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CAPÍTULO II: A TUTELA DE URGÊNCIA SOB A ÓTICA DO MODELO

2.2. DA TUTELA DE URGÊNCIA E DOS ELEMENTOS

INTRODUZIDOS/RECONHECIDOS PELO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (LEI Nº 13.105/15)

No elaborar desse trabalho, foi sancionada, pela Presidência da República, a Lei nº 13.105/15, que vem a ser justamente o novo Código de Processo Civil. Embora o referido Diploma Legal só entre em vigor em março de 2016 (vide art. 1.04513), não se pode deixar de mencionar aqui as inovações por ele reconhecidas no que tange ao tratamento da tutela de urgência, mesmo porque valiosíssimas para o escopo dessa dissertação.

Na parte inicial da Exposição de Motivos do Anteprojeto do Código de Processo Civil, que, aliás, poderia perfeitamente integrar o estudo que ora se faz14, a Comissão Organizadora deixa bastante clara sua intenção de buscar uma maior efetividade na prestação jurisdicional e um processo mais célere, o que procurou fazer por meio da sistematização e da revitalização de alguns preciosos institutos jurídicos.

Se de fato irá conseguir alcançar os objetivos a que se propôs, só o tempo há de dizer. Isso, no entanto, não nos impede de reconhecer a relevância da iniciativa.

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Art. 1.045. Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua publicação oficial.

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A Comissão de Juristas fez questão de destacar, logo em suas linhas iniciais, que “um sistema

processual civil que não proporcione à sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos, ameaçados ou violados, que têm cada um dos jurisdicionados, não se harmoniza com as garantias constitucionais de um Estado Democrático de Direito”. Tal constatação não poderia representar

Foi concedida expressa importância ao fato de que

Sendo ineficiente o sistema processual, todo o ordenamento jurídico passa a carecer de real efetividade. De fato, as normas de direito material se transformam em pura ilusão, sem a garantia de sua correlata realização, no mundo empírico, por meio do processo.

[...]

Nessa dimensão, a preocupação em se preservar a forma sistemática das normas processuais, longe de ser meramente acadêmica, atende, sobretudo, a uma necessidade de caráter pragmático: obter-se um grau mais intenso de funcionalidade. (Exposição de Motivos do Anteprojeto do Código de Processo Civil, 2010)

Dada sua riqueza em detalhes, aliás, válida se faz uma leitura completa da Exposição de Motivos do Anteprojeto do Código de Processo Civil, que não deixa a menor dúvida no que diz respeito ao valor que deve ser concedido à Constituição Federal quando da elaboração de normas infraconstitucionais; "afinal, é na lei

ordinária e em outras normas de escalão inferior que se explicita a promessa de realização dos valores encampados pelos princípios constitucionais".

Pois bem. No intuito de melhor organizar a disciplina da tutela provisória (donde se inclui a tutela de urgência), o legislador pátrio concedeu-lhe livro próprio (LIVRO V), o qual está esquematizado da seguinte forma:

- Título I: DISPOSIÇÕES GERAIS (artigos 294 a 299); - Título II: DA TUTELA DE URGÊNCIA (artigos 300 a 310);

- Capítulo I: DISPOSIÇÕES GERAIS (artigos 300 a 302);

- Capítulo II: DO PROCEDIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE (artigos 303 e 304);

- Capítulo III: DO PROCEDIMENTO DA TUTELA CAUTELAR REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE (artigos 305 a 310); e

Mesmo em um superficial passar de olhos, percebe-se que há uma clara tentativa de simplificação procedimental, permitindo, assim, que a prestação jurisdicional seja tão adequada quanto possível. Diz-se isso porque o novo Código de Processo Civil, como forma de dissipar todos os problemas enfrentados pelos jurisdicionados em decorrência do desentendimento doutrinário e jurisprudencial sobre algumas especificidades das tutelas cautelares e antecipadas, tratou de estabelecer uma única disciplina para as medidas de urgência.

Assim é que, a partir da vigência da Lei nº 13.105/15, serão requisitos para a concessão da tutela de urgência o fumus boni iuris (probabilidade do direito) e o

periculum in mora (perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo), nos

termos do parágrafo único do art. 294 c/c o art. 300, caput, do novo Diploma15.

Igualou-se, outrossim, o procedimento a ser adotado pelo julgador quando da análise de pedido de medida de urgência, que poderá se dar nos próprios autos (caráter incidental) ou anteriormente ao processo principal (caráter antecedente).

Apesar de continuar a se utilizar das expressões "tutela cautelar" e "tutela antecipada", percebe-se que, após a conglobação das condições e dos procedimentos a elas relativos, a diferenciação entre uma e outra passou a ser meramente teórica, aplicando-se, in casu, sem restrições, o princípio da fungibilidade.

Se se disse acima que o legislador ousou quando da inserção do §7º do art. 273 do Código de Processo Civil atual no sistema, muito mais fez agora. Ao tratar as medidas de urgência de forma unívoca, o novo Diploma Legal suplantou toda a discussão a que se fez remissão em tópico anterior, o que, por via de consequência, reforça o entendimento por nós adotado que privilegia o resguardo do direito

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Art. 294. Omissis

Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental.

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

material, sem que isso signifique, contudo, suprimir as garantias de natureza procedimental.

Ademais, concedeu-se uma margem de atuação maior ao julgador, que "poderá

determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória" (art. 297, caput).

Destarte, o que se observa é que houve uma separação da tutela provisória (ou seja, aquela que não possui o caráter de definitividade) em tutela de urgência e em tutela de evidência (vide art. 294, caput16), essa última inexistente (ao menos em nome) no atual Código.

A tutela de evidência nada mais é do que o provimento jurisdicional cabível nas situações em que "as alegações da parte se revelam de juridicidade ostensiva", devendo a tutela ser concedida antecipadamente, "independentemente de periculum

in mora, por não haver razão relevante para a espera, até porque, via de regra, a demora do processo gera o agravamento do dano" (Exposição de Motivos do

Anteprojeto do Código de Processo Civil, 2010). As hipóteses de concessão da tutela de evidência estão expressamente previstas no art. 311 do novo Código de Processo Civil17.

A diferença básica entre tutelas de urgência e de evidência reside no quesito "perigo de dano", exigível apenas na primeira situação. De acordo com Carolina Tupinambá

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Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência.

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Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte; II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;

IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.

(2015) "a tutela de evidência parte do princípio de que aquele que possua um direito

evidente, ou seja, comprovado por prova inequívoca, não precise percorrer todo o iter processual abalizado para o amadurecimento de um direito controvertido".

Por fim, e talvez essa seja uma das principais contribuições do novo Código de Processo Civil, "não tendo havido resistência à liminar concedida, o juiz, depois da

efetivação da medida, extinguirá o processo, conservando-se a eficácia da medida concedida, sem que a situação fique protegida pela coisa julgada" (Exposição de

Motivos do Anteprojeto do Código de Processo Civil, 2010), o que confere um maior grau de certeza e, portanto, maior segurança jurídica ao sistema.

Por certo que existem outras alterações, igualmente importantes, promovidas pela Lei nº 13.105/15 no que diz respeito às medidas de urgência, que são as que realmente nos interessam, mas a elas se fará remissão no tempo oportuno.