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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CONTEXTO EDUCACIONAL

2.1.3 Da Educação para as Políticas Públicas de Internacionalização

A internacionalização não é um fenômeno novo. Em alguns aspectos históricos, religiosos, econômicos e políticos, podemos identificar a internacionalização presente. De acordo com Knight e De Wit (1994) a internacionalização das IES pode ser dividida em três fases: da Idade Média ao período Renascentista, do século XVIII à Segunda Guerra Mundial e desde esta até aos dias atuais.

Na Idade Média, período de mudanças econômicas e sociais, podemos identificar a internacionalização na peregrinação acadêmica, que corresponde às viagens realizadas por estudantes, docentes e pesquisadores desejosos de estudar com renomadas autoridades no tema de interesse em um ou mais países europeus. Já na época do Renascimento, os estudantes que já praticavam as mobilidades acadêmicas se interessavam tão vigorosamente pela notabilidade dos professores que os seguiam de uma universidade a outra. (LIMA; CONTEL, 2011).

De Wit (2002) expõe que o movimento da Contrarreforma (século XVI), provocou a mobilidade acadêmica para disseminar as ideias revolucionárias e contestadoras.

Quando se configurou a criação do Estado-Nação, não foi permitido aflorar um sentimento nacionalista político e cultural, no entanto, acabou por reduzir a peregrinação acadêmica na Europa. Assim as universidades passaram a ser utilizadas como instrumento para exercer a ortodoxia no plano das ideias, marcando as fronteiras estabelecidas entre as interpretações religiosas em confronto e dificultando o livre fluxo de estudantes entre as instituições (LIMA; CONTEL, 2011).

Alguns séculos mais tarde, o fenômeno da internacionalização da educação superior ressurge impulsionado pelo processo de exportação de modelos educacionais para os países periféricos, movimento esse denominado por De Wit (2002) de “imperialismo ou colonialismo acadêmico”.

Antes da Segunda Guerra Mundial já existia intensidade de cooperação e intercâmbio internacional no âmbito do Ensino Superior, com fluxo de professores e estudantes. Durante a Guerra Fria, a internacionalização das IES assume uma conotação eminentemente política.

As superpotências, Estados Unidos e União Soviética, estimulavam a colaboração internacional acadêmico-científica como forma de ampliar seu poder político-econômico e de manter sob controle suas áreas de influência, exprimindo- se, dessa forma, como instrumento de política externa.

A partir do fim da chamada “Guerra Fria” e da abertura irrestrita dos países que compunham o bloco soviético à economia de mercado, observou-se um contínuo aperfeiçoamento das tecnologias, em especial no que concerne ao sistema de transporte, comunicação e sistema bancário, acabando por propiciar intensos fluxos de capitais, bens, informações e pessoas, até então jamais vistos (DE WIT, 2002).

A partir de 1980, no contexto da globalização a internacionalização se intensificou, através de mobilidade de cunho científico e educacional, incluindo o Brasil em vários níveis de educação, possibilitando um país aberto a novas ideias e projeto para melhoria da educação superior.

[...] a Internacionalização da Educação Superior passou a ser entendida como um conceito amplo, muito abrangente, que pode envolver a cooperação internacional, mas se refere também a mudanças que ocorrem dentro de uma determinada instituição, através de iniciativas políticas e de caráter específico (UNESCO, 2003, p.154).

As múltiplas formas de internacionalização do ensino aparecem, desde sua concepção, em todos os níveis da educação no Brasil. No ensino superior, em especial nas principais universidades brasileiras, a internacionalização começou:

[...] em meados do século XX, com ajuda de missões acadêmicas estrangeiras. Os professores e pesquisadores visitantes que retornaram às suas instituições de origem deixaram ex-alunos que mantiveram laços de cooperação acadêmica em projetos conjuntos de investigação cientifica (SANTOS; ALMEIDA, 2012, p.140).

