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DCE DO CES/FUNDESTE E MOVIMENTO ESTUDANTIL: PAUTAS E AÇÕES EM

3. OS ESTUDANTES DO INTERIOR TAMBÉM SÃO CAPAZES: INFLUÊNCIA E

3.4. DCE DO CES/FUNDESTE E MOVIMENTO ESTUDANTIL: PAUTAS E AÇÕES EM

Entre os documentos encontros nas consultas realizadas no acervo sob a guarda do CEOM, encontramos alguns referentes à convocação dos estudantes para a participação em assembleias e a programação de eventos. Neles podemos perceber a indicação de que havia debates que ampliavam as perspectivas de visão dos estudantes para com as suas realidades e a do país (de certo modo, como se espera que seja natural em uma instituição de nível superior). Entretanto, sem a apresentação de detalhes mais específicos sobre os assuntos abordados e de que forma isso era feito, os documentos apenas os indicam como itens em lista de pautas.

Documento 9: Convocação para Reunião

Documento 10: Convocação para Assembleia Ordinária

Documento 11: Convocação para Assembleia Geral

Documento 12: Programação da Semana da Calourada

Deste modo, ao observar os documentos, podemos identificar pautas como reforma curricular, participação no movimento pró-universidade114, criação da casa do estudante115,

questões relacionadas à educação no Brasil, além de atividades de lazer e integração entre os cursos, os estudantes e professores. Encontramos esse tipo de documento de períodos variados, porém, até os anos 1980, eles são menos frequentes116, e algumas vezes apresentam somente a

convocação para uma assembleia, por exemplo, mas sem indicação das pautas.

Tais documentos, ainda que trazendo indícios superficiais, são emblemáticas para a problematização de quais eram as preocupações dos estudantes em cada momento, das dinâmicas que atravessam a categoria, a instituição, a cidade e o país, além de como elas se entrelaçam. Isso também mostra, mesmo que vagamente, que havia grupos de estudantes atentos às necessidades de seus pares e aos acontecimentos que exerciam influência direta em suas vidas tanto profissional como pessoal, e algumas vezes, também sobre aqueles que exerciam influência indireta.

Assim, em meio a oscilações na postura e na mentalidade das lideranças do DCE do CES/Fundeste, independentemente de almejarem-se políticos ou não e mais ou menos restritos ao atendimento exclusivo dos estudantes da instituição, o fato é que a entidade desenvolveu ações práticas ao longo de sua trajetória, algumas das quais podem ser compreendidas como mais políticas, a exemplo das interações com a reconstrução da UCE, no alinhamento com a

114 Possivelmente em relação ao que se estabeleceu com mais força no final da década de 1980 e que buscava

criação de uma universidade do oeste catarinense, em detrimento da existência dos centros de ensino superiores isolados. Esse movimento apoiou a unificação de algumas fundações educacionais para a criação da UNOESC, e posteriormente, também apresentou ações que reivindicavam a federalização da instituição, o que não teve sucesso.

115 Uma espécie de moradia estudantil que pudesse atender aos estudantes que vinham de outros municípios para

estudar no CES/Fundeste e, necessitando de instalação mais fixa em Chapecó, ou seja, que vinham estudar e passavam a residir na cidade, as vezes, não dispunham de condição financeira suficiente para arcar com o aluguem de uma residência ou quarto junto a outros gasto cotidianos. A casa do estudante também almejava atender aos estudantes dos cursos de férias que, devido a carga horária concentrada, não tinham condições de fazer o deslocamento diário entre o município que residiam e Chapecó.

116 Essa questão da quantidade ou frequência com que determinados documentos podem ser encontrados no

arquivo, também tem relação com a própria existência dos mesmos. Documento anteriores a 1980 estavam presentes em menor volume no acervo documental, o que pode indicar uma ausência de cuidado com a preservação ou mesmo com o arquivamento por parte do próprio DCE até esse período. De 1980 em diante o volume de documentos começa a aumentar, mas ainda assim, devido ao fato de o acervo do DCE do CES/Fundeste ser considerado a mesma entidade durante a transformação da instituição em UNEOSC e depois em Unochapecó, grande parte dos documentos correspondem a esses períodos posteriores. Isso pode indicar uma falta de conhecimento ou atenção com a preservação da memória, considerando inclusive que o CEOM é criado apenas em 1986 e que somente a partir da sua existência, essa conscientização possa ter se desenvolvido. Também é possível que devido às limitações na representação estudantil que vigoraram em lei de forma veemente até 1979, os membros do DCE, como forma de evitar complicações, não mantivessem seus arquivos de forma completa.

