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Das tessituras tramadas à identidade da renda: o paradigma tecido no entrelaçamento

1. NA ARTE DO FILÉ COMO METÁFORA ARTESANAL DA EDUCAÇÃO, O PLANO

1.2 Como se tece a renda? A ciência da trama: educação e epistemologia

1.2.2 Das tessituras tramadas à identidade da renda: o paradigma tecido no entrelaçamento

Como vimos, há uma relação importante entre educação, ciência, ética e sociedade. Relação esta que influencia e forja a visão de mundo, ou o que denominamos como um paradigma. Faz-se necessário elucidar o significado atribuído ao conceito de paradigma, por ser este um conceito caro ao trabalho ora apresentado. Tomemos para este esclarecimento, dois conceitos diferentes e complementares a respeito, elaborados por Thomas Kuhn (2006) e Roberto Crema (1991).

Segundo Thomas Kuhn (2006), paradigma é aquilo que está no princípio da construção das teorias, é o núcleo obscuro que orienta os discursos teóricos neste ou naquele sentido. Diz ainda Kuhn que existem paradigmas que dominam o conhecimento científico numa certa época e as grandes mudanças de uma revolução científica acontecem quando um paradigma cede lugar a um novo paradigma, isto é, há uma ruptura das concepções de mundo de uma teoria para outra.

Num sentido mais amplo, como foi concebido por Thomas Kuhn, no seu livro sobre as revoluções científicas, um paradigma não é simplesmente uma filosofia, nem uma religião, nem uma ciência, nem uma arte; é uma estrutura que gera pensamentos e, portanto, gera ideologias, filosofias, ciências, artes e místicas.

Para Roberto Crema (1991), paradigma refere-se a um esquema modelar para descrição, explicação e compreensão da realidade. É muito mais que uma teoria, pois implica uma estrutura que gera teorias, produzindo pensamentos e explicações e representando um

sistema de aprender a aprender. Que núcleo obscuro tem orientado os discursos teóricos e gerado os pensamentos e ideologias que vem consolidando as opções sobre o que será priorizado em termos de valores, para a vida em nossa sociedade?

A construção de uma sociedade, pela cultura, vai demarcando a intencionalidade da construção do conhecimento, ou seja, a intencionalidade da opção epistemológica. Como aponta Adriano Vieira (2005), para uns a educação implica em reconectar-se à natureza, para outros a educação é um processo de transformação da natureza para o benefício humano.

Para ilustrar a influência desta interação, me permitam compartilhar, uma história contada pelo educador Adriano Vieira10. Convido-os a percorrer as palavras do educador, permitindo-se um mergulho nas suas próprias perguntas e convicções acerca da educação e dos processos educativos e da influência que exercem na sociedade em que vivemos.

O mundo educador Adriano Vieira

“As perguntas são como seres incômodos que, sem que a gente espere, pulam na nossa frente e ficam nos instigando a curiosidade. Certo dia, pularam algumas perguntas à minha volta: Onde acontece a educação? Qual é o lugar de ensinar? Qual é o lugar de aprender? Sim, porque quando a gente nasceu a família já estava ali pra nos ensinar, a escola já estava ali para a gente freqüentar. Mas, será que foi sempre assim? Será que em todos os lugares é assim? Foi aí que lembrei-me de uma noite clara e fria de outono, meu amigo Antônio Braço e eu caminhávamos pelas trilhas de Criúva, nas montanhas da serra gaúcha. Antônio é um moçambicano sorridente e de grande sabedoria. De repente ele pára, olha a Lua e diz: “Na África ela era nossa professora”. Continuamos a caminhada em silêncio, mas a curiosidade me coçava e resolvi provocar, pedi que me explicasse essa história de a Lua ser professora. Aí ele começou a contar entre sorrisos:

