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CAPÍTULO 3 – CONHECIMENTOS PROVENIENTES DAS ESCUTAS

3.3 Dos conhecimentos fortuitos

3.3.2 Da valoração dos conhecimentos fortuitos

3.3.2.2 Da valoração condicional

Tese defendida por alguns autores200 e por alguma jurisprudência, a admissão dos conhecimentos fortuitos em processos autónomos, provenientes de escutas telefónicas nos

200 Cfr. ANDRADE, Manuel da Costa “Sobre as proibições de prova em processo penal”. Coimbra

Editora, Coimbra, 2006; SILVA, Germano Marques da, Curso de Processo Penal, vol. II, Editora Verbo, Lisboa, 2008.

termos dos artigos 187.º e 188.º do CPP, sofreu alterações com a reforma de 2007, ou seja, após esta alteração legislativa admite-se a valoração de conhecimentos fortuitos em situações onde se verifique o preenchimento dos pressupostos das normas atinentes às escutas telefónicas.

Assumindo um papel crucial na questão da produção de prova, a defesa da valoração dos conhecimentos fortuitos não pode passar ao lado da actividade policial, isto é, ter em atenção que toda esta problemática se manifesta ao nível do labor dos OPC‟s, como resulta do relato de JOSÉ BRAZ201 que, de forma peremptória assume que os

conhecimentos fortuitos interceptados numa escuta telefónica, passam a poder ser valorados como prova noutras investigações e noutros inquéritos, apenas e só, quando tiverem como fonte, uma das categorias de pessoas referidas no artigo 187.º, nº 4 do CPP, e estejam relacionados com um dos crimes de catálogo. Para tal, se o conhecimento fortuito não estiver relacionado com um dos crime de catálogo, deve ser comunicado ao MP, nos termos do artigo 248.º do CPP, para efeitos do respectivo procedimento, não podendo, os factos por ele revelados serem valorados como prova.

Na sequência da Unidade de Missão para a Reforma Penal202, PAULO DE SOUSA

MENDES, inspirado no regime jurídico germânico manifestou concordância com a utilização de conhecimentos fortuitos para crimes de catálogo, mesmo que se reportem a terceiros. E, chega a ir mais longe quando refere que seria de ponderar a utilização de conhecimentos fortuitos que revelarem uma conexão com o crime que originou a escuta.

No que diz respeito à valoração das informações adversas que correspondam ou estejam em conexão com um crime de catálogo o STF (aderimos totalmente a este entendimento), admitiu a valoração dos conhecimentos fortuitos, desde que os mesmos dissessem respeito a um crime que fosse passível de fundamentar a execução de uma escuta telefónica. Não podemos deixar de admitir que a valoração dos conhecimentos fortuitos se converteu num dos tópicos aceite nos tribunais.

Como já foi mencionado previamente, a natureza catalogar203 das informações recolhidas fortuitamente apresentava-se como primordial para que pudesse existir a

201 Vide, Anexo A, entrevista realizada ao Sr. José Braz. 202

Acta n.º 18, realizada em 24 de Abril de 2006, no Ministério da Justiça, (consultado no sítio: www.mj.gov.pt).

203 Para P

AULO PINTO DE ALBUQUERQUE,os conhecimentos fortuitos só poderão ser aproveitados para processos instaurados ou a instaurar, conhecimentos que se destinem a fazer prova de um crime de

valoração, exigindo assim um critério de proporcionalidade na violação dos direitos fundamentais do visado.

É portanto, necessário que as informações adversas que surjam sejam relativas a um crime que permita a aplicação do meio de obtenção de prova, ou seja, que seja um dos ilícitos estipulados no catálogo de crimes do artigo 187.º, n.º 1 do CPP. Para além disso, é essencial que os conhecimentos fortuitos se reportem aos sujeitos prescritos no n.º 4 do artigo 187.º do CPP, havendo assim uma preocupação do legislador em delimitar as pessoas a quem se pode ressalvar informações que se relacionem com outro crime.

Por fim, é relevante salientar que a valoração dos conhecimentos fortuitos deve preencher o requisito da necessidade204, (para M. COSTA ANDRADE, assume também

importância a questão da finalidade entre os crimes em causa), e interesse para a prova e/ou para a descoberta da verdade na prossecução do processo para onde são transportados, não podendo a valoração dos conhecimentos fortuitos ser efectuada acriticamente.

Quanto ao interesse dos conhecimentos adversos para a descoberta da verdade, sobretudo no contexto da valoração dos mesmos num processo de investigação, deve-se sempre considerar o juízo de proporcionalidade205, que segundo MANUEL DA COSTA

ANDRADE, não deve apenas coordenar o âmbito das escutas telefónicas, mas também a cuidada observação sobre os conhecimentos fortuitos e sua valoração.

No nosso entendimento, a discussão em causa assenta na questão da proporcionalidade que, aqui é invocada face à valoração dos conhecimentos fortuitos, estando directamente ligada à protecção dos direitos fundamentais do cidadão. Assim, considera-se que sendo as escutas um meio de obtenção de prova extremamente abusivo quanto aos direitos dos cidadãos, os conhecimentos adversos acompanham esta danosidade, daí que é defendida apenas a admissibilidade dos mesmos quando se referem a ilícitos catalogares, havendo deste modo, um nexo de proporcionalidade para a descoberta da verdade, e perfazendo assim a valoração dos conhecimentos fortuitos a um juízo hipotético de intromissão, fazendo incidir sobre eles aquela ideia de estado de necessidade investigatório206.

catálogo em relação a pessoa mencionada no elenco de alvos. (ALBUQUERQUE,Paulo Pinto de,Comentário do Código de…, 2009, op. cit., p. 511.)

204 ANDRADE, Manuel da Costa, «Bruscamente no Verão…, 2009, op. cit. p. 177. 205 Ibidem.

Quando são obtidos conhecimentos fortuitos sobre um crime não catalogado, surgem várias interrogações quanto ao seu tratamento. No entanto, de acordo com aquilo que temos defendido, não podemos negar o facto de que, a obrigatoriedade do crime de catálogo na valoração dos conhecimentos fortuitos apresenta-se como uma condição necessária à sua valoração. Entendemos que a valoração dos conhecimentos fortuitos está sujeita, não só a esse pressuposto, mas sim ao cumprimento integral no disposto nos artigos 187.º e 188.º do CPP.

3.4 PROBLEMÁTICA DOS CONHECIMENTOS FORTUITOS NA