• Nenhum resultado encontrado

Dívidas da indemnização: juros indemnizatórios e juros compulsórios 3 Dívidas dos juros: juros remuneratórios e juros compensatórios

No documento DIREITO DAS OBRIGAÇÕES (páginas 47-80)

Exercício 13 c) Se, entretanto, Moreno tivesse vendido a Louro toda a sua produção de

2. Dívidas da indemnização: juros indemnizatórios e juros compulsórios 3 Dívidas dos juros: juros remuneratórios e juros compensatórios

4. Dívidas do capital

Na ordem sequencial da imputação, as regras do artigo 784º e as do artigo 785º têm de ser conjugadas. A ideia é ir primeiro à obrigação mais antiga, esgotar todas as categorias pela ordem acima descrita e seguir o processo obrigação a obrigação em vez de esgotar todas as despesas, depois todas as indemnizações, juros e capitais. Contudo, há autores que defendem o contrário.

Seguindo a primeira tese, aplicamos o artigo 784º quando olhamos para o conjunto dos vários “pacotes” de obrigações (frigorífico, fogão, micro-ondas, …) e depois passamos para a aplicação do artigo 785º para, dentro de cada “pacote” extinguir as dívidas sequencialmente.

Regressando ao exercício 14 alínea b) sobre o mútuo entre Mónica e Luís…

Mónica faz várias exigências de pagamentos que temos de ver, juridicamente, em que é que se traduzem. Primeiramente, quando Mónica exige a devolução dos 150 euros correspondentes ao valor mutuado, falamos da obrigação de capital.

Em segundo lugar, Mónica pede juros a contar desde o primeiro dia do empréstimo, o que seriam juros remuneratórios. O artigo 1145º diz que as partes podem fixar o pagamento de juros como retribuição do mútuo. Sempre que se empresta dinheiro a alguém, pode-se combinar o pagamento de juros ou dizer que é gratuito. Se nada se disser, presume-se que o negócio é oneroso, pelo que a Mónica pode fazer essa exigência. Assim sendo, é aplicável a taxa de juro legal como diz o artigo 559º.

Em terceiro lugar, Mónica ao exigir indemnização pelo atraso no pagamento, está a exigir juros moratórios.

➔ Anatocismo

À cobrança de juros sobre juros chamamos anatocismo. A figura do anatocismo, prevista no artigo 560º, embora não seja proibida, está muito restringida. Para poder cobrar juros sobre juros, tem de se proceder primeiro a uma capitalização dos juros vencidos. Capitalizar é transformar a obrigação de juros numa obrigação de capital que por sua vez gera novos juros.

Se pudéssemos capitalizar obrigações de juros todos os dias, o montante do capital iria crescer a uma velocidade exponencial. Esta figura já foi responsável por muitas ruínas porque as pessoas não têm capacidade para responder a uma capitalização contínua. Conhecido esse efeito e no sentido e proteger os devedores, surgiram dois importantes artigos, o artigo 559ºA e o artigo 560º.

48

➔ O artigo 559ºA, remetendo para o artigo 1146º, proíbe os juros usurários.

(vamos voltar aos juros usurários depois)

➔ O artigo 560º impõe limites ao anatocismo:

o Para que os juros vencidos produzam juros é necessária convenção posterior ao vencimento.

o Se não houver concordância das partes posterior ao vencimento, é preciso pedir ao tribunal para enviar uma notificação ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou para que este proceda ao seu pagamento sob pena de capitalização.

o O nº2 protege mais ainda ao dizer que os juros só podem ser capitalizados anualmente, isto significa que só podemos atualizar o valor do capital uma vez por ano.

Este artigo só se aplica dentro de cada categoria de juros para impedir o seu crescimento exponencial. Não faz sentido que pelo atraso não se possa pedir o pagamento de juros de mora quer no pagamento da obrigação do capital quer no pagamento dos juros de mora. Podemos exigir juros de mora sobre juro de compensação, por exemplo, não podemos é exigir os mesmos juros sobre si mesmos.

O artigo 559º nem sempre teve a redação que agora encontramos. Na sua redação original a taxa legal estava fixada em 5% sem remeter para qualquer outro diploma. Aconteceu que pouco depois do 25 de abril começamos a ter uma inflação galopante o que levou a duas conclusões: primeiro, 5% era muito menos que o custo efetivo do dinheiro; segundo, se se quer um código estável, é mais prudente remeter para uma portaria sujeita a diversas atualizações do que fixar valores.

