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5. Conceptualização e elementos-base

5.2. Definição dos cenários

5.3.3. Custos ambientais

Feinerman et al. (2004) explicam que um custo ambiental pode ser definido como sendo o custo que a “sociedade” terá que pagar no futuro por causa dos impactos no ambiente provocados por actividades económicas, produtos ou serviços. Nesse contexto, a DQA enfatiza o seguinte princípio: “poderá ser adequado integrar num programa de medidas a utilização de instrumentos económicos por parte dos Estados-Membros. O princípio da amortização dos custos dos serviços hídricos, mesmo em termos ambientais e de recursos, associados aos prejuízos ou impactos negativos para o ambiente aquático deve ser tomado em conta, segundo o princípio do poluidor- pagador. Para esse efeito, será necessária uma análise económica dos serviços hídricos baseada em previsões a longo prazo relativas à oferta e à procura de água na região hidrográfica”.

Segundo a abordagem adoptada no WSM-DSS (NTUA, 2003), e já referida na secção 3.6.5.2, os custos ambientais são classificados em duas categorias:

- Custos ambientais relacionados com a captação e consumo de água superficial ou subterrânea, e

- Custos ambientais directamente associados à rejeição de efluentes, referidos como custos de poluição.

O modelo WSM – DSS permite seleccionar as componentes dos custos ambientais a ser incluídas no cálculo dos mesmos (custos de captação de água de origem superficial e/ou subterrânea e/ou custos de poluição, Figura 5.4).

Figura 5.4: Tipos de custos ambientais considerados no WSM-DSS

No presente estudo, a estimativa dos custos ambientais só abrangeu o sector do abastecimento público e teve como base os princípios e linhas orientadoras apresentados no estudo da WATECO (2002). Nesse contexto, os valores estimados dos custos ambientais relativos a captações superficiais e subterrâneas, tiveram em conta alguns pressupostos. Admitiu-se, antes de mais, que todos os utilizadores do sector doméstico, ou seja todos os aglomerados populacionais, pagam o custo ambiental da utilização do recurso natural de acordo com o princípio de equidade. Os custos ambientais foram avaliados com base em exemplos representativos da região do Algarve e extrapolados para toda ela. Em termos de cálculo propriamente dito, a avaliação do custo ambiental incorporou os custos de construção, operação e manutenção de estruturas alternativas que permitam assegurar que, no ano de 2035, ou seja, no último ano do período de simulação todas as necessidades de água associadas aos exemplos considerados sejam supridas.

No caso do custo ambiental associado a águas superficiais, o exemplo escolhido foi o sistema composto pelas albufeiras Funcho e Arade, que constitui uma fonte de abastecimento fundamental para o Barlavento Algarvio tanto para o uso doméstico como agrícola. A estrutura alternativa a considerar deverá permitir fornecer o volume de água necessário para satisfazer a procura prevista para 2035 nessa zona. Para o custo ambiental associado a captações subterrâneas, optou-se pelo exemplo do aquífero Querença-Silves, pela sua importância estratégica no fornecimento de água à região sendo que, neste caso, a solução alternativa a considerar deverá assegurar um volume de água correspondente ao volume não sustentável máximo a ser captado no aquífero Querença-Silves no final do período de simulação considerado.

O abastecimento público de água na região do Algarve: caracterização e perspectivas de evolução

As secções seguintes exemplificam as considerações feitas para esta avaliação, explicitando os dois exemplos escolhidos.

5.3.3.1. Custo ambiental associado a captações superficiais

A estimativa do o custo ambiental associado a águas superficiais assentou no exemplo do sistema de albufeiras Funcho-Arade. Com cerca de 43 hm3 de volume útil, a albufeira do Funcho está actualmente alocada a ambos os usos: abastecimento público (máximo de 23 hm3) e agrícola. Por sua vez, a albufeira do Arade está disponível para a agricultura. Admite-se, para avaliação do custo ambiental, que esta distribuição se mantém válida até ao fim do período de simulação. Nesse contexto, em 2035, verifica-se que, para além dos 23 hm3 captados na albufeira do Funcho, são ainda necessários, para suprir as necessidades para o abastecimento público do Barlavento Algarvio, 10 hm3, importados da zona de Sotavento Algarvio através da estação elevatória reversível, 3 hm3 captados no aquífero Querença-Silves e transportados para a ETA de Alcantarilha, subsistindo ainda um défice de perto de 34 hm3.

