período de 15 a 21 de maio de 2005.

Conforme discutido durante o trabalho, foi expressiva a queda das cotações desses produtos no último ano, influenciados por acréscimos tanto da produção nacional quanto mundial, assim como pela estabilização do consumo. Ao mesmo tempo, produtores apontaram para a alta dos preços dos insumos.

Diante desse contexto, a preocupação quanto a manutenção da renda do produtor aumenta e proporciona um ambiente favorável para que os mesmos possam buscar soluções que evitem o prejuízo e até mesmo a falência desses agentes. Com este intuito, efetuou-se este trabalho, buscando apontar a margem de lucratividade nas produções de algodão e soja, assim como os principais fatores que podem ser considerados mais ou menos eficientes no processo produtivo.

Analisando separadamente cada cultura, observou-se que o custo de produção de soja foi menor na região de Campo Novo do Parecis (R$ 29,5/sc), depois em Sorriso (R$ 30,93/sc) e Rondonópolis (R$ 38,4/sc). A produção de soja apresentou-se com margem negativa em todas as regiões. A principal diferença em relação à primeira etapa deste trabalho ocorreu na região de Rondonópolis, influenciada por queda expressiva de produtividade, diante de condições climáticas desfavoráveis durante o período de desenvolvimento vegetativo, principalmente de seca.

Vale ressaltar a parcela expressiva do item fungicidas sob o custo total em todas as regiões. Este já é o resultado da intensificação do ataque da ferrugem asiática, que obriga os produtores a realizar pulverizações preventivas contra o ataque desse fungo. Os gastos no controle da ferrugem para a produção da soja grão ficou similar aos gastos com os multiplicadores de semente, reduzindo a margem de lucro dos produtores de grãos.

O nivelamento entre a receita total e a despesa mostra a necessidade de elevação dos preços de venda. Contudo, esse fator esta fora de controle dos produtores. Uma outra maneira seria através de elevação de produtividade, que neste caso deveria ser de 8,5% superior em Sorriso, de 4% em Campo Novo do Parecis e de 33,2% em Rondonópolis. Entretanto, sabe-se da quase impossibilidade de alcançar acréscimos expressivos de produtividade em um ano apenas.

No cômputo desses valores, o preço de venda considerado foi a média de mai/04 a abr/05. Assim é preciso realçar que no período de colheita e cumprimento dos compromissos financeiros as cotações estavam abaixo da média adotada.

No caso da produção de semente de soja, normalmente gasta-se mais com os defensivos agrícolas, principalmente inseticida. A preocupação dos sementeiros no controle de pragas transmissores de vírus na semente é superior aos produtores de soja para indústria, pois um lote com maior ataque da praga pode comprometer a qualidade do produto e diminuir o aproveitamento da produção para semente, elevando o custo da saca do produto final.

Já em relação ao custo de produção de algodão, a situação é menos favorável. A descrição dos custos em cada região apontou para margens negativas em todas as regiões, principalmente para variedades suscetíveis. O plantio de variedades resistentes à doença azul apontou melhor resultado, comparativamente à variedades suscetíveis, na região de Campo Novo do Parecis, custo praticamente igual em Rondonópolis e maior em Lucas do Rio Verde. O custo unitário na fazenda sugere elevações expressivas de preços e/ou produtividade para igualar receita total e custo total.

Da mesma forma que na soja, os cálculos de margens foram efetuados tomando como base o preço médio de mai/04 a abr/05. Contudo, no período de início da colheita de algodão no Mato Grosso as cotações do produto para retirar das regiões estavam menores do que as consideradas.

Adicionando os custos para transporte da pluma até o porto de Paranaguá e tomando como base o valor médio da paridade de exportação calculada pela equipe Cepea entre mai/04 e abr/05, ampliam os resultados negativos.

Em termos gerais, os resultados apontam para maior competitividade da produção de algodão nas regiões de Campo Novo do Parecis e Lucas do Rio Verde, comparativamente à Rondonópolis. O plantio mais recente nas duas primeiras regiões, favorece o menor uso de

defensivos agrícolas do que em Rondonópolis, região mais tradicional na produção de algodão do estado.

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