UNE e discussões sobre a constituinte, a dívida externa, etc., e outras menos, como podem ser interpretadas as questões relacionadas ao transporte, a grade curricular, entre outras.

Tais oscilações de postura e de pautas fazem com que o alcance e os impactos do DCE do CES/Fundeste sejam variados, mas ainda assim, em algum grau exerceram influência na instituição de ensino e, como consequência, deixaram marcas na sociedade. Mas isso, conforme identifica-se na fala dos participantes, ocorreu de modo tranquilo, ou seja, sem grandes embates com a instituição, o corpo de estudantes e a sociedade, assim como, em sua maior parte, alinhado com os interesses institucionais e empresariais, elemento claramente identificado no discurso de alguns dos entrevistados.

Nesse sentido, algumas das falas de Ernídio Migliorini servem como exemplo. O tom predominante é de trabalho conjunto e harmonia entre estudantes, DCE e instituição. Para ele, todos almejavam o crescimento e consolidação da instituição e o desenvolvimento econômico regional por meio da qualificação acadêmica e técnica (MIGLIORINI, 2018)117.

[...] havia perfeita sintonia entre a direção e o diretório Acadêmico. Todos pensando em prol do melhor resultado, melhor desempenho acadêmico para conseguir a melhoria da qualidade do ensino, inclusive o reconhecimento do MEC [...] nunca houve conflito, nunca houve problema nenhum. Sempre foram todos numa causa justa, digna, lutando em benefício da formação acadêmica da população do Oeste. [...] sempre foi uma situação bem harmônica, inteligente, eficaz [...] (MIGLIORINI, 2018, p.03)118.

[...] o diretório, ele foi emanado do contexto académico, e como tal, havia uma perfeita sintonia de intenções e elas eram simplesmente o que? Nós estamos numa região que está em desenvolvimento, nós precisamos conter uma instituição aqui de nível superior que prepare as pessoas profissionalmente para o exercício de profissões, para a formação de profissionais liberais e outros profissionais especializados em cada área, considerando a nossa vocação econômica. Então não havia nada que fugisse disso, e toda a reivindicação ela nunca tinha objetivo pessoal em si, era sempre um objetivo coletivo de servir a essa comunidade que era bastante unida [...] para conseguir um objetivo comum que era a evolução, o crescimento, o desenvolvimento da região. (MIGLIORINI, 2018, p.11)119.

117 MIGLIORINI, Ernídio. Ernídio Migliorini: depoimento oral [02 out. 2018]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2018. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

118 MIGLIORINI, Ernídio. Ernídio Migliorini: depoimento oral [02 out. 2018]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2018. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

119 MIGLIORINI, Ernídio. Ernídio Migliorini: depoimento oral [02 out. 2018]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2018. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

Com isso, evidencia-se a ideia de que a década de 1970 ainda faz parte de um período de consolidação da instituição, onde parte dos esforços estudantis voltavam-se para a qualidade do ensino no que tange tanto a qualificação deles próprios enquanto profissionais no mercado de trabalho como a de seus professores. Esse tipo de demanda pode facilmente ser identificada com um interesse comum entre estudantes instituição na busca pelo reconhecimento do serviço oferecido e do serviço usufruído.

Também a percepção e o discurso de Beno Nicolau Bieger condizem com essa atmosfera de concordância mútua e foco no crescimento econômico. Para ele, fazia parte da função do DCE apoiar a instituição, contribuir para seu desenvolvimento estrutural e na qualidade de serviço prestado, bem como com o auxílio na colocação dos estudantes no mercado de trabalho a partir da aproximação com as empresas (BIEGER, 2018)120.

Já na visão de Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira (2019)121, esse mesmo alinhamento

permanece aparente, entretanto, com um tom de conveniência mútua, indicando que tanto a instituição necessitava dos estudantes da mesma forma que os estudantes necessitavam dela, o que proporciona uma confluência nos interesses levando ambos a compartilharem dos mesmos interesses. É importante, nesse ponto, frisar que tal confluência também tem relação com o momento econômico, político e social pelo qual o país passava e que em Chapecó não era diferente, pois remete à ideia do preparo profissional e da expansão econômica-empresarial da região sustentada pelo desenvolvimentismo.

