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Produção de teses e pesquisas nos Programas de Pós-Graduação em Educação

No documento MARIA DO SOCORRO RIBEIRO PADINHA PADINHA (páginas 126-130)

A investigação acerca das teses de doutoramento nos Programas de Pós-Graduação no Brasil incluiu primeiramente o levantamento de todas as teses produzidas no período de 2005 a 2010. Para isso, escolheram-se alguns requisitos de seleção: pesquisar nos sítios eletrônicos dos Bancos de Teses de Universidades Públicas, nos Programas de Pós-Graduação em Educação, com conceitos de Avaliação da CAPES a partir de 4, no período de conclusão e publicação nos sítios no período de 2005 a 2010, com título e/ou palavras-chave62 que

incluíssem estudos sobre a temática relações raciais.

Uma pesquisa que trata sobre própria pesquisa em educação não poderia deixar de incluir informações sobre os trabalhos apresentados na Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação/ANPEd, no Grupo de Trabalho 21 – Educação e Relações Étnico-Raciais. Objetiva-se neste levantamento, avaliar quantos desses artigos fundamentam seus argumentos pautados na legislação educacional vigente para a igualdade racial.

Particularmente o ensino superior, do mesmo modo que qualquer universo social, é um cenário de controvérsia em torno da verdade do mundo universitário e do mundo social em geral. A firme convicção que se tem neste Projeto é que o campo científico63 e a comunidade

científica não são uma totalidade homogênea e indiferenciada, mas um sistema de classificação em ação, nem sempre manifesto, que trata determinados conceitos, objetos, temas, métodos, teorias como dignos e ou indignos de receber investimento dos agentes do campo. E os pesquisadores partem sempre da valorização simbólica que a representação dominante conferiu aos seus objetos de estudo e de trabalho.

A abordagem baseada na teoria crítica da educação vislumbra-se a compreensão da educação e do ensino superior como mediações intencionais e sistemáticas volvidas para a 62 Os itens lexicais e colocações semanticamente relacionadas, organizadas em campos semânticos foram pesquisados em palavras-chaves que incluíssem os termos: negro, afrodescendente, raça, racismo, preconceito racial, diferença racial, discriminação racial. O conceito central nesse campo discursivo dos termos associados a

relações raciaisconsiderou-se quanto a sua ocorrência no corpus, em contraste com seus usos e definições em dicionários e em publicações acadêmicas especializadas.

63Baseada nas afirmações de Bourdieu, há no campo científico (e em outros campos) um jogo de disputa entre os agentes para a legitimidade de determinados objetos e produtos. Então é a posição dos agentes no campo que confere a o lugar de autoridade científica. Não se podem considerar as formulações teóricas e os próprios objetos como sendo aqueles responsáveis pela animação do campo. Há uma mobilização de disputa no campo que confere quais conhecimentos são válidos e alcançam o status de científicos.

qualificação científica e técnica, com vistas à preparação de profissionais dos diversos campos da atividade humana64, inclui aqueles profissionais que vão se dedicar ao próprio exercício de

construção e disseminação do conhecimento científico. Formar pesquisadores, os técnicos, os especialistas, todos direcionados para atuar no universo da produção material, no âmbito da vida social e na esfera da cultura simbólica, os três pilares em que se dão as práticas estruturantes do existir humano (SEVERINO, 2010).

A condição sine qua non dos três pilares destacados por Severino (2010) confirma o investimento necessário a produzir mais estudos científicos sobre Relações Raciais, quando da afetação dessa relação social nas práticas estruturantes do existir humano. Por meio dos mais variados aspectos e campos do conhecimento os estudos e pesquisas sobre Relações Raciais deve ser abordado.

Neste sentido, antes de apresentar o número de teses que tratam da questão racial, é importante demonstrar o montante das produções nos Programas. Realizou-se um recrutamento de informações obtidas dos Bancos de Teses dos Programas de Doutorado. Primeiro selecionaram-se todas as Universidades Públicas inseridas na avaliação da CAPES no relatório de 2011. A partir desta seleção, buscou-se nos Bancos de Dados as Teses dos Programas de Educação. A organização das informações seguiu a classificação: Região Brasileira, Estado, Universidade, Ano, Produção por ano. Os dados geraram a tabela abaixo:

64SEVERINO, Antônio Joaquim. A Filosofia na formação universitária. Revista Páginas de Filosofia, v.2, n.1, p. 31-45, jan/jun 2010.

TABELA 2 - PRODUÇÕES DE TESES/PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora em janeiro/2012 a partir dos relatórios da CAPES do Ano de 2011.

A tabela descreve a produção de Programas de Pós-Graduação com relação às publicações de teses no período de 2005 a 2010. No total, foram publicadas 2.017 teses. 65Importante destacar a tese de doutoramento de COELHO, Wilma de Nazaré Baía. A cor ausente: um estudo sobre a presença do negro na formação de professores. Pará 1970 - 1989. Natal: UFRN, 2005, 248 f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Centro Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005.Ainda que esse trabalho tenha sido realizado por um Programa de Pós-Graduação na Região Nordeste, ele representa a primeira pesquisa sobre relações raciais e educação na Região Norte.

