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A devolução é um fenômeno que ocorre tanto no âmbito das adoções legalizadas como nas adoções ilegais. Admitir este ato é prejudicial ao menor e deve ser revisto. Na seara judicial, é uma exceção e só deve acontecer durante o estágio de convivência, assim afirma Campos e Castro (2011).

A legislação ao dispor sobre a adoção, tinha o intuito de garantir o bem-estar do menor e melhor atender seus interesses, portanto, em algumas situações a adoção não é o melhor remédio para esses menores pois há casos em que os adotantes, por algum motivo ou mesmo pela falta deles, resolvem desistir da adoção, causando aos infantes enorme abalo emocional e psicológico.

Para Campos e Castro (2011):

De maneira geral, a devolução não é a característica predominante nos processos de adoção, mas os números existentes e devem ser avaliados e estudados a fim de que se possam encontrar soluções além da simples aceitação dos motivos apresentados pelos pais, afinal, a criança devolvida sofre um novo abandono e isto não pode ser deixado de lado.

Esta triste realidade retrata o dia a dia dessas crianças quando muitas famílias substitutas acabam desistindo da adoção depois do período de convivência mesmo existindo um laudo de perfeita adaptação da criança ao novo lar, fazendo com que o menor volte ao acolhimento institucional, obrigando-o a esquecer de todos os sentimentos e aceitação que recebeu nos meses do estágio.

Nas palavras de Campos e Castro (2011) na maioria dos casos, as crianças têm comportamentos como agressividade, fazem birras, tem o sono agitado ou insônia, sentem-se inseguras pelo medo de serem abandonadas, tem mau comportamento social e familiar, não conseguem ter um bom desenvolvimento escolar, diurese voluntária e acentuada e até mesmo aumento da sexualidade a fim de reter a atenção dos pais.

Em reportagem a Revista Veja, o presidente da Associação Filhos Adotivos do Brasil, Ricardo Fisher, revela que esta situação é um tanto difícil e afirma que “filho adotivo é como o filho biológico, só que ainda mais especial porque já sofreu uma rejeição e requer cuidados”, conforme destaca (GOULART, 2010).

Visto a gravidade da situação dos menores é que o adotante deve encarar o ato da adoção com muita seriedade e procurar ajuda psicológica, tanto para si quanto para a criança, no anseio de uma convivência pacífica, harmoniosa e duradoura.

Conforme informa Cabral (2009), em uma reportagem feita pelo jornal Gazeta do Povo, especialistas afirmam que a devolução é um dano sem reversão pois o trauma fica registrado com a criança, assim vem expor a fala de Salma Corrêa, assistente social da Vara de Curitiba sobre o assunto: “A devolução é um dano irreversível, a criança acredita que pertence àquela família. Mesmo que ela volte a ser adotada, esse trauma vai ficar registrado. É uma retraumatização, já que não é a primeira vez que ela foi abandonada”.

Em termos legais, a adoção após a sua conclusão se torna irreversível. No entanto, para serem evitadas situações de arrependimento pelos pais e constrangimento aos filhos adotivos, o Estatuto da Criança e do Adolescente previu um período de adaptação, ou seja, o estágio de convivência, para que se estabeleça o contato entre pais e filhos e para que sejam avaliadas as compatibilidades ou incompatibilidades.

Em reportagem a revista Agência USP de Notícias, Valéria Dias (2008) apresenta o estudo feito pela psicanalista, Maria Luiza de Assis Moura Ghirardi, que aponta os fatores de risco que sinalizem a possibilidade de ocorrer uma futura devolução:

Nas entrevistas que antecedem a adoção, os técnicos do judiciário [psicólogos e assistentes sociais] deverão observar as angústias e preocupações reveladas pelos candidatos a pais por meio do discurso que eles usam. Isso ajudará esses profissionais a compreenderem qual o lugar que aquela criança vai ocupar no imaginário de quem pretende adotá-la. E nem sempre este lugar é o de filho. (GHIRARDI, 2008 apud DIAS, 2008).

