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Da Dignidade da Pessoa do Infante – Proteção Constitucional

No documento Garantia de emprego paterna (páginas 67-71)

4.3 GARANTIA DE EMPREGO PATERNA

4.3.2 Da Dignidade da Pessoa do Infante – Proteção Constitucional

Tem-se, claramente, que a garantia de emprego da mulher gestante promove o bem estar e proteção do nascituro, respeitando sua dignidade como ser humano e futuro da sociedade atual. O posto de trabalho protegido contra o despedimento gera segurança para ao infante, haja vista sua necessidade de cuidados especiais nesse princípio de vida que está por vir.

Neste sentido, a garantia de emprego do pai acalentaria a dignidade do nascituro- infante, pois, ainda hoje, o pai muitas vezes é o provedor da família ou dos filhos, devido à cultura do “chefe da família” existente do Brasil pretérito. Mesmo não sendo, auxiliaria no melhor resguardo possível à criança, em uma época na qual se necessita de cuidados e condições especiais.

Isso, como afirma Silva:

[...] pois num país que carece de saúde pública e de distribuição de renda justa, não há como manter uma gestação ou sustentar uma criança recém-nascida apenas contando com os serviços disponibilizados pelo Estado. Ressaltamos que não está o Estado delegando esta função para a iniciativa privada, mas já é um começo, no sentido de desvincular a parte mais carente da sociedade da deficitária máquina pública, pois tendo renda, poderá por seus próprios meios custear todas as despesas a que já nos referimos. (2010).

Isto é, a dignidade da pessoa humana, como princípio alcançado com o estabelecimento desta garantia, atinge a proteção da família (latu sensu) como unidade de reprodução dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, a dá lugar à tutela essencialmente funcionalizada à dignidade de seus membros, em particular no que concerne ao desenvolvimento da personalidade dos filhos. O que se objetiva é a dignidade do nascituro, como ser humano que merece tutela especial no início de sua vida.

Isso, pois como Reale afirma (apud MENDES, 2009, p. 172), toda pessoa é única, e nela já habita o todo universal, o que faria dela um todo inserido na existência humana,

sendo, por isso, vista antes como centelha que condiciona a chama e a mantém viva, e na chama a todo instante crepita, renovando-se, criadoramente, sem reduzir uma à outra.

Sobre essa concepção do ser humano, como traz MENDES (2009, p. 172), é que a dignidade da pessoa humana é um princípio considerado de valor pré-constituinte e de hierarquia constitucional, a qual fundamentou a República Federativa do Brasil.

Isso, pois o princípio está expresso no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal4, como fundamento essencial do Estado, e demonstra uma nova ótica do Direito Constitucional aplicado a todos os outros ramos do direito, em especial o Direito do Trabalho, pela ideia social trazida intrinsecamente. Torna-se referência da noção e conceito de Justiça Social.

Para Bastos (apud TAVARES, 2009, p. 553), a inserção deste princípio na Carta Magna é demonstrar que um dos fins do Estado é propiciar as condições para que as pessoas se tornem dignas.

Na concepção de Sarlet (apud FILETI, 2009, p. 111), a dignidade é algo intrínseco à pessoa humana, irrenunciável e inalienável. Constitui elemento qualificador do ser humano como tal. Essa qualidade humana deve sempre ser reconhecida e respeitada, promovida e protegida, sendo condição inerente, atributo intrínseco de todo ser humano.

E continua o nobre jurista, ao conceituar o princípio em tela:

Assim sendo, temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições essenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos, mediante o devido respeito aos demais seres que integram a rede da vida. (SARLET, 2011, p. 73).

Pela visão de Kant,

O homem, e de uma maneira geral, todo o ser racional, existe como um fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas ações, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como um fim. (apud TAVARES, 2009, p. 554-555).

Nascimento bem aduz acerca do tema:

A proibição de toda ofensa à dignidade da pessoa é uma questão de respeito ao ser humano, o que leva o direito positivo a protegê-la, a garanti-la e vedar atos que podem de algum modo levar à sua violação, inclusive na esfera dos direitos sociais. (2004, p. 358).

4 Art. 1º - “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do

Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana”. (BRASIL, 1988).

O enfoque necessário é a proteção do infante, dando-lhe a dignidade necessária, através da existência do novo instituto trabalhista. Seria um desdobramento da dignidade da pessoa humana em reconhecer a necessidade especial da proteção dessas pessoas em início de desenvolvimento.

Tal situação percebe-se tanto na PEC-114/2007 quanto na PL 3829/97 de 20 de novembro de 1997, em suas justificativas, as quais defendem sempre para a proteção do nascituro, no momento de seu começo de vida, haja vista os gastos despedidos pela família neste momento especial.

Sabe-se que o Direito tende a proteger o ser humano, desde a vida intra-uterina, e como Venosa acrescenta:

O nascituro é um ente já concebido que se distingue de todo aquele que não foi ainda concebido e que poderá ser sujeito de direito no futuro, dependendo do nascimento, tratando-se de uma prole eventual [...] A posição do nascituro é peculiar, pois o nascituro possui entre nós um regime protetivo tanto no direito civil como no direito penal, embora não tenha ainda todos os requisitos da personalidade. Desse modo embora o nascituro não seja considerado pessoa, tem proteção legal de seus direitos desde a concepção. (2005, p. 435).