Tudo na natureza nos educa, nos ensina. O africano não se separa do cosmos. A vida se enriquece mais na medida em que o homem e a mulher penetram neste mundo natural. Conhecer este mundo natural é conhecer-se a si mesmo. A aliança, o pacto, numa linguagem mais comum, o casamento com a natureza é uma busca permanente. Diz uma máxima moçambicana: “Casa-te com a natureza e não te sentirás só”. Se para o Ocidente há uma busca frenética pela civilização, para o

africano a busca é no sentido da naturalização do ser. A natureza tem seu ritmo. Aprender o ritmo da natureza é aprender a ser íntegro, é tornar a vida mais fecunda. Quando um ancião africano contempla a Lua, não o faz com mero prazer de possuí-la, mas no desejo de desvelar o mistério que nela reside e engravidar-se da sua sabedoria. É nisto que a Lua revela que a colheita será boa ou má, que as chuvas, os ventos, serão favoráveis ou não. Revela a harmonia da vida do cosmos, o devir. Pela sua experiência milenar a Lua, assim como toda natureza, não se engana, carrega dentro de si a verdade. Qual discípulo não quererá embebedar-se desta fonte pura de verdade e conhecimento?

Realmente o Antônio me dizia coisas muito diferentes do que estamos acostumados a ver e ouvir. Para nós, herdeiros da cultura ocidental, a natureza ficou meio esquecida. Ou pior, a gente tenta é se livrar dela em nome do que chamamos de civilização, ou progresso. Eu compreendi o que meu amigo me disse, achei de uma profundidade excepcional, mas ainda umas questões me rondavam: como a tribo, a comunidade organizava este aprendizado que a natureza propicia? Como eram as etapas ou séries que se seguem nestes estudos? Minha cabeça ocidental tinha dificuldade de compreender outro modo de ensinar e aprender. Depois de uma enorme gargalhada com que recebeu minhas perguntas Antônio continuou...”

O relato narrado pelo educador Adriano Vieira demonstra, como já havia sido identificado com Maturana, que não somente há uma circularidade relacional entre o viver e o educar, no qual o modo de viver origina e decorre de processos educativos, como também, a partir do que cada sociedade em seu modo de viver (sua cultura), vai atribuindo como valores, vai estabelecendo seus conceitos sobre o que é educação.

A narrativa demonstra que em cada grupo humano, a educação constitui-se em processo de resposta à pergunta: o que realmente necessitamos para nos tornarmos mais humanos? Uma sociedade se forma com suas características através de uma cultura. Ao observar esta cultura podemos ter pistas importantes sobre a intencionalidade dos conhecimentos construídos e as influências destes, na formação dos valores importantes em cada sociedade. Os grupos sociais convivem e fazem educação de acordo com os valores de seu tempo e cultura.

Para nós, ocidentais, a educação se instala em um domínio de trocas, de símbolos, de intenções, padrões culturais e relações de poder. Nossa educação herda a visão ocidental antropocêntrica de hierarquia de poder entre os homens e deles com a natureza. Esta é vista

como objeto que está a serviço do humano para ser explorada de forma insustentável. E desde este prisma, a educação formal, organizada e realizada na escola e nas academias, bem como as práticas de pesquisa acadêmicas – científicas – através de suas opções epistemológicas, exercem um papel fundamental na forma da organização social.

Esta relação complexa entre educação, ciência, sociedade e cultura, na qual uma condiciona a outra e através da qual, o conhecimento produzido influencia a visão de mundo a que se nomeia como paradigma, se fortalece através do conhecimento produzido na educação nos seus diferentes âmbitos.

Nós ocidentais, herdeiros de uma visão predominantemente antropocêntrica marcada pelo legado da modernidade, temos construído conhecimentos (epistemologias) que nos levou a uma visão de mundo compromissada com uma lógica social de crescimento econômico a todo custo. Mesmo que para que se cresça economicamente, tenha-se que colocar a vida em risco como reflete Macy e Brown (2004).

Vivemos um momento extraordinário na Terra. Temos mais capacidade e conhecimento técnico do que nossos ancestrais jamais puderam sonhar. Nossos telescópios permitem-nos recuar no tempo e ver o início de nosso universo; nossos microscópios abrem os códigos do núcleo da vida orgânica; nossos satélites revelam padrões climáticos globais e o comportamento oculto de nações distantes. Quem, mesmo há um século, teria imaginado tal abundancia de informação e poder? Ao mesmo tempo, testemunhamos a destruição da vida em dimensões que as gerações precedentes não vislumbraram na história. [...]. Hoje, não se trata de uma simples floresta aqui ou algumas fazendas ou pesqueiros ali; hoje, espécies inteiras estão morrendo – e culturas inteiras, e ecossistemas em escala global, chegando até o plâncton que produz o oxigênio dos mares. (MACY e BROWN, 2004, p. 29).

