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DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO DE INTERVENÇÃO: Contação da história Os dois

5.2 Relatos e resultados da intervenção de pesquisa

5.2.12 DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO DE INTERVENÇÃO: Contação da história Os dois

Data: 19/11/2013 Local: sala da turma

Início: 15h15 Término: 16h00 Duração: 45 minutos Crianças participantes: 16

Atividade: contar e discutir uma história que tivesse como conteúdo moral a justiça. Os dois burrinhos

Dois burrinhos que andavam juntos, conversavam enquanto levavam a carga para a cidade. O burrinho Tuim carregava esponjas e o Inhó carregava sal. O Inhó começou a sentir muito cansado porque não agüentava o peso e resolveu parar para descansar. O burrinho Tuim, que carregava esponjas continuava caminhando sem se importar. Algumas horas depois,o burrinho Inhó alcançou Tuim mas o burrinho Tuim ele não tinha parado para descansar e perguntou para Inhó: -Que isso, cansado? Tenha paciência! Calma que logo chegaremos e aí você poderá descansar. Me ajude, por favor, um dia vou recompensá-lo!- disse o burrinho Inhó. O burrinho Tuim seguiu sem dar a mínima para Inhó, que estava suando tanto, que as gotas de suor molhavam todo o caminho. Assim chegaram à beira de um rio que tinham que atravessar: -Pode me ajudar dessa vez? Perguntou o burrinho que carregava sal. Vamos dividir a carga, assim poderei passar. Mas o burrinho Tuim, que carregava as esponjas, não quis nem saber. Os dois burrinhos entraram no rio ao mesmo tempo mas a situação se inverteu, ficando o sal do Inhó mais leve e as esponjas do Tuim mais pesadas, por estarem todas encharcadas d’água. O Burrinho Inhó, do sal, saiu do rio dizendo para Tuim: -Agora, o problema é seu, meu amigo.

Adaptação da história “Os dois burrinhos” (apud OLIVEIRA, A. M., Literatura infantil e desenvolvimento moral: a construção da Noção de Justiça em Crianças Pré-Escolares. Tese

(Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, 1994).

RELATO

Após a contação da história, perguntei Pesq.:O que vocês entenderam da história?CLARA (5;5):Que aquele que tava carregando as coisas, pediu ajuda para levar as coisas. Aí aquele que tava carregando as esponjas, ele não ligou nada para o que tava carregando sal. Pesq.: Hum, mas e quando eles chegaram no rio para atravessar, o que aconteceu? CLARA (5;5):Ficou nadando, nadando, nadando, aí aquele que carregou a esponja falou para aquele que carregou o sal você ta cansado? Aí ele falou que to suando muito, porque to carregando sal. Aí o do sal tava cansado, cansado, cansado. Pesq.: Então deixe eu ver se entendi... o burrinho que estava com o sal estava cansado e o da esponja não estava nem aí para ele, era isso? CLARA (5;5):É!Pesq.: O que você lembra da história, LAURA (5;7)? LAURA (5;7):As coisas do sal estavam pesadas, mas o da esponja nem quis ajudar ele. Grande parte das crianças conseguiu relatar os fatos ocorridos na história.

Pesq.: E na hora em que chegaram no rio, e o burrinho que carregava sal pediu para o amigo o ajudar com a carga para poder atravessar, o que aconteceu? LAURA (5;7): O que tava carregando as esponjas nem ajudou o que carregou sal. Pesq.: E quando os dois burrinhos entraram no rio para atravessar, ficou difícil para alguém carregar a carga? CLARA (5;5):Sim, pro da esponja. Pesq.: Por que para o que carregava esponja?CLARA (5;5):Porque tinha um monte de esponja e ficou tudo pesado lá no rio.

Pesq.: Vocês acham que foi certo o burrinho que carregava sal não ajudar o burrinho que carregava esponjas? CLARA (5;5) Foi errado. Pesq.: Por quê? CLARA (5;5)Podia ter ajudado ele porque é amigo dele. LAURA (5;7): Tem que ajudar os amigos.

