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4. RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL

4.3 Da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Crime Ambiental

Com a crescente evolução econômica que permeia o nosso meio, é justo que com a criação de novas empresas, sociedades, que visam o lucro, o meio ambiente seja diretamente influenciado por ações que muitas vezes venham a denegri-lo.

O intento legislador, como se vê, foi punir o criminoso certo e não apenas o mais humilde – ou “pé de chinelo” do jargão popular. Sim, porque, via de

poluidores por decorrência de serviços e obras públicas sem controle.

(MILARÉ, 2014, p. 473, grifo do autor)

No mesmo sentido, Wellington Pacheco Barros discorre:

Discussões doutrinárias à parte, o certo é que o dispositivo inovou no direito brasileiro na esteira do direito comparado, especialmente o europeu. É de se observar que a responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica decorre da circunstância de que o ato de seu representante legal ou contratual ou do órgão colegiado, de alguma forma, resulte-lhe em interesse ou benefício. Isso significa que nem todo ato do representante da pessoa jurídica que constitua crime é, por vinculação, também crime da pessoa jurídica. Apenas aquele que, comprovadamente resultou em seu interesse ou lhe trouxe benefício é que será criminalizado. (BARROS, 2008, p. 291)

A criação do instituto da responsabilização penal da pessoa jurídica é fato novo e certamente de grande inconformismo por parte da doutrina penal clássica, pois, acabou por romper com os princípios que anteriormente englobava em suas sanções. Dessa forma, Celso Antônio Pacheco Fiorillo comenta:

Muita controvérsia foi trazida também. Ademais deve ser ressaltado que a responsabilidade penal da pessoa jurídica não é aceita de forma pacífica.

Pondera-se que não há como conceber o crime sem o substractum humano. Na verdade, o grande inconformismo da doutrina penal clássica reside na inexistência da conduta humana, porquanto esta é da essência do crime. Dessa forma, para aqueles que não admitem crime sem conduta humana, torna-se inconcebível que a pessoa jurídica possa cometê-lo.

(FIORILLO, 2014, p. 155, grifo do autor).

A responsabilização criminal da pessoa jurídica se baseia principalmente no ramo do Direito Penal, o qual preceitua que a pessoa jurídica só poderá ser responsabilizada criminalmente, se do mesmo modo a pessoa física tiver sido sancionada, ou seja, é a aplicação da Teoria da Dupla Imputação.

Paulo Afonso Leme Machado discorre:

O art. 225, § 3º, da CF não se choca com o art. 5º, XLV, que diz: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. A Constituição proíbe que a família de um condenado – pessoa física – possa ser condenada somente porque um de seus membros sofreu uma sanção ou que alguém se apresente para cumprir pena em algum lugar de outrem. Contudo, o mandamento constitucional não excluiu da condenação penal uma pessoa que seja arrimo de família. A sanção penal poderá ter reflexos extra individuais legítimos, pois não se exige que o condenado seja uma ilha, isolado de todo relacionamento. (MACHADO, 2014, p. 836)

Édis Milaré complementa:

A responsabilidade da pessoa jurídica, como está escrito no parágrafo único do referido art. 3.º, é óbvio, não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato, na medida em que a empresa, por si mesma, não comete crimes. Disso decorre que é impossível conceber a responsabilização do ente moral desvinculada da autuação de uma pessoa física, que atua com elemento subjetivo próprio, seja a título de dolo ou culpa. (MILARÉ, 2014, p. 473)

Fica evidente o condão do Código Penal na seara Ambiental, trazendo a impossibilidade da responsabilização do ente jurídico e sua desvinculação da atuação de uma pessoa física, que atua com um fim. Lucas Daniel Ferreira de Souza, em seu artigo “Elementos que envolvem os crimes ambientais”, a respeito da vinculação do ente moral com a pessoa física, traz a seguinte passagem:

Com relação às pessoas jurídicas, temos que levar em conta sua existência como ente capaz de adquirir direitos e contrair obrigações. Dessa forma, satisfeitos os requisitos legais, terão personalidade e vontade própria, sendo assim imputáveis penalmente toda vez que incorrerem em danos contra o meio ambiente. (SOUZA, 2014, p. 7)

A Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998) em concomitância com o Código Penal é clara no sentido de afirmar que para haver a responsabilização penal da pessoa jurídica é necessário que o ato criminoso seja determinado pelo representante da Empresa ou pelo seu colegiado, já que são estes quem têm poderes para falarem nome da empresa. Além do mais, o ato criminoso deve ter sido praticado no interesse ou benefício da entidade (se o interesse for exclusivo da pessoa física, por exemplo, não poderá haver a responsabilidade penal da PJ).

