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O Custo do Racismo para o Brasil

No documento MARIA DO SOCORRO RIBEIRO PADINHA PADINHA (páginas 98-102)

As informações que dizem respeito à agenda de investimentos para enfrentar o racismo no Brasil são oriundas da análise documental realizada nos relatórios do IPEA. Analisaram-se os Boletins de Políticas Sociais: acompanhamento e análise, publicados no período de 2005 a 2010.

O Boletim do ano 2006 relata sobre o documento entregue no ano de 2005 ao presidente da República com a previsão de gastos financeiros para o combate do racismo. Nesse documento calcula-se o valor de R$67 bilhões o custo para a reversão do quadro de desigualdades raciais. O referido valor incide inicialmente sobre três áreas: educação, habitação e saneamento.

Os diferenciais entre negros e brancos foram mensurados a partir da problemática: quanto custaria elevar os percentuais de acesso dos negros aos mesmos níveis dos verificados no caso dos brancos? A contabilidade do “custo do racismo” inseriu informações oriundas dos relatórios do PNADS e do Censo Demográfico de 2000, ambos ordenados pelas estáticas IBGE.

O documento detalha para cada área a parcela de valores. Na área da educação, estimou-se um investimento de R$22,2 bilhões para alteração das disparidades de desigualdade de acesso, de permanência e de ascensão entre brancos e negros em todos os níveis de ensino.

No tocante à área da habitação, a considerar as diferenças raciais no déficit habitacional para famílias de até cinco salários mínimos, estimativa da distribuição do déficit de moradias, e o custo unitário considerado para moradia de qualidade, todos esses critérios somaram R$37,4 bilhões.

A terceira aérea destina-se ao saneamento, e para o qual são necessários R$7,6 bilhões para eliminar as desigualdades raciais. Analisaram-se os indicadores de domicílios sem água e domicílios sem esgotamento sanitário pela estimativa da distribuição segundo cor da pessoa de referência da família; e o custo médio por domicílio do acesso a água potável e do acesso ao esgotamento sanitário.

Este documento é elucidativo para pensar no desdobramento do montante calculado para a cada área e relação que se estabelece entre elas, especificamente no protagonismo da Educação como elemento de coadunação. No que tange especificamente à Educação, Melchior (1997, p. 48) explica sua interpretação pautada na Teoria do Capital Humano:

segundo o autor, é necessário compreender que a Educação é essencial para o desenvolvimento da economia. Não pelo motivo que ela verdadeiramente eleva a fecundidade econômica, porém porque é pela educação que se pode planejar uma política salarial mais justa que contribua para a desconcentração da renda.

O princípio defendido por Melchior (1997) trata das despesas destinadas à educação para o desenvolvimento do capital humano. O autor elaborou trabalho pioneiro no Brasil sobre educação e economia. Recentemente, Volpe (2010) também trata a temática da educação de jovens e adultos pelo prisma teórico da Educação Econômica. E ambos os autores coadunam do mesmo princípio, para compreender a lógica dos desdobramentos de investimentos em políticas educacionais, é de suma importância saber o quanto, em dinheiro, destina-se à educação para garantir princípios, por exemplo, expressos por meio de instrumentos legais para garantir direitos sociais como a educação.

Nas avaliações de Volpe (2010) não há uma tradição, no campo da pesquisa em educação, a busca por informações orçamentárias e cruzá-las com outras de natureza distinta. A inclusão, por exemplo, de dados orçamentários destinados ao enfrentamento do racismo no campo da educação são oriundos de três ministérios diretamente: educação, cultura e direitos humanos.

Na avaliação de Melchior (1997) ele constatou a origem de apenas dois ministérios: educação e cultura. E tanto Melchior (1997) quanto Volpe (2010) afiança que em se tratando de orçamento para educação ele é visto como um coberto curto. A constatação de ambos já antecede uma constatação: o recurso material não é abundante se comparado com outros países (VOLPE, 2010), mas ele existe e ainda assim ele é significativo. No entanto, como descreve Volpe (2010), a metáfora do cobertor curto elucida outra constatação: para algum lugar será destinado mais, e para outro menos em razão de prioridades.

No que se refere à execução orçamentária e financeira da SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) ela dispôs, em 2004, de recursos da cifra de R$ 17,4 milhões para a execução de um único Programa, o de Gestão da Política de Promoção da Igualdade Racial.

A maior parte dessas verbas destina-se a custear:

• Gastos administrativos da equipe da Secretaria: auxílio alimentação e transporte, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial assistência médica e odontológica, assistência pré-escolar e despesas com viagens;

• Há uma parte destinado à articulação de coordenação de atividades de outras instituições, bem como de fomento de iniciativas locais de promoção da igualdade racial;

• Existem recursos voltados especificamente para as comunidades remanescentes de quilombos (R$ 2,1 milhões);

• R$ 4 milhões se destinam a ações de formulação de políticas afirmativas, apoio a iniciativas de promoção da igualdade racial e capacitação de afrodescendentes em gestão pública.

