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4 O MACROCAMPO ESPORTE E LAZER E SUA RELAÇÃO COM A

5.3 Levantamento de dados nas escolas

5.3.2 Caracterização da Escola Estadual 2

5.3.2.1 Dados da Entrevista com a Equipe Diretiva da Escola 2

De acordo com entrevista realizada na Escola 2, - Entrevistado 2A - sua gestão iniciou no ano de 2009.

A escola não contava com outro programa no contraturno antes do PME que iniciou em 2010, desenvolvia apenas: “[...] os programas municipais, o terceiro tempo, esses da Fundação do Esporte, mas, em nível federal e estadual, não” (Entrevistado 2A, 2015). Os procedimentos iniciais para a adesão ao PME, como a escolha e elaboração das propostas de atividades se iniciaram no ano anterior à adesão, conforme nos relata o entrevistado:

O programa chegou com um e-mail da SEED passado ao Núcleo e o Núcleo passou para as escolas, dizendo para os professores que tivessem interesse em pegar aulas no contraturno que desenvolvessem um projeto na sua área. Então, foi dada essa

35 Dados encontrados no site oficial da Secretaria Estadual de Educação

– Consulta Escolas. Disponível em: http://www.consultaescolas.pr.gov.br/consultaescolas/f/fcls/escola/visao Acesso em 30 nov. 2015

opção. Na época, eu estava como professor e eu lembro bem que optei por fazer um projeto de futsal, porque sou da área de Educação Física, assim como tinha uma outra professora que optou pelo xadrez e a professora de artes optou pela escultura. Também tínhamos um professor que se interessou pela informática. E teve também o projeto de leitura, este foi determinado que deveria ter, que era obrigatório, e foi desenvolvido pela professora Terezinha na época. Nós todos éramos concursados, éramos QPM. Então, foi dada na época essa possibilidade para o professor QPM pegar no contraturno (Entrevistado 2A, 2015).

O Entrevistado 2A comentou que, para a adesão ao PME em 2009, foi necessário escolher e elaborar as propostas pedagógicas das atividades. A direção e a equipe pedagógica perguntaram ao corpo docente da escola “[...] quem tinha interesse, porque era bom para escola, que poderia melhorar [...]” e, dentre as opções de atividades, “[...] eu lembro que na época tinha a horta, a fanfarra, ah, tinha uma série de projetos, eram bem amplas as ofertas, até robótica tinha” (Entrevistado 2A, 2015). Então, o processo de escolha das atividades no primeiro momento foi livre, cada professor interessado em atuar no PME escolheu, dentre as diversas opções de atividades sugeridas, aquela com que tivesse maior afinidade e pela qual revelasse maior interesse. Percebe-se que o Entrevistado 2A refere-se à amplitude de atividades que podem ser desenvolvidas, segundo o documento Manual Operacional de 2010.

As atividades selecionadas foram:

Aqui, na primeira vez, foi futsal, o xadrez, a informática. Na parte de artes, foi a escultura, e o letramento, que tinha que ter, uma opção imposta, que é obrigatória, porque se você deixasse livre, com certeza os alunos iram na informática e no futsal (Entrevistado 2A, 2015).

Como foi comentado pelo entrevistado, das cinco atividades iniciais, hoje a escola desenvolve apenas quatro: “Atualmente, nós só ficamos sem o xadrez, o xadrez não tem mais hoje” (Entrevistado 2A, 2015). Pelo relato, fica claro que a escola passou a ofertar: futsal, informática, escultura e letramento. Porém, como foi informado, algumas atividades tiveram sua proposta pedagógica e nomenclatura alteradas, pois, de acordo com o diretor,

[...] a cada dois anos você pode pedir outras oficinas, porque... vamos dizer assim, para sair da “mesmice”. Ah, todo ano é aquilo... então até para tornar um incentivo para molecada fazer outra coisa, e aí o futsal passou a ser desporto, então já pega o vôlei, o basquete, o handebol, o atletismo, então já mudou. A arte, que era a escultura,

também passou a ter outra nomenclatura, e também poderia ser pintura, poderia ser outros tipos de trabalhos, outras técnicas (Entrevistado 2A, 2015).

Dentre as atividades ofertadas aos alunos participantes do PME na escola, algumas contam com a preferência dos mesmos, como afirmou o Entrevistado 2A: “Eles gostam bastante da informática, que é atrativo para eles, e do futsal [...]”. E complementa:

[..] o Mais Educação tem que ser algo diferente na escola, tem que ser um momento que seja prazeroso para o aluno, não pode ser imposto e, por isso, é importante o profissional que vai trabalhar, para motivar esses alunos, para que eles fiquem na escola, para que eles aprendam. Então, o objetivo é fazer com que esses alunos tenham a possibilidade de vivenciar coisas boas dentro da escola, dentro daquilo que eles gostam e aí, paralelamente, você vai cobrando que ele tenha respeito, que ele estude nas outras disciplinas (Entrevistado 2A, 2015).

