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Da problemática à questão de investigação

V – OBJECTO DE ESTUDO

9. Da problemática à questão de investigação

Os temas relacionados com o envelhecimento humano têm, nas últimas décadas, merecido uma crescente atenção. A longevidade assume especial relevância nas sociedades modernas, instituindo modificações na perspectiva demográfica, onde o número de pessoas com 65 anos e mais aumentam abundantemente em analogia com os tempos passados (Moura, 2006).

Com o aumento da longevidade surge também o aumento de doenças crónicas e incapacitantes. Estas, apesar de não serem específicas da velhice, acabam por ter uma prevalência nas faixas etárias mais altas, o que contribui para elevar a taxa de idosos dependentes de terceiras pessoas, tornando real a necessidade de apoio familiar, social e de saúde.

Apesar de se verificarem algumas alterações sócio-demográficas, nomeadamente a existência de famílias pouco numerosas e a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, a família, segundo Pimentel (2001), continua a ser a principal fonte de apoio nos cuidados directos, no apoio psicológico e nos contactos sociais. Por outro lado, tendo em conta a conjuntura económica que actualmente se vive, os Estados avaliam o seu papel nas políticas sociais e de saúde e a tendência é a de reverter para as famílias a responsabilidade do cuidar. Neste sentido, nos últimos tempos, o apelo à desinstitucionalização tem tido grande ênfase. Segundo Lage (2005), tem-se assistido a um discurso, que é comum nos diferentes países europeus, que se centra na manutenção do idoso no domicílio, tendo em vista a preservação da sua autonomia e dignidade. Desta forma, a família surge como solução e o cuidado fica socialmente dividido entre o Estado e a família, que assume, neste contexto, um papel bastante importante, uma vez que continua a ser o grande suporte no apoio ao envelhecimento.

Na família, há contudo uma pessoa que se destaca e que se torna cuidador principal, sendo nele que recaem quase todas as responsabilidades de cuidar. Na maioria das vezes, cuidar de um familiar idoso interfere com aspectos da vida pessoal, familiar, laboral e social da pessoa que cuida, predispondo-a a conflitos que facilmente podem comprometer o bem-estar do cuidador e consequentemente o bem-estar da pessoa que é

cuidada. No entanto, nem sempre o papel desempenhado pelos cuidadores informais e as perturbações que acarreta têm sido devidamente reconhecidos. Tendo em conta as transformações que têm vindo a ocorrer na organização e na estrutura familiar, a insuficiência e a inadequação das respostas sociais e de saúde às necessidades das famílias pode ser encarada como um obstáculo na manutenção do seu papel enquanto principal fonte de apoio ao idoso (Figueiredo, 2007).

Perante a importância que os cuidadores informais assumem na prestação de cuidados ao idoso dependente, estes devem ser alvo de atenção de modo a promover a sua qualidade de vida e a qualidade dos cuidados prestados ao idoso. Por isso, urge cuidar de quem cuida.

Estudos realizados no âmbito desta problemática têm revelado o quanto é precária a saúde dos cuidadores, principalmente ao nível da saúde mental, com a prevalência de quadros depressivos. No entanto, também se sabe que a situação de cuidar exerce diferentes impactos sobre os cuidadores, isto porque apesar do bem-estar de alguns ser desfavoravelmente afectado, outros parecem conseguir minimizar ou mesmo evitar esses danos e percepcionar satisfação com o cuidar. Neste contexto, consideramos premente aumentar o conhecimento sobre quais os factores que estão envolvidos na prestação de cuidados a idosos e que exercem influência na percepção de sobrecarga e na satisfação dos cuidadores relativamente ao papel que desempenham, por forma a serem identificadas necessidades, prioridades e também formas de intervenção que promovam a saúde e a qualidade de vida destes, o que decerto se irá reflectir no bem-estar daqueles que são alvo de cuidados.

Muitas das investigações que têm sido levadas a cabo na área da prestação de cuidados a idosos centram-se, apenas, nas características sócio-demográficas, tanto do cuidador como do idoso, e nas características do contexto da prestação de cuidados, para tentarem explicar o aparecimento de sobrecarga nos cuidadores. No entanto, a relação entre estas e a sobrecarga parece ser inconclusiva (Brito, 2002). Em contrapartida, estudos mais recentes (Nolan et al, 1995, 1996, 1998, Brito, 2002, Sequeira, 2007, Figueiredo, 2007) dão maior ênfase aos aspectos subjectivos que estão envolvidos na prestação de cuidados aos idosos e que têm a ver com a forma como o cuidador percepciona a experiência de cuidar. A auto-eficácia, a capacidade de coping e o suporte social surgem como variáveis de relevo no âmbito do cuidado informal. Por um lado, a auto-eficácia fortalece os cuidadores e torna-os mais aptos para cuidado (De

La Cuesta, 2004, cit. in Lage, 2005), por outro, a capacidade de coping do cuidador e suporte social parecem minimizar as consequências do acto de cuidar (Lage, 2005).

Tendo por base estes pressupostos, a questão central que orienta esta pesquisa é: De que modo a satisfação com o suporte social e as estratégias de coping utilizadas pelos cuidadores influenciam a percepção da sobrecarga e a satisfação com os cuidados prestados?

9.1. Objectivos do estudo

Apoiando-nos na questão que norteia a nossa investigação, pretendemos compreender, identificar e relacionar factores que estão envolvidos na prestação de cuidados e que se associam com a sobrecarga e com a satisfação dos cuidadores informais de idosos dependentes.

Deste modo, os objectivos do estudo são:

• Identificar características sócio-demográficas dos cuidadores informais; • Conhecer características do contexto da prestação de cuidados;

• Conhecer as principais dificuldades percepcionadas pelos cuidadores relativamente à prestação de cuidados ao idoso dependente e identificar características do cuidador e do contexto que lhes estejam associadas;

• Avaliar a satisfação dos cuidadores em relação ao suporte social e proceder a comparações segundo o género e a idade;

• Identificar as estratégias de coping utilizadas e consideradas eficazes pelos cuidadores e proceder a comparações segundo o género e a idade;

• Avaliar a sobrecarga física, emocional e social dos cuidadores e identificar características do cuidador e do contexto que lhes estejam associadas;

• Avaliar o grau de satisfação dos cuidadores com os cuidados prestados e identificar características do cuidador e do contexto que lhes estejam associadas; • Analisar a relação entre suporte social, estratégias de coping e sobrecarga/

satisfação.

Com base no exposto, procuraremos conhecer, compreender e analisar a realidade dos cuidadores informais de idosos, tendo em conta que um maior

conhecimento dos factores envolvidos na prestação de cuidados informais permitirá intervenções mais adequadas e eficazes, com benefícios tanto para o cuidador como para o idoso cuidado.