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PARTE I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL DO TRABALHO DE

Capítulo 1. Envelhecimento: perspetivas teóricas de análise

1.5. Da dependência à institucionalização

A dependência e a incapacidade remetem para a necessidade de cuidados e, por vezes, da institucionalização. A institucionalização é, para muitas pessoas idosas, o último recurso e raramente é encarada como projeto de vida. Porém, nos últimos anos a institucionalização tornou-se uma resposta em crescendo devido ao aumento da longevidade e à necessidade das pessoas idosas serem cuidadas por cuidadores formais. A este nível, há um conjunto de respostas, ERPI (Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas), que se encontram

regulamentadas com uma gama de serviços especializados e qualificados que visam a garantia do bem-estar biopsicossocial dos indivíduos institucionalizados, todavia, a realidade nem sempre assim foi descrita.

Vários são os estudos que tratam o tema da institucionalização, em diferentes matérias, em consonância com a expansão quantitativa e qualitativa das ERPI nas últimas décadas face às necessidades sentidas pelas pessoas idosas. Os estudos de Carrilho, Gameiro e Ribeiro (2015), de Marques, Correia, Pires e Pereira (2009) e de Guedes (2014), evidenciam que foi a partir dos anos 50 que a investigação sobre as estruturas residenciais se evidenciou como resposta às necessidades das pessoas idosas, principalmente com interesse no impacto da experiência/repercussão da institucionalização nesses indivíduos. Estes estudos destacam os efeitos negativos implicados pelo abandono definitivo do espaço físico familiar e redução dos contactos efetuados com a rede relacional até então dominante e pela modificação do ambiente para uma vida formalmente administrada por terceiros (Daniel, 2009).

Esta pesquisas demonstram também que foi a partir de meados do século XIX que começaram a surgir as primeiras instituições dedicadas à gestão da velhice, nomeadamente os denominados “Asilos”1

ou “Hospitais Menores” que se encontravam ao cuidado da Igreja. Estas instituições “depositárias” (Simões, 2013, p. 33) detinham uma lotação prevista de 220 pessoas distribuídas por imensas camaratas e o seu objetivo era atender os problemas da população idosa de forma incipiente e básica (Simões, 2013; Guedes, 2014; Daniel, 2009; Alves et al., 2017).

Este modelo institucional surgiu na Europa no século XVI, destinado a acolher doentes mentais, marginais e velhos e caracterizava-se por cuidados de baixa qualidade e por regras bastante rígidas a par de um sentimento de solidão e de abandono relatado pelos residentes, compondo assim uma imagem negativa que ainda subsiste nos dias de hoje associada à institucionalização, não obstante os progressos realizados na qualificação desta resposta. Acompanhando a noção de que seria premente melhorar as condições de acolhimento nos Asilos, outras denominações foram surgindo para estas instituições e que são mais usuais atualmente, tais como casa de repouso, lar, clínica geriátrica, entre outros.

Considera-se que uma pessoa idosa está institucionalizada quando se encontra “durante 24 horas ou parte, entregue aos cuidados de uma instituição que não a sua família” (Pereira, 2012, p. 133). De fato, o motivo principal de ingresso em estruturas residenciais –

1

Simões (2013, p. 37) explicita que o termo “asilo” é originário do grego “asylon”, que significa refúgio, local, de amparo e de proteção.

66% (GEP, Carta Social, 2005) - está diretamente relacionado com a incapacidade da pessoa idosa, num determinado momento da sua vida, em gerir as suas AVD´s, coexistindo esta incapacidade com a impossibilidade da família em garantir o apoio necessário (Carta social, 2017; GEP, 2017a).