GABRIEL (6): Pede para o amigo ajudar. Pesq.: Mas e lá atrás, o burrinho que carregava as esponjas não ajudou o burrinho que carregava sal, não foi? CLARA (5;5):É. Pesq.: Alguém concorda com o que a CLARA (5;5) disse? LAURA (5;7): Eu não, ele não ajudou o amigo dele lá antes quando ele queria descansar e também não tinha ajudado ele também a atravessar o rio. CLARA (5;5):Mas tem que ser amigo do colega, tem que ajudar o amigo. MIGUEL (5;6): Tem que brincar junto, sem bater.

Nesse momento, com base em Oliveira (1994) propus que as crianças considerassem a situação como algo mais próximo a elas, criando um fato parecido entre duas meninas da turma, então perguntei Pesq.: PAULA (5;11), me diga uma coisa. Tem alguém da nossa turma que é uma grande amiga sua? PAULA (5;11): A CLARA (5;5).Pesq.: Legal! Então faz de conta que vocês duas tinham ido ao supermercado e compraram um monte de coisa. Quando saíram de lá, a sua sacola estava mais pesada e a da CLARA (5;5) mais leve, então você disse “CLARA (5;5), me ajuda a dividir as coisas? Está muito pesado!” e ela respondeu “Ah, eu não vou ajudar não”. Neste momento outras crianças já se manifestaram dizendo que ajudariam. E vocês continuaram andando, cada uma segurando as próprias sacolas. Mas de repente, a CLARA (5;5) tropeçou, caiu no chão e derrubou todas as coisas dela no chão. O que você faria, você ajudaria ela? PAULA (5;11): Sim. Pesq.: Por que? ENZO (5;5): Porque é amiga dela! Pesq.: Por que é amiga dela? PAULA (5;11): É! Pesq.: Mas ela não te ajudou lá atrás quando você pediu ajuda.. MIGUEL (5;6): Então você não deve ajudar ela. PAULA (5;11): Deixa. Pesq.: Deixa? Não tem problema? PAULA (5;11): Não! Pesq.: Você ajudaria ela mesmo assim? PAULA (5;11) respondeu que sim com a cabeça. CLARA (5;5):Eu ajudava, eu ajudava! Outras crianças se manifestaram dizendo que também ajudariam. MIGUEL (5;6): Eu não, ela não ajudou a PAULA (5;11) lá atrás.

Pesq.: Voltando então lá na história dos dois burrinhos, e se vocês estivessem afundando, vocês acham que o burrinho deveria ajudar mesmo assim? Resposta unânime afirmativa. Pesq.:O que vocês acham que poderia acontecer com o burrinho das esponjas quando eles entraram no rio?CLARA (5;5):Eu sei, eu sei, o do sal se afogou. Pesq.: O do sal? CLARA (5;5):É, aí faz de conta que o NÍCOLAS (5;2) era o da esponja aí o do sal se afogou aí ele tava olhando lá pra trás, aí depois que eu me afoguei ele olhou pra frente aí foi lá com o amigo dele, aí ele foi lá embaixo, viu o amigo dele, eu né, eu era do sal e ele da esponja, aí eu afoguei, afoguei, afoguei, aí ele foi lá e ajudou eu. Pesq.: Faz de conta que o burrinho que estava carregando o sal tivesse salvado o burrinho das esponjas. Vocês acham que o burrinho das esponjas merecia ganhar um castigo? MIGUEL (5;6): Deixar se afogando. Pesq.: Por que? MIGUEL (5;6): Porque ele não ajudou o amigo lá atrás. Pesq.: Mas deixaria o amigo se afundar lá no rio e morrer? MIGUEL (5;6): Não. Eu ía pular, pular no rio e ía salvar ele. CLARA (5;5):Não, ele tinha que ficar de joelho. Pesq.: Mas ficar de joelho um pouco ou para sempre? CLARA (5;5):Para sempre!

Depois disso não foi possível realizar mais discussão em virtude do horário de saída das crianças. Foi possível observar diferenças entre as noções apresentadas pelas crianças, enquanto algumas apresentaram uma noção de justiça retributiva, com prevalência da sanção do tipo expiatório, outras demonstraram preferência pela sanção por reciprocidade, outras ainda trouxeram aspectos relacionados à generosidade e à fidelidade aos laços de amizade, em que mesmo não recebendo ajuda deveriam auxiliar o outro.

5.2.13 DÉCIMA TERCEIRA SESSÃO DE INTERVENÇÃO