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2. SER MÚSICO NO SÉCULO XXI

2.4 Economia Criativa: uma janela de oportunidades para a Educação

2.4.2 Dados e indicadores da Economia Criativa no Brasil: conhecer para planejar,

O desconhecimento das cadeias produtivas nas diversas frentes da EC e a

busca por indicadores para planejar políticas públicas são assinalados no Plano da SEC, assim como nos relatórios da UNCTAD 2008 e 2010, financiados pela Unidade Especial para Cooperação Sul-Sul do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. O mapeamento das atividades culturais de impacto econômico e social ocorrido em parcerias com institutos de pesquisa governamentais, federais e estaduais, ONGs, ações colaborativas em redes online, empresas, pesquisadores acadêmicos e em âmbito interministerial. A necessidade de bases quantitativas e qualitativas é premente. A criação de uma Conta Satélite da Cultura, nos moldes do proposto pela UNCTAD, teve adesão em vários países, inclusive no Brasil. Em função da transversalidade presente na EC, a análise e a superposição de indicadores para formulação e avaliação de políticas públicas são bastante complexas.

Segundo Jannuzzi (2002), o uso de indicadores sociais para organização de

sistemas, acompanhamento de mudanças sociais e impacto de ações do Estado se estruturou no século XX, quando foram aprimoradas a produção e a disseminação de

estatísticas públicas para incorporar dimensões sociais. Alternando otimismo e ceticismo, os indicadores sociais se afirmaram como ferramenta para o planejamento de políticas públicas na década de 80, envidando esforços conceituais e metodológicos que resultaram em um conjunto de indicadores focados em temáticas sociais e demográficas. Este sistema subsidia programas, investimentos, estratégias, decisões e aferição de impactos. O dimensionamento dos limites de indicadores, ajustes e contínua análise de seu adequado emprego e eficácia são desafios às intervenções governamentais para resolução de problemas públicos. Indicadores sociais ligam modelos explicativos e evidências empíricas, sendo instrumento operacional de monitoramento e base para políticas públicas específicas.

Um indicador social é uma medida em geral quantitativa dotada de significado social substantivo, usado para substituir, quantifica ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para formulação de políticas). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre que estão se processando na mesma (JANNUZZI, 2002).

Indicadores sociais são construídos sobre parâmetros como relevância, validade, confiabilidade, sensibilidade à implementação de políticas públicas, grau de cobertura, especificidade, inteligibilidade, possibilidade de atualização (JANUZZI, 2002). As limitações encontradas em tais características sinalizam necessários aprimoramentos para evitar incoerências na representação do que delineiam. O uso de indicadores sociais depende da sua destinação, o que requer coerência na escolha.

No Brasil há capilaridade entre as agências dos entes federativos, coordenadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, responsável pela obtenção de dados primários. São exemplos de coletas o Censo Demográfico, os registros Administrativos dos Ministérios e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, anualmente conduzida nos estados. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA é uma fundação pública vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, encarregada de fornecer suporte técnico e institucional às ações e formulações de políticas públicas. Embora não se dedique à coleta de dados primários, pode fazê-lo para nichos específicos mediante demanda. Também dissemina estudos e pesquisas, além de cooperar com governos e com entidades internacionais.

O IPEA criou o Sistema de Indicadores de Percepção Social – SIPS para detectar a percepção da população em relação a temas que envolvem eficácia e eficiência de serviços públicos, sua utilidade pública e importância para a sociedade, entre eles os relacionados à cultura. Nesta aplicação trouxe resultados empíricos das diferentes regiões brasileiras sobre percepção social da organização urbana para a

prática cultural, disposições culturais para o uso do tempo, percepções da oferta cultural e frequência de práticas culturais. As conclusões do relatório sinalizam diferentes lógicas de práticas culturais associadas à renda, idade e escolaridade. A heterogeneidade das práticas associa-se às diferenças socioeconômicas e à espacialidade urbana. Este primeiros apontamentos servirão para aprofundamentos de estudos setoriais e locais em cultura (IPEA, 2010).

Enquanto a EC assume lugar central nas discussões sobre tendências econômicas face aos desdobramentos da crise global de 2008, a qual atingiu diretamente países desenvolvidos e reconfigurou os papéis de países emergentes e em desenvolvimento, nos meios acadêmicos surgem ressalvas quanto à importância que lhe é atribuída. Fragilidades metodológicas de pesquisas que embasaram discussões em diferentes países e a falta de referenciais comuns são críticas que sinalizam para revisões dos dados iniciais usados para motivar e justificar a estruturação da Economia Criativa como parte de políticas públicas (EVERITT, 2009).

Se por um lado os estudos de impacto econômico parecem justificar as ações de demanda por investimento público, por outro, o paradigma econômico requer discussões que revisem limites entre proposições econômicas e importância do setor cultural. Há uma a tendência à simplificação dos resultados obtidos quando divulgados pela mídia, notadamente em acepções causais. Madden (2001) coloca que a cultura precisa ser vista não somente como uma oportunidade para ganhos e lucros, sejam empresariais, governamentais ou mesmo individuais, mas como parte de bens comuns e complexos, que geram benefícios sociais a diferentes comunidades em um processo de resultados pouco imediatos, que não se atém, primordialmente, a ganhos financeiros.

Pinnock (2009) reflete que a alocação de recursos para implementar políticas culturais passa pela investigação de quem produz arte e suas motivações, pela destinação de obras ou performance, pelos interesses de audiência, consumidores e pela organização da produção. Os policy makers culturais podem se valer destas informações e de outras trazidas por estudos de economia que forneçam evidências para explicações e predições de consumo. A existência de uma política econômica das artes, e não somente uma economia das artes ou da cultura, deve ser levada em conta para decisões e para pesquisas.

Já O’Neill (2009) sinaliza que noções comumente aceitas sobre impacto das artes podem ser calcadas em crenças e princípios dúbios, havendo iminente anacronismo nos conceitos utilizados por centrarem-se no eixo ocidental e europeu, cuja história é também múltipla. As funções e possibilidades da arte na sociedade em

cerca de dois mil e quinhentos anos são diversas: distração, catarse, bem-estar, educação e autodesenvolvimento, desenvolvimento moral e civilizatório, instrumento político, estratificação social e identitária, além do embate entre a autonomia da arte e sua instrumentalização.

A complexidade intelectual da temática muitas vezes não é alcançada pela discussão pública, sendo o debate politizado e polarizado. Os vínculos da arte com o poder podem ser patentes ou sutis, mas a arte expressa e reforça o poder nas relações sociais, desde os primórdios civilizatórios. Este impacto deve ser ponderado, especialmente ao pensar o papel das artes nas instituições e no delineamento de políticas públicas, trazendo à arena pública as implicações dos achados de pesquisas (O’NEILL, 2009).