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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CÂMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE DIREITO

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MISSÕES

CÂMPUS DE ERECHIM

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE DIREITO

LUCAS DE LORENZO BOVO

TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO: A (IM) POSSIBILIDADE DA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIMES

AMBIENTAIS

ERECHIM 2017

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TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO: A (IM) POSSIBILIDADE DA RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR CRIMES

AMBIENTAIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Câmpus de Erechim- RS.

Orientador(a): Me. Vera Maria Calegari Detoni

ERECHIM 2017

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Dedico este trabalho primeiramente à minha família, em especial minha mãe, pois através de seu esforço e dedicação, me propiciou a realização deste sonho.

Agradeço também a minha orientadora Me. Vera Maria Calegari Detoni, pelas horas despendidas para a melhor elaboração do presente.

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Quando não existem inimigos interiores, os inimigos exteriores não conseguem ferir você.

(Provérbio Africano)

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O objetivo da pesquisa monográfica foi apresentar a possibilidade da imputação do ente jurídico independentemente da pessoa física em crimes cometidos contra o Meio Ambiente. Estudou-se a história e princípios do Direito Ambiental em nosso ordenamento jurídico, relacionando com as características das Pessoas Jurídicas em nossa legislação e por fim, apresentado os novos precedentes firmado por nossos Tribunais a respeito da matéria. A responsabilização da Pessoa Jurídica em decorrência de crimes praticados contra o Meio Ambiente foi consagrada em nossa Constituição Federal de 1988, sendo complementada através do Código Penal. É fato que a legislação que trata a respeito da responsabilização dos crimes ambientais afirma que para que haja a incumbência da pessoa jurídica em decorrência de delitos contra o ecossistema, é de suma importância a culpabilidade da pessoa física, dando assim, fundamento a aplicação da Teoria da Dupla Imputação. Ocorre que recentemente, o Supremo Tribunal Federal firmou novo precedente, descaracterizando a referida Teoria. O método utilizado para a elaboração deste trabalho foi o analítico descritivo através da técnica bibliográfica.

Palavras-chave: Meio Ambiente. Pessoa Jurídica. Crime Ambiental.

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The objective of this monograph research was present the possibility of criminal attribution of legal entity, regardless of the physical person, on the envioronmental subject. History and Law principles of our legal order were studied, relating to the peculiarities of the legal entities in the legislation. New precedents of ours Courts were also presented in there search. The accountability of the legal entity as a result of criminal acts against the envioronment was sculpted in our Federal Constitution of 1988, complemented by the Penal Code. There is no doubt that the legislation which attends the envioronment proclaims that, for criminal charge of the legal entity, the culpability of the physical person is imperative. This proclaims the Double Imputation Theory. It happen that, recently, our Supreme Court have established new precedentes, decharacterizing the previous Theory. The research method used was the analytical descriptive through tecnical bibliography.

Keywords: Envioronment. Legal Entity. Envioronment Crime.

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1 INTRODUÇÃO ... 7

2 DIREITO AMBIENTAL ... 9

2.1 Evolução Histórica do Direito Ambiental ... 10

2.2 Direito Ambiental à Luz da Constituição Federal de 1988 ... 11

2.3 Princípios Fundamentais do Direito Ambiental ... 13

2.3.1 Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado como Direito Fundamental da Pessoa Humana ... 14

2.3.2 Princípio do Usuário-Pagador ... 16

2.3.3 Princípio do Poluidor-Pagador ... 17

2.3.4 Princípios da Prevenção e Precaução ... 18

3 DA PESSOA JURÍDICA ... 21

3.1 Conceito ... 21

3.2 Natureza da Pessoa Jurídica ... 21

3.3 Da Capacidade e Representação da Pessoa Jurídica ... 23

3.4 Classificação das Pessoas Jurídicas ... 23

3.4.1 Quanto à estrutura ... 24

3.4.2 Quanto à nacionalidade... 24

3.4.3 Quanto às funções ... 25

4. RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL ... 26

4.1 Antecedentes ... 26

4.2 Norma penal em branco, Tipicidade, Conduta e Autoria ... 27

4.3 Da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Crime Ambiental ... 29

4.4 Das Penas Aplicáveis às Pessoas Jurídicas ... 32

4.4.1 Pena de multa ... 32

4.4.2 Pena Restritiva de Direitos ... 33

4.4.3 Pena de prestação de serviços à comunidade ... 34

4.5 Desnecessidade da Aplicação da Teoria da Dupla Imputação ... 35

5 CONCLUSÃO ... 39

REFERÊNCIAS ... 41

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1 INTRODUÇÃO

Esta monografia tem como objetivo demonstrar os novos precedentes firmados em relação a Responsabilidade da Pessoa Jurídica em Crime Ambiental.

Trata-se de tema polêmico, visto que grande parte da doutrina ainda é contrária a tal penalização.

É fato que um Meio Ambiente sadio e sustentável é direito de todos, nascendo assim, a importância de coibir práticas que visam prejudica-lo. Deste modo, é de grande valia a apresentação desta pesquisa como forma de elucidar a repressão concebida em nossa Constituição Federal, no que tange a crimes praticados por entes jurídicos contra o Meio Ambiente.

O primeiro capítulo abordará a história do Direito Ambiental em nosso ordenamento jurídico, bem como sua evolução em nossa Carta Magna. Acrescenta- se ainda, a elucidação dos princípios que regem o ecossistema em nosso ordenamento jurídico.

O segundo capítulo conceituará a Pessoa Jurídica, elencando suas características e funções perante a sociedade. Acrescenta-se ainda, a explanação a respeito da natureza jurídica, visto que se trata de ente coletivo, o qual segundo a doutrina é representado na pessoa de seus sócios.

O terceiro e último capítulo traz o conceito e características da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Crime Ambiental. Será abordado com relevância a desnecessidade da aplicação da Teoria da Dupla Imputação em delitos ambientais, trazendo informações sobre os novos precedentes firmados em nossos tribunais superiores. Da mesma forma, será feita uma breve explanação a respeito das penas cabíveis aos entes jurídicos que praticam crime contra o Meio Ambiente.

A presente pesquisa realizou-se através da pesquisa bibliográfica e documental, valendo-se também de artigos científicos. O método de abordagem caracteriza-se por ser indutivo e sua elaboração, através da forma analítica- descritiva.

Por fim, conclui-se que esta monografia se trata de grande valia para a elucidação das possíveis penalizações dos entes jurídicos que cometem infrações contra o Meio Ambiente. Destaca-se ainda, os novos precedentes firmados a

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respeito do tema, fazendo com que o Meio Ambiente ganhe importância no combate a práticas de condutas que visam a lesão do mesmo.

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2 DIREITO AMBIENTAL

Segundo Fiorillo (2014) o direito ambiental é tudo aquilo que nos rodeia, que rege a vida em todas as formas. Como bem nos assegura Milaré (2014), o direito ambiental é um conjunto de normas ou leis que primam pelo bom relacionamento entre o homem e a natureza.

