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O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

3.3 Dos atores da Pesquisa

3.3.1 Da Dirigente Regional

Militante na educação profissional há mais de 30 anos, passou por todos os níveis e cargos da rede de ensino, incluindo a docência acadêmica. Assumiu a Diretoria de Ensino Regional de Franca no ano de 2003. Antes de seu ingresso, compunha o quadro de Supervisores Educacionais41 dessa mesma Regional. No Estado de São Paulo, exige-se desse profissional uma gama de atividades que possam imprimir um elo entre as unidades escolares e os respectivos sistemas, como descrito abaixo:

No estado de São Paulo, o grupo de Supervisão deve incumbir- se da orientação, do acompanhamento e controle do processo educacional da rede pública e particular de ensino, mantendo assim, o caráter de unidade do sistema educacional. [...] A elaboração e avaliação dos programas e projetos dessas políticas públicas das Secretarias de Educação visando acesso e permanência a uma escola democrática de qualidade, requer fundamentalmente a participação dos Supervisores. (MATHEUS, et. al. Acesso em fev., 2006)

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Na época em que atuou, foram realizados processos de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais.

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Tendo construído uma carreira profissional solidificada, já detinha uma visão macro do sistema de ensino, participando com proximidade das gestões nas unidades escolares. As necessidades e as questões vivenciadas na realidade escolar eram de seu conhecimento, reconhecendo também os demais profissionais que compunham essa rede. Na ocasião de sua nomeação, realizou algumas mudanças administrativas na sede da Diretoria e foi aos poucos planejando outras mudanças.

Segundo seu relato, a Educação Especial na Diretoria de Ensino Regional de Franca não tinha ainda uma estruturação organizacional. As classes especiais, as salas de recursos, como também os professores especialistas estavam restritos aos espaços das escolas públicas da região, carecendo de acompanhamentos mais pontuais e planejamentos por parte da Diretoria. Durante muitos anos, esse trabalho ficou sob a responsabilidade das respectivas equipes gestoras das escolas e do acompanhamento de um supervisor de ensino, que não necessariamente se familiarizava com as questões da educação especial.

Quando questionada sobre o que lhe chamou a atenção para essas questões, declarou que, ao se tornar Dirigente, teve acesso aos dados da educação especial: idade dos alunos matriculados, tempo que freqüentavam a mesma classe, e esses fatos lhe chamaram a atenção indagando-se:

− “O que a escola estava de fato oferecendo a esses alunos?”

A partir do segundo semestre de 2004, uma vice-diretora de uma das escolas da rede estadual, graduada em Pedagogia com habilitação na área da deficiência mental, pós- graduação, e professora efetiva de classe especial, foi convidada a prestar serviços junto à Diretoria de Ensino, na função de Assistente Técnico Pedagógico – ATP na área de educação especial. Inaugurava-se naquele momento a possibilidade de uma ‘nova fase na educação e nos processos de inclusão’. Segundo seu relato, o setor de Planejamento da Diretoria já havia iniciado alguns estudos sobre a demanda da educação especial em parceria com um supervisor de ensino e o ingresso dessa profissional habilitada seria fundamental para uma nova organização.

A proposta estruturava-se em algumas etapas:

a) Reconhecimento da rede física:

– Quais eram os alunos com necessidades educacionais especiais?

– Quais eram suas necessidades educacionais especiais?

– Há quanto tempo estavam naquela escola?

– Qual a idade desses alunos?

b) Reconhecimento da Equipe Gestora e Professores Especialistas:

– Como a Equipe Gestora entendia e se relacionava com a Educação Especial?

– Qual era o trabalho, o planejamento, o acompanhamento, as estratégias e as formas de avaliação (permanência/ terminalidade) dos alunos incluídos nas classes regulares?

c) Replanejamento e Reorganização mediante a demanda.

De posse desses dados, a ‘equipe regional: Diretora de Ensino, Supervisor de Ensino, Setor de Planejamento, Assistente Técnica Pedagógica’ consideraram a premência de uma reorganização de classes especiais e salas de recursos na rede de ensino estadual. Como afirma:

“De fato, a construção foi... decisiva em 2004 – Prof. Arnaldo, supervisor substituto...e o trabalho da ATP Maria Lúcia... Por conta da militância e do compromisso que assumiram...esse trabalho transcendeu o aspecto técnico e administrativo ... a ATP teve muita resistência por parte do corpo de supervisão...mas contamos com apoio do setor de planejamento...”

Segundo a Diretora Regional, um cuidado que tiveram durante todo esse processo foi de que ele fosse realizado de forma democrática e participativa; diante dessa posição, a equipe tratou de levantar critérios que validassem a intencionalidade e o respeito para com todos os que estivessem envolvidos:

1. Todas as mães ou responsáveis pelos alunos foram chamados / ouvidos (quando não compareciam, a equipe organizava um cronograma de visitas para essas pessoas); aproximadamente 300 famílias;

2. A localização geográfica (da residência do aluno) foi considerada; havia alunos que atravessavam a cidade para freqüentar a classe especial / sala de recursos;

3. A postura da equipe gestora foi decisiva para a permanência, inclusão ou retirada da (sala especial / recursos) educação especial nas respectivas unidades.

Segundo a Diretora de Ensino, nas reuniões e encontros com essa população, percebia- se o processo de exclusão social que haviam sofrido, em muitos casos, pela resistência em irem à escola para participarem desse processo de reorganização; essa postura relacionava-se ao discurso ‘desconfortável ao qual estavam habituados, tratando-se da vida escolar de seus filhos’:

“As mães...desses alunos já sofreram também um processo de exclusão...então foi um processo de resgate desses pais...desses alunos...tínhamos alunos de 40 anos...na classe especial. Contudo, quando elas perceberam que não queríamos fazer mal a esses alunos e qual era nossa real intenção, elas começaram a colaborar...Em seus relatos afirmavam: – ‘Meu filho está há 10 anos nessa classe’!...Formavam hábitos de ir à escola...”

A partir da coleta de dados e das informações sobre a educação especial, e considerando as demandas trazidas pela população, a Diretoria de Ensino Regional de Franca realizou a reorganização dessa modalidade nas escolas regulares.