Dentre as atribuições da SEPPIR encontra-se a promoção para a igualdade e a proteção dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos. O acompanhamento e a coordenação de políticas de diferentes ministérios e outros órgãos do Governo Brasileiro para a promoção da igualdade racial.

A Secretaria também desenha função internacional para promover e acompanhar o cumprimento de acordos e convenções internacionais assinados pelo Brasil, que digam respeito à promoção da igualdade e combate à discriminação racial ou étnica. Auxilia o Ministério das Relações Exteriores nas políticas internacionais, no que se refere à aproximação de nações do Continente Africano.

Os Boletins do IPEA contabilizaram, entre os anos de 2005 e 2009, os orçamentos de outras secretarias e ministérios dos quais foram extraídos os orçamentos dos programas de promoção da igualdade racial. Cabe destacar conforme defende Volpe (2010), mais além do que constatações numéricas, a demonstração dos investimentos é resultado de reivindicações consubstanciados, principalmente na década de 1990, onde se identificaram os principais determinantes da assimetria da estrutura de rendimentos no mercado de trabalho.

As pesquisas educacionais à época descreviam resultados que indicavam eixos centrais para definição de políticas públicas com vistas a reduzir as disparidades socioeconômicas brasileiras. Confirmam que a heterogeneidade educacional e os diferenciais de remuneração ligados à escolaridade são os grandes responsáveis para explicar a desigualdade de rendimentos na década de 1990. Do mesmo modo, que esses resultados também destacavam elementos de discriminação e segmentação para explicar tais desigualdades.

QUADRO 13 – EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA PARA A IGUALDADE RACIAL Ano Ministério 2005 2006 2007 2008 200959 MEC 59.896.305,21R$ 5.435.525,00R$ 4.087.440,00R$ 35.315.136,00R$ R$ 80.998.473,00 Min. Saúde 222.024.465,33R$ 295.023.806,00R$ 326.813.850,00R$ 1.000.000,00R$ R$- SEPPIR 15.030.176,19R$ 18.962.539,00R$ 25.251.472,00R$ 16.245.814,00R$ R$ 16.421.661,00 Gab. Min. Extr.

Política Fundiária 1.370.322,00R$ R$- R$- R$- R$-

INCRA 2.164.293,18R$ R$- R$- R$- R$-

Min. Justiça 79.877.113,00R$ 68.713.542,00R$ 74.651.192,00R$ 120.298,00R$ R$- Min. Cultura 13.797.014,00R$ 15.111.510,00R$ 26.444.681,00R$ 9.963.295,00R$ R$ 24.819.547,00 Min. Desenv. 475.712,00R$ 479.470,00R$ 438.759,00R$ R$- R$- Min. Desenv. Agrário R$- R$- R$- 5.832.219,00R$ R$ 6.417.377,00

TOTAL 394.635.400,91R$ 403.726.392,00R$ 457.687.394,00R$ 68.476.762,00R$ R$ 128.657.058,00

Dados obtidos no Site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br> Acesso em: 24 jan. 2012. Fonte: Quadro elaborado pela autora em jan. / 2012.

Pode-se inferir que são 9 instituições federais que atendem à demanda. Dentre as instituições há ministérios e secretarias incumbidos de gerenciar os orçamentos. Observa-se que o ano de 2007 abrangeu o período com maior disponibilidade orçamentária em relação aos demais anos, e no ano de 2008 houve um declínio de notório em relação ao período anterior: R$ 394.635.400,91 (2005); R$ 403.726.392,00 (2006); R$ 457.687.394,00 (2007); R$ 68.476.762,00 (2008); R$128.657.058,00 (2009). Vale destacar a oscilação entre maior e menor escala para a educação e saúde: MEC e Ministério da Saúde foram os que mais declinaram ao longo do período.

O balanço do orçamento público e o custo do racismo para o país são identificadas nos últimos cinco anos. A instrumentalização material para seu combate demarca um contexto diferenciado nas políticas sociais. Os dados numéricos compõem uma realidade objetiva que

59A disponibilidade dos orçamentos até o ano de 2009 foi em virtude do trabalho em tela ter trabalhado com ações planejadas pelo governo para a promoção da igualdade racial para educação até o referido ano. As ações planejadas foram extraídas de documentos oficiais em que todos os projetos foram executados entre os anos de 2004 e 2009, e a partir dos referidos orçamentos para o ano de 2009. Para não gerar dúvidas, análises contraditórias e tendenciosas, não incluíu-se o orçamento do ano de 2010, pois não se trabalhou com projetos do ano de 2010, conforme descrito no Plano Nacional (BRASIL, 2010).

demonstra a concretude de ações. Ainda que o impacto dos investimentos não tenha sido computado, o destino no campo da educação será descrito no próximo item.

No documento MARIA DO SOCORRO RIBEIRO PADINHA PADINHA (páginas 98-102)