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5.6 Instrumentos utilizados para análise dos dados

5.6.2 Categorias

5.6.2.2 Das necessidades básicas numa perspectiva humanista

O referencial teórico que, mais e melhor, trata da categoria necessidades básicas, identificada por meio da análise de conteúdo das entrevistas e técnicas de expressão, verbais e não-verbais, utilizadas nesta pesquisa, tem origem no trabalho de Abraham Maslow (1970), psicólogo do grupo da Psicologia Humanista.

Sobre a personalidade e suas motivações, seus estudos permitem a identificação de diferentes conjuntos de motivos que estão aderidos às ações, sentimentos e pensamentos do sujeito cujo discurso, materializado na “fala”, expressão corporal, atitudes e valores, hábitos e costumes, organiza os conteúdos manifestos e oportuniza, posteriormente, uma leitura dos conteúdos latentes.

Maslow (1991) ensina que as necessidades básicas do ser humano são: as fisiológicas, as que tratam de segurança, amor e pertinência, estima, auto-realização, estética e conhecimento/compreensão.

É importante saber que suas pesquisas evidenciaram que essas necessidades se estabelecem numa gênese motivacional solidária e hierárquica para o ser humano, algumas abrangendo as diferentes fases de seu ciclo vital. As demandas das necessidades

fisiológicas pertencem ao conjunto de motivos de origem orgânica como fome, sede,

arejamento, ataque e defesa, sono, sexo e todas as formas de adaptações implícitas aos processos de homeostase inerente à espécie humana.

Todo ser humano, também, necessita cuidados básicos que implicam na garantia de segurança relativos à sua sobrevivência, os quais oportunizam certa estabilidade física, psíquica e social. Portanto, pela evitação à imprevisibilidade de situações de risco que causam danos, por vezes, irreparáveis para o sujeito, se está atendendo a sua necessidade de segurança. Entre as situações a serem evitadas estão as guerras, as doenças, os danos pessoais e coletivos, as catástrofes, dentre outras. O importante é que se entenda que este núcleo motivacional trata das condições básicas, que trazem a estabilidade, a ordem, proteção e liberação do medo e da ansiedade, segundo um estudo de Schultz & Schultz (2000) sobre Maslow.

Considerou-se a escolha de Maslow (1991), La Rosa (2003) e Shultz & Shultz

(2000) para o presente estudo muito eficaz. Por meio do estudo das motivações básicas

tem-se uma resposta otimista sobre a natureza humana, uma concepção de saúde psicológica e de realização como antídoto para os aspectos doentios, preconceituosos e hostis, que se possa encontrar no cotidiano, segundo os autores já citados.

Em continuidade, tem-se o amor e a pertinência como constituintes e tradutores da motivação intrínseca à necessidade de afeto e de ‘pertencimento’ ao outro ou a um grupo. Isso ocorre através do vínculo com o outro que se estabelece entre o sujeito e pessoa/s em diferentes situações do cotidiano como familiares, amigos, colegas de estudo e/ou de trabalho, de compromisso social e/ou escolha religiosa, de lazer ou recreação, entre outros.

As questões de estima e auto-estima são necessárias a todo ser humano, pois expressam sua capacidade de sentir reconhecimento por si mesmo e pelos outros e de receber o reconhecimento pelo que é e pelo que vale, no sentido mais próximo do que cada um pode representar frente aos valores de uma sociedade ou cultura.

A auto-realização é a necessidade que se impõe ao sujeito pela busca de sua realização através do desenvolvimento de suas capacidades e criatividade. Segundo Maslow, esta categoria de necessidade parece estar mais próxima dos adultos e jovens maduros porque é aprendida e precisa que as crianças e adolescentes vivam diferentes situações de vida para poder desenvolvê-las paulatinamente. Portanto, a perspectiva de Maslow é a de que cada pessoa tem dentro de si mesma um foco motivacional que envolve o desenvolvimento e a utilização de capacidades e, ainda, a conseqüente maximização desse potencial.

Quanto à curiosidade, ao conhecimento e à compreensão, o autor indica que

aquele que satisfaz estas necessidades é porque há um desejo intenso que é seguido pelo querer sistematizar os conhecimentos e integrá-los num todo compreensível e, ainda, através da análise crítica, os colocar à prova.

As demandas relativas à esfera da necessidade estética estão presentes em todos os sujeitos e, conseqüentemente, em todos os grupos e culturas e falam da presença do feio/belo na existência dos humanos, documentada desde a época das cavernas por meio da arte. Essa necessidade se faz do sentir e do pensar de forma inédita porque é de cada um, porém, traz algo incomum que vislumbra a força da criação naquilo que é limítrofe entre o real e o imaginário, propondo uma materialização de algo que agrada porque implica em beleza ou desagrada pelo feio.

Por último, têm-se as motivações em duas modalidades, ou seja, por deficiência e

por crescimento, que são constituídas pela dependência de causa e efeito, pois uma é

condição para o surgimento da outra. Para o autor, são questões que dizem respeito à necessidade do sujeito suprir déficits pessoais pela intervenção de outras pessoas.

Na proposta de Maslow existem as motivações do âmbito do orgânico, que encaminham a uma análise que colabora na compreensão do sujeito como resultado de toda uma evolução, conforme o que é tratado na filogênese, traduzindo a inquestionável dependência dos genes na relação de autonomia do cérebro humano, porém, a também inquestionável transformação do homem pela ontogênese.

Amparada na coerência, sabedoria e inteligência, que caracterizam a pessoa, está a obra de Sara Pain. Buscou-se, nesta dissertação, ampliar, com testemunho, o que ela escreveu, pois se constitui num dos legados mais reflexivos disponível à interpretação de

análises que viabilizam os estudos de casos em pesquisas qualitativas em Educação e Psicopedagogia:

A interpretação do discurso não se pode fazer sem levar em conta o nível da realidade, pois a realidade é a prova; sem levar em conta a leitura inteligente dessa realidade que lhe dá sua coerência; sem levar em conta a dimensão do desejo que é a sua aposta; sem levar em conta sua modalidade simbólica, que lhe dará sua paixão. (1979, p.101)