Esta concepção atual de ciência, enquanto empreendimento associado ao progresso material estava ausente em toda a antiguidade onde a ciência se confundia com filosofia; diferentemente da concepção moderna na qual a ciência está associada à tecnologia.

Na ciência antiga, vamos encontrar a partir das civilizações chinesas, as concepções de complementaridade e movimento oriundas das noções de YIN & YANG como forças que regulam o universo como um todo; para os egípcios a ciência procurava resolver problemas práticos e atender questões espirituais; os gregos fazem um esforço para se desvincularem do

pensamento mítico, mas o cosmos é o centro das formulações científicas; no período medieval, a visão de mundo era baseada na teologia cristã e na filosofia aristotélica, com enfoque teológico. Os renascentistas começam a inaugurar outra lógica de pensar a ciência. Para eles, os antigos modelos teóricos já não comportavam o volume gigantesco dos novos conhecimentos deixando a maioria das perguntas sem respostas. E a ciência moderna inaugura um modelo de fazer ciência com características próprias: a ciência busca encontrar explicações que sejam ao mesmo tempo sistemáticas e controláveis; organiza e classifica o conhecimento sobre a base de princípios explicativos. A ciência moderna busca sistemas unificados de explicação, diminuindo as contradições. Inaugura assim uma lógica cientifica pertinente para os modelos econômicos que tem como parâmetro a produção acelerada, a competitividade e o lucro. A ciência contemporânea se funda a partir da “evolução” tecnológica.

Como aponta Gripp (2008), o conhecimento acumulado ocasionado pelo progresso científico propiciou o desenvolvimento tecnológico revolucionando o comportamento da sociedade e, por conseqüência, do ser humano. Muitas foram as descobertas (1712 – Máquina a vapor - (Watt), 1764 – Tear mecânico – (Hargreaves), 1839 – Fotografia - (Daguerre), 1844 – Telégrafo (Morse), 1876 – Telefone - (Bell), 1879 – Lâmpada (Edson), 1943 – Transmissão de TV da BBC, 1961 – Viagem espacial - (Gagarin), 1965 – Satélite de comunicação, 1977 – Telefone celular, 2003 – Genoma humano...) que fizeram com que a ciência se desenvolvesse vertiginosamente levando às sociedades e aos sujeitos sociais transformações do modo de ser provenientes dos benefícios do denominado “progresso científico”.

Os impactos causados pela ciência na vida cotidiana são identificados sem muito esforço. Basta-nos remetermos para nossas vidas cotidianamente: o tocar do despertador, o aquecimento da água para o banho ou para o café, a roupa que vestimos, o transporte que utilizamos, a tecnologia que dispomos e assim por diante. Tudo isso são produtos da aplicação de princípios científicos sofisticados.

Assim como a ciência tem realizado importantes descobertas também tem produzido efeitos desastrosos relacionados à vida no planeta e á integridade humana.

A sociedade atual é resultado do desenvolvimento científico e do progresso tecnológico da era moderna, com seus avanços e também com suas conseqüências tais como:

• A mecanização da agricultura e seus impactos ambientais no meio rural bem como a exclusão dos trabalhadores do campo;

• A urbanização e os impactos ambientais urbanos assim como a marginalização e o aumento constante da violência nas grandes cidades;

• O uso intensivo e insustentável dos recursos naturais e as consequentes catástrofes socioambientais, entre outros.

Eventos atuais demonstram que alguns caminhos escolhidos nas diversas bifurcações encontradas ao longo da historia da humanização tem nos levado a processos de traição à vida comprometendo inclusive as futuras gerações.

A fim de ilustrar esta afirmação, apresento um recorte11 que exemplifica como a ciência encontra-se, muitas vezes, mais comprometida com a lógica do mercado capitalista do que com sua finalidade primeira, a de melhorar a qualidade de vida das populações.

Vejamos o caso do avanço cientifico relacionado ao avanço econômico por meio das práticas de monocultura e transgênicos tão frequentes em nosso país. O plantio de monoculturas exige o uso de fertilizantes sintéticos para devolver a fertilidade ao solo e de agrotóxicos para conter as pragas que podem se reproduzir excessivamente em uma monocultura. Além de contaminar o meio ambiente e trazer prejuízos à saúde humana, tais insumos também encarecem a produção de alimentos.

