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FIGURA 16: The Max Factor Beauty Calibrator - 1932 - (EASTON, 2004, p. 863).

 

‐ 160 ‐ Os resultados são aqui apresentados concomitantemente à discussão, iniciando-se pelo perfil socioeconômico e de morbidade da etapa quantitativa - os sujeitos investigados - e baralhados ao debate qualitativo - os sujeitos em cena -.

Para facilitar a compreensão dos resultados e discussões do presente estudo, este capítulo foi subdividido nas seguintes seções:

a) Características sociodemográficas - idade, estado civil, arranjo familiar, escolaridade, situação ocupacional e nível socioeconômico -;

b) Caracterização da autopercepção de estado geral de saúde; c) Caracterização da autopercepção da imagem corporal;

Das Características Sociodemográficas

A amostra do estudo foi composta por 60 mulheres idosas inscritas em um programa de promoção da saúde de uma operadora de atenção suplementar em Brasília-DF. As características sociodemográficas são apresentadas, a seguir, na Tabela 1 e compreendem: idade, estado civil, arranjo familiar, escolaridade, situação ocupacional, nível socioeconômico e renda familiar.

 

‐ 161 ‐ Tabela 1: Variáveis sociodemográficas da amostra estudada.

Variável % N Faixa Etária — 60-64 anos 60,7 36 65-69 anos 24,3 16 70-72 anos 15,0 08 Estado Civil — Solteira 15,0 09

Casada/vivendo com parceiro 20,0 12

Viúva 53,0 32

Divorciada ou separada/desquitada 12,0 07

Pessoas na Mesma Residência

Mora só 38,1 23

Só o cônjuge 10,2 06

+filhos 27,2 16

+ netos 13,6 08

Residência fixa em Instituições de Longa Permanência - ILP - 00 00

Outros 10,9 07

Escolaridade

Fundamental Incompleto 0 0

Fundamental Completo/Médio Incompleto 1,0 01

Médio Completo/Superior Incompleto 5,0 03

Superior Completo 84,0 50

Pós-Graduação 10,0 06

Ocupação

Aposentada, mas trabalha 30 24

Só aposentada - por instituições governamentais - 60 36

Só aposentada - por outras instituições - 00 00

Só dona de casa 00 00

Pensionista 58 35

Classe Econômica (ANEP)

A 68,8 41 B 25 15 C 6,2 04 Renda Familiar — Até um salário 00 00 1,1 – 3 salários 00 00 3,1 – 5 salários 10,0 06 5,1 – 10 salários 30,7 18 10,1 – 30 salários 60,3 36

Não sabem/não responderam 00 00

A média de idade das mulheres foi de 66,66 anos (Desvio Padrão=4,0), com idade variando de 60 a 72 anos.

 

‐ 162 ‐ A maior concentração de mulheres, em termos de faixa etária, ocorreu entre 60 e 64 anos (60,7%), consideradas pessoas idosas jovens (VERAS, 1994), seguida de 65 a 69 anos (24,3%). De acordo com os Indicadores Sociais do IBGE (2001), a população de indivíduos idosos brasileiros na faixa etária de 60 a 69 anos representa 50% das pessoas idosas e os outros 50% são representados por sujeitos acima de 70 anos. No presente estudo, 90,0% das mulheres estão na faixa etária de 60 a 69 anos, e 10,0% estão acima de 70 anos. Em Brasília-DF, as mulheres idosas entre 60 e 72 anos de idade - faixa de anos correspondente à amostra pesquisada -, perfaz 5% do total de residentes naquela cidade (Secretaria de Estado de Planejamento do Distrito Federal - SEPLAN -, 2008).

