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4 OS REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL TRABALHISTA

4.2 Da (in)aplicabilidade do CPC/2015 ao Processo do Trabalho

Diversas discussões surgem em torno da aplicação supletiva e subsidiária do Código de Processo Civil aos demais ramos do Direito. Nesse sentido, sem se atentar em detalhar todas as nuances que esse amplo tema envolve, não se pode deixar de verificar o que dispõe o artigo 15 do CPC de 2015: “Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente”. Para Bento Herculano Duarte Neto, ao analisar a temática de Jorge Pinheiro Castelo, o artigo 15 do CPC/2015 conduz duas funções principais: a primeira delas trata-se de ser utilizada de forma subsidiária aos demais segmentos processuais: “Aplicação subsidiária tem como função, apenas, de suprir as omissões existentes no legislador processual ordinário, no caso laboral” (2017, p. 17). Portanto, a subsidiariedade pressupõe a existência de omissão para que o processo civil possa atuar como instrumento de integração de lacunas existentes.

Por sua vez, a segunda função do referido dispositivo é a de supletividade, que ocorre em forma de complementariedade, a qual tem o objetivo de completar e aprimorar o subsistema processual no qual será integrado:

A aplicação supletiva já se dá de forma complementar e mais autônoma - que a aplicação subsidiária - isto é, não para cobrir omissões, mas, para corrigir as falhas existentes no sistema ordinário, de forma a completar e aprimorar, no caso, o sistema processual trabalhista: cobrindo as falhas nele existentes no que diz a tutela de direitos, garantindo a efetividade dos princípios constitucionais do acesso à ordem jurídica justa (CASTELO, 2015, p. 983).

Já para Mauro Schiavi, as expressões supletiva e subsidiária devem ser aplicadas do seguinte modo ao processo trabalhista:

a) supletivamente: significa aplicar o CPC quando, apesar da lei processual trabalhista disciplinar o instituto processual, não for completa. Nessa situação, o Código de Processo Civil será aplicado de forma complementar, aperfeiçoando e propiciando maiores efetividade e justiça ao processo do trabalho [...] b) subsidiariamente: significa aplicar o CPC quando a CLT e as leis processuais trabalhistas extravagantes não disciplinarem determinado instituto processual (2017, p. 40).

Além disso, argumenta Mauro Schiavi (2017) que pelo sistema da legislação processual trabalhista, somente serão aplicadas as regras do Código de Processo Civil ao processo trabalhista, se forem compatíveis com as principiologias e singularidades do processo do trabalho. Assim, mesmo havendo uma lacuna da legislação processual laboral, se a regra do CPC for incompatível com as principiologias e singularidades do processo do trabalho, ela não será aplicada.

Para Mauro Schiavi, existem duas vertentes de interpretação no tocante ao artigo 769 da CLT. São elas:

restritiva: somente é permitida a aplicação subsidiária das normas de Processo Civil

quando houver omissão da legislação processual trabalhista. Desse modo, somente se admite a aplicação do CPC quando houver a chamada lacuna normativa. Essa vertente de entendimento sustenta a observância do princípio do devido processo legal, no sentido de não surpreender o jurisdicionado com outras regras processuais, bem como na necessidade de preservação do princípio da segurança jurídica. Argumenta que o processo deve dar segurança e previsibilidade ao jurisidicionado.

evolutiva(também denominada sistemática ou ampliativa): permite a aplicação

subsidiária do Código de Processo Civil ao Processo do Trabalho quando houver lacunas ontológicas e axiológicas da legislação processual trabalhista. Além disso, defende a aplicação da legislação processual civil ao processo do trabalho quando houver maior efetividade da jurisdição trabalhista. Essa vertente tem suporte nos princípios constitucionais da efetividade, duração razoável do processo e acesso real e efetivo do trabalhador à Justiça do Trabalho, bem como no caráter instrumental do processo (2017, p. 41).