Para Beltrão (2014) o direito ambiental facilita regular as relações entre o homem e o meio ambiente, proporcionando assim, um convívio harmonioso. Para esse autor:

Por conseguinte, o direito ambiental tem por objetivo o desenvolvimento sustentável, que, conforme a definição universal dada pela Comissão Brundtland, consiste naquele que “satisfaz as necessidades do presente sem pôr em risco a capacidade das gerações futuras de terem suas próprias necessidades satisfeitas”. A sustentabilidade opera-se, portanto, por meio da administração racional dos recursos naturais e dos sistemas ecológicos. (BELTRÃO, 2014, p. 01).

Como se pode verificar nessa citação, o direito ambiental é aplicado ao meio ambiente. Evidentemente a aplicação pode ser utilizada para regular as ações entre os seres humanos e o ecossistema em que vivemos.

Através de um conjunto de princípios e normas que tem por finalidade regular as atividades que possam afetar o meio ambiente como um todo. Cita-se, como exemplo, a Fiscalização através do Estado.

Ainda para Beltrão:

Pragmaticamente, podemos afirmar que o direito ambiental consiste no conjunto de princípios e normas jurídicas que buscam regular os efeitos diretos e indiretos da ação humana no meio, no intuito de garantir à humanidade, presente e futuro, o direito fundamental a um ambiente sadio.

(BELTRÃO 2014, p. 01)

Nesse sentido, o direito ambiental permite regular a interação entre os indivíduos e o ecossistema como um todo, permitindo um desenvolvimento sustentável e propiciando um futuro digno para as seguintes gerações.

Logo, é importante compreender que o direito ambiental está intrinsecamente ligado ao comportamento humano, pois as ações tomadas em prol do meio ambiente, sejam positivas ou negativas, irão gerar alguma consequência no meio em que vivemos. Nesse sentido, vamos exemplificar o direito ambiental como um

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fato regulador entre as ações humanas e as consequências que estas podem gerar no meio social em que vivemos.

2.1 Evolução Histórica do Direito Ambiental

O Meio Ambiente, importante bem jurídico, através dos anos, passou a tomar cada vez mais importância em nosso ordenamento jurídico.

Segundo Milaré:

A devastação ambiental não é marca exclusiva de nossos dias. Apenas a percepção jurídica deste fenômeno – até como consequência de um bem jurídico novo denominado “meio ambiente” – é de explicação recente.(MILARÉ, 2014, p. 235)

Nas palavras de Moraes (2004, p. 13), “ O meio ambiente toma importância aos poucos. Alcançou a puberdade legal. Possui características de um adulto, mas ainda dista de maturidade”.

Essa puberdade legal, ocorreu principalmente através de sua implementação como diretriz secundária em forma de licenças e autorizações, o que veio a confundir a norma ambiental como apenas mais um requisito para o licenciamento, sendo considerada apenas mais um ramo do Direito Administrativo. (MORAES, 2004).

Complementa Moraes ainda:

Outro aspecto foi o prisma que se examinou a matéria, quando exposta em ação judicial. A implementação do instituto processual da Ação Civil Pública sobrepôs a regra material. O sucesso instrumental na solução dos conflitos deixou em segundo plano, por algum tempo, a regra matéria. Um último fato para a demora no reconhecimento da importância do Direito Ambiental residia na baixa implicação econômica dos conflitos, até́ o início da década de 90. (MORAES, 2004, p. 13).

O Direito Ambiental passou por muito tempo despercebido, o ser humano apenas lhe tirava “deveres” e em contrapartida não lhe dava direitos. Não perdurou por muito tempo e a natureza cobrou seu preço, fazendo valer os seus direitos e impondo diversos deveres ao homem, deixando claro que a sustentabilidade é o caminho certo à ser trilhado pelo homem na busca por um meio ambiente equilibrado. (MILARÉ, 2014).

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Acerca da crescente industrialização e consequente escassez de recursos provenientes da natureza, Milaré discorre:

Após a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente nos anos 60, começa- se a tomar uma consciência prática da finitude dos recursos naturais, de forma concreta. Matérias primas, energias e água, entre outros bens proporcionados pela Natureza, tornam-se mais raros e caros. Os processos de degradação ambiental, sob várias modalidades, vão-se alastrando.

Novas crises, mais sérias e globais, desenhavam-se no horizonte para uma sociedade que, sem embargo, insiste em fechar olhos e ouvidos para a realidade. Nuvens pesadas encastelam-se sobre os destinos do Planeta. Há um limite para o crescimento, como há um limite para a inconsciência. Foi então que o brado e a luz de Estocolmo se fizeram presentes, para valer. A partir de então, a consciência ambiental vem se estendendo e se robustece.

(MILARÉ, 2014, p. 253)

Após abordar brevemente o conceito de Direito Ambiental e sua evolução através do tempo, passaremos a discorrer sobre o Direito Ambiental à luz da Constituição Federal de 1988.

2.2 Direito Ambiental à Luz da Constituição Federal de 1988

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1998), elevou o Direito Ambiental à categoria dos direitos e valores ideais, institucionalizando assim, o direito ao meio ambiente sustentável e pleno como um direito fundamental do indivíduo. (MILARÉ, 2014).

Milaré conceitua o Meio Ambiente como sendo um bem jurídico de elevada autonomia:

Nessa nova perspectiva, o meio ambiente deixa de ser considerado um bem jurídico per accidens (casual, por uma razão extrínseca) e é elevado à categoria de bem jurídico per se, vale dizer, dotado de um valor intrínseco e com autonomia em relação a outros bens protegidos pela ordem jurídica, como é o caso da saúde humana e de outros bens inerentes à pessoa.

(MILARÉ, 2014, p. 161, grifo do autor).

Granziera conceitua o Meio Ambiente dentro de nossa Constituição Federal da seguinte forma:

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é por força da norma constitucional, um direito de todos e um princípio norteador da ordem econômica. A partir da promulgação da CF/88, a proteção ambiental, antes estabelecida na Lei nº 6.938/81, passou ao status de matéria constitucional, inclusive trazendo ao plano da Carta elementos contidos em lei ordinária,

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como é o caso do Estudo Prévio de Impacto Ambiental e da criação de espaços protegidos. (GRANZIERA, 2011, p. 17, grifo do autor)

Segundo Silva (2009, p. 75), “Encontramos competência material exclusiva, competência material comum, competência legislativa exclusiva e competência legislativa concorrente”.

Ditas os tipos de competência em matéria ambiental, passa-se a discorrer sobre as mesmas.

