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Da Necessidade Do Desenvolvimento De Modelos Clínicos De Dados

No documento Relatorio MCD Trabalho de parto Marco2017 (páginas 56-59)

CAPÍTULO I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4. Da Prestação De Cuidados À Definição De Modelos Clínicos De Dados

4.4. Da Necessidade Do Desenvolvimento De Modelos Clínicos De Dados

O desafio para uma prática clínica que garanta cuidados de qualidade é a atualização e a utilização da melhor evidência científica em cada momento. Por isso, a prática baseada na evidência tem vindo a ser cada vez mais referenciada como ferramenta capaz de promover melhores decisões clínicas e assim melhores cuidados de saúde. Assim sendo, importa incorporar esse conhecimento nos desenvolvimentos e reformulações dos SIE em uso, dando conta, por esta via, do contributo do seu exercício profissional no seio de uma equipa multidisciplinar. Neste trabalho, torna-se então fundamental que sejam identificados e definidos, pelos enfermeiros, os dados ou a informação que, simultaneamente, integre a melhor evidência científica disciplinar e seja aplicável e potenciadora de melhores práticas de enfermagem. A construção destes conjuntos de dados permitirá aos enfermeiros documentar as suas decisões usando conceitos comuns, e garantirá a incorporação nos processos de tomada de decisão dos pressupostos teóricos provenientes do conhecimento disciplinar de enfermagem (Goossen, 2010; Mendes, 2013).

De acordo com Sousa (2012), as questões atuais centram-se com a formalização do conhecimento e da sua representação, sendo necessário um esforço no sentido do desenvolvimento de estruturas que permitam a construção de enunciados clínicos – diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem – em formatos de especificação que traduzam equivalência semântica. É neste contexto que surgem os Modelos Clínicos de Dados, suportados na melhor evidência disponível e influenciadores das melhores decisões face às necessidades específicas de cada cliente (Mendes, 2013). A tomada de decisão em enfermagem relaciona-se diretamente com a escolha de alternativas no caminho a seguir pelo enfermeiro perante o seu cliente e caracteriza-se pela qualidade e pelo impacto das ações baseadas nas decisões tomadas.

Os conjuntos de dados com utilidade clínica para os enfermeiros, constituem-se como parte fundamental a incorporar na construção dos Modelos Clínicos de Dados de enfermagem. Os Modelos Clínicos de Dados constituem um conjunto de informações relacionáveis e clinicamente relevantes, que refletem as especificações da forma como as necessidades de informação clínica devem ser representadas para permitir a sua partilha, sem ambiguidade ou subjetividade. Para a sua definição e estruturação são utilizadas ontologias, como por exemplo a CIPE® versão 2015, ou seja, conjuntos de conceitos pertencentes a uma determinada área do conhecimento, e descrevem complexas estruturas de informação que dão a indicação sobre a forma como a mesma deve ser expressa. Os Modelos Clínicos de Dados definem as regras de utilização mas evoluem com o tempo, sendo atualizados à medida que a realidade e a evidência se modificam (Beale e Heard, 2007; Bernal et al., 2012).

Os Modelos Clínicos de Dados tem um caráter flexível, podendo incluir muitas opções para descrever o mesmo objeto (Hovenga et al., 2005). Podem ser classificados como específicos ou compostos. Um Modelo Clínico de Dados específico representa uma estrutura que relaciona conceitos previamente definidos face a um determinado foco de atenção em enfermagem. O Modelo Clínico de Dados composto, mantem os mesmos princípios de estruturação e agrega vários Modelos Clínicos de Dados específicos que se interrelacionam entre si (Mendes, 2013). Exemplificando, um Modelo Clínico de Dados simples pode ser estruturado para um foco de atenção para a enfermagem obstétrica no âmbito da Parentalidade. Já num modelo composto, podem relacionar-se vários modelos específicos centrados num conjunto de focos de atenção relacionados com o processo de transição para a parentalidade e as condições que influenciam esse processo, como por exemplo os focos: consciencialização face ao que muda no corpo com o Trabalho de parto; disponibilidade para aprender técnicas para lidar com o Trabalho de parto; conhecimento para identificar sinais de Trabalho de parto, etc.

Os arquétipos são Modelos Clínicos de Dados mais complexos. Correspondem a modelos de dados altamente relacionados e clinicamente significativos, constituindo-se por partes de conhecimento que indicam como representar conceitos ou informação (Hovenga, et al., 2005). Para Beale e Heard (2007) um arquétipo pode ser considerado como sendo semelhante a uma folha de instruções LEGO® que define a configuração das peças LEGO® para construir um determinado objeto (por exemplo, um navio). E em função das instruções, com as mesmas peças, é possível criar diferentes construções. Os arquétipos dão origem a dados que respeitam os modelos concetuais e utilizam adequadamente as

ontologias, criando uma ponte de ligação entre estas, o software e a informação disponibilizada.

Os arquétipos, enquanto instruções para descrever a realidade, ao serem colocados no sistema de informação, melhoram a interoperabilidade semântica, e consequentemente a qualidade dos cuidados de saúde prestados, uma vez que a informação influencia positivamente a tomada de decisão clínica (Goossen et al., 2010). Em vários estudos não é feita distinção entre os conceitos de arquétipo e Modelo Clínico de Dados, assumindo-os como semelhantes. O termo Modelo Clínico de Dados é o termo mais utilizado a nível europeu, nomeadamente pela Health Level Seven (HL7).

É hoje uma realidade a informática em enfermagem, enquanto área de conhecimento bastante definida, com anos de aplicação e desenvolvimento e que muitas vezes ajuda a redesenhar a prática do cuidado, garantindo qualidade e segurança aos enfermeiros e aos seus clientes. Na sociedade altamente tecnológica em que vivemos, a construção de aplicativos informatizados adaptados a esta necessidade dos SIE implica refletir sobre a construção, a manutenção e a garantia da qualidade dos Modelos Clínicos de Dados que os devem incorporar. Por isso, Silva (2001) refere que o grande desafio para a enfermagem do futuro implica saber construir e utilizar na prática diária o conhecimento próprio da disciplina, as ontologias de enfermagem e os Modelos Clínicos de Dados a incorporar sistemas de informação de enfermagem válidos e fiáveis.

No documento Relatorio MCD Trabalho de parto Marco2017 (páginas 56-59)