O Entrevistado 2A nos fala também sobre a adequação da infraestrutura e de recursos humanos para a implantação do PME. Observamos que houve adaptação do espaço físico, assim como foi verificado na Escola 1A. Este dado demonstra que o PME requer uma estrutura para ser desenvolvido. Vejamos o relato abaixo:

Olha, ocorreu mudança do projeto inicial, nem toda coisa chegou aqui na escola, se você perguntar sobre a parte financeira, veio recurso, a escola se equipou para atender os alunos, mas a parte física a gente foi adaptando. Hoje nós temos um espaço que você pode observar, nós temos um espaço adequado para todas as atividades. A questão de quem está trabalhando com isso, do profissional que vai trabalhar também. No primeiro momento iriam mandar uma funcionária para fazer a refeição, específica para isso, mas, como a escola vai se adaptando dento da realidade, o pessoal aqui da escola foi sendo absorvido. Então, se eu não tenho um funcionário exatamente para isso, o outro profissional vai dar uma força para que o projeto funcione. Se eu não tenho quem cuida deles aí na hora de intervalo, que eles ficam o dia todo, então, na hora do almoço, que tem aquele tempo que a escola é fechada, alguém vai estar cuidando desses alunos e, se eu não tenho espaço adequado para eles na hora do almoço, eu vou ter que adaptar. Então, todo mundo foi percebendo os resultados do projeto para as crianças aqui da comunidade e viu que valia a pena mesmo, continuar, se adaptar. Acréscimo de funcionário não teve, eram os funcionários que já estavam no primeiro momento do programa, mas, no começo, teve dificuldade para vir a pessoa e, também, de repente, vinha uma pessoa que não tinha o perfil para trabalhar (Entrevistado 2A, 2015).

Dos problemas relatados, ficam visíveis a falta de recursos humanos e o empenho da escola e de seus funcionários para dar conta das demandas do Programa.

Ao aderir ao PME, foram adquiridos alguns materiais:

O que a gente conseguiu fazer foi, por exemplo: aquisição de computador, televisão, uma caixa de som e material. Não posso falar que falta material, porque tem bastante material para dentro das nossas oficinas, pelo menos o que os professores pedem tem, não tem esse tipo de problema não, vem verba, sim (Entrevistado 2A, 2015).

Com relação à capacitação ou ao plano de formação para os envolvidos com o PME, o entrevistado afirma que, no início, aconteciam algumas reuniões pontuais para esclarecer sobre o Programa, porém cursos de capacitação não foram ministrados. Este dado pode ser visto na Escola 1A. Segundo o Entrevistado 2A: “O que houve foram algumas reuniões explicando o que era o programa. Quando foi implantado, foi explicado para os diretores, depois para os pedagogos que iam tomar conta. Os professores também tiveram esse momento” (Entrevistado 2A, 2015).

Percebemos que essas reuniões não tinham um cunho pedagógico, mas sim técnico. Pois tratavam de encaminhar os procedimentos que deveriam ser adotados e executados para a possível adesão ao PME. Atualmente, esses procedimentos já são conhecidos, dispensando maiores explicações por parte dos órgãos coordenadores do PME (NRE e SEED): “Houve reuniões pontuais e agora que a gente conhece o programa, que ele já está familiarizado na escola, que a gente já sabe como funciona, a gente mesmo explica para o profissional que chega aqui, a gente mesmo conversa” (Entrevistado 2A, 2015).

As orientações do PME esclarecem que as atividades podem ser ministradas por monitores:

O trabalho de monitoria deverá ser desempenhado, preferencialmente, por estudantes universitários de formação específica nas áreas de desenvolvimento das atividades ou pessoas da comunidade com habilidades apropriadas, como, por exemplo, instrutor de judô, mestre de capoeira, contador de histórias, agricultor para horta escolar, etc. Além disso, poderão desempenhar a função de monitoria, de acordo com suas competências, saberes e habilidades, estudantes da EJA e estudantes do ensino médio. Recomenda-se a não utilização de professores da própria escola para atuarem como monitores, quando isso significar ressarcimento

de despesas de transporte e alimentação com recursos do FNDE (BRASIL, 2010, p. 13).

Porém, no Estado do Paraná, as atividades são preferencialmente ministradas por professores vinculados ao Estado, sejam eles QPM ou PSS. Mas, em alguns casos, se faz necessária a atuação de monitores. Frente a isto, perguntamos ao Entrevistado 2A sobre os monitores e ele disse:

Não, eu não tenho monitores, tenho professores. Não tive monitor, pois nunca veio uma pessoa com o perfil. O pagamento para o monitor não é atrativo, e aí foi sugerido para que se colocassem pessoas do ensino médio para estar acompanhando, mas eu não senti segurança, e, conversando com as pedagogas, achamos que poderíamos estar até expondo essas crianças, e aí a escola optou por não ter esse monitor (Entrevistado 2A, 2015).

