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Nota prévia

4. Viabilidade do projeto Uniloop

4.1. A NÁLISE DO MERCADO DOS LIVROS UNIVERSITÁRIOS EM P ORTUGAL

4.1.1. PESTEL 32 1 F ATORES POLÍTICOS

4.1.1.2. D ISPOSIÇÕES LEGAIS

Com quadros legislativos difusos e indefinidos, posições contrastantes, ocupadas pelos municípios locais, ou regulamentos pouco claros, o ambiente legal é identificado na análise externa como tendo a dimensão mais inibidora e de mais impacto para este tipo de modelos de negócio. No entanto, não obstante, à data da elaboração deste documento, nas práticas comercias em rede são observadas de forma genérica as seguintes leis portuguesas:

• Decreto-lei 7/2004, conhecido por lei do comércio eletrónico;

• Lei 46/2012, relativa à proteção de dados e à privacidade nas comunicações eletrónicas; • Decreto-lei 63/1985, conhecido por código do direito de autor;

• Decreto-lei 330/1990, conhecido por código da publicidade;

• Decreto-Lei 138/1990, conhecido por lei dos preços ao consumidor; • Lei 24/1996, conhecida por lei do consumidor;

• Lei 67/1998, conhecida por lei da proteção de dados pessoais; • Decreto-lei 143/2001, conhecido por lei dos contratos à distância; • Decreto-lei 70/2007, conhecido por lei das reduções de preço;

Existem mais leis que regulam a atividade comercial, sendo algumas destinadas apenas a setores de atividade específicos, pelo que esta não é uma recolha exaustiva de toda a legislação aplicável ao comércio eletrónico. Para efeitos da atividade comercial do projeto Uniloop, destaca-se ainda o Decreto-lei 7/2004, conhecido por lei do comércio eletrónico, que contém a informação que deve ser permanentemente disponibilizada em loja online, nomeadamente:

• Identificação da entidade gestora do site; • Morada geográfica;

• Endereço eletrónico; • Número de contribuinte; • Outros registos públicos;

Refira-se ainda a Lei 46/2012 que implica que a aceitação de Cookies35 seja previamente concedida pelo visitante.

35“Cookies” são pequenas etiquetas de software armazenadas no computador através do navegador (browser), retendo

apenas informação relacionada com as preferências do utilizador, não incluindo, como tal, dados pessoais. Os cookies servem para ajudar a determinar a utilidade, interesse e o número de utilizações dos websites, permitindo uma navegação mais rápida e eficiente, eliminando a necessidade de introduzir repetidamente as mesmas informações. Todos os browsers permitem ao utilizador aceitar, recusar ou apagar cookies, nomeadamente através da seleção das definições apropriadas no respetivo navegador.

ECONOMIA CIRCULAR: REPENSAR O MERCADO; O PROJETO UNILOOP| Pág. 37 De forma mais concreta, o que a análise contextual da economia circular aplicada aos modelos de negócio em Portugal aponta (pelas conclusões retiradas de muitos casos de estudo nacionais36) é, novamente, a novidade de toda a indústria circular.

A novidade implica conhecimento sobre o que é novo, implicações positivas e negativas. A própria definição do que é economia partilhada é complexa (daí que se tenha feito uma breve descrição na secção 2). Nos negócios inseridos na economia circular, são as economias de escala e o capital de risco que são cruciais para o crescimento. Embora a tecnologia permita uma rápida escala digital, o ato de crescer e atrair massas críticas não é facilmente implementado e sustentado sem financiamento inicial e políticas/legislações subjacentes. A própria experiência da Book In Loop no mercado mostrou isso e não é caso único, nem em Portugal nem no estrangeiro.

Avaliando o projeto Uniloop como redistribuição de um produto com valor económico e cultural – livro universitário – é de salientar a Lei do Preço Fixo do Livro (LPFL), criada em 1996 (com alterações progressivas ao longo do tempo, principalmente no ano 2000), e a sua aplicabilidade no negócio de compra e venda de livros usados. De um modo geral, a LPFL estabelece como se fixa o preço de um livro, quem o fixa, qual o prazo de vigência desse preço e quem o pode alterar.

O livro universitário encaixa-se na definição de livro, sendo livro “toda a obra literária, científica e artística que constitui uma publicação unitária em um ou mais volumes, destinada a ser posta à disposição do público, qualquer que seja o formato de publicação, nomeadamente, impresso, áudio e eletrónico, independentemente da possibilidade de apropriação do seu conteúdo por qualquer dos modos atualmente conhecidos ou que de futuro o venham a ser” (Inspeção Geral das Atividades Culturais, 2015, p. 6) e livro usado como “todo o livro já manuseado, desde que tenham decorrido 18 meses sobre a data de edição ou importação” (Inspeção Geral das Atividades Culturais, 2015, p. 6).

Esta conclusão é importante: o preço do livro mantém-se durante 18 meses após a sua edição ou importação, mesmo que esteja visivelmente usado, ou mesmo muito deteriorado.

O prazo determina-se com o mês e ano da edição, que são obrigatoriamente inscritos pelo editor na ficha técnica do livro, que se encontra, geralmente, no início do volume. No caso de livros importados, o prazo conta-se a partir da data da fatura de compra pelo importador que o mandou vir do estrangeiro. O prazo de Preço Fixo calcula-se a partir dessa data e aplica-se nos 18 meses seguintes. O preço é fixado pelo editor ou importador e os retalhistas têm que o manter à vista para conhecimento dos compradores. Só o editor ou importador pode decidir alterar o preço durante o período de 18 meses de Preço Fixo. A alteração aplica-se 15 dias após ser comunicada aos retalhistas, período durante o qual estes terão de o atualizar.

O desconto máximo que os retalhistas podem fazer durante o prazo de Preço Fixo é de 10%. Para fazer cumprir esta regra, a lei proíbe práticas que podiam levar a contornar esta determinação, como, por exemplo, descontos de quantidade, descontos em cartão, descontos “leve 2 e pague 1” ou venda em conjunto com livros com mais de 18 meses, sempre na ótica de que estas práticas, caso sejam feitas, não possam conduzir a uma venda do livro que está dentro do prazo do Preço Fixo, com um desconto superior a 10%.

O objetivo da lei é dar aos editores um prazo considerado razoável (18 meses) para se ressarcirem das despesas de cada fase da aquisição até à venda do livro (compra dos diretos de autor, edição, comercialização, etc.) e, depois desse prazo, qualquer livro pode ser vendido pelo preço que se quiser.

No entanto, o Inquérito ao Sector do Livro, publicado pelo Observatório das Atividades Culturais em outubro de 2012 (José Soares Neves, Jorge Alves dos Santos, Maria João Lima, Alexandra Vaz, 2012), a algumas editoras permite rapidamente concluir que é muito difícil fazer cumprir a LPFL por dois motivos principais: a Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) – entidade encarregue de fiscalizar e fazer cumprir a LPFL – não tem meios suficientes para o fazer. As editoras comunicam- lhe todos os casos que chegam ao seu conhecimento, mas a queixa não tem repercussão. Para além disso, o Ministério Público e os tribunais têm nas suas agendas casos mais urgentes para resolver. Enquanto o problema da falta de fiscalização persistir, editar um livro continua a ser dispendioso e as pequenas editoras nacionais debatem-se com graves problemas de sobrevivência. Uma das consequências desta situação é o aumento do preço dos livros, sendo Portugal um dos países onde um livro – universitário ou não – pode ser considerado um produto de luxo (Neves, Beja, Santos, & Santos, 2014).