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4.1 MÉTODO DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO FÍSICA POR MEIO DO

4.1.1 Das tecnologias de mídia aos caminhos metodológicos de ensino:

O que dizer do domínio das tecnologias de comunicação por parte das crianças e adolescentes? Quando pensamos nestas novas tecnologias, a imagem que nos vem à cabeça de imediato é aquela a qual destaca-se um jovem fazendo uso destes meios.

Objetivamente, tomando como características um contexto urbano brasileiro - como foi o caso de nossas experiências na escola – pode-se inferir que há uma presença marcante das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC‟s) no cotidiano das crianças e dos adolescentes. Num contexto onde a condição socioeconômica da população se apresenta de forma privilegiada, tais tecnologias de fato, fazem parte do cotidiano dos estudantes. Equipamentos como MP4, vídeo-game portátil, câmera digital, câmera de vídeo ou um celular com todas estas funções ou mais, podem ser facilmente encontrados nas mochilas dos estudantes.

No tocante destas constatações, possíveis de serem verificados por ocasião da aplicação de um questionário (ANEXO II), percebe-se que não só há proximidade dos estudantes com as TIC‟s, mas uma quase dependência deles frente aos meios tecnológicos. Quase todos os estudantes da turma investigada fazem uso diário da internet, alguns ficam horas à frente da tela de um computador, na maioria das vezes interagindo com outros colegas ou navegando por sites de seus interesses. Uma boa parte dos estudantes afirma que acessam

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com muita freqüência o sítio “youtube”19. Alguns têm o hábito de enviar novos vídeos ao site, postando desta forma, suas próprias produções.

Os produtos do audiovisual também fazem parte do cotidiano destes estudantes. Assistir à televisão é um hábito hegemônico entre eles, no qual os programas esportivos são presença freqüente para muitos, só rivalizada pelas séries de TV20. Muitos se interessam por cinema e se dizem espectadores freqüentes. Poucos recorrem às vídeo-locadoras, mas atribuímos isto ao fato de a maioria ter acesso à TV à cabo em casa. Por isso, podem assistir as novas produções cinematográficas por meio da televisão.

A presença marcante das TIC‟s no universo dos estudantes que fizeram parte de nossa experiência é um fator relevante para a compreensão de nosso estudo. Sobretudo, no que diz respeito à facilidade ao acesso e a aceitação deles daquilo que mais a frente viríamos propor à guisa de implantarmos uma metodologia de prática em Educação Física em consonância com as tecnologias e mídias do audiovisual.

É preciso valorizar a integração entre os estudantes e as TIC‟s diante da obtenção de resultados significativos quanto às práticas pedagógicas que fazem uso das mídias. Isso corresponde ao que Belloni (2005) nos indica quanto à importância em oferecer espaços democráticos de acesso aos meios tecnológicos. Todavia, o que pese o contexto da escola investigada ser privilegiado no que diz respeito ao acesso dos estudantes às diversas formas de mídias, também é preciso sobejar as ações docentes segundo os processos

19“O You Tube é o mais popular site da Internet de compartilhamento de vídeos sem licença autoral (materiais

protegidos por copyright), com mais de 50% do mercado em 2006. Comprado pela empresa Google em 2006, o site permite que seus usuários carreguem, assistam e compartilhem vídeos em formato digital.” (Betti, 2009, p.280).

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Muitos estudantes afirmam que assistem bastante o canal fechado Sony, onde os mesmos afirmam acompanharem vários seriados norte-americanos.

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metodológicos de ensino. Não aceitar esta condição é correr o risco de descartar as intenções pedagógicas, característica que legitima o trabalho docente na escola.

A etapa inicial do trabalho docente, a que precede qualquer ação pedagógica, está condicionada concretamente na elaboração de um planejamento. Segundo Luckesi (1994, p.168) o planejamento

“no caso da didática e de todas as formas de ação humana, é o momento em que decisões são tomadas. É o filtro por onde deve passar todos os elementos pedagógicos que admitimos criticamente. No caso da educação escolar, para planejar torna-se necessário ter presentes todos os princípios pedagógicos a serem operacionalizados, de tal forma que sejam dimensionados para que se efetivem na realidade educativa. Os princípios devem ser mediados para se tornarem realidade. O planejamento é uma prática necessária dessa mediação.”

