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2 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

2.2 IMPROBIDADE

2.2.2 Improbidade administrativa

2.2.3.4 Das penas

A lei em análise estabelece diversas formas de penalização das condutas consideradas desonestas, antes destacadas.

Nessa linha e independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas em legislação específica, dispõe a LIA que o responsável pelo ato de improbidade se submete às cominações direcionadas, basicamente, aos seguintes aspectos:

a) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio; b) ressarcimento integral do dano, quando houver;

d) suspensão dos direitos políticos; e) pagamento de multa civil;

f) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário.

Saliente-se que as sanções previstas, em especial aquelas relacionadas à perda dos direitos políticos, ao pagamento da multa civil e à perda do direito de contratação ou do recebimento de benefícios/incentivos fiscais, variam segundo os atos se enquadrem nas hipóteses elencadas nos artigos 9º, 10 ou 11 da Lei, importando maior severidade aos relacionados ao enriquecimento ilícito e diminuindo gradativamente, nos casos de dano ao erário e de ofensa aos princípios da administração pública60.

Quanto à aplicação, as penalidades em destaque deverão ser balizadas, pelo juiz, segundo os critérios de extensão de danos ao erário e, igualmente, com base no proveito patrimonial obtido pelo agente. Restam respeitados, assim, os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

60 Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está

o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações: I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos; III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos

Despiciendo anotar-se, assim, o caráter não-penal dos atos de improbidade, em que pese muitos dos atos elencados guardarem similitude com tipos previstos no Código Penal Brasileiro. Ou seja, conforme ensina José Guilherme Giacomuzzi61, “o ilícito de improbidade,

portanto, é ilícito não-criminal, ou civil lato sensu – ilícito administrativo, em suma”. Isto tudo, apesar de o conjunto de condutas arroladas como atos de improbidade manter, em essência e cada uma, um núcleo de tipo penal, carente apenas da aferição do elemento subjetivo que o complete. Nessa linha é que se entende a presença do Ministério Público desde a fase administrativa de apuração dos atos considerados como de improbidade.62

Por óbvio que a ocorrência do fenômeno da múltipla incidência - segundo o qual um mesmo fato pode surtir vários efeitos no mundo jurídico, bastando, para tanto, que mais de uma regra de direito o preveja como suporte fático de sua incidência -, não afasta a idéia, conforme já preconizado por Nelson Hungria e citado pelo autor, de a ilicitude jurídica ser una, ocorrendo mediante relação entre os ilícitos penais (contra a Administração Pública) e de improbidade (análogos aos penais), da seguinte forma:

...se crime há, o fato é necessariamente ilícito de improbidade, desde que o agente se enquadre nos ditames dos artigos 2º e 3º da LIA, que arrola os sujeitos ativos dos atos ímprobos. O inverso, entretanto, não será necessariamente verdadeiro, mas devido à forte similitude descritiva das condutas e considerado o exigente elemento subjetivo necessário à caracterização do ato de improbidade, a condenação judicial

61 GIACOMUZZI, José Guilherme. A Moralidade Administrativa e a Boa-Fé da Administração Pública. São

Paulo: Malheiros, 2002, p. 292, o qual acrescenta, ainda, que “as conseqüências são enormes, partindo da possibilidade de ter-se como constitucionais as normas dos arts. 9º, 10 e 11 da LIA (que definem exemplificativamente o ilícito de improbidade) – o que, por si, é suficiente a indicar a relevância da indicação correta da natureza do ilícito -, passando pela adoção do rito processual civil, e não do criminal – com todas as conseqüências de prazos, formas de oitiva de partes, testemunhas, colheita de provas, elaboração de perícia, intervenção de terceiros etc.-, impossibilitando a decretação de prisões cautelares e refletindo-se, ao final de tudo, na forma de aplicação da sanção jurídica”.

62 Ver, a respeito, interessante artigo de ROCHA, Deiza Curvello. In: Jornal Correio Brasiliense. Disponível em:

<www.noefito.direito.com.br/artigos>. Acesso em: maio 2005, Subprocuradora da República, a qual afirma que foi o conteúdo penal de cada das condutas elencadas na lei em comento que levou o legislador a impor “a

presença do Ministério Público já na fase administrativa de apuração dos atos caracterizados como de improbidade, junto ao órgão público onde a conduta lesiva ao patrimônio ocorreu, conferindo, desde logo, ao titular da ação penal ampla liberdade de requisitar a instauração de inquérito policial para apurar, na esfera penal, os fatos e sua autoria”.

do ímprobo faz prova da existência do ilícito penal, restando, em verdade, analisar- se somente a adequação típica do fato à culpabilidade do agente.63