Segundo a competência exclusiva, Silva (2009, p. 76), “À União resta uma posição de supremacia no que tange à proteção ambiental. A ela incube a Política geral do Meio Ambiente, o que já foi materializado pela Lei 6.938, de 1981. ”

Sob o mesmo plano, Fiorillo apresenta a seguinte explicação a respeito da competência oriunda da União:

Dessa forma, podemos afirmar que à União caberá a fixação de pisos mínimos de proteção ao meio ambiente, enquanto aos Estados e Municípios, atendendo aos seus interesses regionais e locais, a de um “teto”

de proteção. Com isso, oportuno frisar que os Estados e Municípios jamais poderão legislar, de modo a oferecer menos proteção ao meio ambiente do que a União, porquanto, como já ressaltado, a esta cumpre, tão só, fixar regras gerais. (FIORILLO, 2014, p. 223, grifo do autor)

A respeito da competência comum, conforme Granziera (2011, p. 95), “ As competências previstas no art. 23 da Constituição dizem respeito às ações administrativas a cargo do Poder Público, no atingimento de suas finalidades. ”

Ainda sobre a atribuição comum, Granziera dá o seguinte entendimento:

São competências comuns da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, entre outras, cuidar da saúde, proteger o meio ambiente, combater a poluição, preservar florestas, fauna e flora, promover a melhoria do saneamento e registrar e fiscalizar as concessões de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios. Nessas áreas, “A União incentivará a recuperação de terras áridas e cooperará com os pequenos médios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação”. (GRANZIERA, 2011, p. 95)

Ainda sobre a competência material comum, cita-se a seguinte passagem de Fiorillo:

A proteção do meio ambiente está adaptada à competência material comum, ou seja, proteção ambiental adstrita a normas que conferem deveres aos entes da Federação e não simplesmente faculdades. Com isso, buscou o legislador constituinte estabelecer competências materiais comuns

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a todos os entes da Federação brasileira, a saber, União, Estados, Distrito Federal e Municípios. (FIORILLO, 2014, p. 224, grifo do autor)

Segundo a competência legislativa concorrente, a União estabelece as normas gerais, enquanto aos Estados e Distrito Federal resta compor de forma supletiva sobre a matéria:

Está prevista no art. 24 da Constituição, onde se declara competir à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar sobre florestas, caça, pesca, fauna, conservação da Natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (inciso VI), sobre proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagísticos (inciso VII), assim como sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (inciso VIII). (SILVA, 2009, p. 78)

Importante frisar a competência dos Municípios para a resguarda do meio ambiente, que segundo a doutrina, é questão um pouco obscura em nosso ordenamento jurídico, assim Silva discorre:

A questão já não é tão clara em relação aos Municípios. Pode-se dizer, no entanto, que sua competência suplementar na matéria é também reconhecida. De fato, dá-se-lhes competência para promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de uso, planejamento e controle do uso, parcelamento e ocupação do solo urbano (art.30, VIII). Outorga-se-lhes a competência para a Política de Desenvolvimento Urbano e estabelecimento do Plano Diretor (art. 182), e ainda a competência para promover a proteção do patrimônio histórico- cultural local, observadas a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. (SILVA, 2009, p. 79-80)

Após apresentar as disposições e enquadramento do Meio Ambiente em nossa Constituição Federal, passaremos a analisar os princípios que servem de diretrizes para a aplicação das normas que regem o Meio Ambiente em nosso sistema jurídico.

2.3 Princípios Fundamentais do Direito Ambiental

Antes de adentrarmos aos princípios em espécie do Direito Ambiental, iremos brevemente conceituá-los e apresentar suas funções que irão estruturar sua disposição em nosso sistema normativo.

Acerca dos princípios fundamentais, Pedro Lenza explica que:

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Se por um lado a palavra “princípio”, que vem do termo latino principium, prin- cipii, traz ínsita a ideia de começo, origem, base, ponto de partida, podemos imaginar, também, que os princípios fundamentais significam, do mesmo modo, o ponto de chegada em interessante ciclo que se fecha.

(LENZA, 2012, p. 1.531, grifo do autor)

Ainda sobre o conceito de princípio, para a doutrina, o princípio é por definição:

Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a inteleção das diferentes partes componentes de todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. (MELLO, 2014 apud MILARÉ, 2014, p. 976-977).

Portanto, identifica-se que os princípios servem como “pedras basilares” dos sistemas jurídicos dos Estados. Nessa esfera, Celso Antonio Pacheco Fiorillo identifica os princípios de Política Nacional do Meio Ambiente e princípios referentes a Política Global do Meio Ambiente, quais sejam:

Os princípios da Política Global do Meio Ambiente foram inicialmente formulados na Conferência de Estocolmo de 1972 e ampliados na ECO-92.

São princípios genéricos e diretores aplicáveis à proteção do meio ambiente. Por outro lado, os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente, são a implementação desses princípios globais, adaptados à realidade cultural e social de cada país. São um prolongamento, uma continuação dos princípios globais. (FIORILLO, 2014, p. 70, grifo do autor).

Conceituada a importância dos Princípios no Direito Ambiental e suas funções, passaremos a analisar os princípios em espécie.

2.3.1 Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado como Direito Fundamental da Pessoa Humana

Com a cada vez mais crescente degradação do meio ambiente, o mesmo passou a ter status de direito fundamental de terceira geração, configurando-se como uma extensão do direito à vida, não sujeito à modificação do tempo. (MILARÉ, 2014).

O legislador elencou um novo direito fundamental da pessoa humana. Nas palavras de Édis Milaré:

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De fato, nosso legislador constituinte, a par dos direitos e deveres individuais e coletivos elencados no art. 5.º, acrescentou, no caput do art.

225, um novo direito fundamental da pessoa humana, que diz com o desfrute de adequadas condições de vida em um ambiente saudável, ou, na dicção da lei, “ecologicamente equilibrado”. Direito fundamental que, enfatize-se, nada perde em conteúdo por situar-se topograficamente fora do Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais), Capítulo I (Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) da Lei Maior, já que esta admite, como é da tradição do constitucionalismo brasileiro, a existência de outros direitos

“decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (art.5.º, § 2.º) (MILARÉ, 2014, p. 260).

Fica evidente o enfoque trazido pela Constituição Federal de 1988, deixando claro que o Meio Ambiente passa a ser tutelado não somente no sentido de utilização do mesmo, como também de responsabilização. Nesse sentido, Maria Luiza Machado Granziera complementa:

Ficou assim transportado para o campo constitucional brasileiro o entendimento de que o meio ambiente equilibrado é direito de todos. A sua defesa e proteção compete ao Poder Público e à coletividade. Ou seja, a todos cabe o direito de uso – satisfazer as próprias necessidades – assim como responsabilidade pela proteção do meio ambiente – não comprometer a capacidade de satisfazer as gerações futuras. (GRANZIERA, 2011, p. 57).

Em outras palavras, complementa Fiorillo (2014, p. 72), “Busca-se com isso a coexistência harmônica entre economia e meio ambiente. Permite-se o desenvolvimento, mas de forma sustentável, planejada [...]”.

