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Envelhecimento na agenda das políticas públicas

PARTE I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO-CONCEPTUAL DO TRABALHO DE

Capítulo 2. Envelhecimento, velhice e saúde

2.1. A preocupação (inter)nacional com o envelhecimento ativo e saudável

2.1.1. Envelhecimento na agenda das políticas públicas

No âmbito da política pública, o envelhecimento ganhou destaque a partir da primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, das Nações Unidas, que ocorreu em Viena, em 1982. Este foi o marco inicial para o estabelecimento de uma agenda internacional de políticas públicas para a população idosa. Esta assembleia, designada como o Primeiro Fórum Global

Intergovernamental, focou-se no tema do envelhecimento populacional e representou um distinto avanço em termos estratégicos, uma vez que até então o envelhecimento não era objeto de atenção globalmente. Aqui foi aprovado o Plano de Acão Internacional cujos objetivos eram garantir a segurança económica e social das pessoas idosas assim como identificar as oportunidades para a sua integração ativa no desenvolvimento dos países, através de 62 recomendações para os estados-membros implementarem, referentes às seguintes áreas: saúde e nutrição, proteção ao consumidor idoso, habitação e meio ambiente, família, bem-estar social, segurança de rendimento e emprego e educação.

O principal ganho com a I Assembleia Mundial de Viena foi o reconhecimento e a sensibilização, a nível mundial, para as questões do envelhecimento individual e da população, colocando a problemática na agenda internacional. As recomendações deliberadas visaram promover a independência da pessoa idosa e dotá-la de meios físicos e financeiros para a sua autonomia, no entanto, a execução do plano subordinava-se a uma elevada alocação de recursos, nomeadamente nas provisões de pensões e na assistência à saúde para as pessoas idosas, o que constituiu um particular obstáculo para os países em desenvolvimento (Camarano & Pasinato, 2004; António, 2013).

No ano de 1991, desenvolveu-se nova Assembleia Geral das Nações Unidas em prol das pessoas idosas onde foram adotados 18 princípios para a defesa dos direitos destes últimos, que seguem em conformidade com o Plano de Ação de Viena, em plena consciência da evolução demográfica, do seu impacto e dos caminhos apontados pelos estudos praticados. Tais direitos são agrupados em cinco grandes temas a destacar – os Princípios das Nações Unidas para as Pessoas Idosas:

 Independência – requer políticas públicas que garantam a autonomia física e financeira no acesso a direitos básicos de todos os seres humanos, tais como alimentação, saúde, habitação, trabalho e educação;

 Participação – com este princípio procura-se manter as pessoas idosas integradas nas sociedades, através de um ambiente propício à partilha e experiência dos seus conhecimentos e habilidades e à socialização;

 Cuidados – implica proporcionar o acesso a cuidados familiares ou institucionais;

 Autorrealização – significa permitir o desenvolvimento do potencial das pessoas idosas por meio de acesso a recursos culturais, educacionais, espirituais e recreativos;

situação das pessoas idosas desenvolvimento individual e continuado relações intergeracionais inter-relação entre envelhecimento e desenvolvimento social

 Dignidade – aponta para a salvaguarda de uma vida plena, digna, segura e com respeitabilidade, livre de toda e qualquer forma de exploração ou maus-tratos.

Em 1999 esta entidade declarou o Ano Internacional das Pessoas Idosas com o slogan “sociedade para todas as idades”, sendo que para tal é fundamental a focalização no desenvolvimento individual durante toda a vida – projeto de vida – e a promoção da integração das pessoas idosas na sociedade, ressalvando-se quatro áreas de atuação (Camarano & Pasinato, 2004; António, 2013):

Figura 2.1. – Áreas de atuação decorrentes do Ano Internacional das Pessoas Idosas.

Em 2002 assiste-se à II Assembleia Mundial de Madrid sobre o envelhecimento, na sequência das crescentes preocupações com os desafios do envelhecimento e com a necessidade de ajustar políticas e práticas para satisfazer as potencialidades deste, numa lógica de mudança de paradigma na intervenção com pessoas idosas. O Plano de Viena foi revisto e foram aprovados uma nova declaração política e um novo plano de ação orientado para a adoção de normativos sobre o envelhecimento no século XXI - o Plano de Ação Internacional de Madrid sobre Envelhecimento Ativo, que contou com 35 objetivos e 239 recomendações abrangendo três esferas prioritárias: pessoas idosas e desenvolvimento, promoção da saúde e bem-estar e ambiente propício e favorável ao envelhecimento. “Os governos comprometeram-se a assegurar a plena proteção e promoção dos direitos humanos e liberdades fundamentais, reconhecendo que, quando envelhecem, as pessoas deveriam ter

• o envelhecimento pode significar acumulação de capital humano, social e económico;

•políticas de trabalho, de integração social e de segurança social.

pessoas idosas e desenvolvimento:

participação

• promoção do envelhecimento sáudável e independente;

• políticas que fomentem melhorias na saúde desde a infância e que se prolonguem ao longo da vida.

promoção da saúde e bem- estar:saúde

•acesso a serviços e a recursos;

•políticas voltadas para a família e para a comunidade e que pormovam a solidariedade intergeracional.

ambiente propício e favorável:

segurança

oportunidades de realização pessoal, de levar uma existência saudável e segura e de participar ativamente na vida económica, social, cultural e política” (Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal, s.d., p. 1).

Figura 2.2. - Pilares do envelhecimento ativo (Adaptado de Camarano & Pasinato, 2004).

A integração da noção de Envelhecimento Ativo no âmbito da política de envelhecimento expressa o empenho da ONU em assegurar que todos os segmentos da população possam envelhecer com segurança e dignidade e continuar a participar nas respetivas sociedades como cidadãos com plenos direitos. A ratificação da declaração política de implementação deste plano comprometeu os respetivos governos a incluir o envelhecimento em todas as políticas de desenvolvimento social e económico, reconhecendo, pela primeira vez, as pessoas mais velhas como contribuintes para o empoderamento das sociedades e como decisoras políticas.

Ademais, as recomendações do Plano de Madrid incluem a colaboração da sociedade civil e parcerias com o sector privado. Ainda assim, são apontadas como críticas: a prioridade das ações políticas para o género feminino (desvalorizando as necessidades específicas dos homens no processo de envelhecimento), a desconsideração pelas diversidades regionais e, novamente, a não previsão de recursos para a implementação das medidas preconizadas. “Quando o envelhecimento é aceite como um êxito, o aproveitamento da competência, experiência e dos recursos humanos dos grupos mais velhos é assumido com naturalidade, como uma vantagem para o crescimento de sociedades humanas maduras e plenamente integradas” (Artigo 6º).

Em 2012, decorre ainda o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações onde se sensibilizou, novamente, para a relevância do contributo das pessoas idosas para a sociedade, havendo troca de sinergias entre os estados-membros, e se promoveu

uma cultura de envelhecimento ativo ao longo da vida, desde o âmbito profissional às atividades comunitárias e familiares, consoante as capacidades de cada idade, de forma