Porque a analise sobre os efeitos nocivos desta descoberta para a vida no planeta não se sobrepõe aos interesses políticos e econômicos? Em um país onde a maior parte da população passa fome e morre por doenças evitáveis, como não há uma política que reflita sobre a eficácia desta ação exercendo um efetivo controle sobre ela?

Com os avanços científicos recentes, é possível inserir trechos do código genético de uma espécie (por exemplo, micro-organismos) em outra espécie completamente diferente (por

11 Este recorte foi extraído do livro Saberes e Fazeres da Mata Atlântica do Nordeste: lições para uma gestão participativa (2010), por mim organizado juntamente com Maria das Dores Melo. O texto foi escrito por uma das autoras do livro a professora Dra do departamento de botânica da UFPE, Cecília Costa.

exemplo, plantas). Através dessas alterações no código genético das plantas, tornou-se possível produzir alterações em suas características. A vantagem anunciada pelos detentores dessa tecnologia é que a planta podia se tornar mais resistente ao ataque de pragas e assim menos veneno seria necessário.

Na prática, porém, nem sempre a planta transgênica reduz o uso de venenos nas lavouras. Mesmo assim, a tecnologia dos transgênicos está sendo desenvolvida e já é amplamente comercializada.

Vejamos o que ocorreu no caso da soja que vem sendo produzida em larga escala para atender, principalmente, ao mercado externo. Para que a monocultura de soja seja mantida, os agricultores não orgânicos utilizam herbicidas, de modo que outras plantas não venham a crescer em meio à soja. No entanto, com o passar do tempo algumas espécies tornaram-se resistentes ao herbicida e dosagens cada vez maiores tiveram que ser utilizadas, de modo que a própria soja estava sendo prejudicada.

Para resolver esse problema, um tipo de soja transgênica foi desenvolvido para tornar-se mais resistente a um herbicida específico que, uma vez aplicado nas lavouras de soja transgênica, mata as demais plantas, exceto a soja transgênica. Então, nesse caso específico, a transgenia serviu para aumentar o uso de herbicidas, e não para minimizá-lo.

À medida que vão sendo utilizados em larga escala, os impactos dos transgênicos vão sendo conhecidos. O milho transgênico está contaminando através de seu pólen lavouras de milho não transgênico. Isso tem sido bem documentado no México (ROBIN, 2008), que é o berço do milho no mundo, mas contaminações no Brasil também já estão sendo verificadas (BRITO, 2009).

Apesar de todas as considerações acima, os transgênicos do milho e da soja já estão sendo amplamente comercializados em vários países do mundo, no Brasil inclusive, sob a argumentação de que não existem evidências dos prejuízos que a prática pode causar. Por que será que tantos países liberaram o cultivo desses transgênicos mesmo com tantas questões a serem respondidas?

Uma informação que pode ajudar nessa reflexão é o fato de que poucas empresas dominam o mercado mundial de transgênicos, as quais chegam a ter um faturamento maior do que o PIB de muitos países, de modo que exercem uma influência considerável nas decisões relativas à liberação dos transgênicos ao redor do mundo.

A imbricação entre sociedade e ciência, na qual uma interfere na outra e através da qual, nossa vida é absolutamente impactada, deveriam levar à formulação de questionamentos sobre a eficácia e à sustentabilidade das descobertas cientificas. Perguntas relacionadas à

sustentabilidade deveriam ser formuladas em toda e qualquer empreitada científica e respondidas mediante políticas de controle estabelecidas sob parâmetros de uma ética a favor da vida (incluindo as futuras gerações).

Temos, ao contrário, produzido conhecimentos comprometidos exclusivamente com a lógica do mercado, e as consequências disto, tem levado à banalização da vida, que tem como consequências a exploração da natureza e o consumo sem escrúpulos que desencadeiam doenças e catástrofes ambientais.

Diante deste contexto muitos pensadores, educadores e cientistas nos alertam com questionamentos tais como esta formulação elaborada por Gripp, em 2008, quando pergunta:

Para onde esse processo nos levará?

O que será da civilização humana?