Com relação ao ressarcimento com as despesas de transporte e alimentação dos monitores responsáveis pelo desenvolvimento das atividades no PME, o Manual Operacional 2014 traz a seguinte informação: “O ressarcimento do monitor deverá ser calculado de acordo com o número de turmas, sendo R$ 80,00 (oitenta reais) para as escolas urbanas e R$ 120,00 (cento e vinte reais) para as escolas do campo” (BRASIL, 2014, p. 18).

Neste caso, vale a observação de que o monitor, atuando nestas condições, agrava a situação de improviso no desenvolvimento do PME e retira a necessidade do professor.

O NRE de Londrina acompanhou não só o processo de implantação, como também a implementação do PME ao longo dos anos. E sobre isto, o entrevistado expressa que o responsável pelo PME no NRE sempre atendeu às solicitações, especialmente no que se refere ao esclarecimento das dúvidas, “principalmente na época da implantação, sempre fomos bem atendidos. Foi uma coisa nova, no começo, para todo mundo, lógico, não sabíamos se iria funcionar, mas hoje acho que está legal assim” (Entrevistado 2A, 2015).

A respeito da importância das atividades do Macrocampo Esporte e Lazer no processo de implementação do PME, o entrevistado comenta que: “Ele é esporte, e a molecada precisa de movimento, o bairro aqui, de repente, não tem um lugar adequado para que eles pratiquem uma atividade” (Entrevistado 2A, 2015). É perceptível que, ao mencionar a preocupação com os alunos, o Entrevistado 2A deixa aparente a ausência de atendimento referente ao esporte e lazer, direito de

crianças e adolescentes, segundo o ECA – Lei nº 8069/90. Mostra que a escola, no neoliberalismo, tornou-se um local para resolução de questões sociais que o Estado abandonou. Esta atenção às atividades conta com trabalhadores da educação que, para manter o Programa, intensificam seu fazer. Além disso, estagiários e demais voluntários colaboram com sua execução. O Entrevistado 2A diz ser importante a forma como o professor direciona a atividade:

Vai muito também da pessoa, do profissional que está trabalhando com essas crianças, esses jovens, pois eu tenho alunos de até 17 anos aqui, e é importante que eles estejam inseridos nesse programa e tenham possibilidade de aprender algo que vai acrescentar na vida deles (Entrevistado 2A, 2015).

Observa-se que a preocupação é com o aprendizado num sentido geral, mas fica obscura a preocupação com o fundamento da Educação Integral.

Com relação aos critérios de seleção dos alunos para participarem do PME, a escola seguiu o recomendado nos documentos orientadores, pois, como confirmou o Entrevistado 2A,

[...] a preferência foi para esse aluno que a gente chama de risco, mais vulnerável, então, nós temos casos aqui de crianças que chegaram procurando a matricula e a gente falou: vamos pôr no período da manhã, porque daí ele fica o dia todo, conversamos com a família e a gente percebeu que precisava cuidar dessa criança. Então nós temos alguns casos assim e eu entendo, que o Mais

Educação é para guardar essa criança, para que eles tenham uma

ocupação durante o dia, porque nossa realidade é que muitos deles ficam na rua, porque os pais trabalham. Então, estando na escola, ele está tendo a possibilidade de aprender coisas novas, está sendo bem cuidado na medida do possível, tendo uma boa alimentação. Então é por isso que eu falei, eu acredito no programa e acho que, para nossa escola e para nossa região, que é uma região periférica, é muito importante esse programa estar dentro das escolas (Entrevistado 2A, 2015 – grifo nosso).

O foco na vulnerabilidade é objetivo do PME e é destacado pelo Entrevistado 2A, que valoriza a ação da escola enquanto instituição responsável pelo cuidado dos alunos, conforme se percebe nos grifos de sua fala.

Sobre o recurso financeiro destinado à alimentação dos alunos do PME, existe uma parceria entre o governo estadual e o governo federal, como nos esclarece o Entrevistado 2A, que também comenta que a alimentação “[...] é de boa qualidade, é um dos pontos altos do programa” (Entrevistado 2A, 2015). Esta

questão da alimentação também se verifica na fala do Entrevistado 1A da Escola 1, o que ratifica o dado.

As parcerias são indicadas no Programa de Governo de Beto Richa conforme já mencionado em capítulos anteriores. Destaca-se, também, no atendimento à vulnerabilidade, uma perspectiva de apaziguamento de problemas sociais, como a falta de espaços públicos que ofertem atividades esportivas, culturais e de lazer. No excerto do Entrevistado 2A, fica visível a importância da alimentação no PME. Não se desconsidera aqui que a escola precisa prover os alunos de merenda ou, no caso do período integral, de refeição, porém a escola precisa também se lembrar de sua especificidade e, ao deixar esta perspectiva em segundo plano, configura-se o viés assistencialista da escola, conforme já destacado a partir das análises de Da Silva e Silva (2014).

A complementação de dados do PME nesta escola será desenvolvida com os elementos apresentados na entrevista com mais um membro da equipe pedagógica, como veremos a seguir.