Quando relativizada ao universo amostral: o conjunto de pesquisadas corresponde à apenas 0,60% do total de mulheres idosas brasilienses na faixa dos 60 aos 72 anos de idade; e, por sua vez representa 0,29% da população global de homens e mulheres - de 00–80 e mais anos de vida - em Brasília-DF (ibidem). Entre as mulheres idosas do presente estudo observou-se uma predominância de viúvas (53,0%), seguidas de casadas (20,0%), depois das solteiras (15,0%) e, em último, das divorciadas/separadas (12,0%). Essa elevada prevalência de mulheres idosas e viúvas também foram verificadas em diferentes Regiões Administrativas brasileiras, quais sejam: Na Região Sul, no perfil da pessoa idosa de Florianópolis, em Santa Catarina-SC, a prevalência foi de 47,5% de mulheres (BENEDETTI, PETROSKI & GONÇALVES, 2004); na Região Sudeste, 42,6% na pesquisa realizada no estado de São Paulo-SP pelo projeto SABE - Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (LEBRÃO, 2003) -; e na Região Nordeste, Barreto, Carvalho, Falcão, Lessa & Leite (2003) constataram uma prevalência no município de Recife, no estado de Pernambuco-PE, de 44,5%.

 

‐ 163 ‐ Em média, a mulher idosa brasileira de hoje nasceu até o final da década de 1930, e nesse período a participação dela em atividades fora do lar era pouco freqüente, por isto supõe-se que ficou preservada de muitas doenças que afetaram os homens - determinando uma maior taxa de mortalidade na população masculina - (HERÉDIA apud STREY, MATTOS, FENSTERSEIFER & WERBA, 2000).

Como afirma Mattos apud Strey, Mattos, Fensterseifer & Werba (2000), a mulher possui uma expectativa de vida maior. Bem como o status de viuvez pertence majoritariamente às mulheres, não apenas por viverem mais, mas também pelo fato de que os homens, ao enviuvarem, logo se associam a uma nova companheira. Em relação ao arranjo familiar: verificou-se um percentual razoável de mulheres idosas que residiam em domicílios multigeracionais, especificamente trigeracionais - avós, filhos e netos -, 14,0% das pesquisadas relataram morar na mesma residência que os netos, e 27,2% das mulheres idosas com os filhos.

Esse tipo de arranjo domiciliar multigeracional é um aspecto marcante da estrutura familiar de países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, verificado principalmente na população que apresenta condições socioeconômicas mais precárias (VERAS, 1994; COELHO- FILHO & RAMOS, 1999; FELICIANO, MORAES & FREITAS, 2004; RAMOS, 2003).

Observa-se, ainda, que a residência fixa em Instituições de Longa Permanência - ILPs - não foi referida pelas pesquisadas: além das questões financeiras, as pessoas idosas ainda sofrem com questões básicas como solidariedade e dificuldade de inserção social; e, entender-se-ia que a família, por sua posição nuclear, teria a obrigação de cuidar de seus entes idosos (BELO, 1990; CAMARGOS, MENDONÇA & VIANA, 2006).

 

‐ 164 ‐ De pronto, a residência fixa em ILPs deveria ocorrer exclusivamente no caso de completa ausência de parentes ou como medida preventiva para garantir a sobrevivência da pessoa idosa (CAMARGOS, MENDONÇA & VIANA, 2006). De acordo com Souza (2008): atualmente, no Brasil, 1% dessas pessoas vivem em ILPs. Em 2003, cerca de 100 mil pessoas de um total de 2,2 milhões de pessoas idosas com dificuldades auditivas residiam nessas Instituições.

Cerca de 70% dessas ILPs foram abertas a partir dos anos 1980, sendo que cada Instituição abriga em média 25 pessoas, com gasto per capita/mensal de R$ 600,00: a multiplicação de estruturas asilares é conseqüência da inserção da mulher no mercado de trabalho, o que ocasionou a diminuição do apoio assistencial oferecido pelas famílias aos seus entes idosos (ibidem).

A idade predominante das pessoass idosas residentes nessas ILPs é de mais de 80 anos - o que correspondeu a 30% do universo de pesquisados -, e cabe destacar o número expressivo de 14% de pessoas idosas consideradas inválidas (ibidem).

Da dimensão do genêro: na Região Sul, 60% dos internos são mulheres - à exemplo do resto do mundo -, diferentemente das Regiões Centro-Oeste e Norte onde 60% dos residentes são homens e procedentes de outras regiões brasileiras (ibidem).

Entretanto, nesta dissertação, um número expressivo de mulheres idosas relatou residir solitariamente. Este dado, de certa forma, corrobora um cenário bem distante do brasileiro, o correspondente aos países desenvolvidos: a exemplo do Canadá, 38% das pessoas idosas daquele país vivem sozinhas (PLOUFFE, 2003; VERAS, 1994).

