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3 ELEMENTOS ECONÔMICOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

3.4 OS CUSTOS DA AIDS

Os custos da AIDS refletem não só o aspecto do custo para a assistência do indivíduo contaminado, reflete em custos não econômicos, como coloca o texto seguinte:

“O custo de tratamento dos pacientes soropositivos, tanto dos que manifestaram a doença quanto os que são portadores, deve ser entendido apenas como uma parcela do custo total da infecção. O custo total compreende todos os custos decorrentes do fato de que uma parte da população esteja infectada pelo vírus da AIDS. Este custo total deve considerar, portanto, além dos custos de tratamento, a perda decorrente da redução da vida ativa dos portadores do vírus, os sofrimentos causados pela doença nos soropositivos e nas pessoas que lhes são próximas etc. Sendo assim o benefício causado por um controle da disseminação do HIV é maior do que a economia realizada com o tratamento das pessoas infectadas.” Fipe (1999, p.

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)

Em Ferguson (1990) é dada a definição que uma economia externa, isto é, uma externalidade, existe, quando o custo marginal social é maior ou menor que o benefício social marginal. Assim, mostra-se claro que não será o mecanismo de livre-empresa que conduzirá ao bem-estar social máximo. A intervenção estatal torna-se imprescindível para a realização de uma política que busque a eficácia de qualquer programa de saúde. O custo social da AIDS é muito mais elevado do que o custo com o tratamento.

3.4.1 O custo social da AIDS

Como o custo de produção de qualquer outro bem, o custo de tratamento é composto pelos custos diretos e custos indiretos. No caso dos custos diretos pode-se atribuir ao paciente, observando o custo unitário direto, que é basicamente formado por procedimentos clínicos, dietas, exames e medicamentos. Já os custos indiretos são mais difíceis de serem calculados, pois não há uma atribuição objetiva a um paciente específico ou a um procedimento particular.

A importância de se combater a AIDS envolve um esforço de regular o nível da força de trabalho. Na África, em alguns países a epidemia atinge 20% da população, sabendo-se que a grande maioria dos infectados está em plena idade de trabalho, entre os 15 e 50 anos, verifica-se uma perda significativa da força de trabalho. No Brasil, as conseqüências não seriam menos desastrosas, pois para um país em desenvolvimento, a existência de epidemia atinge todos os setores de produção, vendo que a AIDS conseguiu estar nas últimas duas décadas em todas as classes sociais.

A população em idade economicamente ativa, considerando dos 20 aos 49 anos, representa a maior parte dos infectados, num total de 169.209, tendo portanto 86,88% dos infectados dentro do Brasil. Se somados a esta faixa de idade forem considerados os jovens entre 15 e 19 anos, totaliza-se 173.364 infectados, aumentando para 89,02% do total de contaminados. O aumento dos casos de AIDS foi bem representativo para este grupo, além disso, a mudança da pirâmide populacional total do país desde o início da década de 1980, com o crescimento da população idosa, transformou a pirâmide da população brasileira, com a base mais estreita, visto que os índices de natalidade decresciam.

Não só a morte se comporta como fator de perda da força de trabalho. Quando constatada a presença do vírus HIV, ao trabalhador infectado é dado o direito a aposentadoria por invalidez, como anteriormente já foi citado, além de outros direitos trabalhistas e previdenciários, fazendo com que os gastos com assistência social sejam cada vez mais altos. O período em que foram registrados mais processos em função da AIDS foi entre 1987 a 1992, os motivos principais eram a discriminação no ambiente de trabalho, demissões por ser portador de moléstia grave e falta de oportunidade ao cidadão soropositivo, pois algumas empresas dentro dos exames de seleção incluíam testes anti- HIV.

Um outro ponto a ser debatido é que nenhum indivíduo pode ser demitido ou afastado do trabalho sem uma justa causa, sendo assim, um paciente de AIDS não podia ser afastado das suas funções como trabalhador por ser portadores de uma doença. Esta questão foi muito debatida nas áreas do Direito do Trabalho e da própria questão de cidadania. Isto se torna um ponto positivo para o desenvolvimento do trabalhador, um direito que lhe é

assegurado, porém para o empresário, é difícil lidar com uma força de trabalho que não tem condições de dar todo o seu potencial.

