• Nenhum resultado encontrado

Da profissionalização à intenção de ruptura: a disputa de projetos ético-políticos

2.2 FUNDAMENTOS ÉTICOS DO SERVIÇO SOCIAL: ENTRE A GÊNESE E O

2.2.2 Da profissionalização à intenção de ruptura: a disputa de projetos ético-políticos

Entendendo a estreita relação entre a profissionalização do Serviço Social e os movimentos do estado para responder à questão social, especialmente no que

tange ao desenvolvimento e alargamento das políticas sociais22, vale lembrar que,

acompanhando a perspectiva de modernização concervadora do país, Juscelino Kubitschek expandiu as empresas estatais e apostou na industrialização pesada do país, trazendo para o Brasil empresas como a Ford. A máxima de seu famoso Plano de Metas era fazer o país crescer “cinquenta anos em cinco”. Neste contexto desenvolvimentista,

[...] as instituições sociais direcionavam seus programas para uma política de integração participativa dos mais pobres no processo de desenvolvimento nacional, e a pobreza era abordada como resultado de um insuficiente desenvolvimento econômico, do estágio ainda não suficientemente desenvolvido do país e, portanto, como fenômeno não estrutural. (YAZBEK, 2012, p. 299)

Porém, assim como aconteceu em nível mundial (NETTO, 2001), a industrialização e o aumento da produção de riquezas não diminuiram a pobreza da condição de vida de camadas significativas da população. A experiência histórica mostra que a ideia de fazer o bolo crescer para depois dividi-lo é uma fraude; o crescimento econômico necessita da exploração.

Mas foi pautado neste modelo de intervenção estatal que o Serviço Social é impulsionado a profissionalizar-se, buscando novas formas e referências para intervenção no campo social. Desenvolvem-se, ainda com foco no ajustamento dos indivíduos, os métodos de intervenção de caso, grupo e comunidade. Em cada um destes métodos, contendo determinadas particularidades, buscava-se referências na Psicologia Social, na Psicanálise e na Sociologia para fundamentar a atuação profissional que se pautava eticamente ainda nas bases da Doutrina Social da Igreja Católica, especialmente no pensamento de São Tomás de Aquino.

Contudo,

Sem preparação para um trabalho psicológico mais profundo, a atitude de escuta tornou-se incomoda. Em primeiro lugar, não trazia soluções concretas à problemática apresentada. Em segundo lugar, não levava a uma avaliação mais crítica da situação e ficava-se num relacionamento baseado nos valores sociais do próprio profissional. O aconselhamento valorativo tornou-se característica da ação do assistente social. Este teria

22 As políticas sociais são uma forma estratégica de resposta do Estado à questão social. Mas elas

não se constituem de forma linear. Ao contrário, “[...] se constituem num sistema complexo, em que atuam múltiplas casualidades e diferentes atores sociais resultantes do embate de forças sociais no espaço público”. (IVO, 2008, p. 171)

soluções para as questões matrimoniais, políticas, econômicas que atingissem os indivíduos que o procurassem. (FALEIROS, 2011, p. 16)

Analisando o caráter ideológico e de poder na relação com os usuários, Faleiros destaca que o caráter reparador, de apoio emocional e financeiro “trazia ao profissional uma certa satisfação, compensando as frustrações de não poder atuar numa perspectiva globalizada”. (2011, p. 20)

Estes aspectos se explicitam seja nos Códigos de Ética da profissão, seja nos documentos que demarcaram posicionamentos éticos e propostas para atuação profissional, como Araxá (1967) e Teresópolis (1970). Estes dois documentos são o resultado do movimento interno da profissão – o início do denominado Movimento de Reconceituação - na busca por sua teorização e profissionalização, pensando e repensando suas bases. Nesse sentido, também é valido destacar que, como assinalou Bartlett (1979, p. 7), “[...] os assistentes sociais são conhecidos por sua inclinação para o autoexame e para a autocrítica, mas tenderam demais a obstruir com formulações”.

Isto é, muito do esforço do Serviço Social na época era revisar e buscar a base da profissão, sua base teórica, demarcando funções e metodologias de ação. Mas o que interessa ao presente estudo é assinalar o caráter normatizador e pragmático desta busca, como fica evidente no relatório do Grupo A do Documento de Teresópolis23, no qual se discutia a metodologia do Serviço Social.

