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A necessidade de sinalizar para as concessionárias que há um limite de repasse de custos operacionais às tarifas dos consumidores é uma característica do modelo de serviço pelo custo, mas é uma ferramenta, como já foi abordado anteriormente, de que se vale o modelo de tarifa pelo preço para estabelecer o limite de preço máximo (preço teto).

Dentre as metodologias implementadas pela ANEEL está a denominada “Empresa de Referência - ER”, que foi utilizada no estabelecimento dos custos operacionais. A ER simula as condições que enfrentaria um “novo operador” da concessão existente para execução dos

processos e atividades de operação e manutenção, de gestão comercial e de direção julgados prudentes.

Os custos reconhecidos devem garantir a implementação dos níveis de qualidade técnica e comercial previstos no contrato de concessão, além de garantir que os ativos em serviço mantenham a sua capacidade operativa durante toda a vida útil, garantido a sua integridade física quando do término da concessão.

A ER procura simular padrões de execução das atividades. Contudo, tanto os contratos de concessão das distribuidoras quanto às normas legais da ANEEL podem estabelecer indicadores diferenciados por concessionária; com isso, é possível que certos custos operacionais não estejam adequadamente contemplados.

A concepção da metodologia da ER para definição dos custos operacionais prudentes para os primeiros ciclos de revisão tarifária acabou sendo necessária em face da assimetria de informações existente entre a ANEEL e as concessionárias. Os relatórios padronizados da própria Agência, que monitoram a evolução dos custos operacionais e que serviram como base de dados e informações não identificam, de forma clara e objetiva, os processos e atividades operacionais da concessionária.

A Figura 1 a seguir indica, de uma forma resumida, as atividades e os processos considerados pela ANEEL quando da fixação dos custos operacionais.

Os custos operacionais assim definidos constituem o núcleo central da ER e a ele são agregados os custos específicos de cada concessionária, tendo em vista as condições particulares da área de concessão não contempladas na metodologia.

Há que se destacar que, no segundo ciclo de revisão tarifária, sempre que possível, os custos específicos foram considerados na metodologia da ER, ocasião em que havia a definição de padrões regulatórios para execução dessas atividades.

Na visão da ANEEL, desde o primeiro ciclo de revisões tarifárias, a metodologia tem sido considerada como sendo “não invasiva”, na medida em que são estabelecidos padrões de desempenho para o operador da concessão sem levar em conta as práticas da concessionária real. Conforme explicitado na Nota Técnica N°. 343/2008-SRE/ANEEL, item 66, a premissa adotada é a de estabelecer uma referência de mercado para os custos operacionais.

Figura 3.1 – Empresa de Referência - ER

Por outro lado, a Agência não abandonou a intenção de acompanhar a evolução dos custos operacionais das concessionárias. A Nota Técnica N°. 050/2007-SRE/ANEEL menciona a necessidade da análise histórica dos custos intra-empresa, segundo os critérios de consistência e prudência, observando os níveis de qualidade obtidos e a análise comparativa dos custos (inter- empresas) em função do desempenho das empresas.

Primeiro a Agência analisa a coerência e razoabilidade dos custos incorridos, levando em conta as características básicas da concessionária, para em seguida comparar a concessionária com outras de melhor desempenho.

Na AP 008/2006, por meio da Nota Técnica N°. 166/2006-SRE/ANEEL, o regulador manifestou a sua opção pela regulação por incentivos, conforme se observa:

“23. Um dos tipos de regulação com alto poder de incentivo é o chamado de regulação por

price cap. (...) o regulador fixa preços teto para todos os produtos ou para uma cesta de produtos

e a empresa tem liberdade para praticar um preço menor ou igual ao estipulado. Uma cláusula de atualização ajusta esse teto durante o período regulatório. (...) ”.

Custos Operacionais ER •Conselhos e Presidência •Dir. Adm. •Ger. RH •Ger.Sistemas •Dir. Finanças •Dir. Distribuição •Dir. Comercial Atividades de supervisão e controle e estrutura central (sistemas) Atividades Comerciais Estrutura

Central Atividades O&M

, • . Atividades: desligamentos, , religamentos, troca condutor/poste, poda de árvore, manutenção linha - viva e morta, iluminação pública, inspeções, manutenções preventivas e corretivas, etc. Gerências Regionais

Atividades: supervisão e controle das atividades comerciais e O&M Atividades: leitura medidores, edição e envio faturas, cobrança, combate perdas, atendimento clientes, call center, serviços taxados, etc

A questão é que, com a análise da evolução dos valores realizados da concessionária e a realização de comparações entre concessionárias, fica cada vez mais evidente que os custos operacionais reconhecidos tenderão a se aproximar de uma regulação onde prevalecerão os custos reais. A conseqüência, no médio prazo, é que as concessionárias mais eficientes se questionarão quanto à conveniência de continuarem buscando ganhos na gestão de suas atividades, já que eles poderão afetá-las de forma negativa.

Se, em um primeiro momento os ganhos da gestão operacional são evidentes, quando se passa de uma gestão estatal para uma gestão privada, não se pode afirmar que eles continuarão uma vez que a atual regulação captura essa eficiência a cada ciclo de revisão tarifária.

A opção por uma metodologia de caráter normativo que busca estabelecer parâmetros de eficiência para os processos de operação, de manutenção e de administração baseada em custos reais é uma característica do regime tarifário do serviço pelo custo, que só reconhece os custos realizados considerados prudentes.

De qualquer modo, as afirmações do regulador na AP 008/2006 são importantes para desenvolvimento das argumentações desta dissertação quanto ao momento em que é fixado o preço teto e a forma de atualização desse preço ao longo do contrato de concessão.

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