Como identifica-se no relato abaixo, de Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira, o período era de crescimento dos frigoríficos, de fortalecimento da urbanização e como consequência, expansão de outros segmentos industriais e de segmentos comerciais. Diante disso, os cursos ofertados pelo CES/Fundeste dialogavam diretamente com essa realidade, sendo no curso de pedagogia e de estudos sociais voltado para atuar na educação dos professores e garantir a instrução básica para a população, e os de administração e contábeis voltados para o trabalho nas empresas, garantindo mão-de-obra especializada em algumas áreas que eram importantes.

120 BIEGER, Beno Nicolau. Beno Nicolau Bieger: depoimento oral [22 nov. 2018]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2018. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

121 OLIVEIRA, Hugo Paulo Gandolfi de. Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira: depoimento oral [12 fev. 2019].

Entrevistador: Vinícius de Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2019. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó- SC (1977-1986).

fase de expansão dos frigoríficos né, e logo depois veio a expansão do segmento metal-mecânico né, crescimento do comércio né [...]. Quem ia fazer os cursos lá também tinha essa preocupação de se preparar para o mercado [...] eram pessoas que sentiam a necessidade de formação [...]. E havia essa preocupação de preparo profissional. Ou o cara ia, naquela época se buscava formação em Porto Alegre ou Curitiba, menos em Florianópolis. Era mais fácil ir a Porto Alegre e Curitiba do que a Florianópolis, e com o surgimento dos cursos aqui de pedagogia para atuar na educação nos municípios, foi muitíssimo valorizado isso, e principalmente depois, ciências contábeis e administração para atuar nas empresas né. (OLIVEIRA, 2019, p.23)122.

Certamente, o contexto de apelo desenvolvimentista vivido no oeste catarinense durante os anos de 1970 e 1980 exerceu influência sobre a mentalidade da população e se enraizou profundamente em elementos da cultura regional que se vangloriam sobre o “Ethos do Trabalho” (FLORES; SERPA, 1999), o que corrobora para compreender o apoio incondicional à instituição, principalmente nos seus primeiros anos, e por conseguinte, o suporte ao predomínio dos interesses empresariais penetram na Fundeste, no desenvolvimento de uma educação, por vezes, bancária e utilitarista em detrimento do efetivo atendimento da população no que diz respeito a um desenvolvimento crítico. (PAIM, 2003; BRANCHER; LOHN, 2014).

Por outro lado, é fundamental considerar também a puerilidade do próprio CES/Fundeste, que deficiente em verbas e estrutura, tem no apoio estudantil uma importante base de sustentação para o seu crescimento e consolidação. Nos relatos de alguns participantes isso fica claro quando tratam sobre a participação do DCE no uso do espaço da instituição e nas alterações estruturais ao longo do tempo, seja pelas cobranças feitas por eles, seja pela realização direta de obras ou ações que auxiliaram para tal. (BIEGER, 2018123; ROSSARI,

2018124; MINOZZO, 2019125).

Raul Angelo Minozzo [gestão 81-82], nesse sentido lembra que:

122 OLIVEIRA, Hugo Paulo Gandolfi de. Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira: depoimento oral [12 fev. 2019].

Entrevistador: Vinícius de Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2019. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó- SC (1977-1986).

123 BIEGER, Beno Nicolau. Beno Nicolau Bieger: depoimento oral [22 nov. 2018]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2018. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

124 ROSSARI, Alzumir. Alzumir Rossari: depoimento oral [30 nov. 2018]. Entrevistador: Vinícius de Almeida

Peres. Chapecó: UFFS, 2018. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

125 MINOZZO, Raul Angelo. Raul Angelo Minozzo: depoimento oral [27 fev. 2019]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2019. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

tinha uma área disponível lá, daí nós fomos nós do DCE, se não me engano foi o diretor e o vice da Fundeste, foi um deputado estadual aqui de Maravilha aqui, não lembro o nome dele, e fomos falar com o governador para nós construir o ginásio de esportes lá. Na Fundeste. Fomos lá, marcamos uma audiência, fomos a Florianópolis e o governador deu sinal que sim né. Mas tu sabe que esse sinal de sim de político passa 5 anos, passa 3 anos, 4 anos e cai no esquecimento. Deu o sinal lá, disse que ia liberar a verba no ano seguinte e não liberou. Nós conseguimos com umas empresas ali, consegui lá onde é que... nem lembro certo o lugar hoje, onde é que era para sair o ginásio, conseguimos com umas empresas aí, fizemos alambrado, colocamos palanque de concreto. Tudo meio doado assim, mão-de-obra, fizemos um campo de futebol suíço, né, aproveitamos aquilo lá né. E o dinheiro acho que do governador, acho que nunca fiquei sabendo que veio aquele lá. Mas que prometeu, prometeu. (MINOZZO, 2019, p.15)126.