Deste modo, o art. 3º da referida lei traz a seguinte redação:

Art. 3.º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. (BRASIL, 1998)

Assim, segundo Nestor Eduardo Araruna Santiago, Paulo Cesar Correa Borges e Carlos Alberto Menezes, resta claro o objetivo da referida norma:

Nesse sentido, a inovação da lei 9605/98 foi instituir a responsabilidade penal às pessoas jurídicas, quando praticarem crimes contra o meio ambiente. O legislador, dentro deste assunto, optou pelo sistema da Responsabilidade Penal Cumulativa, onde a responsabilidade do ser coletivo não exclui a de seus diretores e administradores, considerando o nexo entre os fatos praticados pela pessoa jurídica e as vantagens que deles podem decorrer às pessoas físicas. Neste ponto, importante ressaltar que a responsabilidade penal atribuída às pessoas jurídicas, não afasta a responsabilidade da pessoa física[...] (SANTIAGO, BORGES, MENEZES, 2015, p. 12)

Porém, importante frisar que a lei não exclui a responsabilidade das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. Assim, Paulo Affonso Leme Machado complementa:

A lei não quis deixar impune a pessoa física autora, coautora ou partícipe.

Ainda que sejam apuradas num mesmo processo penal, as responsabilidades são diferentes e poderão acontecer absolvição ou a condenação separadamente ou em conjunto. (MACHADO, 2014, p. 843)

Estabelecido os conceitos e características que tratam a respeito da Responsabilidade da Pessoa Jurídica por Crime Ambiental, abordaremos as penas aplicáveis às mesmas.

4.4 Das Penas Aplicáveis às Pessoa Jurídicas

A Lei 9.605/1998 (BRASIL, 1998) dispõe sobre as penas aplicáveis às pessoas jurídicas, que se subdividem em três, quais sejam: pena de multa, restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade.

4.4.1 Pena de multa

Segundo Milaré (2014, p. 485), “A pena de multa cominada à pessoa jurídica não ganhou, como era de esperar, disciplina própria, aplicando-se, portanto, a regra comum estampada no art. 18 da Lei 9.605/ 1998. ”

Complementando as palavras de Milaré, a redação do art. 18 da Lei

deve merecer prioridade no combate à delinquência ambiental praticada pelas corporações. Além disso, [...] é uma pena inócua, pelo seu insignificante valor. (MACHADO, 2014, p. 840).

A seguir, tratar-se-á a respeito da pena restritiva de direitos.

4.4.2 Pena Restritiva de Direitos

O art. 22 da Lei 9.605/1998 apresenta de forma clara e precisa, as modalidades de penas restritivas de direitos, quais sejam:

Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:

I - suspensão parcial ou total de atividades;

II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.

§ 1º A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.

§ 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar.

§ 3º A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, temporária, diferentemente da interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade, à qual o legislador visa estabelecer um prazo para a entidade sanar os vícios apresentados e adaptar-se à legislação ambiental. (MACHADO, 2014).

O terceiro e último dispositivo refere-se à proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios subvenções ou doações. Como observa-se, trata-se da pena mais severa. Deste modo, Paulo Affonso Leme Machado complementa:

A contratação com o Poder Público, com o processo licitatório ou sem este, fica proibida pela cominação desta pena. Este dispositivo tem como consequência o impedimento de a empresa condenada apresentar-se às licitações públicas. Ainda que a licitação seja anterior ao contrato com o Poder Público, não teria sentido no prazo da vigência da pena que uma empresa postulasse contrato a quem não tem direito. O dinheiro público, isto é, o dinheiro dos contribuintes, só poderá ser repassado a quem não age criminosamente, inclusive ao meio ambiente. (MACHADO, 2014, p.

842)

Fica evidente a sanção imposta ao ente jurídico. Trata-se da pena mais severa, pois proíbe o infrator de contratar com o poder público, que, como sabemos, é grande gerador de lucro para as empresas, causando assim, enorme prejuízo econômico ao contratado.