Para Campos e Castro (2011) este período serve, justamente, para que pais e filhos se conheçam um ao outro e manifestem o desejo de construir uma família:

Este período de convivência é obrigatório justamente para que os adotantes e o infante se conheçam e ambos manifestem o desejo de ficarem juntos e enfim constituírem uma família, o que teoricamente, garantiria que esta criança enfim encontraria um lar, mas infelizmente, mesmo depois que as adoções são decretadas, devoluções ocorrem, deixando a desejar no que diz respeito ao caráter irrevogável da adoção.

Especialistas no assunto afirmam que o ato de devolver uma criança é mais comum do que se imagina e o abandono é uma forma de separação muito agressiva e com efeitos psicológicos que podem ser devastadores na vida de uma criança.

Dias (2016, p. 480), traz uma abordagem em relação ao assunto em destaque:

Como a adoção é irrevogável (ECA, 39§1°), rompe todos os laços com a família biológica. Ainda assim, com certa frequência simplesmente os adotantes “devolvem” o filho que adotaram. Tal situação não está prevista na lei, mas infelizmente é algo que existe. De qualquer forma, como pode ocorrer a destituição do poder familiar do adotante (CC, 1.638), é aceita a devolução, até por ser uma questão de praticidade. A criança pode ser imediatamente adotada por outrem. Talvez esta seja a solução que melhor atende seus interesses, pois pode vir a ser adotada por quem de fato a queira.

No mesmo sentido, Munhoz (2014), afirma que o ato de devolver o menor sem justificação plausível, torna-o como se fosse uma simples mercadoria.

A discussão se aquece no momento em que os adotantes podem “devolver” o menor injustificadamente, como se mercadoria fosse se, nesse estágio não se adaptarem com a criança. Nessa situação, surge o debate se o princípio do melhor interesse da criança está se efetivando ou há um abuso de direito da parte dos adotantes que, tratando a criança como uma “coisa” a devolve como se não tivesse passado em um “teste de qualidade”.

Ao analisar a legislação brasileira atual, temos que a adoção encontra respaldo legal na Constituição Federal, artigo 227, § 6°, em que coloca os filhos, tanto adotivos quanto biológicos em situação de igualdade em direitos e deveres, assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente no seu artigo 39, § 1°, quando afirma que a adoção é um ato irrevogável.

Conforme informações das Varas da Infância e Juventude, tem aumentado no Brasil o índice de crianças e adolescentes devolvidos após ser iniciado um processo de adoção e este fato tem preocupado as autoridades, pois tem se disseminado em todo território nacional.

Segundo dados da autora da reportagem, Ângela Bastos, ao jornal diário Catarinense, utilizando dados e relatos das equipes técnica e forense que informam a gravidade da situação no Estado de Santa Catarina:

Entre janeiro de 2016 e junho de 2017, exatas 192 crianças foram devolvidas por candidatos a adoção em Santa Catarina. Das 63 que depois de experimentar convívio familiar tiveram que retornar para abrigos, seis estavam com processos de adoção concluídos. Uma triste realidade identificada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). (BASTOS, 2017).

Dados ainda informam que no ano de 2017, o número de crianças devolvidas é assustador, sendo que 1.991 pequenos brasileiros foram reconduzidos às instituições, mesmo que por motivos imprecisos e o maior deles, a falta de construção de laços afetivos (BASTOS, 2017).

Os dados obtidos pelo jornal Diário Catarinense informados pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) revelam uma dura realidade no âmbito nacional e no Estado de Santa Catarina:

Os números do CNJ revelam uma balança injusta. Para esses quase 2 mil brasileirinhos devolvidos no ano passado, 1.715 foram adotados. Em Santa Catarina, a diferença também pesa: 68 foram adotados, apenas cinco a mais do que os 63 devolvidos no mesmo período. (BASTOS, 2017).

Segundo informações obtidas na reportagem de Ângela Bastos, ao jornal Diário Catarinense, o CNJ não consegue afirmar que todas as crianças que voltaram ao abrigo sejam por motivo de desistência da adoção ou devolução, conforme exposto a seguir:

A Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sugere não ser possível afirmar que todas as crianças voltaram ao cadastro por desistência ou devolução das famílias. Há, também, casos em que o adotante morreu ou em que o próprio juiz entendeu que o pretendente não teria condições - financeira, física ou psicológica - para levar à frente a adoção. (BASTOS, 2017).