Teses defendidas em PPGE das Universidades Públicas Brasileiras - 2005 a 2010

REGIÃO IES ANO TOTAL IES REGIÃOTOTAL 2005 2006 2007 2008 2009 2010 NE UFBA 14 18 20 17 23 8 100 493 UFC 0 32 28 25 43 38 166 UFPB/JP 0 4 16 20 12 0 52 UFPE 0 0 8 0 0 0 8 UFRN 18 26 29 32 27 35 167 N *** 065 0 0 0 0 0 0 0 CO UNB 0 0 0 3 13 6 22 95 UFG 1 9 10 9 13 8 50 UFMS 0 0 0 1 11 11 23 SE UFES 0 0 1 11 14 6 32 1006 UFMG 19 13 26 23 30 0 111 UFU 0 0 0 0 7 4 11 UERJ 3 15 10 11 12 11 62 UFRJ 5 8 6 4 4 9 36 UFF 5 3 7 17 1 0 33 USP 5 26 62 61 68 72 294 UNESP/MAR 18 17 19 16 16 26 112 UNESP/ARAR 18 30 18 20 23 23 132 UNICAMP 35 32 28 28 17 9 149 UFSCAR 0 2 8 8 14 4 34 S UEM 0 0 0 0 0 3 3 422 UFPR 0 10 11 16 32 5 74 UFPEL 0 0 0 0 4 4 8 FURG 0 0 0 1 6 10 17 UFRGS 34 25 46 61 57 43 266 UFSC 0 12 5 15 7 15 54 Total 175 280 358 299 454 350 2016 2017

Observa-se que houve uma progressão na escala de publicações. O ano de 2005, por exemplo, apresenta 175 publicações. O salto daquele ano para o ano de 2009, representou um aumento de 279 teses. Em escala vertical, há uma diferença no número de publicações por região brasileira: Sudeste publicou 1.006 teses; Nordeste publicou 493 teses; Sul publicou 422 teses; Centro-Oeste publicou 95 teses; Norte não houve publicação.

De um modo geral as relações são bastante assimétricas entre as regiões (CORRÊA), tanto do ponto de vista da produção quanto do número de programas por região. Porém, se comparar a disseminação do número de Programas de Doutorado existentes hoje ao tempo de realização de pesquisas em universidades, pode-se perceber que em pouco tempo as universidades têm investido muitos esforços para o aumento do número de pesquisas.

Essas informações são basilares para estabelecer um comparativo de teses produzidas pelos programas de Pós-Graduação em Educação e as teses produzidas que trataram da temática relações raciais. Pois os esforços em número de pesquisas estão atrelados a determinados objetos que são valorizados e investidos de ações dos agentes no jogo do campo.

Primeiro porque, segundo Corrêa66 (2003), os Programas de Doutorado em Educação

são expressivos em se tratando de número de programas no Brasil. Segundo, porque o estabelecido, em particular, nesta pesquisa, a educação representa uma área fulcral para a implementação da lei. Do mesmo modo que seus aportes conceituais e metodológicos são basilares para o processo de aprendizagem nas escolas, cabe a ela o domínio sobre as teorias da aprendizagem.

A diferença em número de produção de Tese por Regiões Brasileiras indica questões formuladas por meio de indícios identificados na formulação dos dados preliminares e na objetivação destes mesmos dados daquilo que se observou na definição dos objetos de disputa e dos interesses específicos baseados nas regras do campo científico.

Por exemplo, as discussões de Brandão67 (2002) são basilares para sustentar a

identificação desses indícios, e segundo a autora há a incorporação se signos objetivados que orientam práticas sociais neste campo. E dependendo do modo e da qualidade dessas práticas, elas acabam por influenciar a reprodução delas pelos discentes. Porém, essas conjecturas 66CORRÊA, Paulo Sérgio de Almeida. Pesquisa e Produção do conhecimento em educação: uma radiografia baseada no perfil curricular do docente. In: ARAÚJO, Ronaldo Lima. Pesquisa em Educação no Pará. Belém: EDUFPA, 2003.

67BRANDÃO, Zaia. Pesquisa em Educação: conversas com pós-graduandos. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2002.

precisam ser testadas, confirmadas e contra-argumentadas, pois o campo científico como um lugar do jogo pela disputa do reconhecimento de notoriedade acadêmica demarca diferenciação quantitativa no número de produção de teses de doutoramento entre as Regiões do Brasil, esses são dados objetiveis, mas que não dispensam as ações subjetivas.

3.2 Produção de Teses sobre Relações Raciais nos Programas de Pós-Graduação em

No documento MARIA DO SOCORRO RIBEIRO PADINHA PADINHA (páginas 126-130)