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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO  Nome fictício – Gabriel

• Sexo: masculino

• 50 anos

• Casado

• Comerciante

• Método da tentativa de suicídio: X 61 (ingestão de cocaína+ álcool + medicamentos)

• Número de tentativas de suicídio : 02

PRIMEIRO CONTATO: 1 SEMANA

TELEFONEMA

Eu pergunto o que aconteceu com ele e ele diz que foi ingestão de cocaína, álcool e medicamento. Ele falou que já houve outra situação de tentar o suicídio, mas não dessa forma e diz que é sempre quando usou drogas. Ele dizia-se assustado com o que aconteceu e percebeu que a coisa chegou a um ponto muito delicado. Eu conversei com ele sobre eventuais prejuízos que tudo isso possa gerar em sua vida e ele concordou, disse que vai sim procurar ajuda. Ele disse que estava na dúvida se voltaria ao CAPS por achar que lá não é seu lugar, mas com nossa conversa ele disse que vai sim. Eu falei sobre o fato de ser um local onde estão os profissionais que podem ajudá-lo e que este é o mais importante. Falei que o incômodo em ver as outras pessoas talvez seja menor se ele pensar nos prejuízos que esta situação de dependência pode trazer para ele. Ele disse que inclusive não tem saído de casa sozinho e percebeu que de fato tem sentido falta da droga, o que lhe mostra sua dependência. Combinei de ligar outras vezes e ele concordou.

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SEGUNDO CONTATO: 2 SEMANAS

TELEFONEMA

Ele diz que realmente não consegue ir ao CAPS, que embora tenha sido muito bem atendido que ele acha que aquele ambiente é muito difícil e que no dia que falou comigo ele até saiu para ir ao CAPS, mas seu carro quebrou e ele não pode continuar. Disse que embora saiba que precisa de ajuda que ele está bem, que ficou surpreso, pois muita gente foi visitá-lo, sua ex-mulher, sua ex-sogra, as pessoas da congregação da igreja evangélica e que ficou surpreso porque achava que se ele morresse ninguém iria ao enterro. Ele diz que sabe que não pode beber e que outro dia estava com muita vontade e fumou um cigarro escondido, disso passou para um conhaque escondido e que quando percebeu já foi um monte; estava dirigindo e sabia que tinha que ir embora, mas falou que é como um desenho animado, tem um anjinho e um demônio falando ao lado dele. Eu perguntei se ele ia lidar sozinho com o demônio e ele riu e disse que sabe que precisa de ajuda, mas que no CAPS não dá mesmo, então ele não sabia onde procurar. Eu falei do posto e ele me disse que achava que o CAPS é que o encaminharia, eu disse que não, que independente do CAPS ele pode ir ao posto e pedir atendimento, explicar sua situação, falar que está muito difícil para ele freqüentar o CAPS, enfim conversar no posto e tentar conseguir o atendimento. Ele ficou feliz com a possibilidade e disse que vai lá. Eu disse que se ele me autorizasse eu poderia passar os dados dele para o posto e ele disse que até me pedia para que eu fizesse isso. Eu liguei no posto, falei com a Maria e passei o fax, além de dar os dados pelo telefone. Ele falou que não passou por outra tentativa de suicídio neste período e que também não pensou nisso, mas sabe que se bebe ele perde o controle. Conversei com ele sobre esse aspecto que está fora de seu controle e que parece ser algo que não depende só da vontade dele, mas que também requer tratamento médico. Ele concordou, me perguntou quando devia ir ao posto e eu falei que hoje mesmo, que ele precisaria ir lá saber sobre como é feito o agendamento, expliquei que tem fila, que talvez tenha que esperar

81 um pouco por uma vaga, mas que o quanto antes ele for tentar melhor será. Combinei que passaria os dados dele e que volto a ligar em agosto.

TERCEIRO CONTATO: 1 MÊS.

TELEFONEMA

Ele diz que já esteve no posto de saúde três vezes, mas ainda não conseguiu ser atendido. Disse que foi uma vez não conseguiu marcar, depois o posto ligou, marcaram, ele chegou 30 minutos antes, mas aí percebeu que tinha ido um dia antes do seu. Voltou no dia seguinte, mas o posto ligou prá ele enquanto ele estava lá dizendo que sua consulta havia sido adiada para 11/08. Ele disse que mesmo assim ele irá amanhã, pois sabe que está precisando. Tem tido brancos, esquece o que está fazendo, outro dia foi ao banco três vezes para pagar uma conta e chegava lá e esquecia o que estava fazendo. Sua esposa também está muito preocupada. No serviço ele também "perde o fio da meada" e precisa repor trabalho. Eu o incentivei a passar por uma avaliação médica, disse que seria mesmo muito importante. Perguntei se passou por algum risco de vida ele disse que não e nem vontade de morrer. Está evitando sair de casa para não ter problemas. Incentivei-o ao tratamento e perguntei se posso ligar outra vez ele disse que sim e até "por favor". Combinei o final de agosto, começo de setembro e desligamos.

QUARTO CONTATO – 2 MESES

TELEFONEMA

Está fazendo um acompanhamento psiquiátrico no posto de saúde e tomando medicação. Está bem melhor segundo ele, o problema é só a sonolência que ele sente. Ele chegou a pensar em parar a medicação, mas está tomando direitinho. Eu falei muito da importância de discutir com o médico sobre efeitos colaterais e sobre parada de medicamento. Ele disse que tem consulta no dia 08 e que irá conversar sobre isso com o médico. Disse que gostou do atendimento, mas achou o médico um pouco bravo; mesmo assim sentiu que foi bom para ele, está

82 dormindo bem, fato que não acontecia, parou de ter pesadelos e sente isso como um alívio.

QUINTO CONTATO – 6 MESES

TELEFONEMA

Disse que continua o acompanhamento psiquiátrico mudou a medicação, mas que às vezes tem recaída e aí pensa em desistir de tudo. Perguntei o que é desistir de tudo e ele ri, eu perguntei se pensa em morrer e ele falou que sim. Eu disse que entendo que o que ele vive é mesmo muito difícil e que recaída faz parte, mas que neste período que conversamos parece que ele conseguiu alguns avanços mesmo me dizendo que recaiu. Ele reconhece e diz que tem freqüentado a igreja também; perguntei se já freqüentou o AA e ele diz que não. Eu disse que muitas pessoas gostam e que talvez possa ajudá-lo também. Perguntei como tem sido com o psiquiatra e ele disse que gosta, sente que ajuda. Falei que era bom sentir-se ajudado e que no AA talvez ele possa descobrir que tipo de ajuda algumas pessoas com problemas com álcool encontraram; ele concordou, disse que talvez busque o AA. Eu expliquei ser a última ligação e que o trabalho com o Ouro Verde é por seis meses; ele disse que era uma pena, que tinha sido bom conversar. Digo que também acho que conversar é bom e que embora ele não vá mais receber meus telefonemas que pode encontrar pessoas com quem conversar como um psicólogo no posto ou no AA. Ele disse "é, é mesmo".

RESUMO DE OUTRAS AÇÕES NO CASO

Fax para CAPS Rio de Janeiro; fax para centro de saúde Mato Grosso; conversa com a responsável pelo agendamento do centro de saúde; novo fax para centro de saúde Mato Grosso.

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CASO 3