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RELAÇÕES PLURAIS OBRIGAÇÕES PLURAIS

No documento DIREITO DAS OBRIGAÇÕES (páginas 92-96)

Um outro critério de classificação das obrigações reside no número de sujeitos que participa na relação obrigacional. De acordo com a definição do artigo 397º, a obrigação é a vinculação jurídica pela qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma determinada prestação.

Se a obrigação abranger mais do que dois sujeitos, tendo uma pluralidade de credores ou uma pluralidade de devedores, fala-se em obrigação plural.

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A obrigação plural pode constituir-se abrangendo:

➔ uma vinculação de várias pessoas para com uma outra – pluralidade passiva; ➔ uma vinculação de uma pessoa para com as outras – pluralidade ativa; ➔ ou ainda de várias pessoas com outras – pluralidade mista.

Nas obrigações plurais temos de distinguir: ➔ Pluralidade ativa: mais do que um credor ➔ Pluralidade passiva: mais do que um devedor

➔ Pluralidade mista: mais do que um devedor e mais do que um credor. Esta pluralidade pode ser:

➔ Originária: a obrigação é plural desde a sua origem

➔ Superveniente: obrigação é inicialmente singular, mas depois torna-se plural: o Se o credor ou o devedor morre e tem mais do que um herdeiro, a obrigação

passa a ter mais do que um credor

o Se há uma transmissão parcial do crédito ou da dívida

Então temos:

Obrigações Parciárias ou Conjuntas

Parciárias talvez seja o nome mais correto, porque conjuntas transmite a ideia

de que estas obrigações têm de ser cumpridas em conjunto. Contudo, a própria lei utiliza a expressão “obrigação conjunta”, pelo que podemos usar qualquer um dos termos.

As obrigações parciárias ou conjuntas são aquelas em que cada um dos devedores só está vinculado a pagar a sua parte, e o credor só pode exigir a prestação individual de cada um e não a totalidade. Havendo vários credores, cada um só vai receber a parte que lhe compete. Havendo pluralidade de devedores e de credores,

cada credor só pode exigir a sua parte do crédito e cada devedor só tem que prestar a sua parte da dívida.

OBRIGAÇÕES PLURAIS Pluralidade passiva Pluralidade ativa Pluralidade mista OBRIGAÇÕES PLURAIS Originária Superveniente OBRIGAÇÕES PLURAIS Obrigações conjuntas Obrigações solidárias Obrigações divisiveis Obrigações indivisiveis Obrigações disjuntas Obrigações em mão comum

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Presumindo que a cada sujeito cabe uma parte idêntica na relação obrigacional, se A, B e C se obrigarem a entregar a D a quantia de 900 euros, D apenas poderá exigir de cada um deles que lhe entregue os 300 euros correspondentes à sua parte na dívida, não podendo exigir a totalidade da prestação a nenhum. Vejamos os seguintes exemplos de obrigações parciárias:

➔ A deve 200 euros a B e C, logo cada um dos credores só pode exigir 100 euros ➔ A e B devem 1000 euros a C, então C só pode exigir 500 euros a cada um. ➔ Se A, B e C devem 900 euros a D. Quanto é que A deve a D? Deve 300 euros ➔ Se A, B e C devem 900 a D, E e F. Quanto é que A deve a D? A deve 100 euros

Quando falamos neste tipo de obrigações, a obrigação tem de ser única apesar de ser partilhada, a unidade tem de se manter. Isto significa que se A contratar 3 violinistas e um violoncelista para tocarem no seu casamento, o fim é complementar, mas as prestações de cada um são separadas. A deve pagar a cada um dos músicos individualmente a sua parte, mas estes têm de cumprir a obrigação como um todo.

Obrigações Solidárias

As obrigações solidárias têm uma secção que lhes é dedicada a partir do artigo

512º. Ao contrário do que se passa nas obrigações parciárias, cada um dos devedores está obrigado a cumprir a totalidade do crédito, não havendo já um rácio do

pagamento. Por sua vez, qualquer um dos credores tem a faculdade de exigir a

totalidade da obrigação. Se um pagar, os outros já não têm de o fazer. A obrigação é

integralmente cumprida mediante o pagamento de apenas um dos credores. Isto significa que:

➔ Se A, B e C devem 900€ a D, o D pode exigir os 900€ a qualquer um dos devedores e o pagamento por um libera todos. É a solidariedade passiva.

➔ Se A deve 500€ a C e D, qualquer um dos credores pode exigir o pagamento da totalidade do valor a A e o A pode pagar a qualquer um dos credores ficando liberado perante os outros. É a solidariedade ativa.

➔ Se A, B e C devem 500€ a C, D e F, qualquer um dos credores pode exigir a totalidade do valor e qualquer um dos devedores pode pagar a totalidade da dívida, liberando assim todos os outros devedores em relação a todos os credores. É a solidariedade mista.

