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da Ibero-América encontrou uma das suas expressões no

impulso das 111 iniciativas que

em 2019 foram executadas

na modalidade Regional

“Partilhar capacidades, construir conhecimentos”: comemorando o 10º aniversário

do Programa Ibero-Americano para o Fortalecimento da Cooperação Sul-Sul (PIFCSS)

QUADRO IV.1

A elaboração da primeira edição do

Relatório da Cooperação Sul-Sul na Ibero-América em 2007 mostrou, entre outras coisas, a necessidade de construir um quadro conceptual e metodológico comum para a Cooperação Sul-Sul da região, para além de reforçar as capacidades dos países para a sistematização das informações (SEGIB, 2018). Neste contexto, durante a XVIII Cimeira Ibero-Americana de São Salvador de 2018, as Agências e Direções Gerais de Cooperação promoveram a criação do Programa Ibero-Americano para o Fortalecimento da Cooperação Sul-Sul (PIFCSS), com o objetivo de:

(a) fortalecer as instâncias nacionais que coordenam a cooperação; (b) promover a adoção de posições regionais comuns em diversos fóruns de diálogo; (c) contribuir para o desenvolvimento de sistemas de informação, monitorização e avaliação; e (d) identificar, sistematizar e reproduzir boas práticas, aprendizagens adquiridas e casos de sucesso. (SEGIB, 2008) O Programa iniciou as suas atividades em 2010, com a instalação na Colômbia da primeira unidade técnica. Constituído inicialmente por 14 países, o PIFCSS foi reunindo apoios na região até estar atualmente integrado por 21 países ibero-americanos. A sua sede também se foi alternando, passando pelo Uruguai, El Salvador e

Argentina, país este onde a partir de 2018 se encontra a unidade técnica e que exerce a presidência do seu Conselho Intergovernamental. Dez anos após o seu lançamento, o PIFCSS comemora este décimo aniversário sob um lema que o define extremamente bem: “partilhar capacidades, construir conhecimentos”. E pode afirmar-se com toda a certeza que os objetivos inicialmente definidos foram

cumpridos. Durante este tempo, o PIFCSS contribuiu para fortalecer a CSS ibero-americana a partir do trabalho desenvolvido a nível político e técnico.1 Por sua vez, conseguiu ligar de forma virtuosa esses dois níveis, já que “as decisões tomadas pelos responsáveis de cooperação encontram o seu correlato no âmbito técnico para se concretizarem em ações eficazes” e “os problemas de natureza técnica que são identificados pelos gestores da cooperação podem ser canalizados até encontrarem a vontade política para produzir as soluções necessárias” (PIFCSS, 2020). O Programa conseguiu construir visões partilhadas sobre a CSS e a CT, elaborar agendas comuns de trabalho e posicionar a região neste tema a nível internacional (um exemplo deste consenso político alcançado em alguns temas reflete-se nos capítulos 1 dos sucessivos relatórios da CSS na

Ibero-América e que são elaborados pelos próprios Responsáveis da Cooperação Ibero-Americana). Ao mesmo tempo, reforçou as capacidades dos organismos de coordenação da cooperação nos países e dotou-os de ferramentas para melhorarem a cooperação que realizam. A modo de exemplo, é de salientar o Mecanismo Estruturado para o Intercâmbio de Experiências de CSS (MECSS),2

que facilitou o fortalecimento mútuo de capacidades entre as Agências e Direções Gerais de Cooperação dos países. Por sua vez, em termos de formação, nestes 10 anos capacitaram-se mais de 1.000 funcionários (PIFCSS, 2020) e realizaram-se quatro edições do “Curso de Cooperação Internacional com ênfase na CSS”. É também importante mencionar que se elaboraram metodologias e instrumentos para melhorar a gestão da CSS e da CT, entre os quais se destacam o Guia de orientação para

a gestão da cooperação triangular na Ibero-América e o Sistema Integrado de Dados da Ibero-América sobre Cooperação Sul-Sul e Triangular (SIDICSS), produtos estes que envolveram muitíssimas horas de trabalho coletivo. Também em matéria de gestão do conhecimento,

o PIFCSS apoiou a elaboração e divulgação das diferentes edições do Relatório da CSS na

