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5.1.6 Da Suspensão e Interrupção do Prazo de Prescrição em Direito Penal

Uma vez que tal matéria não se refere directamente com aquele que pretende ser o objecto do nosso excurso, não obstante poder oferecer um contributo importante ao mesmo. Limitados que estamos à exiguidade dos limites naturais impostos a todas as dissertações, optamos apenas por colocar o enfoque no que entendemos ser importante para a ideia a que nos propomos desenvolver.

87Segundo a opinião de Sérgio Vasques “ uma lei fiscal retractiva afigurar-se á sempre á partida inconstitucional (…) Mas isto não

obsta a que num segundo momento, concluamos que a segurança jurídica deve ser sacrificada a outros valores constitucionais que no caso concreto se mostrem mais relevantes, e que em circunstâncias excepcionais se considere legítima a Lei Fiscal retroactiva, como pode acontecer em caso de guerra (…) ou grave crise financeira”. Cfr. Vasques, Sérgio, in “Manual de Direito Fiscal 2011” Almedina Editora p297.

88 Sobre o tema, cfr. Acórdão do TCA Sul de 18 de Março de 2003,processo n.º 07361/02 e de 04 Julho de 2006, processo n.º

02598/99.

89 Cfr. Acórdãos do STA de 30 de Janeiro de 2001 processo n.º 025498, de 12 de Fevereiro de 2003 processo n.º 02003/02, e 29 de

Junho de 2004 processo n.º 01194/03.

90 Entendimento semelhante a respeito da aplicabilidade deste Principio Penal às normas fiscais de sanção (RGIT) preconiza Manuel

Henrique de Freitas Pereira, in “Fiscalidade”, 3ª edição Editora Almedina 2009 p200, na opinião do mesmo “No que respeita às

normas fiscais de sanção, nos termos do art.º 29º da CRP e do art.º 2 do Cód. Penal, estas aplicar-se-ão retroactivamente quando essa aplicação seja mais favorável aos infractores”.

A existência de factos com virtualidade suspensiva do prazo de prescrição do procedimento, encontra-se prevista no artigo 120° do C.P. Para obstar à imprescritibilidade, o legislador criou nos n° 2, 3 e 4 do art.º 121.º, prazos máximos de duração da suspensão da prescrição, impondo que a sustação do procedimento não poderá ultrapassar os prazos referenciados no artigo. Somos assim da opinião que tal limitação para além de fazer todo o sentido em Direito Penal, mais o faria em sede de Direito Fiscal, tendo em devida conta a disparidade de valores com que os dois ordenamentos contendem (Privação da liberdade, Punição Criminal V.S Direitos de Crédito), porquanto a não inclusão de um prazo máximo conduz a situações que colocam irremediavelmente em causa fundamentos do instituto da prescrição, beneficiando apenas a morosidade da Justiça, em latu sensu.

Já no que respeita aos factos Interruptivos91 em sede Penal, previstos que estão

no art.º 121ºdo C.P., justificam a sua capacidade para interromper o prazo de prescrição pelo facto de serem uma forma de oposição à inacção do Estado, demonstrando-se um interesse real na resolução do crime.

Menção especial merece a disposição conjugada dos n° 2 e 3 do art.º 121.º, no qual resulta que após o acto interruptivo inicia-se novo prazo prescricional para o

agente, com a ressalva de um limite máximo de tempo de prescrição92.

Destarte, todos os doutrinadores modernos, são unívocos a apontar a necessidade de limites máximos, findos os quais o processo penal já não pode ter lugar. Foi nessa senda que o legislador verteu no n.º 3 do art.º 121.º do Cód. Penal o supra explicitado limite máximo do prazo de prescrição. Deste modo, como se conclui, a lei marca um prazo limite, findo o qual o procedimento prescreverá independentemente de todas as interrupções que possam ter lugar.

Apesar de existir uma necessidade de interrupção da prescrição do procedimento criminal, é com grado que se constata a existência de um limite máximo de prorrogação previsto no n°3 do artigo 121° do Cód. Penal. Na verdade a possibilidade de punição não deve ser ilimitada no tempo, caso o fosse, eterna seria a possibilidade de sanção. Ora após o decurso de um período de tempo maior ou menor consoante o crime sub

91 Segundo o entendimento vertido no entender de Figueiredo Dias, "são actos que possuem um relevo e um significado, que dão

claramente a entender que o Estado como interprete das exigências comunitárias, continua interessado em efectivar no caso o seu ius puniendi" cfr, Cfr. Jorge Figueiredo Dias, “in Direito Penal Português, Parte Geral II, As consequências jurídicas do Crime”, Coimbra Editora, 2009, p 709 e 1146.

92 O referido limite máximo do tempo de prescrição nas palavras de Figueiredo Dias justifica-se com " a pretensão de evitar o

efeito politico-criminal tão indesejado, constitui pois a teleologia que preside á norma do artigo 121° n° 3, segundo a qual a prescrição do procedimento criminal, tem sempre lugar quando desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo normal de prescrição acrescido de metade. Quando por força de disposição especial, o prazo de prescrição for inferior a dois anos, o limite máximo da prescrição corresponde ao dobro desse prazo".

júdice, a intensidade com que a Sociedade exige a punição, reparação do mesmo vai se extinguindo, podendo ao invés a insistência nesta acarretar mais inconvenientes do que proveitos para a colectividade.

5.1.7 – Da Conclusão.

Nasce aqui a ratio, da previsão do limite máximo do prazo de prescrição, introduzida no nosso ordenamento jurídico pelo código Penal de 1982, actualmente vertido no n.º 3

do art.º 121, um garante à impossibilidade da imprescritibilidade93 (eventualmente

gerada com a profusão e generalização da previsão de causas interruptivas), o que se padece com os princípios garantísticos Portugueses inerentes a um Estado de Direito Democrático, e por cuja defesa pugnaremos em sede Fiscal, infra.

93 A este respeito veja-se o Acórdão do pleno das Secções Criminais do STJ de 08 de Março de 2001, n.º 6/2001; DR I – A série 30

de Março do mesmo ano, nos termos do qual a regra do n.º 3 do art.º 121º do Cód. Penal é aplicável subsidiariamente, nos termos do art.º 32º do RGCO, ao regime prescricional do procedimento contra-ordenacional.

VI – Da Caducidade e Prescrição no Direito Fiscal