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5 POLÍTICA INSTITUCIONAL DA PERMANÊNCIA NO CENÁRIO DA ACAFE:

5.1 DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL: A LEITURA DA EXPRESSÃO DA

A partir da análise dos documentos produzidos e sistematizados pelas instituições investigadas, no âmbito das Universidades Comunitárias integrantes da ACAFE, disponibilizados pelos informantes-chave e, de acordo com o que foi proposto na metodologia, neste capítulo apresentam-se os dados coletados, seguindo-se o roteiro previamente estabelecido, tarefa da etapa inicial da investigação, cujo propósito, além do compromisso de levar a bom termo o processo de pesquisa, foi o de elucidar o que se apresentou como problema, motivo de inquietação da pesquisadora: no cenário da ACAFE, há uma política específica para a permanência dos estudantes, nos cursos de graduação? Esta política do sistema ACAFE materializa-se nas instituições universitárias, suas afiliadas? E, por extensão, em relação às políticas de permanência, se instituídas, quais são as práticas, os procedimentos e as formas de acompanhamento acadêmico dos universitários?

Remetendo-se ao segundo pressuposto deste estudo, no qual se concebe política educacional como parte do conjunto de políticas públicas sociais traduzidas pelos referenciais normativos subjacentes, corporificadas nas filosofias de ação, explicitadas nas diretrizes de documentos norteadores de programas, no dizer de Azevedo (2004) só têm visibilidade quando, na prática, tornam-se indicadores de qualidade social de uma dada nação, população ou região. Igualmente, neste âmbito, as políticas de educação superior, deverão ter, sempre, como referência a missão pública do ensino superior, isto é, a qualidade social de seus beneficiários, pois o conceito de qualidade neste estudo não se refere, apenas, à dimensão técnica.

Assim entendendo, o primeiro ponto de referência na análise dos documentos disponibilizados, pelas dez instituições universitárias, o estudo concentrou-se no memorial de cada uma, na organização universitária, na natureza jurídica, finalidades e objetivos.

No estudo apresentado por Oliveira (2007) a estrutura organizacional é o instrumento administrativo resultante da identificação, análise, ordenação e

agrupamento das atividades e dos recursos, incluindo os estabelecimentos dos níveis de responsabilidade e dos processos decisórios, visando ao alcance das finalidades e objetivos estabelecidos nos planos e programas institucionais. Portanto, uma estrutura organizacional eficiente e eficaz é uma, dentre as muitas possibilidades administrativas, de garantir as condições apropriadas para criar, implantar, manter e fazer funcionar uma instituição.

No dizer de Gibson et al (2006, p. 12) “uma estrutura organizacional representa padrão formal de atividades e inter-relações entre as várias subunidades de uma organização”, expressa no organograma que é uma representação gráfica dos cargos e destes em relação às atividades da organização de forma visual. Embora, o organograma, não revele como se dão as relações informais, ao colocar em evidência a divisão do trabalho, as posições existentes na instituição, o agrupamento em unidades e a autoridade formal, segundo Mintzberg (1995), torna-se visível a todos os seus componentes a comunicação travada entre eles.

Na literatura específica da administração, apresentam-se vários formatos de organograma, como, por exemplo, o organograma vertical, também denominado de modelo clássico, no qual se destacam as relações hierárquicas; o organograma circular, ou radial, cuja expressão da ordenação e do agrupamento das atividades ressalta o trabalho em grupo; o organograma horizontal, cuja base sustenta-se na hierarquização de cargos, funções e atividades, com a intenção de minimizar os efeitos da formalidade, própria da hierarquia, nas formas de comunicação visualiza- se uma relação mais flexível; organograma funcional, muito similar ao organograma vertical, delineia as relações funcionais da organização, e não a hierarquia.

Outro tipo de organograma, pouco utilizado na estrutura das organizações é o organograma matricial. Porém, como a característica principal deste tipo de organograma é a representação de grupos que trabalham com projetos, na maioria dos casos projetos temporários, alguns setores das instituições o utilizam.

É comum, na estrutura das instituições, especialmente das instituições universitárias, dentre as diversas atividades, constar no organograma as atividades fim e as atividades meio. As funções são representadas por figuras geométricas, geralmente, retangulares, com cada figura indicando uma atividade ou um conjunto de tarefas, ou ainda uma função. Figuras no mesmo nível, na horizontalidade, informam que as pessoas responsáveis por essas funções têm a mesma autoridade

e poder dentro da instituição. Figuras acima, ou abaixo e diretamente ligadas indicam as relações de autoridade ente às funções e ou atividades.

Linhas horizontais ente as figuras, representam as atividades meio e as linhas que descem numa ligação vertical, de uma figura para outra, situam as funções e ou atividades de áreas de execução, isto é, áreas da atividade fim, aquelas que atuam diretamente na prestação de serviço, no caso, no organograma de uma IES, o ensino superior. Embora, as áreas/funções/atividades estejam desenhadas no organograma, definindo responsabilidades, de forma destacada, todas, no conjunto, estão interligas e, portanto, são corresponsáveis pela articulação entre meios e fins e, consequentemente, pela materialização da missão institucional. O organograma institucional possibilita a leitura do instituído no estatuto da fundação, a mantenedora da universidade, bem como os níveis de responsabilidade pela concretização das finalidades e objetivos, como no exemplo abaixo.