Em 1980 a taxa deste artigo foi eliminada e deu lugar a uma remissão para a portaria conjunta dos Ministros da Justiça e das Finanças e do Plano. Desde então verificaram-se grandes flutuações, tendo mesmo atingido os 23%. Contudo este valor foi descendo gradualmente até se fixar nos 4% em 2003, data desde a qual se mantém estável.

É de realçar que a taxa de 4% é anual. Ou seja, se cresce 4% num ano, vai crescer 2% em 6 meses ou 1% em 3 meses. É calculado proporcionalmente.

Isto significa que se o Luís deve 150 euros e passar um ano, sendo a taxa de 4%, ele vai ficar a dever 150 euros mais 6 euros de juros (150x0,04). Se o Luís deixar passar dois anos, o valor dos primeiros 6 euros vai ser capitalizado ao fim do primeiro ano e acrescer aos 150 euros. Então temos 156 euros de dívida de capital mais 6,24 euros de juros (156x0,04).

Esta taxa aplica-se somente aos juros legais civis. Os juros civis são juros aplicáveis a obrigações civis, reguladas pelo direito civil.

49

Ainda dentro dos juros legais encontrámos os juros comerciais que são aplicáveis a obrigações comerciais. O regime destes juros não é o mesmo, pois vem regulado no código comercial que remete para outra portaria. Ao contrário da taxa dos juros civis, a taxa dos juros comerciais não tem sido estável e em vez de fixar um valor, fixa uma fórmula que por sua vez calcula a taxa. A taxa dos juros comerciais está indexada e a sua concretização vai sendo publicada em aviso. O mais recente aviso é de 3 de janeiro deste ano e dá-nos as taxas finais. Desde o segundo semestre de 2016 tem sido entre 7 e 8%.

Esta lengalenga sobre os juros comerciais é mera curiosidade, pois todos os nossos exercícios incidem em juros civis. Importa apenas reter que é uma forma mais complexa de calcular os juros e diz respeito às obrigações e ao código comercial.

Voltando ao Luís e à Mónica…

➔ Obrigação de capital? o 150 euros

➔ Obrigação de juro remuneratório?

o Passaram 3 meses, que corresponde a ¼ de um ano o Se 4% é um ano, ¼ é uma taxa de 1%

o 150 x 0,01 = 1,5

o O juro remuneratório é de 1,5 euros. ➔ Obrigação de juro moratório?

o O juro moratório é calculado em relação ao tempo de atraso que sabemos que foi de 1mês.

o 4/12 é a percentagem a aplicar ao valor em causa, o que seria 0,33% o 150 x 0,0033 = 49,5 ≈ 0,50 euros

o O juro moratório é de 0,50 euros.

O Luís tem a pagar 152 euros à Mónica. Não há lugar a anatocismo porque não passou um ano, logo os juros não podem ser capitalizados. Temos de perceber que não ser possível aplicar juro por juro, não impede que se aplique um juro moratório sobre o juro remuneratório, apenas impede um juro sobre esse mesmo juro.

Neste caso, mesmo que não tenha passado um ano, tendo o Luís um mês de atraso do pagamento dos 1,5 euros referentes aos juros remuneratórios, pode a Mónica exigir um novo juro moratório sobre esse valor.

➔ Juro moratório sobre juro remuneratório o 4% / 12 meses

o 0,0033 x 1,5 = 0,005 ≈ 0,01 euros o O Luís tem a pagar mais 1 cêntimo.

50

Voltando aos artigos 559ºA e 1146º, sobre os juros usurários….

Historicamente, a religião católica e a religião muçulmana vêm com maus olhos a cobrança de impostos. Em alguns países muçulmanos chega mesmo a ser proibida a cobrança de juros. A ideia de desvalor do capital produzir juros é algo que está enraizado na nossa cultura. Encontramos isso na consagração de um regime específico de usura para os juros nos artigos 282º a 284º. Os negócios viciados por usura são anuláveis.

Relativamente aos juros, a nossa ordem jurídica tem especiais cuidados. No

artigo 1146º lê-se que “é havido como usurário o contrato de mútuo em que sejam

estipulados juros anuais que excedam os juros legais, acrescidos de 3% ou 5%, conforme exista ou não garantia legal”.

Desta forma, o nosso ordenamento fixa um teto máximo para os juros cobráveis. Isto significa que se alguém emprestar dinheiro com uma taxa superior a esse teto máximo, considera-se esse juro usurário e é reduzido ao máximo permitido, como prevê o nº2. Estas regras apenas valem para as relações entre os indivíduos, não se aplicando ao direito bancário.