3.4.2 Custo com prevenção

Os custos da prevenção à AIDS tornam-se muito importantes, pois, através de campanhas publicitárias, campanhas educacionais, distribuição gratuita de preservativos e de seringas descartáveis a usuários de drogas injetáveis, podem ser reduzidos os custos mais significativos da AIDS, que é justamente o custo de tratamento. Os custos com prevenção e a sua relação com os custos sociais serão vistos com maior ênfase no próximo capítulo, onde há uma análise do banco de dados do Ministério da Saúde para a epidemia de AIDS no Brasil.

3.4.3 O custo com tratamento

Como já foi visto anteriormente, a AIDS é uma doença que não tem cura, logo o tratamento que é realizado em pacientes HIV positivos se caracteriza em aumentar a expectativa de vida, diminuir o aparecimento e o agravamento de doenças oportunistas e fazer com que as pessoas que estejam contaminadas continuem a ter uma vida normal, trabalhando ou exercendo as funções que lhe eram atribuídas anteriormente.

Uma epidemia tem um comportamento bem peculiar, começa com alguns poucos indivíduos doentes e, com o passar do tempo e das formas de exposição, o número de infectados cresce de uma forma assustadora. No caso da AIDS no Brasil pode-se ter a noção exata deste efeito, o que começou com apenas o registro de 1 caso em 1980, chegou a 1999 com 194.757 casos registrados, isto sem contar, é claro, com o número de casos não registrados pelo Ministério da Saúde, que estariam, no mesmo período, em cerca de meio milhão de infectados. As taxas anuais de crescimento da epidemia eram alarmantes até 1992, ano da implantação do Programa, e desde 1993 as taxas anuais estão tendendo a se estabilizarem em torno de uma média, e em alguns anos representaram um comportamento de decréscimo. Entre 1980 e 1992 existiam 51.897 casos notificados pelo Ministério da

Saúde, deste total de infectados 36.733 estavam mortos em 1992 e 15.164 ainda sobreviviam até o final deste mesmo ano, havendo uma razão de 2,42 infectados mortos para cada infectado que permanecia vivo conforme o gráfico a seguir:

GRÁFICO 1

Fonte: Ministério da Saúde

A ausência de planos de saúde que cobrissem o atendimento a pacientes com AIDS colocou a responsabilidade toda em cima do sistema público de saúde, que não conseguia atender a todos os pacientes em função que o aumento do número de leitos para atendimento de pacientes com AIDS não acompanhava o crescimento acelerado do número de contaminados. Era necessária uma campanha preventiva com maior atuação, era muito menos dispendioso entregar milhares de preservativos do que tratar um paciente de AIDS.

Os dados sobre os custos diretos do tratamento dos pacientes com AIDS e dos demais soropositivos que não apresentaram a doença não eram confiáveis até 1997, até então o melhor estudo era o de Médice e Beltrão em 1992, quando estimaram os custos totais de cuidados médicos dos pacientes soropositivos sintomáticos em US$ 16.689,00 por ano, sendo que cerca de 38% deste valor era gastos apenas com medicamentos que vinham do exterior, representando US$ 6.373,00 e 61,8%, isto é. US$ 10.316,00 compunham gastos como custos com pagamento de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio, custos de internações, de exames e diagnósticos.

Distribuição de Infe ctados Vivos e M ortos 1980 a 1992

71% 29%

Infectados M ortos Infectados Vivos

GRÁFICO 2

Fonte: Ministério da Saúde

Com a implantação de uma política visando atender esta população, o quadro alterou-se substancialmente, tendo entre 1993 e 1999, um somatório total de 142.860 indivíduos contaminados, dos quais 80.801 continuavam vivos e 62.059 contaminados que haviam morrido até o final de 1999, sendo que a grande maioria dos indivíduos que falecera já tinha o vírus latente há um tempo anterior ao ano de 1993, grande parte representando os 15.194 que permaneciam vivos em 1992. A nova relação se comportava com 1,30 infectados vivos para cada infectado morto.

A descoberta de medicamentos anti-HIV foi o grande marco para que os indivíduos contaminados utilizassem melhor o potencial da mão-de-obra, pois estes remédios propiciavam no soropositivo maior resistência a infecções oportunistas. Além de manter os infectados aptos para desenvolverem suas atividades normais, os remédios representam a única forma de tratamento para recompor o sistema imunológico do soropositivo em quem já manifestou sintomas da doença.

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