 

‐ 165 ‐ A caracterização desse comportamento na amostra pesquisada pode se dar em razão das mulheres idosas integrantes do estudo residirem em uma cidade de grande porte, uma Cidade- Estado e Capital Federal, e que possui um nível socioeconômico razoavelmente alto quando comparado ao restante do conjunto nacional - doravante, parceladamente, essa questão será tratada de forma mais detalhada -: cabe ressaltar como componente inicial à reflexão do contexto distrital o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH - de Brasília-DF de 0,936 contra uma média nacional de 0,606 (SEPLAN, 2008).

O IDH é a síntese de quatro indicadores: PIB - Produto Interno Bruto - per capita, expectativa de vida, taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa de matrícula bruta nos três níveis de ensino - relação entre a população em idade escolar e o número de pessoas matriculadas no ensino fundamental, médio e superior - (WATKINS, 2006).

Quando analisado o nível de escolaridade das mulheres idosas: observou-se um alto índice, onde 84,0% (n=50) das pesquisadas eram portadoras de educação superior; 10,0% (n=06) possuiam Pós-Graduação; 5,0% (n=3) cursaram o Ensino Médio Completo e apenas 1,0% (n=1) possuía exclusivamente o Ensino Fundamental Completo.

Esses dados conflitam com os baixos índices de escolaridade evidenciados das pessoas idosas brasileiras em outros estudos realizados: no estudo de Soares (2001), realizado na cidade de Lages/SC, 94% das mulheres idosas entrevistadas não completaram o Ensino Fundamental; em Marechal Cândido Rondon, no estado do Paraná-PR, Conte (2004) revelou que 79,4% das pesquisadas também não possuíam o Ensino Fundamental Completo; e em Florianópolis/SC, Mazo (2003) detectou que 92% das mulheres idosas não completaram o Ensino Fundamental.

 

‐ 166 ‐ No entanto, no caso distrital, em Brasília 29,4% da população residente possui nível superior completo e, por sua vez, o IDH-Educação é de 0,988, um dos maiores do país, considerando que a média nacional é de 0,455 (SEPLAN, 2008; WATKINS, 2006).

Para monitorar o desempenho em educação, o IDH-Educação usa dois indicadores: taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa bruta de matrícula nos 3 níveis de ensino (WATKINS, 2006). No caso do Brasil, as séries estatísticas internacionais apontam que a taxa de alfabetização apresentou o inexpressivo aumento de 88,4% para 88,6% - 11,4% de analfabetismo, 62º no ranking mundial -, e a taxa bruta de matrícula estabilizou-se em 85,7% - 40º no ranking - (ibidem).

Em relação à situação ocupacional: 60,0% (n=36) das pesquisadas são apenas aposentadas; 30,0% (n=24) continuam exercendo uma atividade remunerada após a aposentadoria. E, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais (IBGE, 2002), a proporção de mulheres aposentadas (45,9%) é menor que a de homens (77,7%). As Regiões com proporções maiores de aposentadas é a Nordeste (63,1%), a Norte (51,6%) e a Sul (44,8%). Há maiores proporções aposentados no Sul (80,8%), no Nordeste (79,9%) e no Sudeste (77,9%). No Sudeste, o percentual de aposentadas (36,5%) é bem inferior ao dos homens.

Entre as pessoas de 60 anos ou mais, o percentual de pensionistas homens (0,8%) é bem inferior ao de mulheres (20,7%), devido à quantidade de viúvas nessa faixa etária. Destaca-se também o percentual de mulheres que acumulam a condição de aposentadas e pensionistas (8,8%), superior ao dos homens (1,1%) (IBGE, 2002).

 

‐ 167 ‐ Na rápida ampliação da participação da mulher brasileira no mercado de trabalho, verificada nas últimas décadas, chama atenção uma configuração muito particular: o aumento da inserção de mulheres com 40 anos e mais nas atividades econômicas, com maior intensidade que o verificado entre as mais jovens, sobretudo a partir dos anos 1990 (CAMARANO, 2001).