➔ AUJ – 7/2009 do supremo tribunal de justiça

Este acórdão surge no sentido de responder a uma dúvida extremamente polémica sobre as dívidas liquidáveis em prestações e os juros remuneratórios nelas incorporados.

Imaginemos um caso em que tenho uma dívida em prestações para com o banco, falho uma delas e, ao abrigo do artigo 781º, o meu credor diz-me que todas as prestações se venceram. Sabemos que os juros remuneratórios são fixados como contrapartida pela utilização de capital alheio durante certo tempo.

Ora, se eu tinha um contrato por 5 anos com juros remuneratórios, mas tiver de o cumprir ao fim de apenas 3 anos, ainda faz sentido ter de pagar a quantia referente aos juros remuneratórios dos outros 2 anos?

O acórdão em causa vem responder que no contrato de mútuo oneroso liquidável em prestações, o vencimento imediato destas ao abrigo da cláusula de redação conforme ao artigo 781º, não implica a obrigação de pagamentos dos juros remuneratórios nelas incorporados. Se o banco me exige o pagamento de todas as prestações, prescinde do direito de receber os juros remuneratórios que dizem respeito ao período posterior.

Direito à quitação

A prova do cumprimento compete em princípio ao devedor, uma vez que o cumprimento constitui um facto extintivo do direito do credor que deve ser demonstrado pela parte contra quem o crédito é invocado (artigo 342º nº2). No entanto, o cumprimento não pode ser provado por testemunhas (artigo 395), pelo que o modo mais adequado de proceder a essa prova consiste em o autor do cumprimento exigir do credor uma declaração escrita em que recebeu a prestação em dívida.

51

A essa declaração dá-se o nome de quitação, uma vez que através dela o credor exprime que o devedor se encontra quite para com ele. Quando a quitação consta de um documento avulso, costuma dar-se a esse documento o nome de recibo.

A quitação é um direito atribuído por lei, nomeadamente pelo artigo 787º, a qualquer pessoa que cumpre a obrigação e não apenas ao devedor.

Um exemplo simples é ficarmos com o cabeçalho dos exames que fazemos na faculdade, o que corresponde ao nosso direito à quitação para usarmos caso alguém ponha em causa o nosso cumprimento.

Pode-se assim exigir sempre do credor um recibo e, caso este não se disponha a passa-lo, o cumprimento pode ser legitimamente recusado, tal como nos diz o artigo

787º nº2. O recibo pode igualmente ser exigido mesmo depois de a prestação já ter sido

efetuada.

A quitação tem de vir sempre do credor, tem de ser este a confirmar que o cumprimento aconteceu. Qualquer fatura ou recibo que recebemos quando fazemos uma compra conta como quitação.

Em certos casos, a lei dispensa o devedor de provar que cumpriu a obrigação. São as denominadas presunções de cumprimento, que constam do artigo 786º. Assim, se o credor prestou quitação do capital sem reservar que faltava pagar juros e prestações periódicas, presume-se que estão pagos os juros e essa prestações, tal como estatui o artigo 786 nº1.

Da mesma forma, se forem devidos juros ou outras prestações periódicas (por exemplo, rendas) e o credor der quitação sem reserva de uma dessas prestações presumem-se realizadas as prestações anteriores, nos termos do artigo 786 nº2.

Direito à restituição do título ou à menção do cumprimento

Se a obrigação aprece referida a determinado documento (como sucede, por exemplo, no caso dos títulos de crédito), quando o devedor realiza o cumprimento, tem o direito de exigir a restituição desse documento (artigo 788 nº1). Efetivamente, a emissão do título de uma obrigação destina-se a uma causa jurídica específica, que é a de possibilitar a cobrança da dívida, pelo que, uma vez extinta a dívida, o credor deixa de ter causa jurídica para a sua retenção, devendo assim proceder à sua restituição.

O credor pode ter, no entanto, interesse legítimo na conservação, como sucederá na hipótese de o título lhe conferir outros direitos. Nesse caso, o devedor poderá exigir que o credor mencione no título o cumprimento efetuado, o que inviabilizará a possibilidade de o utilizar novamente para cobrança daquela obrigação. Caso o credor não o faça, o devedor pode legitimamente recusar-se a efetuar a prestação, podendo ainda exigir a restituição do título posteriormente ao cumprimento, tal como estatui o artigo 788º nº3.

