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A sociedade passou a ser mais sensível aos problemas das pessoas com deficiência a partir das guerras do século XX. As nações mais desenvolvidas estabeleceram leis e políticas sociais para atender às necessidades destas populações. Na tentativa de facilitar o seu processo de integração foram criadas instituições especializadas para seu atendimento. Nos USA, por exemplo, foi aprovado, em 1918, o “Vocational Rehabilitation Act”, uma lei que garantia aos militares lesados na guerra condições de participação em programas de reabilitação para o trabalho. Em 1920, outra lei, o “Fess-Kenyon Civilian Vocational Rehabilitation Act”, autorizava militares e civis com deficiência física a participarem do programa. (SILVA, 1986).

Nos hospitais, como parte do programa de reabilitação e com o fim de auxiliar no tratamento terapêutico, foram introduzidos jogos em cadeira de rodas. De acordo com Hullu (2002), a proposta de usar o esporte como uma forma de tratamento e reabilitação foi inicialmente desenvolvida na Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha, sendo introduzida posteriormente em outros paises. Na Inglaterra, em 1944, Dr. Ludwig Guttman solicitou ao governo Britânico para introduzir atividades esportivas, como parte da reabilitação, no Hospital de Stoke Mandeville. Alguns anos mais tarde, o esporte que se iniciara com competição passa também a ser utilizado como forma terapêutica/recreativa. (ADAMS, 1985).

A proposta de trabalhar com o esporte no processo de reabilitação tinha como objetivo promover a sociabilização, desenvolver novas habilidades e permitir que os reabilitandos descobrissem suas próprias possibilidades de movimentos através de atividades lúdicas. O basquete é um exemplo: os jogadores veteranos adaptaram as regras e regulamentos para a cadeira de rodas e vários times foram oficialmente organizados. O basquetebol tornava-se o primeiro esporte em cadeira de rodas. (ADAMS, idem).

Em 28 de julho de 1948, na cerimônia de abertura dos jogos olímpicos em Londres, foi realizada a primeira competição entre atletas com deficiência. Participaram destes jogos 14 homens e 3 mulheres. E, em 1952, ocorreu a primeira competição internacional dos Jogos de Stoke Mandeville, com a participação de dois países. No mesmo evento foi criado

o Comitê Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville, ISMGF. No entanto, só podiam filiar-se a este comitê as pessoas com lesão medular e as com seqüela de poliomielite (HULLU, 2002), restringindo assim o acesso de outros atletas com deficiência.

Ocorrência semelhante é registrada por ocasião da primeira Paraolimpiada, organizada após os Jogos Olímpicos realizados em 1960, em Roma, que contou com a participação apenas de pessoas com seqüela de lesão medular.

O ganho resultante dessa “restrição” foi que, a partir daí, muitos grupos passaram a estudar as possibilidades de esportes para os demais grupos de pessoas com deficiência. Conseqüentemente, em 1964, com a participação de 16 países, foi fundada a Organização Internacional de Esportes para Pessoas com Deficiência, ISOD. Seu objetivo era o de organizar as atividades esportivas para os que não podiam se filiar ao ISMGF; pessoas com deficiência visual, com paralisia cerebral, amputação e demais deficiências. (ISOD, 1991).

No futuro, a ISOD pretendia tornar-se um comitê geral dos esportes, sem restrição a qualquer tipo de deficiência. Tal como foi previsto, em 1978, foi criada a Associação Internacional de Esportes e Recreação para os Lesados Cerebrais, CP; para as pessoas com paralesia cerebral, criou-se o ISRA e, em 1980, foi criada a Associação de Esportes para Cegos - IBSA, para as pessoas com deficiência visual. (Idem).

A Paraolimpíadas de Toronto, em 1976, além das pessoas com lesão medular, já contou também com a participação de deficientes visuais e amputados. Nos jogos de 1980, as pessoas com paralisia cerebral também tiveram a oportunidade de participar.

Presentes nos jogos paraolímpicos, as quatro organizações esportivas decidiram criar um comitê que centralizasse todas as modalidades esportivas e suas respectivas associações. Desta forma, fundou-se em 11 de março de 1982 o Comitê Internacional de Esportes para Pessoas Deficientes do Mundo - ICC., cujo propósito inicial era a organização dos próximos jogos , a ocorrer em 1980. (Idem).

Devido a alguns problemas políticos e com o objetivo de discutir a organização dos jogos em geral, realizou-se um seminário em 17 de março de 1987, na cidade de Amhem. Na oportunidade, decidiu-se por unanimidade criar uma nova organização mundial com estrutura mais democrática, definindo-se representações nacional e regional. Esta nova estrutura de organização foi apresentada nos jogos Paraolímpicos de Seul, em 1988. Após

longas discussões, foi constituído, em 22 de setembro de 1989, em Dusseldorf na Alemanha, o Comitê Paraolímpico Internacional, IPC; que passou a ser a Instituição responsável pela organização dos jogos internacionais para-desportivos. (KROMBHOLZ, 1992).

No Brasil, até 1984, a Associação Nacional de Desporto para Deficientes, a ANDE, era a única entidade nacional paradesportiva responsável pelo desenvolvimento do esporte adaptado no Brasil. Dissidente da ANDE foi criada, em 1984, a Associação Brasileira de Desportos em Cadeira de Rodas, ABRADECAR, que se torna responsável pelos esportes das pessoas com deficiência provocada por lesão medular, poliomielite e amputação. Conseqüentemente, de acordo com o modelo internacional, alguns anos depois fundou-se a Associação para Deficientes Visuais. Com a junção dessas Associações, fundou-se o Comitê Paraolímpico Brasileiro, CPB, que é a instituição brasileira filiada ao IPC. ( VAZ, 2001).