Maria Luiza Machado complementa:

A expressão Desenvolvimento Sustentável tem a ver com o futuro. As atividades humanas desenvolvidas em certo momento devem considerar, à luz da disponibilidade dos recursos naturais utilizados, a possibilidade de manter-se ao longo do tempo, para as gerações futuras. Se uma determinada atividade pressupõe o esgotamento dos recursos naturais envolvidos, devem ser redobrados os cuidados na autorização de sua implantação, chegando-se ao limite de restringi-la. (GRANZIERA, 2011, p.

57, grifo do autor)

Demonstrada a importância do Meio Ambiente como um direito intrinsicamente ligado com o princípio da dignidade humana, bem como o desenvolvimento sustentável do mesmo, com o intuito de garantir não só para a presente sociedade, mas também para as gerações futuras um meio ambiente

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ecologicamente equilibrado e de uso comum do povo, passaremos a analisar o Princípio do Usuário - Pagador.

2.3.2 Princípio do Usuário-Pagador

Teve sua origem na atual União Europeia, como argumenta Milaré:

Originário igualmente de práticas adotadas na atual União Europeia, o princípio do usuário – pagador pode parecer uma reduplicação do seu congênere, o princípio do poluidor – pagador. Na realidade são diferentes e, de algum modo, complementares. (MILARÉ, 2014, p. 271).

Dita a sua origem, seu conceito segundo Granziera (2011, p. 71) “Trata-se de pagar pelo uso privativo de um recurso ambiental de natureza pública, em face de sua escassez, e não como uma penalidade decorrente de ilícito. ”

Sobre sua concepção, Milaré expõe:

Funda-se este princípio no fato de os bens ambientais – particularmente os recursos naturais – constituírem patrimônio da coletividade, mesmo que, em alguns casos, possa incidir sobre eles um justo título de propriedade privada. Sabemos, outrossim, que recursos essenciais, de natureza global – como a água, ar e o solo – não podem ser “apropriados” a bel talante (MILARÉ, 2014, p. 271)

Pode-se concluir que o princípio do usuário-pagador seria a justa cobrança pelo uso de um recurso ambiental de natureza pública, pois se trata de patrimônio da coletividade. Para tanto, vemos a seguinte passagem de Antonio G. Beltrão:

Consiste na cobrança de um valor econômico pela utilização de um bem ambiental. Diferentemente do princípio do poluidor-pagador, que tem uma natureza reparatória e punitiva, o princípio do usuário-pagador possui uma natureza meramente remuneratória pela outorga do direito de uso de um recurso natural. Não há ilicitude, infração. No princípio do usuário-pagador há uma relação contratual, sinalagmática, em que o usuário paga para ter uma contraprestação, correspondente ao direito de exploração de um determinado recurso natural, conforme o instrumento de outorga do Poder Público competente. (BELTRÃO, 2014, p. 07)

Estabelecido o conceito e função do Princípio do usuário-pagador, passaremos a analisar o Princípio do Poluidor-Pagador.

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2.3.3 Princípio do Poluidor-Pagador

Sucintamente, o princípio do poluidor – pagador consiste no custeio por parte do contaminador no que tange às medidas de prevenção contra a poluição.

(GRANZIERA, 2011).

Nesse mesmo contexto, Milaré cita um exemplo de como ocorre:

Nesta linha, o pagamento pelo lançamento de efluentes, por exemplo, não aflora condutas inconsequente, de modo a ensejar o descarte de resíduos fora dos padrões e das normas ambientais. A cobrança só pode ser efetuada sobre o que tenha respaldo na lei, pena de se admitir o direito de poluir. Trata-se do princípio poluidor pagador (poluiu, paga os danos), e não pagador-poluidor (pagou, então pode poluir). Esta colocação gramatical não deixa margem a equívocos ou ambiguidades na interpretação do princípio.

(MILARÉ, 2014, p. 270, grifo do autor).

Fiorillo complementa:

Desse modo, num primeiro momento, impõe-se ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção dos danos ao meio ambiente que a sua atividade ocasionar. Cabe a ele o ônus de utilizar instrumentos necessários à prevenção dos danos. Numa segunda órbita de alcance, esclarece esse princípio que, ocorrendo danos ao meio ambiente em razão da atividade desenvolvida, o poluidor será responsável pela sua reparação. (FIORILLO, 2014, p. 82).

Importante salientar ainda, que o referido princípio possui a incidência de outros ramos do direito em sua aplicação, como o sendo o caso da Responsabilidade Civil, desse modo, Fiorillo destaca:

Com isso, é correto afirmar que o princípio do poluidor-pagador determina a incidência e aplicação de alguns aspectos do regime jurídico da responsabilidade civil aos danos ambientais: a) a responsabilidade civil objetiva; b) prioridade da reparação específica do dano ambiental; e c) solidariedade para suportar os danos causados ao meio ambiente.

(FIORILLO, 2014 p. 87)

Por fim, pode-se concluir que o princípio poluidor-pagador busca a prevenção dano e em caso de ocorrência da degradação ambiental, a responsabilização do infrator na esfera civil, penal e administrativamente. Maria Luiza Machado Granziera encerra:

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O princípio poluidor-pagador, então, incide em duas órbitas: (1) no conjunto de ações voltadas à prevenção do dano, a cargo do empreendedor, e (2) na sua responsabilidade administrativa, penal e civil pela eventual ocorrência de dano, conforme determina o § 3º do art. 225 da Constituição Federal e legislação infraconstitucional. (GRANZIERA, 2011, p. 71)

Elencado o conceito, função e aplicação do princípio poluidor-pagador, passaremos a analisar os Princípios da Prevenção e Precaução.

2.3.4 Princípios da Prevenção e Precaução

Antes de adentrar nos conceitos e aplicabilidade dos princípios que serão aqui tratados, importante fazer a distinção dos mesmos. Desse modo, Maria Luiza Granziera afirma:

Os vocábulos prevenção e precaução, na língua portuguesa, são sinônimos.

Todavia, a doutrina jurídica do meio ambiente optou por distinguir o sentido desses termos, consistindo o princípio da precaução em um conceito mais restritivo que o da prevenção. A precaução tende à não autorização de determinado empreendimento, se não houver certeza científica de que ele não causará no futuro um dano irreversível. A prevenção versa sobre a busca da compatibilização entre a atividade a ser licenciada e a proteção ambiental, mediante a imposição de condicionantes ao projeto.

(GRANZIERA, 2011, p. 60, grifo do autor).

Feita uma breve distinção entre o Princípio da Prevenção e Precaução, passaremos a ponderar sobre os mesmos.

Como dito anteriormente, o princípio da prevenção busca uma análise prévia dos impactos que determinada construção ou empreendimento possa gerar no meio ambiente, Granziera ainda complementa:

Com base no princípio da prevenção, havendo uma análise prévia dos impactos que um determinado empreendimento possa causar ao meio ambiente, é possível, adotando-se medidas compensatórias e mitigatórias, e mesmo alterando-se o projeto em análise, se for o caso, assegurar a sua realização, garantindo-se os benefícios econômicos dela decorrentes, sem causar danos ao meio ambiente. (GRANZIERA, 2011, p. 61)

Édis Milaré ainda complementa:

Na prática, o princípio da prevenção tem como objetivo impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente, através da imposição de medidas acautelatórias, antes da implantação de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou parcialmente poluidoras. (MILARÉ, 2014, p. 266).