Ibero-América e publicou 17 documentos de trabalho sobre essa questão. Para além destes resultados, talvez a maior contribuição do Programa tenha sido a de aprofundar os laços de amizade e confiança entre os países da região e, particularmente, a de ter criado redes de trabalho entre funcionários que desenvolveram as suas funções em temas afins e reforçado a rede de responsáveis de cooperação (PIFCSS, 2020). O atual contexto é muito diferente daquele em que se criou o PIFCSS e, no entanto, o seu objetivo principal, que é o de fortalecer a CSS na Ibero-América, continua plenamente em vigor. Ao contrário do que acontecia em 2010, “atualmente todos os países ibero-americanos institucionalizaram a gestão desta modalidade de cooperação e a grande maioria transitou para um papel dual em matéria de cooperação, posicionando-se simultaneamente como recetores e ofertantes” (PIFCSS, 2020). Por sua vez, embora já se tenha vindo a analisar no Relatório desde o seu início, durante estes anos irrompeu com mais força

a cooperação triangular, uma modalidade estreitamente ligada à a CSS. Por outro lado, a aprovação em 2015 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável posicionou a CSS como um dos meios fundamentais para alcançar os objetivos globais. Atualmente, estes dois aspetos marcam a missão do PIFCSS: fortalecer a CSS e a CT na Ibero-América, promovendo os seus valores e princípios, em sintonia com a obtenção dos ODS. Para terminar, é importante referir que o Programa constitui um exercício de CSS em si mesmo, no qual ocorre um intercâmbio horizontal de experiências e capacidades entre países com diferentes desafios de desenvolvimento e diferentes trajetórias no âmbito da cooperação. Num mundo em que alguns agentes questionam o valor do multilateralismo, o PIFCSS demonstrou que era um espaço privilegiado “para trocar pontos de vista e articular respostas coletivas que ultrapassam os esforços nacionais” (PIFCSS, 2020) e assim melhorar o impacto da cooperação que se realiza para alcançar um desenvolvimento sustentável e igualitário para todas as pessoas.

2 Ver, por exemplo, o Quadro IV. 2 do Relatório da Cooperação Sul-Sul na Ibero-América 2019 “O PIFCSS e o desenvolvimento de ferramentas inovadoras para o fortalecimento institucional da cooperação sul-sul: o caso do mecanismo estruturado para a troca de experiências” (SEGIB, 2020, pp. 148-149).

3 A nuance é dada pela forma como as regiões participam nos possíveis papéis (ofertante, recetor, ambos) da CSS Regional. Na verdade, nas inter-regionais, cada região ocupa um papel, ficando claramente diferenciadas; nas iniciativas que são simultaneamente inter- e intrarregionais, as várias regiões participam nas iniciativas e além disso tendem a coincidir no exercício do pelo menos algum dos possíveis papéis.

Fonte: SEGIB a partir da SEGIB (2008), SEGIB (2018), SEGIB (2020), PIFCSS (2020) e página web do PIFCSS: https://cooperacionsursur.org/

Finalmente, tal como já se referiu, as 113 iniciativas de CSS Regional em que os países ibero-americanos participaram em 2019 podem por sua vez

desagregar-se de acordo com a forma como nelas participaram tanto a Ibero-América quanto as outras regiões em desenvolvimento. Com efeito, e tal

como se pode observar no Gráfico IV.3, distinguem-se as seguintes casuísticas: iniciativas com alcance intrarregional, apenas participadas por países ibero-americanos (75); iniciativas classificadas como inter-regionais, em que participam a Ibero-América e outras regiões e a partir de diferentes papéis (2); e iniciativas que podem incluir elementos quer intra- quer inter-regionais (36).3

IV.2.2. Países, organismos e regiões

Um dos valores acrescentados da CSS Regional reside na possibilidade de reunir um maior número de países para encontrar soluções

inovadoras para problemas comuns. Mas este valor multiplica-se devido a que esses esforços podem ser acompanhados por um organismo multilateral, em muitas ocasiões, setorialmente especializado. A sua participação reforça a cooperação já que a dota de um quadro institucional e de regras de funcionamento, mas também, ao proporcionar o seu conhecimento e experiência num determinado âmbito de intervenção. Neste sentido, o Plano de Ação da Cimeira da CELAC, realizada em Havana em 2014, já apelava para uma CSS que “mediante a articulação das instâncias de cooperação existentes, a nível regional e sub-regional” contribuísse para “a redução das assimetrias regionais e das lacunas do desenvolvimento nacional e para a promoção do desenvolvimento sustentável” (FAO, 2014, p.1).

O interesse em saber mais acerca da Cooperação Sul-Sul que teve lugar na Ibero-América em 2019 a partir desta perspetiva regional, aprofundando o papel da própria região como unidade de ação, levou à elaboração dos Gráficos IV.4, IV.5 e IV.6. Os dois primeiros ilustram, respetivamente, sobre a intensidade de participação dos países ibero-americanos e dos organismos multilaterais nas 111 iniciativas de CSS Regional registadas em 2019. O terceiro, complementa os anteriores mostrando que alianças tenderam a repetir-se com maior frequência, para assim identificar que sub-regiões foram mais ativas na hora de cooperar.

Fonte: SEGIB a partir das Agências e Direções Gerais de Cooperação

Distribuição das iniciativas de CSS Regional (intra- e inter-regionais) intercambiadas na

Ibero-América e em conjunto com países em desenvolvimento de outras regiões. 2019

Em unidades GRÁFICO IV.3 Intrarregional Intra- e inter-regional Inter-regional

75 36 22

GRÁFICO IV.4