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios - PNAD - (1992; 2003) parecem sinalizar que as brasileiras têm permanecido por mais tempo no mercado de trabalho. Em 1981, 38,4% das mulheres de 40 a 49 anos, 27,6% daquelas com 50 a 59 anos e 9,9% do segmento feminino de 60 anos ou mais estavam ativas, enquanto em 2003 essas taxas, para as mesmas faixas etárias, passaram a 67,5%, 51,4% e 19,6%, respectivamente (ibidem).

Essa expansão relaciona-se a vários movimentos estruturais em curso na economia e sociedade brasileira: transformações na estrutura ocupacional, com maior criação de oportunidades de trabalho feminino; mudanças de caráter demográfico que implicaram o aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população; e mudanças de caráter comportamental, que têm se refletido na queda dos níveis de fecundidade e na melhoria dos indicadores educacionais femininos, que tornam as mulheres mais disponíveis e mais aptas a se inserirem no mercado de trabalho (CAMARANO, 2001).

Outros fenômenos mais específicos também podem estar concorrendo ao ingresso e a permanência das mulheres nesse mercado: a queda do poder aquisitivo das famílias e as dificuldades para a mulher obter aposentadoria, diante da maior precariedade de sua inserção na vida profissional e, quando a obtém, o valor tende a ser insuficiente para manutenção de sua família, impelindo-a a buscar complementação para a renda (ibidem).

 

‐ 168 ‐ O Centro-Oeste é uma Região economicamente bem dimensionada, o que se confirma por meio do alto nível econômico das pesquisadas, verificadas pelo Critério de Classificação Econômica Brasil da ANEP (2003) e pela renda familiar referida. Assim, 68,8% (n=41) das mulheres idosas deste estudo foram classificadas nas Classes A, a Classe B com 25,0% (n=15), e apenas 6,2% (n=04) das mulheres idosas pertenciam à Classe C.

Quando se observa a renda familiar dessa mulher idosa: nota-se que 60,3% (n=36) possuem renda igual ou superior a 10 salários mínimos, 30,7% (n=18) de 5,1 a 10 salários mínimos, e que apenas uma parcela muito pequena de 10,0% (n=6) possuem renda entre 3,1 e 5,0 salários, e nenhuma das pesquisadas referiu portar renda inferior a este valor.

Segundo o IBGE (2005), a renda familiar alta é marcante nas Regiões Administrativas brasileiras economicamente mais favorecidas. Por outro lado, apesar do alto número de pesquisadas residindo solitariamente, a aposentadoria da pessoa idosa acaba “completando” economicamente a família, ou seja, os seus filhos e netos (BACELAR, 1999).

Nunca é demais lembrar que o trabalho das mulheres decorre, freqüentemente, de uma articulação complexa de características pessoais e familiares que podem influenciar sua decisão de ingressar ou permanecer na vida profissional, tais como presença de filhos associada ao ciclo de vida das trabalhadoras, sua posição no grupo familiar - cônjuge, chefe de família, filha, etc. - e a necessidade de prover ou complementar o sustento do lar (ibidem; VERAS, 1994; CAMARANO, 2001).

 

‐ 169 ‐ O nível econômico das pesquisadas demonstrou características similares à distribuição econômica da população residente da Região Centro-Oeste, classificando-se como nível econômico alto. E, especialmente no caso do DF, a renda média da população que trabalha é de 605,41 reais (IBGE, 2004/2005). Quando se detalha ainda mais o extrato financeiro: em Brasília, cidade do DF onde majoritariamente (100%) reside a amostra pesquisada, a renda domiciliar alcança 25,53 salários mínimos (SEPLAN, 2008). O IDH-Renda é de 0,948. Vale destacar, o Índice brasileiro não ultrapassa 0,740 (ibidem; WATKINS, 2006).

A dimensão renda do IDH é avaliada pelo Produto Interno Bruto - PIB - per capita ajustado pelo conceito “Paridade de Poder Compra” - Dólar PPC - (WATKINS, 2006), qual seja: corresponde ao valor, em cada moeda, de uma cesta de bens e serviços, com composição proporcional ao PIB, que pode ser adquirida com 1 Dólar nos EUA. O PPC assume valores diferentes, em cada país, de acordo com os preços desses bens e serviços nas diferentes moedas. E, para transformar, portanto, valores em Reais correntes em Dólar PPC é preciso dividir o valor da variável em Reais pelo valor do Dólar PPC do ano correspondente, ou seja, pela “Paridade de Poder de Compra” do Dólar em Reais (ibidem).

