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Da crise ao caminho da consolidação do ensino secundário: a disciplina de História

Pela nova regulamentação, ocorre o retorno ao Regulamento que cria o Instituto de Preparatórios e a Escola Normal em 1876, mantendo-se o programa de ensino (ver quadro V em anexo).

Em 1886, afirma Straube (1993, p.33), estavam matriculados 30 alunos nas diferentes disciplinas do Instituto, mas destes, apenas 18 eram freqüentes. As baixas freqüências nas aulas preocupavam o Diretor Geral da Instrução Pública, que solicitava reformular o regulamento do secundário para impor penas severas aos infreqüentes e prêmios que recompensassem a assiduidade e o aproveitamento dos freqüentes.

Para esse fim, foi organizada em 1887 uma comissão especial para reorganizar o ensino público na Província. A comissão sugeriu a criação de novas cadeiras para o Instituto Paranaense: Ciências Naturais, Física e Química, e de Corografia e História do

Brasil, esta última autônoma da História Universal. Segundo o Diretor Geral da Instrução Pública, a criação dessas novas cadeiras atendia à programação dos exames gerais dos Preparatórios.

Em fins dos anos de 1880, embora a questão das presenças nas aulas fosse considerada um problema de razoável proporção, nota-se que não se cogitava mais a idéia da extinção do Instituto, pelo contrário, as cadeiras de ciências naturais foram criadas, conforme consta em Ata de 28 de maio de 1888 do Presidente da Província Faria Sobrinho.

[...] preenchidas urgentemente, apóz a respectiva creação, as cadeiras de chorographia e historia do Brasil, physica, chimica e sciencias naturaes, que figurão no novo programma de preparatórios exigidas para matricula nos cursos superiores do Império. (Ata n.34, Livro 2, p.34-v).

Essa solicitação foi atendida em julho de 1888 e o ensino secundário no Paraná adentraria no novo regime político, procurando se equiparar ao Colégio Pedro II, o que não ocorreu em todo o período imperial. As sucessivas reformas, entretanto, não significaram um aumento na procura pelas cadeiras na Escola Normal.

Em 1887, o presidente Faria Sobrinho informava à Assembléia que “[...] em 1886 a Escola Normal não teve alunos prontos para exames”, e complementava:

Parece incrivel que uma província com fóros de adiantada esteja essa Escola em tão grande decadencia tendo sido frequentada apenas por dois alunos, e destes nenhum se haja preparado; cumpre para sanar males inevitaveis que possa advir para instrução pela falta de professores habilitados, que se cerque os normalistas de mais regalias além das que gozam e se negue aos não diplomados a obtenção de certos privilegios que de alguma sorte molestam aqueles que se vêm preteridos por estes ou a eles equiparados. (Relatório do Presidente da Província de 1887, apud Moacyr, 1940, p.342).

Enquanto o Instituto Paranaense lutava para manter a freqüência mínima exigida nas aulas avulsas e nas novas cadeiras implantadas, o curso normal no Paraná não se sustentava. Somente com a mudança de regime político, essa instituição entraria numa nova fase.

O Instituto Paranaense, passando a denominar-se Ginásio Paranaense, conheceria uma expansão significativa em sua história, organizado em forma de curso regular e equiparado ao Colégio Pedro II, que, durante o período inicial da República, passou a chamar-se Ginásio Nacional. A Escola Normal seria, a partir da década de 20, reformada

em suas bases, separando-se definitivamente do Ginásio Paranaense em 1923, e firmando-se como uma instituição de formação de professores primários.(Rocha, 2003, p.150).

Nesse trajeto, a disciplina de História vai seguindo as mudanças estruturais da instituição e as reformas sociais que implicaram em mudanças nas suas finalidades e objetivos educacionais. Com a Reforma de 1892, a História, no Ginásio Paranaense, é ensinada nos anos finais do curso – 6o ano, História Universal, 7o ano História do Brasil. Na Escola Normal, que mantém o mesmo programa, a História é ensinada no 3o ano com a denominação da cadeira de História Universal e do Brasil (ver quadro IX em anexo).

No que se refere aos conteúdos, a mudança de regime político implica na revisão historiográfica da História Nacional. Nesse aspecto, como se verá a seguir, embora os compêndios de História produzidos no período do Império foram utilizados nos anos inicias da República, surgiram obras didáticas de autores nacionais que, ao incorporarem novos temas aos consagrados pela historiografia didática imperial, fizeram críticas ao modelo anterior.

Um outro aspecto que se verifica com relação aos conteúdos do ensino de História, nesse período no Paraná, é a relação História Universal X História das Civilizações e o espaço da História Nacional entre elas. Ou seja, tratou-se de encontrar o espaço dos conteúdos universais e nacionais na instituição que, no início da República, ainda permanecia com a dupla finalidade educativa de formar normalistas e candidatos aos cursos superiores.

Constata-se, no século XX, o debate entre a História Universal e a História das Civilizações (Bittencourt,1993, p. 170) e o espaço da História do Brasil tanto no curso secundário como na Escola Normal. Além desse dilema, um outro elemento se apresentou no Paraná: o debate e a procura pela identidade do Paraná e a construção de uma História regional para ser ensinada na escola primária.

Esse fato se deveu a “experiência de construção do regionalismo paranaense [que] sofrerá um grande impulso no período correspondente ao da I República (1889- 1930)” (Pereira, 1998, p.19). Com a consagração da Constituição de 1891, permitiu-se a descentralização administrativa num momento em que o Paraná, por intermédio de sua capital, passava por uma efervescência cultural que, iniciada nos anos de 1870,

como já foi mencionado, mostrava-se adaptada ao universo da “cidade das letras”18. Esse processo estimulou o desenvolvimento das idéias, as quais ficaram conhecidas como Paranistas.

Para explicar as transformações ocorridas na disciplina nesse período, exige identificar os agentes condutores dessas transformações. Nesse sentido, foram os intelectuais que se tornaram professores da disciplina, suas ações como atores políticos, reveladas por meio de seus escritos e na produção de compêndios e manuais escolares, que se constituíram numa significativa referência para o estudo dessas mudanças. Portanto, entender tais mudanças pressupõe reconhecer que elas estão representadas nos papéis sociais de diferentes sujeitos, algumas vezes confrontando-se, outras vezes complementando-se na definição dos saberes escolares, seus programas de estudos e os livros didáticos.