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Segundo Fabiano de Melo de Oliveira, o Princípio da Prevenção se apoia no instituto do risco conhecido. Oliveira pondera:

Entende-se por risco conhecido aquele identificado por meio de pesquisas, dados e informações ambientais ou ainda porque os impactos são conhecidos em decorrência dos resultados de intervenções anteriores, por exemplo, a degradação das atividades de mineração, em que as consequências para o meio ambiente são de conhecimento geral. É a partir do risco ou perigo conhecido que se procura adotar medidas antecipatórias de mitigação dos possíveis impactos ambientais. (OLIVEIRA, 2014, p. 05)

Conceituado e apresentada a função do Princípio da Prevenção, Édis Milaré traz o seguinte exemplo acerca do mesmo:

Tome-se o caso, por exemplo, de indústria geradora de materiais particulares que pretenda instalar-se em zona industrial já saturada, cujo projeto tenha exatamente o condão de comprometer a capacidade de suporte da área. À evidência, em razão dos riscos ou impactos já de antemão conhecidos, outra não pode ser a postura do órgão de gestão ambiental que não a ele – em obediência ao princípio da prevenção – negar a pretendida licença. (MILARÉ, 2014, p. 265)

Após ponderar sobre o conceito do Princípio da Prevenção, analisaremos o Preceito da Precaução que como dito anteriormente, muito se assemelha ao da Prevenção.

Desse modo, Milaré traz o seguinte trecho a respeito da Precaução:

A invocação do princípio da precaução é uma decisão a ser tomada quando a informação científica é insuficiente, inconclusiva ou incerta e haja indicações de que os possíveis efeitos sobre o ambiente, a saúde das pessoas ou dos animais ou a proteção vegetal possam ser potencialmente perigosos e incompatíveis com o nível de proteção escolhido. (MILARÉ, 2014, p. 266).

Complementa Granziera (2011, p. 62): “[...] o princípio da precaução determina que não se licencie uma atividade, toda vez que não se tenha certeza de que ela não causará danos irreversíveis ao meio ambiente”.

Como dito acima, o Princípio da Precaução é atrelado à uma incerteza jurídica, pois não se tem uma real dimensão dos danos que determinada conduta ocasionará ao meio ambiente.

Nesses moldes, Fabiano de Melo de Oliveira traz como exemplos:

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Como exemplos da aplicabilidade do princípio da precaução, enumera-se a necessidade de sua observância no plantio de organismos geneticamente modificados (OGMs) ou ainda na gestão dos riscos decorrentes das intervenções antrópicas que contribuem para a majoração da intensidade dos efeitos do aquecimento global. (OLIVEIRA, 2014, p. 07)

Feita a distinção entre os conceitos e funções dos Princípios Fundamentais que regem o Direito Ambiental, bem como, a análise em separado dos mesmos, o próximo capítulo traz o enfoque a Pessoa Jurídica, comentando sobre sua função, classificação, capacidade, estrutura, entre outros pontos de extrema importância para o seguimento desta pesquisa.

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3 DA PESSOA JURÍDICA

Tendo um grande enfoque nesta pesquisa, é essencial conceituarmos e classificarmos a Pessoa Jurídica.

3.1 Conceito

A respeito da pessoa jurídica, Carlos Roberto Gonçalves estabelece o seguinte conceito:

A pessoa jurídica é, portanto, proveniente desse fenômeno histórico e social. Consiste num conjunto de pessoas ou de bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei, para a consecução de fins comuns. Pode-se afirmar, pois, que pessoas jurídicas são entidades a que a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeito de direitos e obrigações. A sua principal característica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem (CC, art. 50, a contratio sensu, e art. 1.024). (GONÇALVES, 2014, p. 216, grifo do autor)

Silvio Rodrigues ainda complementa:

Pessoa jurídicas, portanto, são entidades que a lei empresta personalidade, isto é, são seres que atuam na vida jurídica, com personalidade diversa da dos indivíduos que os compõem, capazes de serem sujeitos de direitos e obrigações na ordem civil. (RODRIGUES, 2003, p. 86)

Portanto, os autores acima citados nos esclarecem que a pessoa jurídica é instituto de grande importância em nosso sistema jurídico, diferenciando-se da personalidade dos indivíduos que a compõem e adquirindo assim, direitos e deveres na seara civil.

3.2 Natureza da Pessoa Jurídica

A pessoa jurídica é tema controverso no ordenamento legislativo, existindo teorias que não aceitam a pessoa jurídica como sendo sujeito de personalidade própria e em contrapartida, teorias que (em maior número) apontam como sendo sim a pessoa jurídica uma unidade que adquire individualidade própria perante o Estado, porém distinta dos indivíduos que a integram. (GONÇALVES, 2014).

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Dentro desse conceito, surge a teoria da ficção acerca da pessoa jurídica, segundo a qual, é necessário ser pessoa natural para adquirir caráter jurídico.

Segundo Paulo Nader (2012, p. 207), “A premissa de pensamento consiste na ideia de que é preciso ser pessoa natural para possuir personalidade jurídica. Este atributo é o que dá ao ser a aptidão para possuir direitos e contrair deveres. ”

Segundo Washington de Barros Monteiro e Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto:

Ela parte do princípio de que só́ o homem é capaz de ser sujeito de direitos.

Mas o ordenamento jurídico pode modificar esse princípio, ora negando capacidade ao homem (como no caso do escravo), ora a estendendo a outros entes que não o homem, como as pessoas jurídicas, que constituem seres fictícios, incapazes de vontade e representados como os incapazes. A pessoa jurídica é, assim, criação artificial da lei para exercer direitos patrimoniais; é pessoa puramente pensada, mas não realmente existente.

Só por meio de abstrações se obtém essa personalidade. (MONTEIRO;

PINTO, 2015, p. 151)

Estabelecido a natureza da pessoa jurídica segundo o olhar da teoria da ficção, à qual enfrenta grande oposição, estando em desuso atualmente, abordaremos a natureza da pessoa jurídica sob o estigma da teoria da realidade, atualmente aceita.

Dessa forma, Caio Mário da Silva Pereira afirma:

Diante desta realidade objetivamente perceptível, a ordem legal atribuiu personalidade jurídica a qualquer agrupamento suscetível de ter uma vontade própria e de defender seus próprios interesses. (PEREIRA, 2014, p.

258)

Washington de Barros Monteiro e Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto complementam:

A teoria da realidade objetiva, também chamada orgânica, parte de base diametralmente oposta à da ficção. Pessoa não é só o homem. Junto deste há entes dotados de existência real, tão real quanto a das pessoas físicas.