Neste documento há uma interessante sistematização, em quadro elaborado a partir de um levantamento que mostrava, em suma: os fenômenos significativos observados na prática do Serviço Social, a identificação das variáveis significativas para a profissão relacionadas a estes fenômenos, e as funções do Serviço Social relacionadas a cada expressão do fenômeno.

Os fenômenos identificados variavam desde “distorções no comportamento sexual”, até “mudanças sociais aceleradas”, onde o profissional teria a função de apoiar os sujeitos, romper com as resistências à mudança e diminuir as tensões geradas por estas. (CBCISS, 1986) Neste relatório fica evidente a fragmentação na apreensão dos fenômenos e das funções profissionais, embora afirme reconhecer a relação entre estes. Também é possível observar o caráter moral empregado neste

23 Para uma apreensão completa do documento, ver o livro Teorização do serviço social

levantamento dos fenômenos observados na prática profissional e o caráter ajustador ao meio social e às mudanças político-econômicas empregado nas funções e ações propostas.

Vinculados a este debate, os Códigos de Ética da profissão de 1947, 1965 e 1975 assumem uma pretensa neutralidade no agir profissional, pautados numa concepção neotomista essencialista e a-histórica e em:

[...] valores de conteúdo universal abstrato: permanecem à natureza humana que emana de Deus. Assim, valores como pessoa humana, bem comum, perfectibilidade, autodeterminação da pessoa humana, justiça social são abstraídos de suas particularidades e determinações históricas, tornando-se referência para uma concepção de humano genérico que não se articula com o indivíduo social, em sua concretude histórica. (BARROCO, 2012, p. 44)

O idealismo expresso nos valores éticos dos Códigos de Ética da profissão e a pretensa neutralidade são a expressão de um Serviço Social que, naquele momento, ainda não se entendia inserido no jogo de relações sociais capitalistas. Ainda com fundamentos da doutrina social da Igreja, havia, no seio da profissão, críticas tanto aos excessos do capitalismo quanto ao comunismo, especialmente ao comunismo soviético que amedrontava a população.

No início da década de 60 do século passado as contradições do capitalismo periférico são acirradas e polariza-se a disputa de projetos societários para o país, que “se resolverá” com a ditadura do capital. O cenário nacional incerto, atravessado pelo suicídio de Vargas, a renúncia de Jânio Quadros e o golpe militar de 1964 que depôs João Goulart, “ficou marcado pela expansão lenta dos direitos, que se mantiveram ainda no formato corporativista e fragmentado da era Vargas”. (BEHRING; BOSCHETTI, 2009, p. 110)

Assim, “[...] A desigualdade social se acentua em um clima repressivo e autoritário” (YAZBEK, 2012, p. 299). Em meio a este clima, analisa Couto:

Em relação às medidas de cunho social na época, o período da ditatura foi pródigo em constituir um corpo institucional tecnocrático para responder às demandas sociais do capital. Atuou setorialmente e expandiu o número de instituições [...] (COUTO, 2010, p. 128).

Exemplos dessas medidas são a ampliação dos destinatários da proteção previdenciária, a e expansão do ensino técnico como formação voltada ao trabalho, programas pontuais de atendimento à saúde, a institucionalização de crianças e

adolescentes, entre outros. Em suma, na área social desenhou-se “[...] o perfil limitado e autoritário dos direitos sociais, onde os mesmos tinham a finalidade de assegurar a sustentação política do regime”. (COUTO, 2010, p. 136)

A lógica era enfrentar a questão social através do controle e da assistência, incrementando a política social. São características deste período: investimentos conservadores, impulsionando esses “incrementos” e, por outro lado, a abertura de espaço para a saúde, a previdência e a educação privada. Essa é a lógica da política social para quem pode e para quem não pode pagar, que marca os dias atuais como forte herança da ditadura. (BEHRING; BOSCHETTI, 2009)

Como bem lembra POCHMANN:

Como se sabe, o destino brasileiro foi marcado por formas de poder político associadas aos regimes autoritários, com somente meio século de democracia representativa em mais de 500 anos de história. Não somente na política, o autoritarismo ganhou importância, como também em diferentes esferas relacionadas à convivência social e econômica. (POCHMANN, 2010, p. 123)

O curto período de democracia representativa e o pequeno caldo cultural de participação política efetiva marca a configuração das respostas do Estado à questão social no país. Embora houvesse fortes movimentos de resistência ao regime militar, talvez o principal condicionante que levou à abertura política foi o esgotamento econômico do regime.