Nessas condições, para além do volume captado na albufeira do Funcho, o volume máximo necessário para satisfazer as necessidades para abastecimento público na zona do Barlavento Algarvio no último ano de simulação (2035) ascende a perto de 47 hm3. Admitiram-se duas soluções alternativas para “fornecer” este volume de água:

a) a primeira foi a construção de uma barragem, com um volume útil de 47 hm3, cujos custos associados, correspondentes à construção, exploração e manutenção da mesma, foram estimados com base nos dados existentes para a barragem do Funcho. A estimativa assim efectuada levou a um valor do custo ambiental de 0.009 €/m3.

b) a segunda opção considerada foi a construção de duas dessalinizadoras, com uma capacidade diária de tratamento de cerca de 750 L/s para cada uma delas. Neste caso, os mais elevados custos de exploração dão origem a um custo ambiental pouco inferior a 0.17 €/m3.

5.3.3.2. Custo ambiental associado a captações subterrâneas

No caso da avaliação do custo ambiental associado às captações subterrâneas, como já foi referido anteriormente, o aquífero Querença Silves foi considerado como representativo da situação/utilização das águas subterrâneas na região do Algarve. Segundo a informação recolhida, é razoável considerar que o volume sustentável para captação neste aquífero corresponde a 80% da recarga do mesmo em ano médio, sendo os restantes 20% correspondentes a descargas naturais. Assim, no ano de 2000 por exemplo (ano médio), o volume de recarga do aquífero Querença-Silves foi de 86 hm3 ao qual esteve associado um volume descarregado pelas nascentes do aquífero de 21 hm3. Nesse caso, o volume sustentável para captação corresponde à diferença entre estes dois valores, ou seja 65 hm3.

De acordo com os pressupostos, a estrutura alternativa a construir deverá permitir fornecer o volume de água correspondente à captação de 21 hm3. Mais uma vez, admitiram-se duas soluções alternativas para cumprir este requisito:

a) a construção de uma barragem com um volume útil de 21 hm3 para a qual os cálculos efectuados para os custos de investimento e de exploração levaram a um valor do custo ambiental de 0.006 €/m3 aproximadamente.

b) a construção de duas dessalinizadoras com uma capacidade unitária de 10.5 hm3/ano. Neste segundo caso, à semelhança do que aconteceu na estimativa do custo ambiental associado a captações superficiais, o valor do custo ambiental obtido é bastante superior ao estimado considerando a construção de uma barragem, sendo de 0.12 €/m3.

Com base nestas estimativas e tendo em conta que (i) a reabilitação de um aquífero degradado é muito mais morosa e dispendiosa que a de uma albufeira e que os custos de captação, nomeadamente custos energéticos, em aquíferos são mais elevados que os custos associados à captação em albufeiras, e que (ii) o aquífero de Querença-Silves tem características únicas sendo, no Algarve, o mais importante aquífero, com maior volume de água disponível com qualidade, e uma reserva de água fundamental para consumo doméstico e agrícola, optou-se por admitir que:

- o custo ambiental associado à captação de águas subterrâneas é de 0.15 €/m3 (superior aos valores estimados com cada uma das alternativas estudadas),

- o custo ambiental associado a águas superficiais corresponde ao valor médio dos custos ambientais associado às duas alternativas (dessalinizadora e a construção de uma nova barragem), tendo-se admitido um valor de 0.10€/m3.

5.3.3.3. Custo ambiental associado a poluição

No que diz respeito à poluição originada por descargas de efluentes, o custo ambiental associado foi estimado como sendo igual ao custo de tratamento de nível secundário, estimado em 0.2€/m3. Mais ainda, o modelo requer a introdução de “bónus” associados a efluentes tratados, para os quais foram admitidos valores de 0.15 €/m3 no caso de tratamento secundário e 0.2€/m3 no caso do efluente ter sido tratado com nível terciário.

O abastecimento público de água na região do Algarve: caracterização e perspectivas de evolução