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1.3 O Movimento Ambientalista no Brasil

1.3.1 A década de 1970

A precursora do movimento ambientalista no Brasil, em 1970, foi a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (DIAS, 1991). Nessa época inexistia uma legislação ambiental no Brasil, assim como na maioria das nações. Até então havia sido instituído pela Lei 4.771 de 1965, o Código Florestal, que estabeleceu a Semana Florestal a ser comemorada obrigatoriamente nas escolas e outros estabelecimentos públicos. A orientação apontada pelo Código Florestal (art. 42) e pela Lei de Proteção à Fauna (art. 35) consistia na inserção de textos sobre

estes temas nos livros escolares, com prévia aprovação do Conselho Federal de Educação sem, contudo, apresentar maiores orientações de como e onde fazer essas inserções dentro do currículo escolar (BRASIL, 2002).

Dias (1991) sinaliza a ocorrência de dois aspectos relevantes, no início da década de 1970: 1) a exportação do prefixo “eco” dos países desenvolvidos e sua associação à temática em pauta sobre o que seria a concepção de "meio ambiente"; 2) a instalação de dezenas de indústrias (Cubatão, Rio Guaíba, Tietê, Projeto Carajás, etc.) como resultado da manifestação dos nossos representantes18 na Conferência de Estocolmo.

Foi então criada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), primeiro órgão oficial brasileiro, orientado para a gestão integrada do meio ambiente, no âmbito do Ministério do Interior (MINTER). A criação da SEMA pelo Presidente da República, em 1973, resultou da pressão do Banco Mundial e de algumas instituições ambientalistas que já atuavam no Brasil, como uma das consequências da Conferência de Estocolmo tendo sido, originariamente, concebido como um órgão de controle de poluição. Este órgão, muito embora tenha construído as bases das leis ambientais e conquistado significativas normatizações, teve sua ação limitada pelos interesses políticos da época, no que se refere à EA (DIAS, 1991).

Teve início também nesta década, o surgimento de cursos de pós- graduação em Ecologia no país, a exemplo das universidades federais do Rio Grande do Sul, do Amazonas, de Brasília, de São Paulo, entre outras - muito embora esta iniciativa possa significar um desdobramento da representação naturalista de meio ambiente (BRASIL, 2009a). A primeira tentativa de incorporação da temática ambiental nos currículos escolares na rede oficial de ensino, segundo Dias (1991), foi realizada em Brasília, em 1976, como resultado do convênio entre a SEMA, a Fundação Educacional do Distrito Federal e a Fundação Universidade de Brasília mediante o Curso de Extensão para Profissionais de Ensino do 1o Grau – Ecologia. Este foi pautado na reformulação da proposta curricular das ciências físicas e biológicas e de

18 A iniciativa fora autorizada pelo general Costa Cavalcanti, então Ministro do Interior

(Limites do crescimento, Fundação Demócrito Rocha, p.7). Um cartaz anunciava: "Bem- vindos à poluição, estamos abertos para ela. O Brasil é um país que não tem restrições. Temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque o que nós queremos são empregos, são dólares para o nosso desenvolvimento" (DIAS, 1991, p. 04). Segundo UBIRACY ARAUJO (op cit.) “Atribue-se a Costa Cavalcanti, representante do Brasil nesta Conferência a afirmativa de que o Brasil, àquela altura, queria o desenvolvimento a qualquer custo. O Itamaraty, entretanto, nega veementemente tal afirmação e coloca os anais da mesma à disposição de quem desejar realizar tal prospecção/pesquisa” (BRASIL, 2009c, p. 20).

programas de saúde e ambiente, envolvendo 44 unidades de ensino e formando 4 mil pessoas. Nos anos seguintes, foi desenvolvido o Projeto de EA da Ceilândia - DF, uma proposta pioneira no Brasil, centrada em um currículo interdisciplinar que tinha por base os problemas e as necessidades da comunidade, o qual, entretanto, não teve continuidade devido “a escassez de recursos, as divergências e a incompetência política – ou competência em executar as estratégias dos países de primeiro mundo, para os quais não era interessante que os países pobres desenvolvessem atividades que pudessem despertar o exercício consciente e responsável da cidadania...” (DIAS, 1991, p. 05). Ainda em 1976, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) e o MINTER firmavam "Protocolo de Intenções" segundo o qual seriam incluídos temas ecológicos nos currículos de 1º e 2° graus19.