São as pessoas jurídicas, que constituem realidades vivas. (MONTEIRO;

PINTO, 2015, p. 152, grifo do autor)

Carlos Roberto Gonçalves por fim, explica:

A personalidade jurídica é, portanto, um atributo que o Estado defere a certas entidades havidas como merecedoras dessa benesse. O Estado não

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outorga esse benefício de maneira arbitrária, mas sim tendo em vista determinada situação, que já encontra devidamente concretizada, e desde que se observem determinados requisitos por ele estabelecidos.

(GONÇALVES, 2014, p. 220)

Apresentada a Natureza da Pessoa Jurídica, elencando os conceitos trazidos pela doutrina à respeito das Teorias aceitas acerca do Ente Jurídico aqui analisado, passaremos a discorrer sobre a capacidade e representação da pessoa jurídica.

3.3 Da Capacidade e Representação da Pessoa Jurídica

A capacidade da pessoa jurídica é limitada ao âmbito da atividade que desempenha, não podendo adentrar fora do seu campo de atuação, ou seja, somente atua dentro de sua atividade fim. (PEREIRA, 2014).

Segundo Silvio Rodrigues, a capacidade da pessoa jurídica ocorre da seguinte forma:

Agindo em nome da sociedade e tendo a pessoa jurídica existência distinta da dos seus membros, o ato do representante a vincula, enquanto o representante atuar dentro dos poderes que o instrumento constitutivo lhe confere. Ultrapassando-se tais poderes, exime-se a sociedade da responsabilidade, cabendo ao representante que exorbitou responder pelo excesso. (RODRIGUES, 2003, p. 94).

Por fim, pode-se verificar que a capacidade da pessoa jurídica se restringe ao fim que lhe foi proposto quando criada, não podendo exceder essa barreira. A seguir, passaremos a analisar a classificação das pessoas jurídicas, trazendo sua atuação perante a sociedade.

3.4 Classificação das Pessoas Jurídicas

A pessoa jurídica tem status de criação do legislador, sendo necessária para proporcionar os seus devidos fins perante a sociedade, pois seguem a ordem que hoje permeia o nosso convívio, muito por causa da sua constante da evolução do empreendedorismo. (NADER, 2012).

A pessoa jurídica, pode ser classificada de três modos: a) quanto à estrutura;

b) quanto à nacionalidade; c) quanto à função ou atuação. Iremos agora caracterizar as três classificações anteriormente mencionadas.

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3.4.1 Quanto à estrutura

A pessoa jurídica pode se dividir de duas formas quanto à estrutura:

corporações e fundações.

Corporações, segundo Carlos Roberto Gonçalves (GONÇALVES, 2014, p.

230), “A corporação caracteriza-se pelo seu aspecto eminentemente pessoal.

Constitui um conjunto de pessoas, reunidas para melhor consecução de seus objetivos”.

Gonçalves complementa ainda: “[...] os seus objetivos são voltados para o interesse e o bem-estar de seus membros, visando atingir, pois, fins internos e comuns[...]”. (GONÇALVES, 2014, p. 231)

Quanto ás fundações, percebe-se que o conceito é sucinto. Carlos Roberto Gonçalves (GONÇALVES, 2014, p. 231, grifo do autor) expõe: “As fundações constituem um acervo de bens, que recebe personalidade para realização de fins determinados. Compõem-se de dois elementos: o patrimônio e o fim [...].”

Compreende-se que a Pessoa Jurídica atua sobre um fim específico, os seus objetivos são voltados para os interesses de um grupo que busca principalmente o lucro. Passaremos agora, a analisar a Pessoa Jurídica quanto à nacionalidade.

3.4.2 Quanto à nacionalidade

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 230) “[...] divide-se em nacional e estrangeira. É nacional a sociedade organizada em conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração [...]”.

Para ser caracterizada sociedade estrangeira, a pessoa jurídica deve passar por minuciosa análise do Poder Executivo, o qual autorizará ou não o funcionamento no País. (GONÇALVES, 2014).

O renomado autor Silvio Rodrigues em sua obra, ainda complementa:

Sob o segundo aspecto — órbita de sua atuação —, as pessoas jurídicas podem ser de direito público externo (tais as várias nações, a Santa Sé, a Organização das Nações Unidas) ou interno (tais a União, os Estados, o Distrito Federal e cada um dos Municípios legalmente constituídos)97 e de direito privado. As pessoas jurídicas de direito privado vêm enumeradas no art. 44 do Código Civil. São as sociedades civis, religiosas, pias, morais,

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científicas ou literárias, as associações de utilidade pública e as fundações, as sociedades mercantis. (RODRIGUES, 2003, p. 90)

É fato que a pessoa jurídica pode abranger tanto a esfera nacional como internacional, atuando nos mais diversos fins. Para tanto, abordaremos a seguir, quanto as funções da Pessoa Jurídica.

3.4.3 Quanto às funções

Segundo Gonçalves, a pessoa jurídica também se caracteriza sob sua forma de atuação, dividindo-se em de direito público e privado: “As de direito público podem ser: de direito público externo e de direito público interno. As de direito privado são as corporações (associações, sociedade simples e empresárias) e as fundações[...]” (GONÇALVES, 2014, p. 231, grifo do autor).

Nota-se a importância das variadas classificações e funções no que tange à Pessoa Jurídica, afinal, é um dos pontos centrais da temática abordada neste trabalho de conclusão. A seguir, passaremos a ponderar a respeito da responsabilidade penal ambiental, segmento de extrema importância para adentrarmos posteriormente na responsabilidade penal da pessoa jurídica em crime ambiental.

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4. RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL

Neste capítulo, aborda-se a Responsabilidade Penal em Crime Ambiental, analisando os seus antecedentes e características que compõem esse instituto de nosso sistema jurídico.

4.1 Antecedentes

De fato, a legislação penal que vigorava em no Brasil país até a Independência, era tida como esparsa e de difícil aplicação prática. (MILARÉ, 2014).

Édis Milaré expõe seus comentários a respeito dessa fase anterior à edição da Lei 9.605/95:

Tal estado de coisas ainda permaneceria mesmo depois da Independência, com a promulgação em 1830, do primeiro Código Penal brasileiro, onde apenas em dois dispositivos despontava o interesse pelo meio ambiente, os quais puniam o corte ilegal de árvores e o dano ao patrimônio cultural.

(MILARÉ, 2014, p. 460)

Prosseguindo, Milaré ainda complementa:

Com o advento da República, por igual, nenhum progresso se experimentou com o Código Penal de então, o mesmo se dando com o estatuto de 1940, que pouca atenção deu à matéria. Vale refletir, neste último, os seguintes exemplos: 163 (dano ao patrimônio público ou particular, no qual, por óbvio, se incluía toda a sorte de atentados à fauna e flora), 165 (dano em coisa tombada), 166 (alteração de local especialmente protegido), 250, §1º, II, h (incêndio em mata ou floresta), 252 (uso de gás tóxico ou asfixiante), 259 (difusão de doença ou praga que possam causar dano à floresta), 270 e 271 (envenenamento, corrupção ou poluição de água potável) (MILARÉ, 2014, p. 461)

Fica evidente a demora pelo reconhecimento de uma maior proteção ao Meio Ambiente, no que diz respeito às práticas que venham causar danos ao mesmo.