4.4.3 Pena de prestação de serviços à comunidade

Traz a seguinte redação dada pelo art. 23 da Lei 9.605/1998:

Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em:

I - custeio de programas e de projetos ambientais;

II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas;

III - manutenção de espaços públicos;

IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.

Esta sanção imposta ao ente jurídico apresenta características de ordenamento jurídico que se baseia principalmente dos direitos materiais fundamentais, pois ordena não somente que o ente realize a manutenção e melhorias de espaços públicos como o custeio de programas e projetos ambientais.

(MACHADO, 2014)

Importante frisar para que haja proporcionalidade entre o crime cometido e os recursos a serem gastos para que sejam cumpridos os requisitos do art. 23. Assim, Machado complementa:

Será oportuno que se levantem os custos dos serviços previstos no art. 23,

Apresentadas as penas impostas aos entes jurídicos que cometerem delitos contra o Meio Ambiente, passaremos a analisar a desnecessidade da teoria da dupla imputação em crimes ambientais que tenham a pessoa jurídica como ré.

4.5 Desnecessidade da Aplicação da Teoria da Dupla Imputação

Após demonstrados os elementos e características que compõem a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais, abordaremos a seguir, a quebra de paradigma com o tipo penal e a Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998), que dispõe a respeito das sanções penais administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

Quebrando com o paradigma da responsabilização penal da pessoa jurídica em crime ambiental, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) inovou, decretando que é possível sim a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física. Deste modo, temos o informativo 566 do STJ:

É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Conforme orientação da Primeira Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação"(RE 548.181, Primeira Turma, DJe 29/10/2014). Diante dessa interpretação, o STJ modificou sua anterior orientação, de modo a entender que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Precedentes citados: RHC 53.208-SP, Sexta Turma, DJe 1º/6/2015; HC 248.073-MT, Quinta Turma, DJe 10/4/2014; e RHC 40.317-SP, Quinta Turma, DJe 29/10/2013. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015, DJe 13/8/2015. (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, 2015, p. 11)

Deste modo, o Superior Tribunal de Justiça foi de encontro com o precedente firmado pela corte máxima de nosso país, reconhecendo assim, a possibilidade de

instauração de processo contra empresa que atentou contra o Meio Ambiente.

Importante frisar que o entendimento firmado decorreu de caso envolvendo o derramamento de óleo em dois rios do Estado do Paraná.

Cita-se ainda, que este parecer exarado pelo STJ, teve como respaldo, o Informativo n. 714 de agosto de 2013 (BRASIL, Supremo Tribunal Federal, 2013a), aonde o Supremo Tribunal Federal (STF) pôs fim ao entendimento da imputação tanto da pessoa física como jurídica, para a responsabilização do ente jurídico em decorrência de delitos ambientais.

Ainda, destaca-se outro Informativo:

Crime ambiental: absolvição de pessoa física e responsabilidade penal de pessoa jurídica – É admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma, por maioria, conheceu, em parte, de recurso extraordinário e, nessa parte, deu-lhe provimento para cassar o acórdão recorrido. Neste, a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas incriminadas (Lei9.605/98, art. 54) teria sido excluída e, por isso, trancada a ação penal relativamente à pessoa jurídica. Em preliminar, a Turma, por maioria, decidiu não apreciar a prescrição da ação penal, porquanto ausentes elementos para sua aferição.

Pontuou-se que o presente recurso originara-se de mandado de segurança impetrado para trancar ação penal em face de responsabilização, por crime ambiental, de pessoa jurídica. Enfatizou-se que a problemática da prescrição não estaria em debate, e apenas fora aventada em razão da demora no julgamento. Assinalou-se que caberia ao magistrado, nos autos da ação penal, pronunciar-se sobre essa questão. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que reconheciam a prescrição. O Min. Marco Aurélio considerava a data do recebimento da denúncia como fator interruptivo da prescrição. Destacava que não poderia interpretar a norma de modo a prejudicar aquele a quem visaria beneficiar. Consignava que a lei não exigiria a publicação da denúncia, apenas o seu recebimento e, quer considerada a data de seu recebimento ou de sua devolução ao cartório, a prescrição já teria incidido. No mérito, anotou-se que a tese do STJ, no sentido de que a persecução penal dos entes morais somente se poderia ocorrer se houvesse, concomitantemente, a descrição e imputação de uma ação humana individual, sem o que não seria admissível a responsabilização da pessoa jurídica, afrontaria o art. 225, § 3º, da CF.