Porém, na última década, a mobilidade internacional que grupos de pesquisa e programas de pós-graduação brasileira alcançaram teve reflexo no cenário internacional, o que garantiu e possibilitou ao “[...] Brasil iniciar um experimento político-acadêmico da mais alta importância, ao organizar universidades federais de vocação internacionalizada...”, conforme Santos; Almeida (2012, p.142). Neste ponto de vista, a conexão entre as Universidades fortalece ainda mais a inserção da internacionalização e a interação da Sociedade ao cenário global.

A internacionalização do ensino superior é definida por Knight (1994) com termos que valorizam a dimensão internacional relacionando-os com o papel da educação na sociedade.

Internacionalização em nível nacional, setorial e institucional é definida como o processo no qual se integra uma dimensão internacional, intercultural ou global nos propósitos, funções e oferta de educação pós-secundária. (KNIGHT, 1994, p.2).

Outra ótica do conceito de internacionalização foi identificada pelos autores Arum e Van de Water (1992, p.202) que percebiam o foco da internacionalização voltado às atividades, definindo o termo como sendo “[...]as múltiplas atividades, programas e serviços relacionados aos estudos internacionais, intercâmbio educativo internacional e cooperação técnica[...]”. Neste conceito atribui a internacionalização um aspecto dinâmico, direcionado a várias atividades potenciais para fomentar as pesquisas e mobilidade internacional, fazendo com que as Universidades se envolva no cenário global.

Nota-se, dessa forma, que o fenômeno da Internacionalização se exprime como um conceito amplo e abrangente que acaba por integrar diversas atividades, dentre as quais podem ser citadas a colaboração em pesquisas, todas as formas de mobilidade acadêmica, bem como projetos internacionais de desenvolvimento.

Segundo De Wit (2002) e Knight (1994), no tocante às razões que conduzem as IES ao processo de Internacionalização, temos: razões políticas, voltadas ao

entendimentos e parceiras com interesses políticos; as razões econômicas, que são os interesses no desenvolvimento e crescimento econômico; as razões socioculturais, que são os contextos cultural e social interagidos, diante das valores nacionais e as razões acadêmicas, no sentido de qualificação das pessoas e compartilhamento de conhecimento em ensino e pesquisas. Estas razões fazem com que o processo de internacionalização seja intenso e com muitas variáveis, para tornar a Sociedade mais acessível ao mercado Internacional.

Para que haja a inserção da dimensão internacional no ensino e na pesquisa as IES focalizam suas ações em duas grandes dimensões: parcerias internacionais e ensino. As parcerias internacionais caracterizam-se pelos acordos institucionais, programas de cooperação, pesquisa conjunta, desenvolvimento tecnológico e mobilidade de estudantes/professores; enquanto a dimensão do ensino engloba aspectos relacionados ao desenvolvimento da estrutura curricular com conteúdo internacional, importância da aprendizagem de uma língua estrangeira, utilização da literatura, inserção do ensino em língua estrangeira e treinamento intercultural. Para este estudo, serão descritas somente considerações sobre as parcerias internacionais (acordos institucionais, mobilidade de estudantes e/ou professores). Os acordos internacionais entre instituições acadêmicas têm assumido características de interações globalmente administradas.

Os acordos entre os países variam de bilaterais, visando intercâmbios de estudantes e professores até reconhecimento mútuo de créditos e certificações. Um exemplo destes acordos são as comissões binacionais que administram o Programa Fulbright3.

Na Europa a estrutura de acordo internacional mais completa é a Declaração de Bologna, projetada para introduzir mudanças visando à harmonização dos sistemas de educação superior de todos os países membros da União Europeia,

3 Programa Fulbright é representada e administrada por uma organização internacional vinculada aos governos do Brasil e dos EUA, desde 1957: a Comissão Fulbright. Suas bolsas já levaram mais de 3.500 brasileiros para estudar no Estados Unidos e trouxeram quase 3.000 norte-americanos para o Brasil. A Fulbright oferece bolsas de estudos para o intercâmbio de estudantes de pós-graduação, professores e pesquisadores que queiram fazer a diferença em suas comunidades por meio da pesquisa e do conhecimento. Fonte: https://fulbright.org.br/comissao/. Acesso em: 03 abr. 2018.

especificamente para os programas de intercâmbio e bolsas ERASMUS4 e SÓCRATES5.