Em relação à dança em cadeira de rodas, as primeiras competições foram realizadas em caráter não oficial, como campeonatos regionais locais. O primeiro país a sediar esta modalidade foi a Holanda em 1985, seguido pela Bélgica em 1987 e pela Alemanha em 1991. Em paralelo a este último campeonato, ocorreu, também na Alemanha, a segunda Conferência de Dança em Cadeira de Rodas, realizada em 18 de Janeiro de 1991 no Hotel Íbis, em Munique. Nesse encontro constituiu-se a Wheelchair Dancesport Committee, WDSC, que era um sub-comitê da ISOD. Sua responsabilidade era a dança em cadeira de rodas tanto na modalidade recreativa como na competitiva. Participaram desta conferência 40 dançarinos de 13 paises europeus.2

Em 25 de abril de 1992 ocorreu a primeira competição de dança em cadeira de rodas, organizada pelo WDSC em parceria com a Deutscher Rollstuhl-Sportverband, Fechbereich Tanz in Arrangement.3

De 1993 em diante, a cada dois anos, o sub-comitê organizou os seguintes campeonatos Europeus: Holanda (1993), Alemanha (1995), Suécia (1997) e Grécia (1999). O reconhecimento como competição internacional, porém, aconteceu apenas no evento de

2

Estes dados foram obtidos através da carta encaminhada ao Grupo Ázigo – Brasil em 16/10/91.

3 Estas informações foram obtidas a partir do documento de organização deste evento assim como a

1997 na Suécia. Nesse mesmo ano, ocorreu um outro fato positivo: a modalidade foi demonstrada nas Paraolimpíadas de Inverno em Geilo/Noruega. Depois desse evento, diversos paises reuniram-se para regulamentar este novo esporte, entre eles (Alemanha, Bélgica, Holanda, Suécia, Ucrânia). Mas, somente em 2000, na Noruega, ocorre o Primeiro Campeonato Mundial da modalidade com o reconhecimento do IPC. (HULLU, 2002).

Com o reconhecimento, surge também a definição conceitual. Segundo Krombholz (2001), a dança em cadeira de rodas é, então, definida como uma dança que utiliza cadeira de rodas, podendo ser de caráter recreativo ou competitivo. Em caráter competitivo, nas danças de salão, permite-se a participação de um dançarino cadeirante e um andante. Essa modalidade é divida em duas categorias: a standard em que se inclui a Valsa, o Tango, a Valsa Vienense, o Slow Foxtrot, o Quickstep; e as danças latinas, subdivididas em Samba, Cha-cha-cha, Rumba, Paso Doble e Jive. Já nas danças recreativas, subdivididas em criativa e dança moderna, a participação pode ser na categoria solo, pares ou em grupos.

Influenciados por propostas de dança artística e esportiva, no decorrer do I Simpósio Internacional de Dança em Cadeira de Rodas, vários grupos de dança, associações e universidades envolvidas com esta atividade, com o apoio da ABRADECAR e da ANDE, fundaram em novembro de 2001, a Confederação Brasileira de Dança em Cadeira de Rodas – CBDCR. 4

A criação da CBDCR tem como finalidade: a administração, direção, difusão, promoção e incentivo do desenvolvimento da modalidade dança em cadeira de rodas. É a representação do Brasil na área do desporto para pessoas com deficiência física, em específico na prática da dança. Esta iniciativa torna-se relevante porque:

A construção destes caminhos, atividades artísticas/recreativas ou esportivas, especialmente num país de dimensão como o Brasil, é demorada e custará a atingir a população de base. A trajetória é árdua, para se organizar os grupos, os eventos, superar preconceitos e para se conseguir apoios, patrocínios e espectadores. E mesmo na academia, ela ainda sofre resistência, não foi inserida nos programas regulares das Universidades, em especifico as Faculdades/Institutos de Arte e dança. e Educação Física. (Rocha Ferreira, 2002, p.80)

A partir da fundação da CBDCR, concomitante ao II Simpósio Internacional de Dança em Cadeira de Rodas, realizou-se no dia 26 de novembro de 2002, na Sociedade Hípica de Campinas o I Campeonato Brasileiro de Dança Esportiva em Cadeira de Rodas, com a participação de 12 duplas de dança, de vários estados brasileiros. (BIANCARELLI, 2002). E em 19 de Julho de 2003 também foi realizado o I Campeonato Paulista, que contou com cinco novos casais. O que mostra o crescimento desta modalidade no Estado de São Paulo.

É importante ressaltar que, também, no Campeonato Mundial da Polônia de 2002, o Brasil marcou presença tanto nos campeonatos quanto nas conferências, além de buscar subsídios para a implantação efetiva deste esporte em nosso país. Acreditamos que a participação do Brasil foi relevante no que tange às discussões referentes às questões culturais da dança.

Ao nos aprofundarmos no estudo da história da dança em cadeira de rodas, percebemos que, aos poucos, ela está desempenhando um papel importante na sociedade e, sobretudo, na vida de cada dançarino com deficiência. Nesse sentido, a dança, para essas pessoas, é uma forma de perceber o mundo e ser percebido nele; interagir com o mundo e ser nele integrado. Por isso, embora apareça com vestiduras e valores diferenciados, a dança em cadeira de rodas precisa e deve ser desenvolvida em sua plenitude com liberdade e autonomia.

FIGURA 03: Grupo de São José do Rio Preto

FIGURA 04: Diversos Grupos de Dança Esportiva

II SOBRE O ESTUDO:

2.1 Delimitação do problema e base de constituição do