Desse modo, Luiz Régis Prado aponta que foi acertada a decisão de conceder uma proteção penal ao Meio Ambiente. Assim:

Com tal previsão, a Carta Brasileira afastou, acertadamente, qualquer eventual dúvida quanto à indispensabilidade de uma proteção penal do ambiente. Reconhecem-se a existência e a relevância do ambiente para o homem e sua autonomia como bem jurídico, devendo para tanto o ordenamento jurídico lançar mão inclusive da pena, ainda que em ultimaratio, para garanti-lo. (PRADO, 2005, p. 80, grifo do autor)

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A tutela ambiental através de sua evolução se baseia no princípio da extrema ratio, conforme a doutrina:

Ultimaratio da tutela penal ambiental significa que esta é chamada a intervir somente nos casos em que as agressões aos valores fundamentais da sociedade alcancem o ponto do intolerável ou sejam objeto de intensa reprovação do corpo social (FERREIRA, 1995, apud MILARÉ, 2014, p. 460).

Analisando de forma clara e sucinta, a responsabilidade penal em crime ambiental tem caráter punitivo de prevenção, dessa forma, José Morato Leite complementa:

Dessa forma, a responsabilidade penal tem caráter eminentemente punitivo, visando à prevenção especial (para que não haja reincidência por parte do causador do dano) e geral (para que a punição sirva de exemplo para toda a sociedade). No direito ambiental, a tutela penal pode constituir, ainda, importante e célere mecanismo de reparação do dano ao ambiente, pois que tal providência constitui pressuposto da transação penal e da suspensão condicional do processo (arts. 27 e 28 da Lei n. 9.605/98).

(LEITE, 2015, p. 666).

Dando prosseguimento, analisa-se as características que abrangem a norma que responsabiliza a pessoa jurídica em crimes ambientais.

4.2 Norma penal em branco, Tipicidade, Conduta e Autoria

Dentre os três tipos de responsabilidade que se aplicam em nosso sistema jurídico, a responsabilidade criminal tem um viés mais subjetivo, segundo Granziera (2015, p. 771) “[...] a responsabilidade criminal pelo dano ao meio ambiente afeta diretamente a pessoa, que passa à condição de ré, o que significa uma verdadeira sanção social, além da questão jurídica.” Ainda, Milaré menciona que:

A responsabilidade criminal voltada ao Meio Ambiente, se utiliza principalmente da chamada “lei ou norma penal em branco”, a qual tipifica a conduta do ente jurídico através de uma caracterização vaga, incompleta, pois se utiliza da complementação de outros dispositivos legais. (MILARÉ, 2014).

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Deste modo, Luiz Régis Prado complementa:

Isso significa que o preceito é formulado de maneira genérica ou indeterminada, devendo ser colmatado por ato normativo (legislativo ou administrativo), em regra, de cunho extrapenal. Este último pertence, para todos os efeitos, à norma penal. Portanto, na lei em branco, o comportamento proibido vem apenas enunciado ou indicado, sendo a parte integradora elemento indispensável à conformação da tipicidade (PRADO, 2005, p. 93, grifo do autor).

Outra característica importante da Lei Penal Ambiental no que tange à responsabilidade por delitos causados ao meio ambiente, é a tipicidade. A mesma possui importante relevância na elaboração do tipo penal, pois sua estrutura é ampla e indeterminada. (MILARÉ, 2014, p. 468)

Assim, verifica-se que o legislador acaba por descartar a ocorrência do dano para a caracterização da conduta criminosa. Nas palavras de Édis Milaré, temos como exemplo:

Observa-se, em consequência disso, que, na maioria das infrações penais ambientais, o fato é ilícito porque o agente atuou sem autorização legal, sem licença ou em desacordo com as determinações legais, Vale dizer que o agente é punido não por ter praticado o fato ou exercido tal ou qual atividade considerada danosa ao meio ambiente, mas sim por não ter obtido a autorização ou licença para tanto, ou, ainda – mesmo quando devidamente habilitado, com a autorização ou licença, por não ter observado suas condicionantes e/ou as determinações legais ou regulamentares. (MILARÉ, 2014, p. 468-469)

Relacionado a tipicidade da conduta lesiva ao meio ambiente, temos também a terceira característica da Responsabilização por Crime Ambiental, que segundo a Lei 9.605/98, seria a Culpabilidade. Maria Luiza Machado Granziera, a respeito da culpabilidade, traz a seguinte passagem:

O segundo critério refere-se à culpabilidade, que determina a responsabilidade penal. Não vigora, no direito penal, a responsabilidade objetiva, aplicável no campo da responsabilidade civil. Em matéria penal,

imprescindível que se comprove o elemento subjetivo da conduta – dolo ou a culpa – do agente. (GRANZIERA, 2015, p. 775)

Deste modo, fica evidente a preocupação do legislador em evidenciar o elemento subjetivo da conduta, qual seja, o dolo ou culpa do agente. Porém, importante mencionar que a forma culposa é a exceção, e deve ser mencionada diretamente no tipo penal para a caracterização da conduta. (GRANZIERA, 2015).

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Por fim, tem-se a autoria como último importante instituto especial para a responsabilização penal por dano ambiental. Neste caso, a autoria do delito tem mão própria, aonde o tipo penal elege o autor e acaba por abranger na infração os agentes do Estado e da pessoa jurídica que, tendo ciência do ato infracional, foram omissos no sentido de impedir sua prática. (BARROS, 2008)

Corroborando a dimensão da autoria, o art. 2º da Lei nº 9.605/98 dá a seguinte redação:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. (BRASIL, 1998)

A seguir, abordaremos a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Crime Ambiental, apresentado suas características e elementos principais que compõe esse importante instituto do Direito.

4.3 Da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica em Crime Ambiental

Com a crescente evolução econômica que permeia o nosso meio, é justo que com a criação de novas empresas, sociedades, que visam o lucro, o meio ambiente seja diretamente influenciado por ações que muitas vezes venham a denegri-lo.

Com essa preocupação, o legislador, em nossa Carta Maior de 1988, inovou no sentido de consagrar a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crime ambiental, penalizando assim, condutas que venham a lesar o meio em que vivemos, afinal, é fato que um meio ambiente sadio é um direito de todos. Dessa forma, Édis Milaré complementa:

O intento legislador, como se vê, foi punir o criminoso certo e não apenas o mais humilde – ou “pé de chinelo” do jargão popular. Sim, porque, via de regra, o verdadeiro delinquente ecológico não é a pessoa física – o quitandeiro da esquina, por exemplo -, mas a pessoa jurídica que quase sempre busca o lucro como finalidade precípua, e para a qual pouco interessam os prejuízos a curto e longo prazos causados à coletividade, assim como a quem pouco se importa se a saúde da população venha a sofrer com a poluição. É o que ocorre geralmente com os grandes grupos econômicos, os imponentes conglomerados industriais, e por vezes – por que não dizer? – com o próprio Estado, tido este como um dos maiores

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poluidores por decorrência de serviços e obras públicas sem controle.