Figura 14 - Organograma Institucional I

Fonte: Reitoria da IES

Interpretando os organogramas das 10 universidades pesquisadas, pode-se inferir, pela similaridade dos delineamentos, como no exemplo da figura nº 14 acima e nas figuras nº 15 e nº 16, subsequentes, que todas se valem do modelo clássico,

verticalizado, que se sustenta na hierarquização de cargos, funções e atividades, ainda que mostre certa linearidade na estrutura na intenção de reduzir as implicações de um modelo burocratizante, confirmando-se os estudos de Sander (1995), sobre o escopo da administração no contexto latino-americano, em que a gestão da educação, no Brasil, seguiu o movimento das teorias pedagógicas e administrativas, vinculadas à natureza normativa, tendo como critério o desempenho administrativo caracterizado por uma sistemática divisão do trabalho, atendendo a uma racionalidade ajustada aos objetivos do sistema regulador ao qual pertencem e à adequação dos meios aos fins. A crítica que se pode tecer em relação a essa configuração estruturante, consiste no fato de que as IES são sistemas complexos que se relacionam com ambientes, também complexos, em processo de interinfluência recíproca, onde a flexibilidade da organização institucional é uma variável constante, ao contrário do que preceitua um modelo regulador.

À luz do que se configura, pode-se inferir a proeminência da homogeneidade entre as instituições que se situam no contexto da ACAFE, na perspectiva do isomorfismo. As IES vivenciam o mesmo conjunto de condições, comungam conceitos, padrões e práticas organizacionais institucionalmente legitimados.

Ressalta-se, ainda, que esta configuração comum das IES, em estudo, encontra-se na origem da constituição das mesmas. Na análise do memorial descritivo destas 10 universidades, constata-se que as fundações, entidades mantenedoras, foram criadas e organizadas da mesma forma, por Lei Municipal, com a mesma natureza jurídica, com as mesmas finalidades, com os mesmos princípios, os mesmos objetivos e, até, cursos superiores similares. Da mesma maneira, o desenho da transposição do ente fundacional, para o ente acadêmico, também, foi o mesmo, coordenado pela ACAFE.

No conteúdo dos estatutos das IES, além da configuração organizacional apresentada, está explícita a natureza jurídica. Salvaguardando a oficialização do caráter comunitário, sem exceção, todas as 10 IES, objeto de estudo, são instituições de personalidade jurídica de direito privado (ainda que criadas por Lei Municipal), de caráter filantrópico, sem fins lucrativos, cuja finalidade é promover a cultura, a arte, a ciência e a tecnologia, fomentar o desenvolvimento regional e prestar assistência social à comunidade, em sintonia com a legislação vigente.

Para radicar o que se expressa nos estatutos, estes remetem à obrigatoriedade de articulação com os regimentos. Enquanto, os estatutos dispõem sobre a configuração organizacional, natureza e finalidade da instituição, os regimentos tratam da forma de operacionalização dos compromissos expressos, os quais são denominados de políticas. Neste aspecto, deduz-se que a finalidade de prestar assistência social à comunidade, desdobra-se em múltiplas ações, contemplado, entre a prestação de serviços, as atividades de extensão e a assistência ao estudante.

Figura 15 - Organograma institucional II

Figura 16 - Organograma institucional III

Fonte: IES – Filiada à ACAFE

Nos regimentos, nos capítulos específicos que dispõem sobre os docentes e discentes há, implicitamente, indícios da preocupação com a permanência dos estudantes no curso, na determinação de que os docentes devem zelar pela aprendizagem dos alunos. E, aos estudantes é garantida a assistência pedagógica, financeira e de orientação pessoal. Está, ainda, explícito que esta incumbência incide na área de ensino de graduação, mas articulada às áreas de administração, de pesquisa e de extensão.

É pertinente citar que nos regimentos analisados, em se tratando da constituição da macro política institucional, tendo em vista a proposição de ações que materializariam as finalidades e os objetivos descritos no estatuto, faculta-se a criação de órgãos/setores de assessoramento aos gestores, com relação ao fazer da universidade (gestão do ensino, gestão da pesquisa e gestão da extensão). No caso para a assistência ao estudante de graduação, foram criados, pelas pró-reitorias das IES, programas e projetos. A denominação varia, mas os objetivos e as formas de operacionalização são semelhantes: Programa de Apoio Pedagógico, Política de Atendimento aos Discentes; Programa de Atenção aos Discentes, Programa de Orientação à Carreira e Empregabilidade e Programa de Acompanhamento Psicopedagógico.

Ao se identificar estes programas, vislumbrou-se o embrião de uma política de permanência de estudantes nas IES, filiadas à ACAFE. Entretanto, os indicativos eram, ainda, insuficientes para fazer qualquer inferência a respeito, nesta altura da investigação. Passou-se, então, à análise dos outros documentos à procura de indícios do desenvolvimento de uma política de permanência dos estudantes dos cursos de graduação, estabelecida no estatuto e regulada no regimento, mediante as ações e ou procedimentos que produzissem a sua materialidade. Considerou-se, incluso no pressuposto que ao pensar e fazer a universidade, consonante com a sua finalidade, a qual confere condição de singularidade estratégica, como instituição social, delineia-se modelo, planos, programas e projetos que revelam, tanto pelo discurso, quanto pela prática, a opção por determinada política, bem como a tomada de decisão quanto à viabilidade de execução.