De acordo com o professor Menezes Leitão, características da solidariedade são, assim, a identidade da prestação em relação a todos os sujeitos da obrigação, a extensão integral do dever de prestar ou do direito à prestação em relação respetivamente a todos os devedores ou credores, e o efeito extintivo comum da obrigação caso se verifique a realização do cumprimento por um ou a um deles.

95 Nas relações internas

A solidariedade é algo que se manifesta nas relações externas, entre devedores e credores. Contudo, há que analisar o que é acontece internamente.

Num caso de solidariedade passiva, o devedor que paga tem direito de regresso, previsto pelo artigo 524º que estabelece que o devedor que satisfaz o direito do credor além da parte que lhe competia tem direito de receber por parte de cada um dos condevedores, a parte deles.

➔ Se A e B devem 500€ ao C e o A paga esse valor, então o A vai ter direito de regresso contra o B da parte que ele adiantou.

Por sua vez, na solidariedade ativa, o credor que recebe a prestação devida tem

de entregar aos outros a parte que lhes compete. Isto resulta do artigo 533º.

➔ Se o A deve 500€ a B e C, paga esse valor ao B. O B vai ter de entregar a sua parte. O artigo 516º diz-nos que a participação nas dívidas e nos créditos se presume

igual. Ou seja, se nada se disser, partimos do pressuposto que devedores e credores

solidários comparticipam em partes iguais na dívida ou no crédito.

A segunda parte desta disposição acrescenta que uma distribuição desigual

pode resultar da lei ou de estipulação das partes. No limite a repartição pode ser até

de 100/0. Qual é o sentido? Isto acontece na solidariedade passiva para que o credor tenha mais uma garantia. Havendo um segundo devedor, há duas pessoas e dois patrimónios que respondem pela dívida. O devedor que tem 0% da dívida nas relações internas, acorda esta situação para servir de mera garantia e depois tem de ser inteiramente restituído na relação interna.

O nº2 do artigo 512 estabelece que não é preciso haver igualdade total, isto significa que a obrigação não deixa de ser solidária pelo facto de os devedores estarem obrigados em termos diversos (termo ou condição, prazos de cumprimento diferentes), ou com diversas garantias (hipoteca, fiança), ou de ser diferente o conteúdo das prestações de cada um deles (capital + juros, solidariedade apenas no que é comum).

Se nada resultar da lei ou da vontade das partes, a obrigação é conjunta ou solidária?

Se nada resultar da lei ou da vontade das partes, considera-se a obrigação conjunta. O regime regra no direito civil é o da conjunção: a obrigação vai ser partida pelo número de credores ou devedores existentes. Esta regra decorre do artigo 513º que diz que só haverá solidariedade se esta resultar da lei ou da vontade das partes.

Por sua vez, para as relações comercias, temos o artigo 100º Código Comercial onde se lê “nas obrigações comerciais os coobrigados são solidários, salva estipulação contrária”. Contudo, esta disposição diz respeito apenas à pluralidade passiva (devedores). Quanto à pluralidade ativa aplica-se a conjunção do artigo 513 Código Civil, por remissão do artigo 3º Código Comercial. Isto significa que o regime regra no direito

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Em síntese, as regras gerais são:

Ainda sobre as obrigações civis, encontramos alguns exemplos em que a solidariedade resulta da lei: artigo 198º nº1, artigo 200º nº1 e artigo 997º nº1.

Para determinar quando é que a solidariedade resulta da vontade das partes é necessário interpretar as suas declarações mediante os critérios do artigo 217º e

seguintes. Em especial os artigos 217º e 236º. Do primeiro decorre que a declaração

negocial pode ser expressa ou tácita. O segundo determina que vai valer o sentido que um declaratário normal possa deduzir da declaração do declarante. Isto significa que não é preciso que seja utilizada a palavra “solidariedade” ou “solidariamente”. Basta que seja deduzível da declaração.

Regime das obrigações parciárias

Nas obrigações parciárias tudo se passa como se houvesse uma pluralidade de obrigações. Haverá tantos vínculos parcelares quanto o número de ligações entre as

partes. Por outras palavras, vamos ter tantas relações quanto as linhas que pudermos

estabelecer entre as partes. Se tivermos 3 credores e 3 devedores, temos 9 vínculos parcelares:

Cada vínculo goza de autonomia em relação aos demais, daí que não haja necessidade de um regime próprio para as obrigações parciárias, ao contrário das

obrigações solidárias que têm o seu próprio conjunto de normas.

Apesar de a cada um desses vínculos aplicarmos o regime geral das obrigações simples, estas não deixam de ser parciárias, pelo que as vicissitudes de alguma das

linhas podem ter repercussões nas restantes.

➔ Um exemplo é a exceção do não cumprimento. Quando estamos perante contratos, o facto de a obrigação ser única permite que um dos credores/devedores invoque perante a outra parte a exceção do não cumprimento, isto é, a recusa da prestação a ambos os credores enquanto não cumprirem a sua prestação na totalidade: eu não cumpro enquanto tu não cumprires.

No documento DIREITO DAS OBRIGAÇÕES (páginas 92-96)