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Década de 1960: Novos grupos e proposições coreográficas, novas escolas de dança e a reforma

universitária

Em 1965, duas novas escolas de dança foram criadas. Uma delas - Escola Forma e Movimento - surgiu da iniciativa de Lígia Azevedo, Ângela Dantas e Carmen Paternostro. Na época, Paternostro era aluna da Escola de Dança. Formou-se dançarina em 1968, quando integrou o elenco do GDC, ainda sob a direção de Rolf Gelewski - que dirigiu o GDC até 1969. Esse elenco do GDC era composto também por Ana Cristina Brandão, Carla Leite e Marly Sarmento.

A segunda escola, criada em 1965, foi a Escola de Iniciação Artística, de Lia Robatto em parceria com a professora de piano Margarida Mascarenhas. A escola se propunha a ministrar aulas de dança e música. Segundo Lúcia Mascarenhas (ROBATTO; MASCARENHAS, 2002, p. 140), foi nesse espa- ço que o GED iniciou suas atividades.

O Grupo de Dança Contemporânea, em julho de 1965, fez muitas apresentações, inclusive fora dos espaços da Universidade. Consta no

Jornal da Bahia, de 2 de junho de 1965, dentro de uma programação de

dança e música do ICBA, a apresentação do GDC na Escola de Teatro da Universidade da Bahia, com “recitais de ballet” dirigidos por Rolf Gelewski e Fred Tragut entre os dias 05 e 07 daquele mês. Tragut era dançarino e professor de origem alemã e trabalhou durante um ano na Escola de Dança. Ele veio à Salvador numa turnê promovida pelo Instituto Goethe em 1964. (ROBATTO; MASCARENHAS, 2002, p. 108)

Uma matéria veiculada no jornal referente aos dias 06 e 07 do mesmo mês indica a participação ativa de Fred Tragut no GDC, como coreógrafo e dançarino que dirigia o grupo com Rolf Gelewski. Até 1969, outros dois coreógrafos16 tiveram oportunidade de criação junto ao GDC, o que indica uma ressalva na postura centralizadora de Gelewski. Naquele momento, o grupo era composto por três professores (entre eles, Gelewski e Tragut) e seis alunas. A proposta do grupo era uma dança que falasse do homem, afirmando o discurso da dança moderna no período. Na matéria, Gelewski contextualizou a negação ao mundo ideal do balé clássico pela proposição de uma dança que foi denominada, sequencialmente, como expressiva, mo- derna e livre.

No programa apresentado pelo GDC, constam as seguintes coreogra- fias: Preâmbulo “Terpsichore” (grupo); Poemas para dois dançarinos (duo); [...] quis pescar [...] (solo); Elegia (solo); Senhor, eu venho até vós (solo); Ornato com cruz (solo); Estruturas (grupo); Scherzo (solo); Quando sale la luna (solo); Protesto (solo); Jesus, meu rei (grupo). Para o quadro apre- sentado, foram utilizadas músicas barrocas, renascentistas e composições contemporâneas. Poucos dias depois, o GDC se apresentou, em Brasília, para o presidente Castelo Branco.

Uma pequena matéria do mesmo jornal, no dia 22 de junho, reiterou a apresentação do GDC no Palácio do Planalto e chamou a atenção para a pouca importância dada às escolas de arte da Universidade naquele momento:

[...] infelizmente, muito pouco compreendido [...]. Nada justifica que, em nome da necessidade de aprofundar-se o ensino estritamente técnico e científico, seja relegado ao artístico o plano secundário. Nossos votos são de que as Escolas de Dança e Teatro e os Seminários de Música se vejam em pouco tempo plena- mente reintegrados no seu ritmo antigo de atividades, que chegaram mesmo a projetar internacionalmente a Universidade da Bahia. (AO RITMO..., 1965, p. 4)

Em matéria do dia 8 de junho de 1965, o Jornal da Bahia anunciou em nota que “Lia e Silvio Robatto, Fernando Perez e Carlos Petrovich estão prepa-

rando um espetáculo sob o tema ‘O Barroco’, que será montado na Escola de Teatro.” (GENTIL, 1965, p. 7) O espetáculo estreou no dia 18 de junho,

com apresentações em três dias consecutivos.