As respostas para as pessoas idosas representavam, em 2017, 41,5% do universo das respostas. Dessas, as que apresentaram maior crescimento nesse ano foram a ERPI e o Serviço de Apoio Domiciliário (70% e 71%, respetivamente), por comparação a 2000. Relativamente às ERPI, se no ano de 2000 existiam cerca de 1500 equipamentos, em 2017 contabilizaram-se aproximadamente 2500 (GEP, 2017b, p. 43), verificando-se uma relevante expansão desta resposta, tratando-se de Instituições Particulares de Solidariedade Social – instituições constituídas sem finalidade lucrativa – ou de lares pertencentes ao terceiro sector com fins lucrativos.

O número de lugares/capacidade para acolher as pessoas idosas também se elevou, pelo que em 2017 existe capacidade em todo o território nacional para prestar apoio institucional a quase 100 000 pessoas idosas, dados da Carta Social (GEP, 2017b, p. 44). Quanto às taxas de ocupação, as ERPI têm apresentado valores acima dos 90% - fixando-se em 2017 em 92,6% (GEP, 2017b, p. 48).

Na análise dos níveis de dependência dos beneficiários das principais respostas sociais para pessoas idosas, verifica-se que os mais elevados graus se encontram nas ERPI, em todas as atividades avaliadas, por oposição às restantes respostas nas quais a maioria dos residentes

Figura 1.1. - Evolução do número de respostas sociais para as pessoas idosas, Continente – 2000-2017 (GEP, 2017b).

é independente na generalidade das tarefas: a ERPI é a resposta com maior incidência de dependentes ou grandes dependentes (aproximadamente 50%) e é composta, maioritariamente, por pessoas idosas com 80 ou mais anos (72,5%) (GEP, 2017b).

No âmbito da política social para o envelhecimento, as ERPI são consideradas “estabelecimentos em que são desenvolvidas atividades de apoio social a pessoas idosas através do alojamento coletivo, de utilização temporária ou permanente, fornecimento de alimentação, cuidados de saúde, higiene, conforto, fomentando o convívio e a ocupação dos tempos livres dos residentes” (Pereira, 2012, p. 134). Em Portugal, a Portaria n.º 67/2012, de 21 de Março clarifica as condições de organização, funcionamento e instalação a que devem obedecer as ERPI, sujeitas a fiscalização e supervisão em termos da qualidade dos serviços prestados através de vistorias regulares por parte do Instituto da Segurança Social I.P.

A mesma portaria define as ERPI como “estabelecimentos para alojamento coletivo, de utilização temporária ou permanente, em que sejam desenvolvidas atividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem” (Artigo 1.º), cujos objetivos são: providenciar serviços constantes e adequados face às necessidades biopsicossociais das pessoas idosas; promover a estimulação de um processo de envelhecimento ativo; criar condições para a preservação da relação familiar; fomentar a integração social, segundo princípios de qualidade, eficiência, humanização, respeito pela individualidade e interdisciplinaridade; promover e manter a funcionalidade e autonomia e efetuar a avaliação integral das necessidades dos residentes. Pode, ainda, assumir uma das seguintes modalidades de

Figura 1.2. - Distribuição percentual dos residentes em ERPI por capacidade de realização de Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD), 2017 (GEP, 2017).

alojamento: tipologias habitacionais nas quais se incluem apartamentos e moradias; quartos e tipologias habitacionais em conjunto com o alojamento em quartos.

As ERPI devem proporcionar, essencialmente, um conjunto de atividades e serviços tais como: alimentação adequada às necessidades dos residentes, respeitando as prescrições médicas, cuidados de higiene pessoal, tratamento de roupa, higiene dos espaços, atividades de animação sociocultural, lúdico-recreativas e ocupacionais, fundamentais para o fomento de um clima de relacionamento saudável entre os residentes e para a estimulação e manutenção das suas capacidades físicas e psíquicas, apoio no desempenho das AVD´s, cuidados de enfermagem e acesso a cuidados de saúde e, por último, administração de fármacos, quando prescritos (Artigo 8.º da Portaria n.º 67/2012, de 21 de Março).

Figura 1.3. - Distribuição percentual dos residentes em ERPI por serviços prestados, 2017 (GEP, 2017b).