52

Pode, porém, ainda acontecer, que o credor invoque a impossibilidade por qualquer causa, de restituir o título ou de nele mencionar o cumprimento (invocando, por exemplo, que perdeu o documento). Nesse caso, pode o devedor exigir a quitação passada em documento autêntico ou autenticado ou com reconhecimento notarial, correndo o encargo por conta do credor, nos termos do artigo 789º.

Se for um terceiro a cumprir a obrigação, a lei determina que ele só goza dos mesmos direitos se ficar sub-rogado nos direitos do credor, isto nos termos do artigo

788 nº2. Efetivamente, na hipótese contrária, o título deverá ser antes restituído ao

devedor, porque a dívida se extinguiu.

O direito à quitação, a restituição do título e a menção do cumprimento são mecanismos a que o devedor se pode socorrer para efeitos de prova, facilitando a comprovação de que fez o que tinha de fazer.

Exercício nº 16. António e Bento celebraram um contrato de mandato, ficando o

segundo de, em nome próprio e por conta do primeiro, comprar uma série de obras de arte no leilão do recheio de uma casa senhorial que iria decorrer em Leiria. Bento faz o que tem a fazer. Uma vez concluídos os trabalhos, presta contas a António, exigindo-lhe o pagamento da remuneração estipulado no contrato, de 1000€, e o reembolso dos 35000€ que ele próprio tivera de desembolsar, correspondentes ao preço das obras por si adquiridas que Bento agora se dispõe a transmitir a António. Este furta-se a pagar o que quer que seja, com o argumento de que naquela ocasião lhe faltava liquidez. Bento, furioso, responde-lhe que de nada prescindirá, devendo António pagar-lhe, a bem ou a mal, tudo o que lhe é devido, e com juros! Quatro meses depois aparece na sua conta bancária uma transferência de 9000€, ordenada por António. Quid juris?

O contrato de mandato está regulado pelo artigo 1157º e seguintes. Neste caso, atos jurídicos eram a compra de obras de arte num leilão. Em nome próprio, mas por conta de outrem quer dizer o quê? Não é representação. Significa que Bento iria ele próprio adquirir as obras de arte, fazendo-o, no entanto, por conta de António. Não seria livre para ficar com elas, tal como nos indica o artigo 1161º e), a propósito das obrigações do mandatário. Nos termos do artigo 1167º, vemos que é António que foge aos seus compromissos.

O contrato de mandato é um bom exemplo das várias categorias de imputação do artigo 785º. Os 35 000 € correspondem a despesas. O mandatário transmite ao mandante a propriedade das obras que comprou e tem agora o direito a ser reembolsado pelas suas despesas.

Nota: artigo 1178º e ss. para o mandato sem representação, artigos 1180º e ss. para o mandato com representação. Se houvesse representação, a propriedade passaria

diretamente para o património do mandante, mas essa não é a situação do exercício 16. Temos 35 000 € de reembolso de despesas e 1 000 € de remuneração (obrigação de capital). Os juros referidos no exercício são os juros moratórios, não contam como juros para efeitos de imputação, mas sim como indemnização. E ainda temos os juros

53

compensatórios do artigo 1167º, que se contam desde o dia em que as obras foram pagas.

Despesas: 35 000 € / Juros moratórios: ? / Juros compensatórios: ? / Capital: ? Há que determinar os juros compensatórios nos termos do artigo 1167º c). Supondo, imagine-se, que tinham passado 15 dias: de acordo com o contrato, António devia pagar a Bento os 35 000 € como reembolso de despesas, os 1 000 € como remuneração e ainda os juros compensatórios pelo tempo em que não pôde dispor do dinheiro.

Na data em que devia ter ocorrido o cumprimento, temos 35 000 € + 1 000 € + 58 €. São três obrigações diferentes/autónomas, mas somando tudo temos um total de 36 058 €. Como é que se calcula? Através de uma regra de três simples.

Multiplica-se por 0,04 para saber quanto é ao ano e depois vê-se quantos dias são e divide-se por 365 (35 000 x 0,04 = 1400 | 1400»365 enquanto que X»15).

Nota: é necessário fazer estas contas em exame. Mas é prudente explicar o raciocínio,

para o caso de as contas estarem erradas. É permitido levar calculadora. Não faz mal arredondar no exame.

Então: X = (1400x15) / 365 = 57,53 ≈ 58 €

Agora vamos calcular estes juros moratórios: 36 058 € x 0,04 = 1 442

1 442 / 3 = 494 (podemos dispensar a regra de três simples aqui, já que estamos a falar de 4 meses e assim o processo fica simplificado).