É interessante observar que foi justamente neste período tenso e altamente opressor no país – entre os anos 1960 e 1970 – que o Serviço Social começa a aproximar-se de uma perspectiva teórica marxista, especialmente no pensamento do filósofo francês Louis Althusser. Contudo, o debate da ética na categoria profissional foi adensado apenas nos anos 80 do século passado, momento em que já havia certo amadurecimento teórico-crítico consolidado. Segundo Barroco (2012), foi nesta década que a ética tornou-se objeto de debate em relação ao rompimento com o tradicionalismo consolidado históricamente no âmbito da profissão.

Referindo-se ao contexto da França, Castel (2013) mostra que com a política do Estado Social instaurou-se, especialmente nas camadas médias da população, a sensação de que o progresso não se findaria, que o acesso à proteção e ao consumo seria cada vez mais amplo. “A questão social parecia dissolver-se na

crença no progresso indefinido. Essa é a trajetória que foi interrompida”. (CASTEL, 2013, p. 493)

Quando a ideologia do progresso começa a se decompor, suas contradições começam a ficar evidentes. A crise econômica dos anos 1970 – a crise do petróleo – foi um novo momento em que capitalistas se articularam para encontrar uma saída que favorecesse a manutenção do sistema. Nesse sentido, é conhecido o pensamento de Hayek (2010) em seu livro O caminho da servidão, em que o autor tece fortes críticas às experiências socialistas e comunistas na esfera mundial e defende a liberdade de mercado como princípio fundamental. É nesta perspectiva que se inserem as conhecidas personalidades na propagação do neoliberalismo como política econômica: Margaret Thatcher (Inglaterra), Ronald Reagan (Estados Unidos) e Pinochet (Chile).

Nesse contexto, no Brasil, explodiram os movimentos sociais reivindicando a democratização do país. Do ponto de vista do crescimento econômico, a década de 1980 foi considerada perdida, havendo um aumento significativo da pobreza e tornando-a visível. (YAZBEK, 2012)

O caminho para abertura política culminou com a Constituição Federal de 1988, com significativos avanços no plano dos direitos e proteções sociais. A Constituição Federal representou um marco simbólico na perspectiva de construção de políticas sociais universais e não contributivas, como a saúde24 e a assistência

social25, bem como em relação à proteção previdenciária.

Neste período, a efervescência do denominado Movimento de Reconceituação e a busca pela ruptura com o conservadorismo se materializaram nas mudanças no Código de Ética do Assistente Social, em 1986, e, com mais propriedade de objetivação no cotidiano dos trabalhadores, em 1993. Barroco (2012) definiu o debate da época como educativo e politizador.

A intenção de ruptura com o conservadorismo histórico no âmbito da profissão e nas práticas de assistentes sociais passou a ser considerada a virtude

24 A Reforma Sanitária, no Brasil, foi um movimento de militantes de diferentes profissões, com

diferentes orientações políticas, que tinham um projeto político em comum: construir um sistema de saúde que ultrapassasse a racionalidade do mercado. Estes militantes conquistaram que o Sistema Unico de Saúde se regulamentasse enquanto política de Estado e de direito universal. Atualmente o SUS é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. (CAMPOS, 2006)

25 Couto et al (2011) referem que com a Constituição de 1988 e com a LOAS inicia-se um processo

de tornar a assistência social visível enquanto política pública. Assim, inicia-se um processo de transição do campo do assistencialismo e do clientelismo para o campo da política social.

máxima, ou seja, a finalidade ética de grande parte da discussão. De outro lado, o conservadorismo passou a ser considerado o vício, o mal, algo que deveria ser combatido. Entretanto, o esforço em superar a origem da profissão que, no Brasil, nasce no seio da Igreja Católica e respondendo aos interesses do capitalismo, ou seja, o esforço em negar este vício, fez com que se instaurasse no âmbito da categoria profissional uma dicotomia.

