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CAPÍTULO IV: DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR E DAS

4.9. DA POSSIBILIDADE DE REVISÃO ADMINISTRATIVA E JUDICIAL

A favor da tese que se defende, válida é a menção ao fato de que decisões concedendo ou denegando eventuais medidas cautelares ou antecipatórias poderão ser objeto de recurso ou revisão administrativa, conforme expressa previsão dos artigos 56 a 65 da Lei nº 9.784/99. E não haveria de ser diferente, dada a característica de provisoriedade de ambas.

Juntamente com Themístocles Brandão Cavalcanti (1984, p. 73), "somos de opinião

que a administração deve sempre reexaminar seus atos e corrigi-los quando provada a irregularidade, o que pode ser feito pela própria autoridade ou pela autoridade superior".

Afora isso, por certo que vige no ordenamento pátrio o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, insculpido no já transcrito inciso XXXV do art. 5º da Carta Magna, de maneira que toda e qualquer situação poderá ser levada a conhecimento do Poder Judiciário. Como nos ensina Nelson Nery Júnior (apud MORAES, 2004, p.

105), "o direito de ação é um direito cívico e abstrato, vale dizer, é um direito

subjetivo à sentença tout court, seja de acolhimento ou de rejeição da pretensão".

E, a esse respeito, importante esclarecer,ocorreu significativa mudança na maneira de enxergar a revisão judicial de atos administrativos. Isso porque,

O conhecimento convencional em matéria de controle jurisdicional do ato administrativo limitava a cognição dos juízes e tribunais aos aspectos de legalidade do ato (competência, forma e finalidade), e não do seu mérito (motivo e objeto), aí incluídas a conveniência e oportunidade de sua prática. Não se passa mais assim. Não apenas os princípios constitucionais gerais já mencionados, mas também os específicos, como moralidade, eficiência , sobretudo, a razoabilidade-proporcionalidade, permitem o controle da discricionariedade administrativa (observando-se, naturalmente, a contenção e a prudência, para que não se substitua a discricionariedade do administrador pela do juiz). (BARROSO, 2011, p. 400)

É preciso salientar que o entendimento do jurista Luís Roberto Barroso, que propõe a reforma de determinados paradigmas tradicionais, não é de todo aceito, mas aponta para o início da superação do tradicionalismo, mais do que necessária. Mesmo porque, se considerarmos que os atos administrativos devem invariavelmente privilegiar o indivíduo enquanto tal, então não há como negar que a discricionariedade da Administração poderá sim ser revista quando houver desrespeito ao interesse público primário e/ou aos direitos fundamentais.

Das palavras de Juarez Freitas (2009, p. 121) extrai-se a lição de que a liberdade de que dispõe o agente público presta-se tão somente para "alcançar a tutela efetiva do

direito fundamental à boa administração pública", de maneira que, embora não se

possa negar a existência do juízo de conveniência e oportunidade por parte da Administração Pública, não é menos verdade que o seu exercício vincula-se ao interesse geral, não lhe sendo dado agir ao seu bel-prazer.

Todo ato que não possuir como baliza os paradigmas acima explanados deve ser tido como arbitrário e, portanto, combatido pelo Poder Judiciário.

Enfim, "a finalidade essencial e característica do controle jurisdicional é a proteção

do indivíduo em face da Administração Pública" (FAGUNDES, 2006, p. 135). Esse é

também o posicionamento de EgonBockmenn Moreira (2010, p. 82), que garante ser

"indispensável o respeito à essência da Constituição e a um mínimo de dimensão ética de justiça exigida para o Direito". De tal forma,

Não existe um pressuposto indeclinável de validade absoluta para todos os diplomas legislativos. Daí porque faz parte da ideia essencial de Estado de Direito o controle jurisdicional dos atos do Estado (sejam eles do Poder Legislativo, sejam do Executivo ou mesmo do próprio Judiciário). (MOREIRA, E., 2010, p. 82)

D'Andrea Ferreira (1998, p. 449) alerta para o fato de que é de competência do Poder Judiciário assegurar que essa maturação (dos postulados gerais de direito administrativo) seja efetivada. É sua a conclusão de que "cabe, sem dúvida, ao

Poder Judiciário, especialmente em momentos de certeza e de instabilidades jurídicas", cuja influência de fatores políticos e econômicos é inquestionável,

prevalecendo, até mesmo, sobre os princípios de Direito e da Justiça, "a suprema

função de guardião inflexível dos atos jurídicos perfeitos e dos direitos adquiridos, institutos intocáveis do verdadeiro Estado Democrático de Direito" (FERREIRA,

1998, p. 448).

No âmbito interno governamental, e segundo o princípio básico de independência harmônica entre os Poderes (art. 2º da CF), mas de interligação e inter-relação entre eles, mercê do famoso princípio dos "freios e contrapesos", dos "checksand balances", desenvolve-se a função de controle. E sempre que um Poder ou uma instituição estatal se torna sujeito ativo dessa atuação controladora, passa a desenvolver uma atividade com denotação e conotações específicas: a função de controle. (FERREIRA, 1998, p. 388)

Significa, pois, dizer, que aquele que se sentir prejudicado com o (in)deferimento de uma certa tutela de urgência no processo administrativo terá ainda a possibilidade de recorrer ao Judiciário para ver revertida essa situação, sendo certo que a decisão proferida por um órgão judicial prevalecerá sobre aquela prolatada em sede administrativa.

E mais. Importante destacar que o acesso ao Judiciário não depende do esgotamento das vias administrativas, podendo o jurisdicionado incitar a manifestação do Poder Judiciário a qualquer tempo47.

Afora isso, lembra-se que não há falar em coisa julgada material administrativa, de maneira que, ainda que não existam mais recursos capazes de levar à revisão administrativa da decisão (até porque limitada a três instâncias48), sempre haverá a possibilidade de que, judicialmente, reverta-se eventual situação desfavorável.

Essa constatação (possibilidade de revisão administrativa e judicial) é bastante simples, mas capaz de confirmar a tese ora defendida, pois, apesar das dificuldades e problemas que eventualmente é capaz de trazer, existem, em igual medida, soluções que podem ser aplicadas e utilizadas.

4.10. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E DO AGENTE PÚBLICO EM