A seguir os dados informados pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em reportagem ao jornal Diário Catarinense, sobre o número de crianças e adolescentes colocados à adoção a nível nacional. (BASTOS, 2017).

Legenda: Dados de crianças e adolescentes adotados no País

Dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) informando o número de crianças e adolescentes adotados e posteriormente devolvidos entre os anos de 2015 e 2017 no Estado de Santa Catarina. (BASTOS, 2017).

Legenda: Dados de crianças e adolescentes adotados no Estado de Santa Catarina.

Fonte: CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Outra informação fornecida pelo TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) informando a devolução de crianças e adolescentes no Estado de Santa Catarina, ente janeiro de 2016 e junho de 2017. (BASTOS, 2017).

Legenda: Dados em Santa Catarina no período entre janeiro/2016 a junho/2017.

Fonte: CEJA/ TJSC (Comissão Estadual Judiciária de Adoção).

A devolução, geralmente, ocorre no período de convivência que é quando o adotante detém a guarda provisória do menor e a adoção ainda está passando pelos trâmites legais processuais, mas também pode ocorrer com a guarda definitiva após anos de convívio familiar.

Nathalia Goulart (2010) destaca a fala da advogada e especialista em direito de família, Ivone Zeger, em reportagem à revista Veja:

Existem casos em que a adoção é concluída e só então a criança é devolvida para a instituição de origem. Quando isso acontece, a justiça busca por parentes da família adotiva que estejam interessados em obter a guarda provisória daquela criança. Caso não exista, ela é encaminhada a um abrigo, onde permanecerá até que seja adotada novamente. Enquanto isso não acontece, ela segue com os nomes do novo pai e da nova mãe em seus documentos. (ZEGER, 2010 apud GOULART, 2010).

O estágio de convivência supra escrito tem também o intuito de evitar desgastes e traumas para ambas as partes, e principalmente para a criança pois sofrerá novamente com o fantasma do abandono e da rejeição.

Segundo ressalta a psicoterapeuta infantil, Denise Mondejar Molino (2010), conforme citada por Goulart (2010), em entrevista à revista Veja, os problemas com a adoção surgem com a convivência diária, sendo nas palavras dela que “a adoção começa com a fantasia de um filho ideal, mas a criança é real, cheia de hábitos e costumes, principalmente as mais velhas”. (MOLINO, 2010 apud GOULART, 2010).

Muitos casais antes de passarem por um processo adotivo criam uma visão utópica acerca da expectativa em relação ao futuro filho, porém, quando começam a enfrentar as dificuldades observam que a realidade é algo um pouco distante dos seus sonhos, pois isso reflete na construção de um relacionamento sincero e duradouro.

Nas palavras de Martins (2008) a devolução ocorre por diversas situações:

As devoluções envolvem diferentes situações, sejam elas de dificuldades de relacionamento, criação, educação, estabelecimento de regras, entre outras. Situações provocadas pela criança, pelo adulto, pelo meio social ou familiar. Estas levam os requerentes a buscarem ajuda institucional para solucionar os problemas, ou até mesmo desistirem da adoção.

Esta situação provocada pela criança, citada pela autora, diz respeito aos testes que a criança faz com os pais adotivos na busca da certeza que será amada e no anseio de segurança querendo criar enraizamento familiar.

Segundo a Assistente Social, Angélica Gomes, e doutora no assunto, em entrevista publicada pelo site Terra, revela que:

As dores se apresentam, as feridas se abrem e devem se abrir, pois precisam ser cuidadas. A única forma de cuidar é se elas aparecem. Não trabalho com a visão romântica da adoção e nem com a visão fadada a não dar certo. É uma relação humana, e os conflitos estão presentes em toda relação humana. (CRIANÇA..., 2017).

No entendimento de Munhoz (2014), a devolução do menor ao abrigo pode causar danos irreversíveis:

Na verdade, a devolução pode ser considerada um dano irreversível, haja vista que, mesmo que a criança venha a ser adotada, esse trauma vai ficar registrado. Assim, a devolução representa um verdadeiro aniquilamento na autoestima (revestimento do caráter) e na identidade da criança, que não mais sabe quem ela é.

Embora a desistência no estágio de convivência seja direito dos pretendentes, pois está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, alguns Estados da Federação têm tomado medidas para minimizar os impactos causados por este evento.

