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2.2.2 Da doação da Herdade da Cardosa à formação de Castelo Branco

É já no século XII que se começa a esboçar a verdadeira história de Castelo Branco. Portugal havia “nascido recentemente, (...) fundado em fragmentos do solo das antigas divisões territoriais da Hespanha celtica, punica e romana” (HERCULANO, 1875a, p.29). E, em 1165, é doada a Herdade da Cardosa à Ordem do Templo, pelo fundador do reino de Portugal, D. Afonso Henriques, “com a condição de a povoarem e de a defenderem do inimigo.”

24 - O resumo do trabalho de prospeção desenvolvido no castelo, coordenado por João Henriques Ribeiro, pode ser

consultado no Portal do Arqueólogo, disponível através do endereço Web da secção de arqueologia do IGESPAR (ver webgra- fia: “Escavações no castelo de Castelo Branco”). Levado a cabo em vários períodos compreendidos entre os anos de 1979 e 1984, de onde surgiram sepulturas antropomórficas, estelas funerárias e tampas de sepulturas, espólio que se pensa ser do século XV (moedas, pregos, contas e medalhas), uma possível cisterna e calçada medievais, cerâmicas e anéis de vidro. Revelou-se ainda a estrutura primitiva da Igreja de Santa Maria, correspondente ao estilo Românico.

25 - Francisco Tavares Proença, nascido a 1 de Junho de 1883, natural de Lisboa, ingressa numa breve carreira na ar-

queologia, realizando várias escavações em Castelo Branco, no Monte de São Martinho, Senhora de Mércoles e Santa Ana. Publica o seu estudo sobre “inscrições romanas de Castelo Branco” no “Archeologo Português”, no ano de 1907. Em 1910 inaugura o Museu Arqueológico de Castelo Branco, do qual é diretor. Sai do país por motivos políticos, acabando por falecer na Suíça a 24 de Setembro de 1916, com apenas 33 anos. Após a sua morte, o museu do qual foi diretor, passa a denominar- se “Francisco Tavares Proença Júnior”, em sua homenagem (ver webgrafia: “Quem foi Francisco Tavares Proença Júnior”).

Ao que parece, não é já que os Templários se apossam desta terra, levando a que, no ano de 1198, o seu filho, D. Sancho I renove a doação (SILVEIRA et al, 2003, p.16). D. Sancho I, “dedicava-se activamente a organizar a defesa do reino” adicionou “territorios vastissimos, que se dilatavam ao longo da margem direita do Tejo” nesta doação. Toda a região de Idanha ficava sob comando dos Templários, através da es- tratégia política e defensiva adoptada pelo rei de Portugal (HERCULANO, 1875b, p. 237-240). É também nessa altura que surge menção a Vila Franca da Cardosa, regida por um nobre de nome Fernando San- ches. Segundo Cardoso (1953, p.38-40), existira Vila Franca da Cardosa e Moncarche ou Castelo Branco de Moncarchino, duas povoações distintas, posteriormente aglutinadas numa só.

É muito provável que nos surja a questão de onde apareceram estes dois aglomerados, mas de facto não o conseguimos desvendar com fidelidade. Toda esta área territorial pertenceu, em tempos, à bem

conhecida Egitânia26, município de fundação romana, sede de diocese e ponto de cruzamento dos prin-

cipais caminhos da Beira, já nos princípios da era após o nascimento de Cristo. “No século VI a diocese Egitaniense aparece-nos dividida em 3 paróquias”, uma delas pertencente aos “francos” que, “na sua evo- lução através dos séculos aparece organizada municipalmente no século XIII sob o nome de Vila Franca da Cardosa” (CARDOSO, 1953, p.50).

A rede viária sofreu alterações naturais com o passar do tempo e, no século XII, as estradas que se- guiam para a Egitânia “já se cruzavam na Cardosa”. No século XIII, o sistema de comunicações deixava de ter o seu ponto fulcral na Egitânia da era romana, sendo “substituído por outro sistema viário, centrado agora em Castelo Branco”, mais adequado à estrutura política que agora se impunha no jovem País, com centro principal em Lisboa.

Foi este o impulso para o desenvolvimento de Vila Franca da Cardosa, “município sito no lado sul do sopé da Serra da Cardosa” (MATOS, 1972, p.28-30), acompanhado por Moncarche, do outro lado da coli- na. Em 1209, Fernando Sanches, até então titular único de Vila Franca da Cardosa, entra em negociações com a Ordem do Templo, acabando por lhes doar metade da vila (ROXO, 1890, p.17). No entanto, e pas- sados pouquíssimos anos, Vila Franca da Cardosa é adquirida na sua totalidade por D. Afonso II, sendo de seguida doada à Ordem do Templo, no 1º de Novembro de 1214. Tal doação é confirmada pelo Papa Inocêncio III em 1245, surgindo pela primeira vez o nome de “Castelo Branco” documentado (SILVEIRA et al, 2003, p.16). Ficaram assim os Templários, “a partir desta data, na posse total da herdade. Esta pro- priedade compreendia, entre outras, as terras de Castelo Branco” (LEITE, 1991, p.13).

D. Pedro Alvito, mestre da Ordem do Templo, concede-lhe carta foraleira em data que nos trás algu- mas dúvidas, acentuado pelo facto do documento apenas ter sido reduzido a escrito após a sua morte. Neste documento é registada a intenção de “restaurar e povoar Castel-Branco” (SANTOS, 1958, p.20).

Posteriormente, “Castelo Branco de Moncarchino aglutinou Vila Franca e as suas aldeias, incorpo- rando-as no alfoz de Santa Maria do Castelo”. Vila Franca da Cardosa via-se estéril, a perder população a favor “do outro lado da serra da Cardosa [onde] um outro povoado renascia para o labor intenso da sua vida agrícola”, propiciado por terras mais férteis, até que, em 1255, já não temos notícia de Vila Franca como “povoado municipalmente organizado” (CARDOSO, 1953, p.50-54).

26 - Egitânia, ou Idanha-a-Velha como hoje conhecemos, teve grande importância nos períodos Suevo-Visigótico e

Romano, perfeitamente documentados (SILVA, 2004, p.10). Mostrou-se como centro da área da Beira Baixa e ligação dos principais caminhos terrestres da mesma, tendo sido de domínio romano por mais de meio milénio, e “ponto de passagem

obrigatório de toda uma vasta região ao sul do Douro para a capital da província romana da Lusitânia: Mérida”. Após 713, a destruição deixada pelos Árabes levou a que diversos reis tentassem repovoar a cidade, tentativa, no entanto, sem su- cesso. O sistema de comunicações tinha sido alterado e o local que em outros tempos era de extrema importância, veio a permanecer decadente. (MATOS, 1972, p.28-29)