Contudo, soma-se ao conjunto de cenários retro expostos a consolidação da presença feminina no mercado de trabalho e a competição entre os sexos por funções profissionais mais elevadas, além do setor de empregos cada vez mais saturado; o que estimula alterações no padrão comportamental das mulheres idosas e oferecem novas dimensões em relação às suas atitudes e posturas (CAMARANO, 2001): o alto nível de escolaridade e renda parecem ser os indicativos que mais contribuem à alta classificação do nível econômico das mulheres idosas aqui estudadas.

 

‐ 170 ‐ Na velhice devem-se distinguir dois processos profundamente relacionados: o envelhecimento individual ou “biofisiológico”, e o demográfico. A estrutura social de cada sociedade condiciona os processos individuais do envelhecimento (CABRERO, 1997). Ao mesmo tempo, o envelhecimento da população exerce uma forte pressão à transformação dos

status dessas pessoas e das oportunidades de participação a elas oferecidas: diante do fenômeno

da transição demográfica, a velhice assume uma nova dimensão onde a “velhice subjetiva”, caracterizada pela velhice de algumas pessoas, é obscurecida pela “velhice objetiva”, como um fenômeno estrutural que concerne a toda a sociedade (ibidem).

As demandas que emergem desse setor da população podem gerar uma crise no sistema de distribuição dos recursos e das prioridades anteriormente estabelecidas (ibidem): o envelhecimento populacional conduz a necessidade de reavaliar critérios relativos aos gastos sociais que sobrevêm do novo perfil da pirâmide etária.

Trata-se de encontrar novas alternativas, por exemplo, à questão do índice de dependência - contribuintes-não-contribuintes -, argumento que muito se utiliza para justificar a inviabilidade da Previdência Social (ibidem). Sabe-se, também, que os gastos sociosanitários aumentam significativamente com a idade (VERAS, 1994; OVERALL, 2004).

Essas, em suma, são algumas das questões que transformam o envelhecimento demográfico no objeto central das preocupações políticas e científicas. E provocam a transformação de um enfoque pautado na senescência biológica ou individual para uma preocupação com os aspectos socioeconômicos e políticos do envelhecimento.

 

‐ 171 ‐

Da Percepção Subjetiva de Estado Geral e dos Problemas de Saúde

A percepção subjetiva da saúde tem sido utilizada como um indicador da qualidade de vida, da morbidade e também como boa preditora da mortalidade (RAMOS, 1997). Essa percepção foi avaliada considerando uma Escala Likert de 04 pontos (MALHOTRA, 2001) - excelente/muito boa, boa, regular e ruim -, e categorizada em percepção de saúde positiva - excelente/muito boa e boa - e percepção de saúde negativa - regular e ruim -. Estes achados estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Proporção de mulheres idosas de acordo com a percepção de estado geral de saúde positiva - excelente/muito boa e boa - e negativa - regular e ruim -.

Variável % N Percepção de Saúde — — Positiva 65,3 39 Excelente 49,8 30 Muito Boa 15,5 09 Negativa 34,7 21 Regular 29,8 18 Ruim 4,9 03

Sua saúde comparada com seus pares — —

Positiva 89,8 54 Melhor 62,3 37 Semelhante 27,5 17 Negativa 10,2 06 Pior 8,7 05 Muito Pior 1,5 01

Panoramicamente, 65,3% das pesquisadas avaliaram positivamente o seu estado geral de saúde atual. Destas, 49,8% (n=30) classificaram-se como “excelente” e 15,5% (n=09) como sendo “muito boa” a sua condição de saúde atual.

Dos 34,7% das mulheres idosas que avaliaram o seu estado geral de saúde como negativo, 29,8% (n=18) julgaram o estado de saúde “regular” e apenas 4,9% (n=03) consideraram “ruim”.

 

‐ 172 ‐ A elevada taxa correspondente à percepção positiva do estado geral de saúde é bem diferente de outros estudos com a população acima de 60 anos: Lima-Costa, Firmo & Uchoa (2004) identificaram um alto percentual de pessoas idosas (75,3%) que relataram uma percepção de saúde negativa, e apenas 24,7% uma percepção de saúde positiva.