Em 1967, a Escola de Iniciação Artística passou a ser administrada por Marta Saback, aluna da primeira turma da Escola de Dança. A escola ganhou novo nome, Escola de Dança e Arte Integrada, ampliando as opções de cursos oferecidos. Dentro dessa estrutura, em 1974, surgiu O Grupo, sua companhia de dança.

Também em 1967, a EBATECA criou o Balé Brasileiro da Bahia (BBB), sob a direção de Dalal Achcar, com uma proposta de estilização do balé clássico em montagens com temáticas da cultura brasileira, “[...] seguindo o exemplo dos balés folclóricos russo, polonês e mexicano [...].” (ROBATTO; MASCARENHAS, 2002, p. 146) Nesse contexto, a primeira produção do BBB foi Coisas brasileiras em 1968. Em função dos problemas políticos en- frentados pelo país com a ditadura militar e agravados com a edição do AI-5, o BBB teve que cancelar uma turnê deste espetáculo para a Europa.

Marly Sarmento, distante do universo da dança entre 1963 e 1967, foi convidada por Rolf Gelewski, em 1968, para dirigir a Escola de Dança. A necessidade de que as coisas acontecessem e a ausência de profissionais com experiência na cidade fizeram com que, todo o tempo, as funções fossem coexercidas dentro da Escola de Dança. São os casos, por exemplo, de Dulce Aquino, que em pouco tempo transitou entre as funções de aluna, professora e diretora, ou Marly Sarmento que, ao retornar à escola de- pois de cinco anos afastada, exerceu, ao mesmo tempo os papéis de aluna,

dançarina do GDC e diretora da Escola. No meio de todas essas situações emergenciais, aconteceu a reforma universitária e a junção burocrática das escolas de arte, como explica Aquino:

Em 1968, acontece a reforma universitária, com a redução das escolas de teatro, música e dança a uma única unidade administrativa, a Escola de Música e Artes Cênicas. Nós estávamos passando uma crise muito grande depois de 1970, com o endurecimento da revolução. A área de arte era, antes de tudo, uma área de resistência política. A cada momento, diziam que iam acabar as escolas de artes nas universidades. Juntar as três escolas de arte na Escola de Música e Artes Cênicas foi uma forma de diminuir o nosso poder [...]. (ROBATTO; MASCARENHAS, 2002, p. 338)

Nesse formato, cada linguagem deixou de ter um diretor para ser co- ordenada por um departamento. As atividades de dança passaram a ser geridas pelo Departamento de Dança e pelo Departamento de Integração e Educação Artística.

Por meio do Decreto n°. 62.241, de 1968, a Universidade da Bahia pas- sou a ser denominada Universidade Federal da Bahia (UFBA) e teve iní- cio a organização das disciplinas por semestre. (BRASIL, 1968) Segundo Margarida Parreiras Horta, a nova configuração semestral e por créditos prejudicou o GDC. A formação de elenco do grupo passou a sofrer grandes alterações na medida em que as turmas iniciais se dispersavam com o tem- po, pois cada aluno podia, então, fazer opções individuais por disciplinas e horários. Dessa forma, muitas vezes não era possível administrar a variação dos horários semestrais com a rotina do grupo.

A observação da professora não faz qualquer analogia com a intenção repressora do governo militar. Entretanto, é perceptível na situação descri- ta anteriormente a eficácia da ação desarticuladora da cultura, imposta pelo sistema ditatorial no espaço universitário, por meio da reforma implemen- tada naquele ano. Na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, sua repercussão foi imediata.

A década de 1970 e novas perspectivas para a dança