Sublinhou-se que, ao se condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa humana, estar-se-ia quase que a subordinar a responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física.

Ressaltou-se que, ainda que se concluísse que o legislador ordinário não estabelecera por completo os critérios de imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais, não haveria como pretender transpor o paradigma de imputação das pessoas físicas aos entes coletivos. Vencidos259os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que negavam provimento ao extraordinário. Afirmavam que o art. 225, § 3º, da CF não teria criado a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Para o Min. Luiz Fux, a mencionada regra constitucional, ao afirmar que os ilícitos ambientais

sujeitariam ―os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, teria apenas imposto sanções administrativas às pessoas jurídicas. Discorria, ainda, que o art. 5º, XLV, da CF teria trazido o princípio da pessoalidade da pena, o que vedaria qualquer exegese a implicar a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Por fim, reputava que a pena visaria à ressocialização, o que tornaria impossível o seu alcance em relação às pessoas jurídicas. (RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013). (BRASIL. Supremo Tribunal Federal, 2013a)

Acrescenta-se ainda, uma das jurisprudências que firmaram o entendimento trazido pelo Supremo Tribunal Federal. O caso trata-se de um derramamento de óleo causada pela empresa Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras, no Estado do Paraná. Assim:

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA.

CONDICIONAMENTO DA AÇÃO PENAL À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225,

§ 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam pela descentralização e distribuição de atribuições e responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido. (BRASIL, Supremo Tribunal Federal, 2013b)

Ainda assim, Santiago; Borges e Menezes (2015, p. 19) complementam em seu artigo que: “Nesse sentido, de acordo com atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal, a autoridade policial poderá determinar o indiciamento da pessoa jurídica, ainda que não haja o indiciamento da pessoa física. ” Resta clara a

inovação trazida pelo Supremo Tribunal Federal, pois conforme foi exteriorizado no presente trabalho, os antigos julgados sempre iam de encontro com a necessidade do indiciamento da pessoa física para o posterior chamamento do ente jurídico junto à lide, porém, os Tribunais desprenderam-se dessa tese, abrindo assim, precedente para o indiciamento da pessoa jurídica independentemente da pessoa física.

5 CONCLUSÃO

Foi possível concluir que a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crime ambiental trata-se de tema polêmico em nossos tribunais e doutrina.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Meio Ambiente passou a ser amplamente tutelado, passando a ser considerado um direito de terceira geração, tendo como princípio o seu pleno desenvolvimento sustentável e sadio perante a sociedade. Porém, é fato que com a crescente industrialização que ocorre em nosso planeta, cada vez é maior o número de delitos que afrontam esse importante bem da sociedade, daí a necessidade de protege-lo.

A pesquisa verificou ainda, que a Pessoa Jurídica perante nosso ordenamento jurídico, sempre estará condicionada à Pessoa Física, ou seja, o ente jurídico atua limitado à vontade de seu representante, gerando assim, a discussão central acerca da pesquisa, pois a lei que trata sobre os Crimes Ambientais está condicionada ao Código Penal. Deste modo, até pouco tempo atrás, as jurisprudências e precedentes firmados a respeito do tema, afirmavam que a Pessoa Jurídica só poderia ser responsabilizada por Crime Ambiental, se a Pessoa Física assim também fosse.

Embora o texto constitucional tenha previsto e o legislador regimentado, vários juristas e doutrinadores defendem a descriminalização do ente coletivo, pois afirmam que os mesmos não possuem consciência ou vontade própria, pois como sabemos, esses requisitos estão expressos em nosso Código Penal. Aduzem ainda, que a responsabilização da Pessoa Jurídica estaria ferindo os princípios da culpabilidade e personalidade da pena.

Em recente entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, foi modificada a antiga diretriz a respeito do tema. Os motivos que firmaram o novo entendimento, se baseiam no fato de que o legislador ordinário não estabeleceu por completo os critérios para a imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais, deixando assim, lacunas a serem preenchidas.

Importante frisar que com o reconhecimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica em crime ambiental, houve uma quebra de padrão que vinha sendo

Importante frisar que com o reconhecimento da responsabilidade penal da pessoa jurídica em crime ambiental, houve uma quebra de padrão que vinha sendo

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