Na direção do pensamento de Luckezi (1994), os princípios destacados em sua compreensão de planejamento, estão referenciados em nossa proposta naquilo que corresponde às peculiaridades da mídia-educação e, no nosso caso, a da intenção de lançar-mão de uma proposta que levasse os estudantes a uma prática produtiva por meio da produção de vídeo e reflexiva, quando da apreciação de filme. Além disso, precisamente teríamos que observar que o planejamento nortearia uma ação docente pautada numa abordagem crítico- emancipatória.

É interessante notar que o assunto “planejamento” no contexto do ensino de Educação Física é tratado academicamente de forma obscura, na medida em que há poucas produções desta temática no estudo da Didática da Educação Física (BOSSLE, 2002). De qualquer forma, o ato de planejar torna-se obrigatório quando se pretende operacionalizar práticas que traduzam as reais intenções do professor em detrimento da “improvisação pedagógica” (LIBÂNEO, 1994). Portanto, defendo a sistematização do planejamento – tratado em nossa experiência como “Plano de Trabalho” (ANEXO I) – para uma

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proposta de mídia-educação para o ensino da Educação Física. Logo, não é possível descartar os registros especulativos daquilo que se pretende fazer durante a ação pedagógica.

A confecção do Plano de Trabalho, produzido em conjunto com os professores da 8ªB antes do inicio das aulas, destacava alguns elementos importantes na perspectiva do planejamento:

a) Planejamento: descrição geral dos aspectos que conduzem de forma eficiente as propostas pedagógicas;

b) Proposição pedagógica: descrição da prática pedagógica no âmbito do ensino, da ação do professor em sua estreita relação com os estudantes; c) Data de aplicação: apontamento da data de quando se pretende aplicar a

proposição pedagógica;

d) Estratégia e procedimentos: descrição das ações concretas da prática pedagógica, bem como o uso de instrumental didático necessário à proposta;

e) Observações: espaço destinado aos apontamentos especulativos daquilo que se espera em termos de resultados do planejamento e daquilo que por algum motivo, pode oferecer algum risco à consecução da prática.

Tradicionalmente, os registros do planejamento pedagógico tem se constituído de acordo com a mera produção e preenchimento de formulários, geralmente disponibilizados e cobrados pela escola, numa clara atitude institucional de regulação do labor docente (LUCKESI, 1994). Os registros, defendidos aqui por objetivar a sistematização dos caminhos metodológicos da prática docente, daquilo que se almeja intencionalmente promover, só é possível mediante o entendimento de que ao optar por fazê-lo, o professor demonstra seu compromisso da assunção de seus objetivos e de como pensa em chegar neles.

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Dito isto e observando nossa proposta, concordo que “o planejamento é um ato decisório político. Realizado este ato, ele pode e deve ser registrado. Só aí é que os formulários fazem sentido” (LUCKESI, 1994, p.169). A experiência vivida na escola demonstra que o planejamento, com relação à organização sistematizada de nossas práticas, organizadas através de um “Plano de Trabalho”, só teria sentido caso fosse idealizado por nós, professores e pesquisadores. Os elementos que constituem este documento nos serviram e foram balizadores de nossas ações. Entretanto, reforço a ideia de que estas sistematizações precisam preservar as características gerais do planejamento docente, não podendo engessar o processo e também as diversas formas de confeccioná-lo. Tal compreensão nos leva a pensar que tudo irá depender do contexto vivido por cada professor. A atitude consciente do professor deve - nesta etapa do processo pedagógico – conduzi-lo com liberdade pelas várias opções de formato dos registros, mas que também o conduza, peremptoriamente, a elaboração de seu guia de ação, documento que traduz e legitima seu esforço num compromisso com uma educação que projeta os caminhos que perfazem suas intenções aos educandos.

Portanto, não há formatos de planejamento disponíveis, prontos e acabados que quando utilizados corretamente, ofereceriam sempre a máxima efetividade. O que existe é a ação consciente do professor que legitima seu trabalho através da adequação do contexto escolar que se apresenta aos objetivos pedagógicos de sua prática.

4.1.2 Atitude comunicativa didática: preparando a produção discente por