Ou seja, e de acordo com Silva (2010), é nesse ponto que foram propostas tais garantias no emprego (como já acontece com a mulher). Deve-se considerar que o bem tutelado é a vida do nascituro e não o posto de emprego essencialmente; este seria apenas o meio através do qual se visaria promover uma gestação digna, e uma formação saudável da futura criança.

Assim, além da família, a proteção da criança seria alcançada, no que tange aos meios econômicos que auxiliariam ao custeio neste lapso inicial de vida após a gestação da mulher.

É como afirma Tavares,

Realmente, a criança e o adolescente formam uma categoria de pessoas que, atualmente, é reconhecida como especial, por encontrar-se em situação difícil, resultante da sua vulnerabilidade física e psíquica. Daí a referência específica que se tem ofertado a essas pessoas. (2009, p. 564)

Neste aspecto, salienta-se que a Constituição Federal de 1988 inovou sobre a proteção do infante, ao asseverar ser prioridade absoluta, com a proteção como dever da família, da sociedade e do Estado em si.

Traz a Carta Magna:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

Coelho entende acerca da proteção constitucional:

O dispositivo ora em exame é a síntese do pensamento do legislador constituinte, expresso na consagração do preceito de que “os direitos de todas as crianças e adolescentes devem ser universalmente reconhecidos. São direitos especiais e específicos, pela condição de pessoas em desenvolvimento.[...] (apud CURY, 2005, p. 15).

A Carta Magna, como alude Tavares (2009, p. 564), buscou reafirmar a proposição de que os direitos fundamentais são titularizados por todos, incluindo os menores, com o propósito cristalino de conferir-lhes a prioridade de tratamento.

Não se poderia deixar de expor o que entende Silva (2005, p. 849), quando traz que “essa família, que recebe a proteção estatal, não tem só direito. Tem o grave dever, juntamente com a sociedade e o Estado, de assegurar, com absoluta prioridade, os direitos fundamentais da criança [...]”.

Teixeira posiciona-se sobre a família como protetora da criança:

A criança e o adolescente surgiram como protagonistas de suas relações. Foram alçados, pela ordem jurídica, à condição de pessoas em desenvolvimento, sendo alvo de ações prioritárias da família, da sociedade do Estado. Passaram a exercer papéis ativos em sua educação e criação. (2005, p. 35).

Em verdade, este princípio protetivo da criança é visto, sobretudo, no artigo 1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Artigo 1º: Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. (BRASIL, 1990).

E, neste aspecto, trata Almeida:

Um país que aprende a valorizar a criança e a empenhar-se na sua formação manifesta sua decisão de construir uma sociedade justa, solidária, capaz de vencer discriminações, violência e exploração da pessoa humana. [...] O estatuto tem por objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e religioso. [...] (2005, p. 17).

É uma proteção integral porquanto compreende todas as etapas da vida da Criança e do Adolescente, considerando-se todos os tipos de proteção e prioridades a ele vinculadas. E, neste momento, como nascituro e recém nascido, a prioridade aumenta, haja vista a necessidade de um início de vida digno e que lhe possibilite realmente um crescimento e tratamento eficaz.

Nesta finura, o instituto retrata preceito constitucionalmente assegurado às crianças, os quais são sujeitos de direitos e devem ser tratados de forma especial e específica em face de sua condição de pessoa em desenvolvimento que necessita de amparo diferenciado da família, da sociedade e do Estado.

Significa dizer que as crianças deverão ter privilégios e prioridades em todas as esferas, pública e privada, para a efetivação, promoção, proteção e preservação de seus direitos.

Paulo e Alexandrino asseguram:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com a absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (2008, p. 989).

E, como elucida Barros,

Ademais – mas não depois dos demais – a criança e o adolescente. Embora não sejam a única, eles constituem uma das razões maiores – uma das causas principais ou, dizendo o mesmo, um dos princípios causais – da família. O que faz deles o objeto de uma especial afeto – o afeto paternal e maternal – que se alia ao afeto de toda a família e, além da família, o afeto de toda a sociedade, que se empenha em protegê-los da melhor maneira possível, como se deve proteger – dignamente – o ser humano na sua origem e na sua primeira evolução. Daí, porque o estado em que a sociedade brasileira se constitui fez por assegurar constitucionalmente os direitos humanos fundamentais da criança e do adolescente, assim como os seus principais direitos operacionais. [...] (2004, p. 617).

Trazer este instituto para o mundo jurídico é privilegiar a proteção e preservação da dignidade e direitos da criança, principalmente no início de sua vida como ser humano. É protegê-la, como bem abraçado pelo Legislador Constituinte de 1988. É respeitá-la, aceitando seu papel essencial na sociedade, como futuro desta.

No documento Garantia de emprego paterna (páginas 67-71)

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