Imputamos o 9 000 € abatendo aos 35 000 € de despesas. Entretanto, passamos a fazer a conta sobre os 27 058€. Apenas quando passar um ano inteiro nos juros moratórios é que podemos capitalizar.

Presumindo que Bento quer cobrar o máximo, o artigo 560º só permite a capitalização dos juros passado 1 ano (pedindo uma notificação judicial avulsa ao tribunal). Com o envio da notificação judicial avulsa, os juros passam a ser contabilizados a partir de 37 500 €.

Nota: capita é um conceito relativo, não absoluto. Capital em comparação com o juro é

calculado com esse montante. Apenas no dia em que o devedor paga integralmente é que deixamos de calcular juros.

NÃO CUMPRIMENTO

De acordo com o professor Menezes Leitão, verifica-se o não cumprimento, em sentido naturalístico, quando ocorre a não realização da prestação devida, ou a sua realização em termos que não correspondam à adequada satisfação do interesse do credor.

54

Vamos entrar agora no estudo das perturbações das obrigações e recorrer a uma análise tripartida. As perturbações têm como primeiro efeito afetar a obrigação em si, modificando-a ou levando à sua extinção. O segundo conjunto de efeitos são os que se refletem na contraprestação porque quando uma obrigação é afetada isso tem implicações na outra obrigação do mesmo contrato. Por fim, temos um terceiro grupo de efeitos que diz respeito à responsabilidade civil: sempre que há uma perturbação numa obrigação, temos de nos perguntar se essa perturbação é geradora de responsabilidade civil para alguma das partes. Embora não aprofundemos esta última questão, importa perceber quando é que este assunto deve surgir.

Temos de distinguir a obrigação primária da obrigação de indemnizar. A

obrigação de indemnizar resulta do incumprimento da obrigação primária, no âmbito

da responsabilidade civil.

Modalidades de perturbações na obrigação

As perturbações podem ser originárias se quando a obrigação nasce já padece desse mal, ou podem ser supervenientes se só surgirem posteriormente ao nascimento da obrigação. Neste ponto importa retomar conhecimentos de TGDP sobre os vícios que afetam as obrigações desde o seu nascimento. Nesta cadeira vamos centrar-nos nas supervenientes, ou seja, nas obrigações que nascem saudáveis, mas depois sofrem alguma perturbação.

As perturbações podem ser ainda imputáveis ou não imputáveis. Quando temos um não cumprimento, temos de verificar se este é ou não imputável a alguma das partes consoante as circunstâncias. Apesar de não haver um juízo de culpa, a perturbação pode ter surgido de uma das esferas, sendo-lhe imputável. Só não o será se falarmos em causas alheias às partes, como quando acontece um dilúvio que impede um qualquer cumprimento por exemplo.

O nosso legislador deu demasiada importância à impossibilidade em vez de regular convenientemente as obrigações que ainda podem ser cumpridas. Paralelamente a esta situação há uma lacuna evidente: O que acontece se o devedor cumprir mal? A matéria do cumprimento defeituoso não está expressamente regulada.

Quais os efeitos das impossibilidades? O paradigma que ainda subsiste no nosso

sistema é de que uma obrigação não pode existir sendo impossível:

➔ A impossibilidade originária gera nulidade, segundo o artigo 280º. A nulidade corresponde à solução tradicional, mas está cada vez mais em crise. Se nunca foi

possível, nunca existiu.

➔ A impossibilidade superveniente tem um efeito correspondente uma vez que, apesar de não gerar invalidade, extingue a obrigação. Se deixou de ser possível,

55

Vamos estudar quatro regimes destas perturbações nas obrigações:

➔ Impossibilidade superveniente não imputável ao devedor – o cumprimento da obrigação tornou-se impossível por motivo alheio ao devedor. Está regulada nos

artigos 790º e seguintes.

➔ Impossibilidade superveniente imputável ao devedor – foi o devedor que tornou impossível o cumprimento da obrigação. Está regulada nos artigos 801º

e seguintes.

➔ Mora do devedor – a obrigação ainda é possível, mas o devedor está em atraso. Está regulada nos artigos 804º e seguintes.

➔ Mora do credor – casos em que o cumprimento é possível, mas o credor impediu o devedor de cumprir. Está regulada nos artigos 813 e seguintes.

Vamos estudar cada um destes regimes individualmente.

O que é impossibilidade? A verdadeira impossibilidade é objetiva. Isto é, uma

No documento DIREITO DAS OBRIGAÇÕES (páginas 47-80)