A advogada Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão de Adoção do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família.), afirma que em alguns Estados, como o Rio de Janeiro, estão criando meios para evitar esta atitude, conforme exposto no endereço eletrônico de Assessoria do IBDFAM, a seguir:

No Rio de Janeiro, capital, existe um grupo denominado Pré-Natal da Adoção, que se compromete a acompanhar os futuros pais por adoção por nove meses, um encontro por mês, em real analogia ao acompanhamento do pré-natal biológico. Durante esses nove encontros são discutidas questões como ‘aspectos jurídicos da adoção’, ‘adoção de irmãos’, ‘adoção especial’, ‘adoção inter-racial’, ‘revelação’, ‘criança ideal e criança real’, dentre ouros assuntos. Entendo que esse é o modelo ideal de preparação. (ASSESSORIA DE COMNICAÇÃO DO IBDFAM, 2015).

Ainda, nas palavras da advogada supracitada, este seria o modelo ideal para preparar pais e filhos para a futura convivência, tendo como respaldo o acompanhamento periódico e psicológico, somando ao resultado final, o sucesso na adoção.

Azevedo (2011) destaca a fala da secretária-executiva da Comissão Estadual Judiciária de Adoção de Santa Catarina (CEJA), Mery-Ann Furtado e Silva, à revista Isto É, e avalia que “um dos principais problemas é que há pessoas que sonham com o “filho ideal” e, quando confrontadas com os desafios de educar uma “criança real”, não dão conta de lidar com “imperfeições” que, em filhos biológicos, seriam toleradas”. (SILVA, 2011 apud AZEVEDO, 2011).

Segundo o entendimento de desembargadores dos tribunais pátrios, a prática da ‘devolução’ de crianças e adolescentes é um ato desprezível e começa a assumir contornos de normalidade, visto que a legislação não prevê sanções para os agentes que comentem este ato. Dando continuação ao tema, Azevedo (2011) destaca a fala da psicóloga Patrícia Glycerio R. Pinho, à reportagem na revista Isto É, que expõe:

Quando o vínculo de filiação não se dá, pequenas dificuldades se tornam grandes. Às vezes, os pais adotivos não percebem que estão sendo testados e acham que é ingratidão da criança. Imperfeições num filho adotivo são mais difíceis de ser acolhidas porque os pais pensam: ‘isso não pertence a mim porque não o gerei’. (PINHO, 2011 apud AZEVEDO, 2011).

A grande preocupação do Poder Público caracteriza-se pelo fato da criança ser tratada como um objeto podendo ser devolvida a qualquer tempo, sendo desprovida de sentimentos.

Assim, decisões dos Tribunais de Justiça alegam inexistir vedação legal para que os futuros pais desistam da adoção quando estiverem com a guarda da criança, e que cada caso deverá ser analisado conforme suas particularidades, com vistas a não se promover a ‘coisificação’ do processo de guarda.

O trecho do julgamento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, afirma que:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - INDENIZAÇÃO - DANO MATERIAL E MORAL - ADOÇÃO - DESISTÊNCIA DE FORMA IMPRUDENTE PELOS PAIS ADOTIVOS - PRESTAÇÃO DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DEFERIDA - DANO MORAL NÃO CONFIGURADO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

A adoção tem de ser vista com mais seriedade pelas pessoas que se dispõe a tal ato, devendo estas ter consciência e atitude de verdadeiros “pais”, que pressupõe a vontade de enfrentar as dificuldades e condições adversas que aparecerem em prol da criança adotada, assumindo-a de forma incondicional como filho, a fim de seja construído e fortalecido o vínculo filial. Inexiste vedação legal para que os futuros pais desistam da adoção quando estiverem com a guarda da criança. Contudo, cada caso deverá ser analisado com as suas particularidades, com vistas a não se promover a "coisificação" do processo de guarda. (MINAS GERAIS, TJMG, 2014a).

Desta forma, entende-se que a adoção não está sendo levada com seriedade pelas pessoas que se dispõe a adotar uma criança e, muitas vezes, devolvem ao Poder Público sem justificativa ou por motivos levianos.

Psicólogos afirmam que as crianças que passam pelo processo da devolução se culpam e acham que não são boas o suficiente para estar com àquela família, portanto entendem que o amor tem de ser incondicional, pois não é sabido o que a criança traz registrado.