Em 1977, o Conselho Federal de Educação (CFE) tornou obrigatória a disciplina Ciências Ambientais em cursos universitários de Engenharia e, em 1978, esses cursos inseriram as matérias de Saneamento Básico e de Saneamento Ambiental em seus currículos. Em 1979, o departamento de 2º grau do MEC e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) publicaram o documento Ecologia - uma proposta para o Ensino de 1º e 2º graus (BRASIL, 2009a). Segundo Dias (1991), a abordagem de meio ambiente contida no documento causou polêmica e estranheza entre os intelectuais da época, uma vez que contrariava àquela definida e acordada internacionalmente, ao enfocar o caráter reducionista da temática ambiental acentuando quase que exclusivamente os aspectos biológicos do meio ambiente.

Note-se que esse fato ocorreu dois anos após a Conferência de Tbilisi, em que a abordagem de meio ambiente a ser desenvolvida pelas distintas nações já havia sido acordada em âmbito mundial. A passagem abaixo localizada em Brasil (2003) ratifica as colocações de Dias (1991) explicitadas acima:

O processo de institucionalização da educação ambiental no governo federal brasileiro teve início em 1973, com a criação, no poder executivo, da Secretaria Especial do Meio Ambiente, vinculada ao Ministério do Interior. A SEMA estabeleceu como parte de suas atribuições, “o esclarecimento

19 Atualmente, o 1º grau é denominado Ensino Fundamental e o 2º grau, Ensino Médio, com

base na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) – os quais serão assim designados neste estudo.

e a educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista a conservação do meio ambiente”, e foi responsável pela capacitação de recursos humanos e sensibilização inicial da sociedade para as questões ambientais (BRASIL, 2003, p. 12, grifo meu).

Note-se na passagem acima o viés naturalista e conservacionista de meio ambiente adotado no âmbito do governo federal, bem como o entrave que se instaurou, na época (década de 1970), segundo Dias (1991), em torno da EA, expresso abaixo:

No Brasil, as coisas não andaram bem. O MEC e a SEMA não se entendiam, por um misto de diferenças de interesses e de vaidades pessoais. Enquanto o sistema educacional brasileiro não assimilava as novas idéias - o que continua até hoje (note-se 1991)-, os órgãos ligados ao meio ambiente resolveram tomar a questão para si, o que não foi ruim, pois, do contrário, ainda estaríamos na estaca zero (DIAS, 1991, p. 06). Desta forma, o desafio de desenvolvimento da EA abalou as estruturas governamentais brasileiras da época, causando dúvidas em torno das responsabilidades a serem assumidas, afinal, até então “educação era educação” (responsabilidade do MEC) e “meio ambiente era natureza” (responsabilidade da SEMA, vinculada ao MINTER20). Assim, a perspectiva de compreensão de meio ambiente para além dos aspectos biológicos, no que tange ao desenvolvimento da EA em cada nação, muito embora, tenha sido lançada nas conferências de Belgrado e Tbilisi sinalizava, diante deste cenário, o desafio a ser enfrentado no processo de elaboração das políticas públicas voltadas às questões ambientais, no Brasil.

Contudo, em síntese, apesar das dificuldades apresentadas, a década de 1970 pode ser considerada como aquela em que foi dado o primeiro passo no processo de institucionalização da EA no Brasil, no âmbito estrutural do governo federal, com a criação da SEMA, em 1973 e, no âmbito pedagógico, em 1976, com a inserção da EA no currículo da rede oficial de ensino mediante o Curso de Extensão para Profissionais de Ensino do 1o Grau – Ecologia.

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