Faleiros (2011) refere que, por um lado, o debate no Movimento de Reconceituação26 negou a prática institucional de assistentes sociais, fazendo com

que se confundisse com a militância político-partidária. Por outro lado, muitos profissionais que estavam submetidos à prática institucional e inseridos no mercado de trabalho, por meio da venda de sua força de trabalho, negaram o movimento que buscava romper com as práticas conservadoras, reafirmando as práticas já institucionalizadas.

Inegáveis avanços ocorreram no debate, especialmente no que se refere à principal proposição do Projeto Ético-Político que é voltar o trabalho da/o assistente social aos interesses da população (NETTO, 1999), e não aos interesses políticos e do capital (FALEIROS, 2011). A ética profissional assume, então, um posicionamento explicitamente político. Contudo, sabe-se que não é sem desafios que a ética profissional materializa-se. Sabe-se que são diversos os fatores que envolvem a objetivação da direção ético-política no exercício profissional, e que isso não depende apenas da intencionalidade de assistentes sociais.

Atualmente, enquanto categoria profissional, tem-se consciência de que é preciso pensar o trabalho das/os assistentes sociais dentro dos condicionantes institucionais dos diferentes espaços sócio-ocupacionais. Iamamoto (2009) oferece importante contribuição para pensar tanto as instituições que viabilizam/condicionam o trabalho da/o profissional, bem como a relativa autonomia que possui e que torna possível pensar o direcionamento ético-político de suas ações posicionando-se em defesa dos interesses da população.

26 “Movimento de Reconceituação Latino-americano: movimento com várias correntes e perspectivas

teóricas que põem em questão o Serviço Social tradicional. Suas vertentes mais críticas desvelaram o papel político da profissão e questionaram os referenciais a-históricos e acríticos que a influenciaram – sua pretensa „neutralidade‟ política e seu conservadorismo –, reclamando uma intervenção comprometida com as classes subalternas”. (BARROCO, 2012a, p. 40)

É interessante observar de que forma esta intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional se manifesta em mudanças nas concepções de estudantes. Como aparece em uma das falas a seguir:

Assim, na verdade o que mais ou menos eu entendi pelo Serviço Social. Que assistente social ajudava entre aspas na comunidade de uma maneira, eu não sabia como de que maneira, mas eu achava que ajuda, conversa, ajuda com benefício, ou da uma cesta básica, né? Assim, pelo que a gente conhece das unidades, porque alguém falou, ou que alguma amiga, mas assim, mas a intervenção mesmo a fundo eu fui ter a partir da faculdade que eu fui entender mesmo, que é muito mais, que é muito além disso, não é só a questão assistencialista, é de tu mostrar para os usuários que tem direito, que eles têm direitos para lutar, direitos deles, então, não era só isso, não era só ajuda, não era só um apoio, como eu estava dando pro meu irmão, um apoio familiar, uma ajuda sentimental, mas também mostrar as possibilidades de mudar, possibilidades de mudanças na verdade, né? (ENTREVISTADA 1, 2014)

Neste trecho é possível observar certa substituição da noção de ajuda pela noção de direito, incorporadas como duas perspectivas opostas. A ajuda aparece como assistencialismo, conversa e apoio, e o direito como possibilidade de mudança e de luta. Isso também aparece em uma resposta ao instrumento no Caso 2: “Penso que primeiramente descaracterizar o atendimento com um ato de ajuda, orientando que o acesso à Assistência Social é um direito (para quem dela precisar)”. (INSTRUMENTO 7, 2014)

A intenção de ruptura não é apenas uma intenção; isto é, não é algo que está apenas no plano do abstrato. Ela se materializa na formação profissional e na construção de posicionamentos em certos aspectos, como se pode observar nas respostas destas estudantes. Entretanto, uma questão que surge diante da resignificação de concepções sobre a profissão é: de que forma esta se traduz em atos ético-morais no cotidiano de trabalho?

A intenção de ruptura com o conservadorismo e com a pretensa neutralidade também se expressa no Código de Ética – sobretudo no de 1993 – que, como explica Barroco, é o:

[...] o conjunto de valores e princípios, normas morais, direitos, deveres e sanções, orientador do comportamento individual dos profissionais, dirigido à regulamentação de suas relações éticas com a instituição de trabalho, com outros profissionais, com os usuários e com as entidades da categoria profissional. (BARROCO, 2009, p. 176)

O Código de Ética é um instrumento político e jurídico que se propõe a orientar o agir profissional. Mas, como ainda assinala Barroco (2009, p. 176), “nenhuma profissão pode garantir a legitimação de sua ética a partir de seu código, o que seria afirmar uma concepção ética legalista e formal”.