Segundo a hipótese de Gaia12 proposta por James Lovelock (2006), com a qual Rolando Toro se inspira para formular o Princípio Biocêntrico – (Toro, 2002) a terra é um ser vivente. Gaia pode ser definida como um ente complexo que inclui a biosfera terrestre, atmosfera, oceanos e solo; e a totalidade, estabelecendo um mecanismo auto-regulador de sistemas cibernéticos com a finalidade de procurar um ambiente físico e químico ótimo para a vida no planeta, num processo de homeostase mantido por meio de processos intensos de retro-alimentação, operados automática e inconscientemente pela biota.

Esta teoria propiciou a elaboração apresentada por Gripp (2008) de que quando a atividade de um organismo beneficia o ambiente tanto quanto ao próprio organismo, então sua proliferação será favorecida. Eventualmente, o organismo e a mudança ambiental associada a ele passam a ter uma extensão maior ou até global. O inverso também é verdadeiro. Qualquer espécie que afete de maneira adversa o ambiente, está destinada ao fracasso (como espécie); apesar de que a vida possa continuar.

12

A hipótese Gaia, ou hipótese biogeoquímica, é hipótese que propõe que a biosfera e os componenetes físicos da Terra (atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) são intimamente integrados de modo a formar um complexo sistema interagente que mantém as condições climáticas e biogeoquímicas preferivelmente em homeostase. Originalmente proposta pelo investigador britânico James E. Lovelock como hipótese de resposta da Terra, ela foi renomeada conforme sugestão de seu colega, William Golding, como Hipótese de Gaia, em referência a Deusa grega suprema da Terra – Gaia. A hipótese é frequentemente descrita como a Terra vista como um organismo vivo. Lovelock e outros pesquisadores que apoiam a ideia atualmente consideram-a como uma teoria científica, não apenas uma hipótese, uma vez que ela passou pelos testes de previsão. Fonte: Lovelock (2006).

As atitudes dos “seres humanos” tem sido insustentáveis do ponto de vista da permanência da vida. Uma vez que tais atitudes são movidas por valores que por sua vez são influenciados pelos processos educativos, passa a ser pertinente a tese de Toro (2002), qual seja, a afirmação de que o conhecimento que está sendo produzido historicamente em nossa cultura ocidental tem engendrado formas de traição à vida.

Por isso configura-se em um conhecimento comprometido do ponto de vista ético e por esta razão, é relevante a problematização sobre os princípios que orientaram as formulações epistemológicas desencadeadoras de tais conhecimentos, que por sua vez interferem nos respectivos valores (hoje perigosamente insustentáveis).

A Organização das Nações Unidas (ONU)13 postula que uma sociedade sustentável é aquela que assegura a saúde e a vitalidade da vida e cultura humana e do capital natural, para o presente e futuras gerações. A realidade atual de desigualdade social e ameaça socioambiental demonstram a urgente necessidade de se repensar as bases sob as quais o desenvolvimento tecnológico e científico está sendo proposto, uma vez que a realidade demonstra que este está sendo insustentável.

O desenvolvimento tecnológico corresponde ao processo porque passam as práticas científicas realizadas (desde as opções epistemológicas, passando pelo financiamento econômico - científico que retratam opções político-científicas, até os resultados), o que se apresenta como válido cientificamente. Este processo necessita ser reformulado.

Alguns dilemas atuais, tais como aquecimento global x resfriamento global; preservar florestas ou produzir alimentos; participar do mundo tecnológico e virtual x resgatar a humanização das relações entre dois (ou mais), entre outros, evidenciam que a ciência moderna não está conseguindo oferecer as respostas necessárias para a compreensão do mundo, à luz de tamanha complexidade. A insustentabilidade atinge todos os âmbitos: ecológicos, sociais e existenciais.

Muitas são as dimensões por onde esta reformulação pode ocorrer. O que nos interessa no presente trabalho é a dimensão da educação, uma vez que a ciência é pensada e praticada através de processos educativos, os quais também influenciam a visão de mundo que os sujeitos sociais constroem o que corresponde aos valores paradigmáticos de cada época (cultura). Esta mudança, não ocorrerá por uma única via. Não se trata de um esforço realizado por uma área de forma isolada, mas de um esforço conjunto entre as diferentes esferas sociais,

o que exige mudanças conceituais e mudança de mentalidade das pessoas que levará a alteração de valores indispensáveis para a mudança necessária nos padrões de