(MILARÉ, 2014, p. 473, grifo do autor)

No mesmo sentido, Wellington Pacheco Barros discorre:

Discussões doutrinárias à parte, o certo é que o dispositivo inovou no direito brasileiro na esteira do direito comparado, especialmente o europeu. É de se observar que a responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica decorre da circunstância de que o ato de seu representante legal ou contratual ou do órgão colegiado, de alguma forma, resulte-lhe em interesse ou benefício. Isso significa que nem todo ato do representante da pessoa jurídica que constitua crime é, por vinculação, também crime da pessoa jurídica. Apenas aquele que, comprovadamente resultou em seu interesse ou lhe trouxe benefício é que será criminalizado. (BARROS, 2008, p. 291)

A criação do instituto da responsabilização penal da pessoa jurídica é fato novo e certamente de grande inconformismo por parte da doutrina penal clássica, pois, acabou por romper com os princípios que anteriormente englobava em suas sanções. Dessa forma, Celso Antônio Pacheco Fiorillo comenta:

Muita controvérsia foi trazida também. Ademais deve ser ressaltado que a responsabilidade penal da pessoa jurídica não é aceita de forma pacífica.

Pondera-se que não há como conceber o crime sem o substractum humano. Na verdade, o grande inconformismo da doutrina penal clássica reside na inexistência da conduta humana, porquanto esta é da essência do crime. Dessa forma, para aqueles que não admitem crime sem conduta humana, torna-se inconcebível que a pessoa jurídica possa cometê-lo.

(FIORILLO, 2014, p. 155, grifo do autor).

A responsabilização criminal da pessoa jurídica se baseia principalmente no ramo do Direito Penal, o qual preceitua que a pessoa jurídica só poderá ser responsabilizada criminalmente, se do mesmo modo a pessoa física tiver sido sancionada, ou seja, é a aplicação da Teoria da Dupla Imputação.

Paulo Afonso Leme Machado discorre:

O art. 225, § 3º, da CF não se choca com o art. 5º, XLV, que diz: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”. A Constituição proíbe que a família de um condenado – pessoa física – possa ser condenada somente porque um de seus membros sofreu uma sanção ou que alguém se apresente para cumprir pena em algum lugar de outrem. Contudo, o mandamento constitucional não excluiu da condenação penal uma pessoa que seja arrimo de família. A sanção penal poderá ter reflexos extra individuais legítimos, pois não se exige que o condenado seja uma ilha, isolado de todo relacionamento. (MACHADO, 2014, p. 836)

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Édis Milaré complementa:

A responsabilidade da pessoa jurídica, como está escrito no parágrafo único do referido art. 3.º, é óbvio, não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato, na medida em que a empresa, por si mesma, não comete crimes. Disso decorre que é impossível conceber a responsabilização do ente moral desvinculada da autuação de uma pessoa física, que atua com elemento subjetivo próprio, seja a título de dolo ou culpa. (MILARÉ, 2014, p. 473)

Fica evidente o condão do Código Penal na seara Ambiental, trazendo a impossibilidade da responsabilização do ente jurídico e sua desvinculação da atuação de uma pessoa física, que atua com um fim. Lucas Daniel Ferreira de Souza, em seu artigo “Elementos que envolvem os crimes ambientais”, a respeito da vinculação do ente moral com a pessoa física, traz a seguinte passagem:

Com relação às pessoas jurídicas, temos que levar em conta sua existência como ente capaz de adquirir direitos e contrair obrigações. Dessa forma, satisfeitos os requisitos legais, terão personalidade e vontade própria, sendo assim imputáveis penalmente toda vez que incorrerem em danos contra o meio ambiente. (SOUZA, 2014, p. 7)

A Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998) em concomitância com o Código Penal é clara no sentido de afirmar que para haver a responsabilização penal da pessoa jurídica é necessário que o ato criminoso seja determinado pelo representante da Empresa ou pelo seu colegiado, já que são estes quem têm poderes para falarem nome da empresa. Além do mais, o ato criminoso deve ter sido praticado no interesse ou benefício da entidade (se o interesse for exclusivo da pessoa física, por exemplo, não poderá haver a responsabilidade penal da PJ).

Deste modo, o art. 3º da referida lei traz a seguinte redação:

Art. 3.º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. (BRASIL, 1998)

Assim, segundo Nestor Eduardo Araruna Santiago, Paulo Cesar Correa Borges e Carlos Alberto Menezes, resta claro o objetivo da referida norma:

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Nesse sentido, a inovação da lei 9605/98 foi instituir a responsabilidade penal às pessoas jurídicas, quando praticarem crimes contra o meio ambiente. O legislador, dentro deste assunto, optou pelo sistema da Responsabilidade Penal Cumulativa, onde a responsabilidade do ser coletivo não exclui a de seus diretores e administradores, considerando o nexo entre os fatos praticados pela pessoa jurídica e as vantagens que deles podem decorrer às pessoas físicas. Neste ponto, importante ressaltar que a responsabilidade penal atribuída às pessoas jurídicas, não afasta a responsabilidade da pessoa física[...] (SANTIAGO, BORGES, MENEZES, 2015, p. 12)

Porém, importante frisar que a lei não exclui a responsabilidade das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato. Assim, Paulo Affonso Leme Machado complementa:

A lei não quis deixar impune a pessoa física autora, coautora ou partícipe.

Ainda que sejam apuradas num mesmo processo penal, as responsabilidades são diferentes e poderão acontecer absolvição ou a condenação separadamente ou em conjunto. (MACHADO, 2014, p. 843)

Estabelecido os conceitos e características que tratam a respeito da Responsabilidade da Pessoa Jurídica por Crime Ambiental, abordaremos as penas aplicáveis às mesmas.

4.4 Das Penas Aplicáveis às Pessoa Jurídicas

A Lei 9.605/1998 (BRASIL, 1998) dispõe sobre as penas aplicáveis às pessoas jurídicas, que se subdividem em três, quais sejam: pena de multa, restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade.

4.4.1 Pena de multa

Segundo Milaré (2014, p. 485), “A pena de multa cominada à pessoa jurídica não ganhou, como era de esperar, disciplina própria, aplicando-se, portanto, a regra comum estampada no art. 18 da Lei 9.605/ 1998. ”

Complementando as palavras de Milaré, a redação do art. 18 da Lei 9.605/1998 assim se apresenta:

Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida. (BRASIL, 1998)

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