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2.5 Teoria da Identidade Social

2.5.1 Da Identidade Social à Identidade Profissional

A teoria da identidade social considera que o indivíduo assume uma série de identidades sociais, sendo a identidade profissional uma delas (JENKINS, 2008). Crossley e Vivekananda-Schmidt (2009) definem a identidade profissional como sendo um ―estado de espírito‖, cuja natureza é subjetiva, a partir do qual o indivíduo identifica a si próprio como membro de um grupo profissional. Os resultados da pesquisa realizada por essas autoras demonstraram que as experiências prévias na área de atuação profissional têm impacto na identidade profissional configurada pelo indivíduo.

Nessa perspectiva, há estudos que abordam a identidade de líderes e relacionam identidade profissional com a transição de papéis e processos de identidade (HILL, 1993; IBARRA, 2009). Segundo as autoras, a transição para assumir papéis de liderança é acompanhada por um processo de mudança de identidade. Ibarra et al. (2008) apresentam o desenvolvimento da liderança como um processo em que ocorre transição da identidade, no qual a pessoa se desprende da identidade ―antiga, conhecida‖, ao mesmo tempo em que explora novos ―eus‖ possíveis, novas formas de vivenciar as situações e, eventualmente,

integra uma nova identidade.

No período de transição, com base na sua própria experiência e prática, as autoras observaram que as pessoas ocilam entre identidades antigas e novas, e que ocorrem recaídas antes de se firmar uma mudança mais profunda na identidade. Esse processo provoca uma profunda transformação no que as pessoas pensam, sentem e apreciam, além de mudanças importantes no autoconceito.

O estudo desenvolvido por Ibarra et al. (2008) pressupõe que a transformação da percepção pessoal e relacional provoca a formação de um novo ―eu‖. Nesse sentido, um líder que consiga perceber aspectos subjetivos e relacionais possuirá elementos de nível complexo, que poucas pessoas possuem, o que facilita o processo de adoção de uma nova identidade. As autoras concluem que a aprendizagem ocorre melhor em um espaço seguro, que permita uma melhor transição e as implicações desse processo, tais como a oportunidade de praticar os novos ―eus‖, incluindo a possibilidade de cometer erros.

Ibarra (2009, p. 1) considera que as mudanças que levam à reconfiguração da identidade ocorrem de ―forma inversa: fazer vem primeiro, saber vem depois‖. Por isso, ela aponta que mudanças de carreira significam a redefinição de nossa identidade profissional. Esse processo envolve como nos vemos em nosso papel profissional, o que mostramos de nós mesmos aos outros e, finalmente, como vivemos nossa vida no trabalho.

Alinhado ao tema da redefinição de identidade, é relevante o estudo desenvolvido por Hill (1993), que narra a experiência de 19 novos gerentes durante o primeiro ano no cargo. Os resultados da pesquisa demonstraram que a inexperiência faz com que haja um período de transição difícil, pois o novo papel não é bem compreendido e a inexperiência induz a uma expectativa simplista sobre o cargo, tais como a noção de que ser líder significa ser chefe, incluindo aí a autoridade formal.

Hill (1993) constatou que as identidades iniciais eram de executores (contribuidores individuais) e que o novo cargo resultou na necessidade de aprendizagem das novas funções, que exigiam novas habilidades, incluindo a percepção de que o relacionamento interpessoal era um dos pilares da liderança. Os novos gerentes tiveram que reestruturar sua compreensão do papel gerencial, e a aprendizagem gerencial ocorreu de forma gradual, com base na experiência acumulada. Essa mudança incluiu um novo autoconceito e uma percepção ampliada do mundo que os cercava.

identidade profissional, ―retiravam-se para dentro do conforto de sua antiga identidade até recobrarem o ânimo para seguir em frente novamente‖ (HILL, 1993, p. 77). Analisando os estudos de Ibarra (2009) e Hill (1993), é possível identificar um ponto em comum entre os resultados de suas pesquisas: a aquisição de uma nova identidade de líder é um processo, com recaídas e experimento de novos ―eus‖ possíveis, que se dão durante a transição de papéis.

Embora sejam importantes os estudos que focam a transição de identidade alinhada à transição de papéis, alguns estudos focam para além dessa transição, quando procuram compreender qual a identidade profissional configurada por pessoas de determinadas áreas de atividade, como, por exemplo, educação, saúde, organizacional etc. Considerando essa abordagem, a pesquisa conduzida por Black (2008) procurou conhecer qual a identidade profissional de professores, a partir dos conceitos da psicologia e sociologia. A autora aponta para a importância do aspecto social na construção da identidade dos professores, confirmando a visão dos pesquisadores pós-modernistas sobre o self.

Ao transportar a teoria da identidade para o ensino, a pesquisadora propõe que a identidade do professor é formada a partir de como os professores definem a si mesmos e aos outros, sendo um processo contínuo criado e recriado através dos estágios de carreira e dos discursos individuais aos quais estão sujeitos (ex. interações sociais, reforma do governo e contexto escolar). A pesquisadora adota a teoria da identidade social como um meio de compreender a identidade dos professores. A importância das influências sociais sobre a identidade profissional, e suas implicações para a interprofissionalidade, são incorporadas dentro da teoria da identidade social, que é um caminho para o entendimento da identidade do professor.

A partir de pesquisa realizada, na qual adotou a teoria da identidade social, Black (2008) constatou que na construção da identidade de professor foram enfatizadas as interações sociais, os pareceres de outras pessoas e a autoconsciência. Através de um treinamento inicial, os professores passam a se autocategorizar com o seu grupo interno, alinhando-se com os atributos e comportamentos profissionais definidos coletivamente. O "eu" se torna "nós", assim como a identidade social de grupo substitui a identidade pessoal do indivíduo.

Outras influências sobre a configuração da identidade do professor são ressaltadas por Black (2008), como a biografia pessoal, propensões cognitivas e emocionais. O trabalho desenvolvido por essa autora expressa pontos-chave que influenciam na formação da

identidade do professor: influências do passado (biografia, treinamento inicial professor, prática de ensino); contextos do ensino (prática em sala de aula, cultura escolar e liderança); identidade antes de ensinar (imagens, teorias implícitas, experiências iniciais) e identidade reformulada (conservadorismo x pró-atividade). Os achados da pesquisa sugerem que a identidade do professor se modifica de acordo com o gênero, a área de conhecimento e as fases da vida no ensino.

A partir da compreensão da Teoria da Identidade Social e da Identidade Profissional, pretende-se conhecer como os líderes que atuam em organizações intensivas em conhecimento configuram suas identidades.

2.6 IDENTIDADE E LIDERANÇA EM ORGANIZAÇÕES