Isto é, os valores do Código de Ética profissional não dizem necessariamente dos valores dos profissionais que estão atuando em diversas áreas pelo país. Eles dizem, sobretudo, de uma intenção política e ética, pautada em princípios filosóficos e sociais.

O Código de Ética de 1993 propõe como valor central a liberdade – não a liberdade de mercado, que estimula o individualismo, a violência e a barbárie – mas a liberdade de os sujeitos se autodeterminarem e se desenvolverem plenamente no tecido social. Ou seja, propõe que as ações e intervenções de assistentes sociais tenham como horizonte ético a emancipação humana.

Para isso, os atos ético-morais de assistentes sociais devem se fundamentar e ter como horizonte da ação profissional os princípios fundamentais do Código de Ética (1993)27: a liberdade enquanto princípio ético central, a defesa intransigente

dos direitos humanos, a ampliação da cidadania e da democracia, em busca da equidade e da justiça social. Assistentes sociais devem se empenhar na eliminação de todas as formas de preconceito e discriminação, se comprometendo com a qualidade dos serviços prestados à população e respeitando os posicionamentos teóricos e políticos plurais no âmbito da profissão.

No Código de Ética está expresso e afirmado o compromisso da categoria profissional com a construção de uma nova ordem societária, contra toda forma de opressão e exploração. Para isso, propõe a articulação com a luta de outras categorias profissionais que pactuem com os valores do código.

Mas como assistentes sociais e estudantes de Serviço Social incorporam tais valores? Como se desenvolvem os atos ético-morais no cotidiano de trabalho destes, tendo ou não como fundamento os valores da profissão? Quais valores são possíveis de serem objetivados nos atos cotidianos e não cotidianos, nos múltiplos espaços de trabalho em que a profissão se insere?

27 Para uma reflexão aprofundada sobre os princípios éticos do Serviço Social, sugere-se a leitura de

A nova ética profissional (PAIVA; SALES, 2011), e Código de Ética do/a Assistente Social Comentado (BARROCO; TERRA, 2012).

A moralidade singular da/o assistente social enquanto indivíduo é parte de uma construção moral anterior à formação profissional. Esta construção moral tende a reproduzir valores dominantes e acríticos que se produzem e reproduzem cotidianamente nas relações sociais (BARROCO, 2010b). A categoria profissional não representa um todo homogêneo e a formação profissional não é o único espaço onde se constroem aprendizagens e juízos que fundamentam as escolhas de valor de assistentes sociais.

Visto que a profissão é, neste trabalho, compreendida como elemento particular que se inscreve e se relaciona com totalidade por meio de múltiplas mediações, é preciso compreender que a sociedade capitalista contemporânea intensifica suas formas de exploração, de alienação e de hegemonia ideológica. A lógica do capital passa a condicionar os modos de vida em todas as dimensões da vida humana, afetando as formas de ser, estar e perceber o mundo.

Em seu ensaio sobre Ética e Capitalismo, Ivo Tonet refere que:

[...] Em todas as dimensões da vida social, valores que eram considerados sólidos e estáveis sofreram profundos abalos. Há uma sensação geral de desnorteamento e de insegurança. Parece que, de uma hora para outra, a sociedade se transformou em um vale-tudo, onde não se tem mais certeza do que é bom ou mau, correto ou incorreto. E, sobretudo, parece que os valores que mais se impõe são os de caráter individualista e utilitário, chegando, muitas vezes, ao cinismo mais aberto. (TONET, 2013, p. 1)

Na sociedade capitalista em suas formas contemporâneas, com todas as suas implicações nas dimensões da vida prática, está imposta a necessidade de pensar sobre os valores morais que reinam em nosso cotidiano. “[...] Aspira-se a um mundo justo, solidário e humano, mas parece que estes valores se tornam cada vez mais distantes” (TONET, 2013, p. 1). É neste contexto o Serviço Social é convocado a posicionar-se ética e politicamente.

3 ÉTICA, TRABALHO E FORMAÇÃO: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL?

Como sujeito que age na relação com objeto de sua atenção, o seu próprio