• Nenhum resultado encontrado

Das escolhas dos participantes e recortes do objetop aleuns critérios

Capítulo 3. Um traçado dos caminhos da pesquisa

1. Percursos de escrita da pesquisa

1.1 Das escolhas dos participantes e recortes do objetop aleuns critérios

A escolha da escola que sediaria nosso trabalho de campo, desde o princípio, estava atrelada a uma necessidade de cercarmos ao máximo as justificativas convencionais, encontradas em variados contextos escolares, do porquê o trabalho com a escrita não se realiza satisfatoriamente, tais como: o material didático não apresenta propostas de produção textual (ou as apresenta de forma descontextualizada); os professores defendem uma concepção de ensino de língua que prioriza o ensino de gramática e conteúdos tradicionais, em detrimento de um trabalho focado no desenvolvimento de habilidades e competências escritora e leitora; a escola não permite que sejam feitas oficinas de escrita e leitura por conta da confusão e barulho que os estudantes fazem etc.

Em outras palavras, queríamos garantir que os estudantes estivessem inseridos em um contexto de ensino-aprendizagem favorável ao desenvolvimento de leitores e escritores proficientes de variados gêneros discursivos. E, para isso, era preciso considerar um material didático que trabalhasse com a noção de gêneros discursivos, sua função social e contextos comunicacionais; professores que defendessem essa concepção de ensino de língua a partir do estudo de gêneros, priorizando as habilidades e competências leitoras e escritoras, e uma escola que respaldasse esse trabalho, incentivando projetos de leitura e escrita.

Como autora de uma coleção de livros didáticos de língua portuguesa, escrita para a Rede Salesiana de Escolas – RSE27, consideramos que a questão do material didático e da escola poderia ser resolvida se fizéssemos nossa pesquisa em uma das unidades dessa rede. Desse modo, asseguraríamos um contexto metodologicamente favorável para seu desenvolvimento, uma vez que a coleção apresentava os gêneros discursivos como possibilidade didática de construção da escrita. E, dependendo do trabalho realizado pelos professores, como um tipo de experiência que mobilizaria o desejo pela escrita quando da apropriação significativa e criativa desses gêneros.

É preciso salientar que, evidentemente, tínhamos clareza de que essa coleção ou qualquer outro material didático era somente um recurso de que o professor poderia dispor para apresentar a seus alunos propostas de produção textual contextualizadas e significativas, com estratégias de ensino da escrita que poderiam facilitar sua aprendizagem, tornando os estudantes proficientes, capazes de utilizar os gêneros aprendidos quando fossem, na escola ou em qualquer outra situação social, solicitados a fazê-lo. A questão da autoria e do sujeito-autor não estava posta no material ou em ações isoladas do professor, mas na qualidade das experiências com a escrita que, no conjunto entre material e ação docente, poderiam favorecer e instigar o desejo do estudante pela palavra, levando-o a constituir-se como um sujeito-autor no ato de sua escrita.

Essas primeiras considerações, então, exigiram a definição de alguns critérios para a escolha da escola que participaria do projeto:

ela deveria fazer parte da Rede Salesiana de Escolas e estar localizada no Estado de São Paulo;

27Durante os anos de 2002 a 2007, escrevi a coleção de livros didáticos de língua portuguesa,

do segmento Ensino Fundamental II27, para a Rede Salesiana de Escolas- RSE em parceria

com Débora de Angelo. Essa coleção priorizava o desenvolvimento de competências e habilidades leitoras e escritoras a partir do estudo de gêneros discursivos, apresentando variadas propostas de produção textual inseridas em sequências didáticas e projetos. Em meu plano inicial para o ingresso no doutorado, tinha a intenção de verificar se, de fato, esses projetos e sequências didáticas, criados para o trabalho com a escrita de variados gêneros discursivos, propiciavam o desenvolvimento das habilidades escritoras dos estudantes usuários desse material e de que modo isso acontecia, favorecendo ou não a escrita autoral e a constituição do sujeito-autor.

usar os livros didáticos de Língua Portuguesa elaborado adotado pela RSE28;

ter docentes que concordassem com a concepção de ensino da escrita composta a partir do estudo de gêneros discursivos complexos;

permitir que os contatos com os estudantes fossem filmados.

Posto isso, durante o primeiro semestre de 2007, estivemos em negociação com duas escolas que mostraram interesse em participar do projeto. Por se tratar de uma pesquisa envolvendo estudantes menores de idade, além de professores, coordenador, diretor e pais, essas negociações foram demoradas e bastante burocráticas, o que impediu que a pesquisa de campo fosse iniciada ainda no primeiro semestre desse ano.

A escola escolhida, o Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Campinas, além de corresponder a todos os critérios, apresentava um grupo de coordenador e professoras que se mostrou, desde o início, interessado na proposta e disposto a colaborar com a seleção de estudantes. Mesmo assim, após a escolha desses estudantes, realizada pelas próprias professoras, foi preciso esperar pela autorização dos pais, que receberam uma carta-convite, acompanhada de uma declaração de autorização (anexo 1), a qual deveria ser assinada e ter firma reconhecida em cartório.

A outra escola com a qual negociamos se opôs, inicialmente, às filmagens que pretendíamos fazer dos encontros com os alunos. Mesmo garantindo que suas imagens e identidades seriam preservadas, a coordenação e direção dessa escola demoraram a concordar com a utilização do recurso. Como não queríamos abrir mão dessas filmagens, uma vez que as entrevistas e conversas poderiam ser utilizadas quando do cruzamento do material, na elaboração da análise das produções escritas pelos estudantes, a negociação não pôde ser concluída a tempo por conta dos prazos que tínhamos para dar início à pesquisa (ela deveria começar no segundo semestre do mesmo ano).

28 Embora a Rede Salesiana de Escolas tenha optado por desenvolver os conteúdos programáticos a partir

dos livros didáticos que produziu como parte de seu projeto pedagógico, nem todas as escolas aderiram à proposta por não concordarem com a concepção de ensino de língua proposta nesses livros. Por isso, a necessidade de escolher uma escola que garantisse o uso dos livros e a aderência de seus professores ao trabalho com os gêneros.

Documentos relacionados