Esses acordos bilaterais só são possíveis por causa da globalização. O sistema pode ser compreendido como o aumento e a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal forma que os acontecimentos de cada lugar são influenciados por eventos que acontecem a milhas de distância e vice-versa. Esse fenômeno globalização pode ser compreendido como um processo e assim pode ser conceituado:

Globalização é um processo de integração mundial que está ocorrendo há pelo menos duas décadas nos setores de comunicação, economia, finanças e comércio [...]. (LUDOVICO, 2009, p.4).

A internacionalização, no contexto da globalização, está abrindo novas oportunidades para outros setores da economia, até mesmo aqueles mais tradicionais, como é o caso do setor de Educação, em especial no que se refere ao ensino superior.

O advento da globalização, então, afetou inclusive as universidades, que passaram por transformações, o que trouxe novos desafios para as instituições, dentre os quais o desafio da internacionalização.

Assim:

A internacionalização de uma instituição de ensino superior (IES)

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Bolsas Erasmus é através do Programa Erasmus Mundus (EM), programa de mobilidade criado e financiado pela União Europeia (UE), com objetivo de promover a excelência da educação superior e pesquisa dos países europeus e ao mesmo tempo reforçar os laços acadêmicos com países de todo o mundo. As bolsas de estudos integrais concedidas para os cursos de mestrado e doutorado pertencentes ao Eramus Mundus são amplamente conhecidas, no entanto, o programa também oferece oportunidades para professores e

instituições de educação superior. Fonte:

http://erasmusmundusnobrasil.webs.com/programa.htm. Acesso em: 03 abr. 2018. 5

Bolsas Sócrates é do Programa SÓCRATES, inserido no ERASMUS para bolsas de mobilidade de estudantes, devem ser disponibilizadas aos estudantes que participem num Programa de mobilidade aprovado ao abrigo da EUC – Carta Universitária ERASMUS, entre as instituições localizadas num Estado-membro da União Europeia (EU). Fonte: https://www.fct.unl.pt /sites/default/files/documentos/estudante/mobilidade_europeia/2008- 2009/eleg_estudantes.pdf. Acesso: 03 abr. 2018.

pode ter um conceito limitado, como a simples presença de alguns alunos estrangeiros no campus. Por outro lado, a internacionalização pode ser algo contínuo, como um processo sinérgico e transformador, envolvendo os currículos e a pesquisa, influenciando as atividades de alunos, professores, administradores, e toda comunidade em sentido amplo [...] (FRANKENBERG, 2010, p.149).

Vale salientar que as universidades trabalhavam ativamente na internacionalização passiva, ou seja, apenas na mobilidade acadêmica discente e qualificação de docentes em instituições no exterior, visando ao desenvolvimento de uma elite intelectual.

Hoje o conceito sofreu alterações e agora tem-se a internacionalização ativa, que se refere à implantação de políticas de Estado e institucionais voltadas para a atração e acolhimento de acadêmicos; à oferta de serviços educacionais no próprio país e no exterior; ao envolvimento com a mobilidade de experts - docentes e técnicos - e de discentes em áreas de interesse estratégico; à exportação de programas e instalação de instituições ou campi no exterior; à criação de programas e projetos de pesquisa em colaboração com instituições estrangeiras de reconhecido prestígio acadêmico; à participação em redes internacionais e ao desenvolvimento de políticas públicas e institucionais que visem ao trabalho colaborativo entre instituições nacionais e internacionais.

Neste novo contexto de internacionalização é que as políticas públicas se fortalecem, através de programas de línguas e programas de mobilidade acadêmica, oriundos dos incentivos públicos que atuarão no financiamento de alunos e pesquisadores, para que se fomente cada vez esta conexão bilateral de caráter globalizado.

No entanto, existem também as limitações da internacionalização, no aspecto de não contemplar todas as áreas de conhecimento. Um exemplo é o CsF, que priorizava as áreas de atuação, como as Engenharias e demais áreas tecnológicas, excluindo as áreas de conhecimento das ciências humanas e das licenciaturas, fator importante para o futuro da educação.