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2. Enquadramento histórico legal do sector das indústrias de carne

2.4 A década de 90

A 10 de Outubro de 1992 foi publicada a Portaria n.º 965/92 que veio corresponder a nível nacional ao Regulamento que pela primeira vez abordou os aspetos relativos à eliminação e transformação de subprodutos de origem animal e à colocação no mercado dos seus produtos finais. Esta Portaria estabeleceu, portanto, as normas técnicas de execução do Decreto-Lei n.º 175/92 que transpôs para o direito interno a Diretiva n.º 90/667/CEE do Conselho, que incidia ainda na prevenção da presença de agentes patogénicos nos alimentos destinados a animais e de origem animal colocados no mercado.

Esta Portaria definiu a importância da prevenção da contaminação ou da destruição de quaisquer agentes patogénicos que pudessem estar presentes nos produtos animais que tivessem sido eliminados e estabeleceu os requisitos hígiosanitários exigidos durante a recolha, transporte, identificação e armazenagem dos subprodutos de origem animal.

Entretanto, ao abrigo da Portaria n.º 1229/93 que transpôs para o direito interno a Diretiva n.º 92/5/CEE do Conselho, foi fixada a data de 1 de Janeiro de 1996 a partir da qual os estabelecimentos deveriam estar devidamente licenciados nos termos das disposições citadas neste documento. Há que recordar que, de acordo com a precedente Diretiva 89/397/CEE, do Conselho, já teria decorrido um período de tempo suficiente para que as autoridades competentes tivessem levado a cabo as inspeções aos estabelecimentos que fossem

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consideradas necessárias, daí a lógica deste próximo passo correspondente ao seu licenciamento oficial.

Os produtos à base de carne passaram ainda a ser obrigados a ostentar, sob a responsabilidade do estabelecimento, uma marca de salubridade nacional ou uma marca a definir pela Comunidade Económica Europeia. Ao longo da Portaria n.º 965/92 foram dispostas, de modo mais descritivo e minucioso que nos anteriores Decretos-Lei, as condições gerais de higiene aplicáveis aos estabelecimentos, às salas, aos materiais, aos utensílios e à laboração dos produtos à base de carne e de outros produtos de origem animal destinados ao consumo humano. Vincou-se que, de acordo com a ideologia em vigor na Comunidade Europeia, a higiene dos produtos à base de carne basear-se-ia na manutenção de boas práticas e na prevenção da contaminação, sendo proibida a sujeição às radiações ionizantes como método de tratamento descontaminante.

A 2 de Abril de 1996 o Decreto-Lei n.º 28/96 transpôs para a ordem nacional a Diretiva n.º 93/119/CE, do Conselho, a qual estabeleceu normas que salvaguardassem o zelo pelo bem- estar dos animais durante o transporte, a descarga dos animais, a estabulação, o atordoamento, o abate e a occisão de animais criados e mantidos para a produção de carne ou para o aproveitamento da pele ou de outros produtos. Esta Diretiva foi concomitantemente criada com o fim de assegurar uma uniformização destas práticas em todos os países membros da Comunidade.

A Portaria n.º 1229/93 anteriormente referida foi revogada pelo Decreto-Lei n.º 342/98, o qual apresenta no seu articulado uma exposição mais lógica e foca a necessidade do estabelecimento da análise de risco.

O Decreto-Lei n.º 67/98 veio por fim transpor para a ordem jurídica interna nacional a Diretiva n.º 93/43/CEE, do Conselho. Esta Diretiva encorajou a implementação de planos HACCP nas empresas do sector alimentar, nos quais seriam identificadas todas as fases dos processos, e promoveu a elaboração dos guias europeus de boas práticas de higiene, tendo-se em conta as regras recomendadas internacionalmente em matéria de higiene alimentar, nomeadamente as do Codex Alimentarius e da FAO.

Indica ainda os “requisitos gerais a respeitar pelas instalações alimentares”, e que “aplicam-se a todas as fases posteriores à produção primária, até à colocação à venda ou facultação ao consumidor.” A maior parte destas disposições consta nos Regulamentos mais recentes, mas de modo mais completo e descritivo. A Diretiva n.º 93/43/CEE foi entretanto, quase uma década depois, revogada pelo Regulamento nº 178/2002.

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2.4.1 Consequências das crises na segurança alimentar europeia

Surgiu, no entanto, na década de 90 a crise despoletada pela BSE e relativa à alimentação humana e animal, que pôs em evidência as falhas na conceção e na aplicação da regulamentação alimentar que vinha sendo gradualmente implementada na União Europeia desde 1964. Esta situação levou a Comissão a estabelecer a promoção de um nível elevado de segurança dos alimentos como uma das suas prioridades políticas para os anos seguintes. Como sublinhou o Conselho Europeu reunido em Helsínquia em Dezembro de 1999, o que importaria em especial seria melhorar as normas de qualidade e reforçar os sistemas de controlo em toda a cadeia alimentar, desde a exploração agrícola até ao consumidor. Como entretanto se verificou, a legislação em vigor era excessivamente sectorial, abordando diferentes áreas (higiene, saúde animal, controlos oficiais) mas de facto demasiado complexa e pouco funcional na prática. Acordou-se que seria recriada a legislação de modo melhorado, simplificado e modernizado e que separasse os aspetos da higiene alimentar dos da saúde animal.

Também o Livro Branco sobre a Segurança dos Alimentos, de 12 de Janeiro de 2000 da Comissão das Comunidades Europeias, prosseguindo o trabalho já desenvolvido anteriormente pelo Livro Verde sobre os Princípios Gerais da Legislação Alimentar da UE de 1997, constituiu um elemento essencial a partir do qual se deu início a uma profunda revisão da legislação alimentar da Comunidade Europeia. Neste documento, a Comissão expôs várias recomendações e propôs mais de 80 medidas distintas que se previu virem a ser aplicadas nos anos seguintes. O Web site “Sínteses da legislação da EU” refere de forma simples e resumida estas medidas, as quais incluíram a determinação para que fosse instituída uma Autoridade Alimentar Europeia independente, responsável pela elaboração de pareceres científicos independentes sobre todos os aspetos relacionados com a segurança dos alimentos, a gestão de sistemas de alerta rápido e a comunicação dos riscos; um quadro jurídico melhorado que cobriria todos os aspetos ligados aos produtos alimentares, "da exploração agrícola à mesa"; sistemas de controlo mais harmonizados a nível nacional e a possibilidade de um diálogo com os consumidores e os outros interessados.

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