Assim como no estudo desenvolvido com indivíduos idosos representativos da população brasileira por Lima-Costa, Barreto & Giatti (2003), a partir dos dados do PNAD/1998, no qual constaram que 44,5% das idosas perceberam sua própria saúde como regular ou ruim/muito ruim.

Deve-se destacar a existência de vários fatores determinantes que influenciam a percepção do estado geral de saúde da pessoa idosa e que podem ser organizados, de acordo com Alves (2005), em: fatores demográficos - idade, sexo, arranjo familiar e estado civil -; socioeconômicos - escolaridade e renda -; doenças crônicas; e capacidade funcional - atividades da vida diária, atividades instrumentais da vida diária e mobilidade -.

Outro ponto relevante, já considerado anteriormente, é o que trata da peculiaridade socioeconômica da amostra pesquisada, que muito possivelmente incide comportamentalmente sobre sua autoperpcepção de estado geral de saúde, e que muitas vezes pode estar mediada por uma expectativa sociocultural de saúde, ou seja: “o corpo apesar de pertencer a uma pessoa idosa deve ser bem-sucedido e saudável”.

Para tal, basta conferir que a maioria das entrevistadas (89,8%; n=54) referiram portar um estado geral de saúde superior aos seus pares, sendo que 62,3% (n=37) emitiram uma opinião de que estão melhores do que as mulheres que participam do seu grupo de convívio comunitário.

 

‐ 173 ‐ Nessa direção, Foucault (2007) é quem diz que o controle da sociedade se faz também pelo corpo e com o corpo, sendo a tecno-ciência o saber que produz poder; esse raciocínio, segundo o autor, desenvolveu-se concretamente a partir do século XVII e pode ser traduzido por meio de dois modos: o primeiro entende o corpo como máquina, neste caso, garantido pelo poder implícito nas formas disciplinares de tratamento dadas ao corpo. Pode-se dizer, portanto, que houve uma anatomia-política do corpo.

O segundo modo aponta que a partir de meados do século XVIII forma-se uma nova modalidade de poder ou o que Foucault chama de biopoder (ibidem): este é localizado no corpo- espécie e garantido pelas intervenções e controles reguladores, que são traduzidos por estratégias biopolíticas aplicadas à população.

Para Foucault (ibidem), essas são duas formas de poder diferentes, com origens distintas, mas que não se excluem. Pelo contrário, se o poder disciplinar em um determinado momento tinha força de esquadrinhar, desarticular os corpos, em um segundo momento, constitui-se, assim como o domínio aplicado ao corpo-espécie, em um modelo, cuja função, assenta-se no investimento total sobre a vida (ibidem).

Na organização social, os corpos não valem o mesmo, não significam o mesmo. E para que a ordem social se mantenha é preciso uma regulação e um controle diferenciados. O valor da saúde é variável, as doenças e até a morte não são as mesmas para todos: doenças e desigualdades estão extremamente ligadas (CANGUILHEM, 1990).

 

‐ 174 ‐ Historicamente, a doença tem, de fato, sido um dos mais significativos fatores que as instituições políticas e sociais usam para definir os corpos, controlar os seus movimentos e solidificar as definições de gênero, raça, sexualidade, etc (CANGUILHEM, 1990).

A doença e outras forças que com ela concorrem para a produção do corpo são inseparáveis desses mesmos corpos onde atuam e estes podem ser lidos pelas marcas neles inscritas (ILLICH, 1975).

Daí aparecem hipóteses que procurariam oferecer um sentido de investimento às práticas corporais: Grossman (1972) trabalhou uma teoria onde todos os seres humanos, ao nascerem, portariam uma “conta corrente” com um grande depósito de saúde - à exceção daqueles que nasceram com alguma anomalia congênita que depauperaria ou comprometeria o completo estado de bem-estar da saúde -, e ao longo de suas vidas, de acordo com o meio ambiente, condições socioculturais e econômicas, estilos e hábitos de vida realizariam saques nessa conta ou mesmo depositariam novos investimentos.

De fato, o estudo de Grossman (ibidem), permite a realização de uma grande reflexão; considerando que as questões biológicas poderão ser completamente influenciadas, e até mesmo

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