Dessa maneira, conjugando o artigo 15 do CPC/2015 com os artigos 769 e 889 da Consolidação das Leis do Trabalho, tem-se que a aplicação do Código de Processo civil se aplica ao processo do trabalho supletiva e subsidiariamente, na falta de legislação processual trabalhista, desde que compatível com os princípios e singularidades do processo do trabalho. O Tribunal Superior do Trabalho, recentemente, editou a Instrução Normativa n. 39/1622, que trata no seu artigo 1º do referido assunto em exame (SCHIAVI, 2017, p. 42).

Atualmente, em frente ao Novo Código de Processo Civil, aumentam as discussões sobre a aplicação subsidiária do CPC/2015 ao Processo do Trabalho, bem como se é possível a aplicação da regra processual civil, mesmo se já existe regra expressa em sentido diverso na CLT (SCHIAVI, 2017, p. 44).

Com a aprovação e a sanção do Projeto do Código de Processo Civil, tornando-se Lei n. 13.105/2015, de 16 de março de 2015, publicada em 17 de março de 2015, com vigência inicial em 17 de março de 2016, ocorre uma necessária revisão da aplicação do artigo 769 da CLT, bem como dos novos institutos e dispositivos que regem o CPC/2015, aduz Arthur Marcel Batista Gomes (2017, p. 3).

Arthur Marcel Batista Gomes (2017, p. 03) aponta, ainda, que a previsão estabelecida no novo artigo 15 do CPC/15 não revoga aquela prevista no artigo 769 da CLT. Esses dois dispositivos devem ser alinhados às necessidades orientadas pelos princípios da Teoria Geral do Processo bem como de cada jurisdição, reiterando, portanto, o entendimento sufragado pelo Tribunal Superior do Trabalho na Instrução Normativa n. 39/16, supramencionada.

Além disso, a instrução normativa do TST (Tribunal Superior do Trabalho) não possui caráter vinculante, ou seja, não é de observância obrigatória pelas instâncias inferiores. Contudo, a orientação sinaliza como o TST aplica as normas por ele interpretadas. A orientação do TST (Resolução nº 203, de 15 de março de 2016) traz a interpretação da corte sobre 135 dos 1.072 artigos do novo CPC/2015 - 15 deles são apontados como não aplicáveis, 79 como aplicáveis e 40 como aplicáveis em termos. Verifica-se que, em caráter não taxativo e não definitivo, o TST entendeu fundamental dar, ao entrar em vigor o novo CPC, uma sinalização clara sobre a aplicabilidade, ou não ao processo do trabalho, dos dispositivos mais inovadores do novo Código (CONSULTOR JURÍDICO, 2016).

22 Instrução Normativa n. 39/16. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Resolução n. 203, de 15 de março de

2016 [Instrução Normativa n. 39]. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho: caderno judiciário do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, DF, n. 1939, p. 1-4, 16 mar. 2016.Art. 1° Aplica-se o Código de Processo Civil, subsidiária e supletivamente, ao Processo do Trabalho, em caso de omissão e desde que haja compatibilidade com as normas e princípios do Direito Processual do Trabalho, na forma dos arts. 769 e 889 da CLT e do art. 15 da Lei nº 13.105, de 17.03.2015.

Desse modo, Arthur Marcelo Batista Gomes (2017, p. 04-05) refere que de acordo com o estabelecido na “Teoria do Ordenamento Jurídico”, para solucionar a questão de eventual contradição entre os dois dispositivos, o artigo 15 do CPC e o artigo 769 da CLT, deve-se aplicar o critério da especialidade: lexspecialisderogatgenerali. A situação oposta, tida pela relação entre uma lei geral e uma lei especial, deverá ser resolvida pela prevalência da lei especial frente à geral, cita BOBBIO, 1995. No entanto, havendo lacunas jurídicas na lei especial, deve ser compreendido o critério da subsidiariedade.

Ao finalizar a análise da aplicabilidade do CPC/2015 ao Processo trabalhista, é notável o entendimento doutrinário, bem como do TST de que somente serão aplicadas as regras do Código de Processo Civil ao processo laboral se essas forem compatíveis com os princípios e singularidades do Direito do Trabalho.