Da mesma maneira, afirma a Assistente Social e doutora em Serviço Social, Angélica Gomes, “as motivações que levam à devolução passam por questões subjetivas tanto dos pais como das crianças, que costumam carregar histórias de sofrimento” e arremata dizendo que "as famílias muitas vezes não estão preparadas (para a adoção), e os profissionais

têm dificuldade de lidar com essa realidade. E no auge do conflito as pessoas pensam na devolução como solução imediata". (CRIANÇA..., 2017).

Como pode ser percebido, há também uma falha na capacitação de profissionais no auxílio a essas crianças e a família adotante, o que deveria ser prioridade nesta área.

Segundo Lavor (2017) a psicóloga Soraya Pereira, presidente da ONG Aconchego, expõe a diferença entre filho idealizado e filho real:

A idealização pelos pretendentes é uma coisa muito forte, pois uma coisa é o filho idealizado e outra é o filho real. Essa idealização precisa ser trabalhada, caso contrário teremos sempre um problema sério. Tento encaixar meu filho em um modelo que quero, mas que ele nunca será, porque para encaixá-lo em meu modelo muitas vezes terei que 'mutilar' a criança. (PEREIRA, 2017 apud LAVOR, 2017).

Das informações retiradas do endereço eletrônico da ANGAAD (Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção) tendo como fonte a Assessoria de Comunicação do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família) juntamente com o TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) a psicanalista Giselle Groeninga revela que:

Uma vez tomada a decisão, penso que só em casos extremos deveria ser revertida, como em casos extremos se retira o Poder Familiar. O período de adaptação não pode ser pensado como radicalmente diferente do que é a adaptação de se ter um filho. Claro que as angústias são um tanto diferentes, e isso poderia ser previsto com a utilização desse período com o cuidado por parte de profissionais que possam empoderar os pais. Mas, como disse, se previsto em lei, o período de adaptação poderia ser repensado. Expectativas são criadas com a mera visita de pretendentes à adoção, quem diria com a ida para um novo lar”. (ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO IBDFAM, 2015).

A priori, tem-se que só é permitido desistir da adoção no período do estágio de convivência, sendo que após a conclusão do processo poderá ser enquadrado como crime de abandono de incapaz, ou ainda, poderá gerar reparação pecuniária ao dano causado ao menor:

Após conclusão dos procedimentos de adoção, contudo, não há previsão de "devolução". A adoção é medida irrevogável, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que atribui ao adotado a condição de filho. Uma eventual "devolução" nesse caso poderia ser enquadrada como o crime de abandono de incapaz. (CRIANÇA..., 2017).

No entanto, o Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, Epaminondas Costa, dá uma iniciativa inédita em um caso de adoção, em que ajuíza uma ação civil pública que pede a reparação de danos morais causados a uma menor adotada e devolvida à Justiça, durante o período de guarda provisória, sem a apresentação de uma justificativa por parte dos pais adotivos. (CABRAL, 2009).

Do trecho da alegação do Promotor supracitado, extrai-se que:

[...] a devolução acarretou sofrimento emocional evidente à criança em relação ao retorno ao abrigo e até mesmo confusão em relação à identidade dela, já que a menina refere-se a si própria ora pelo seu nome legal, ora pelo nome dado pelo casal adotivo, a quem chama de “pai” e “mãe”. (CABRAL, 2009).

No entanto, alguns juristas afirmam que, embora a devolução cause traumas psicológicos à criança, o período de guarda provisória não causa responsabilização jurídica.

Portanto, resumindo o presente capítulo, faz-se necessário a criação de normas que evitem este processo da devolução, punindo os agentes desta prática de forma severa e obrigando-os a indenizar as crianças e adolescentes envolvidas nesta relação.

Assim expõe o pensamento de Franco (2016):

Faz-se necessária a criação de leis que determinem punições severas aos adotantes, obrigando-os a indenizar as crianças e adolescentes, caso eles sejam devolvidos ao Poder Público, em valor proporcional aos gastos oriundos de tratamentos psicológicos, na tentativa de minimizar o trauma provocado pelo novo abandono, bem como a devolver aos cofres públicos o montante recebido por ocasião da

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