O participante ainda apontou sobre a estrutura utilizada e disponível no CES/Fundeste que

[...] se não me engano a Fundeste começou aqui no bairro, no Seminário, e lá127, foi

construído um centro que era para ser um manicômio, e daí acabou não dando certo e tal, entendeu? [...] Eu lembro que quando eu, que eu comecei lá sabe, até estavam ocupando um pavilhão o outro pavilhão, tinha um do meio lá. Aí a direção falava assim, bah, mas não tem mais lugar e tal, nós precisamos ampliar, como é que vamos buscar novos cursos se não tem o que fazer e tal. Mas o que que tem aqui no meio, o pavilhão inteiro lá? Fomos lá ver era a cozinha lá, tinha toda uma estrutura de cozinha. Fogão industrial, panelas desse tamanho, tudo inox, fazia 4, 5 anos que estava lá jogado. Tanto é que não deu nem para aproveitar. Estava prontinho lá, porque era para ser o manicômio, daí tinha... iam fazer o refeitório, tudo lá né, e ficou aquela área tudo ocupada. Digo, mas gente, vamos fazer alguma coisa, ou vamos dar destino para isso aqui, né, vamos utilizar como refeitório mesmo, na verdade não vale a pena porque os estudantes são tão pouco aqui né, ou vamos tirar essas coisas daqui, doar para alguém, devolver para o governo e vamos aproveitar para salas né. E ela foi aumentando. [...] Tu não imagina, eles tinha 2 pavilhão, 3 e depois era mato, “capuera”128 lá para baixo,

agora é uma cidade aquilo lá né. (MINOZZO, 2019, p.15-16)129.

Outro participante que traz a participação estudantil em alterações e expansão de estrutura do Centro de Ensino Superior é Beno Nicolau Bieger [gestão 80-81]. Sobre isso, ele aponta que

[...] eu me espelhava no Dilso Cecchin130, que foi o que construiu a quadra de futsal...

naquele predinho da central cópias, ali antes era só uma quadra assim, um concretão,

126 MINOZZO, Raul Angelo. Raul Angelo Minozzo: depoimento oral [27 fev. 2019]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2019. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

127 O participante se refere ao local onde a instituição foi alocada posteriormente e que hoje encontra-se a

Unochapecó.

128 Expressão local que indica mato.

129 MINOZZO, Raul Angelo. Raul Angelo Minozzo: depoimento oral [27 fev. 2019]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2019. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

130 Foi vice-presidente do DCE na gestão 1975-1976 e membro efetivo do conselho fiscal do DCE no ano seguinte.

do Dilso Cecchin. Ai ele me inspirou e digo, poxa... futsal é uma coisa, mas na época todo mundo queria jogar futebol suíço né, porque um concreto duro ali no chão não é mais tão agradável né, então vamos fazer uma cancha de futebol suíço. E fizemos a cancha de futebol suíço do lado, né, então acabou não utilizando mais aquela ali, tanto assim que depois foi... a UNO foi lá, quando virou UNOESC, e construiu aquela central ali, mas ali eram concretão do futebol, uma cancha de futebol de salão que o Dilso Cecchin construiu ali, mais ou menos nos mesmos moldes que a gente tá. E o Dilso Cecchin depois veio a ser prefeito né, de Chapecó, ele faleceu no final da gestão dele. Ele morreu no mesmo dia que o Plínio de Nês faleceu. Foi uma consternação na cidade que ta louco... (BIEGER, 2018, p.20-21)131.

Além do envolvimento prático e de realizações próprias do DCE, o relato de Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira [gestão 79-80] apresenta alguns pontos em que a entidade pressionava a Fundeste demonstrando os interesses e preocupações dos estudantes, nesse caso, ligados à qualidade do ensino, a qualificação dos professores e a adequação da estrutura para realização de atividades educacionais.

[...] Eu me lembro que a gente tinha discussões, às vezes, bem consistente com a direção, por questões internas, por outras né, recursos, melhorias né, porque a própria condição física da, do campus lá, né, era uma instalação que foi feita para ser um hospital psiquiátrico, e ai, de repente se transforma numa... em salas de aula. Então tinha questões para serem adequadas né, e ai se discutia né. Questão de professor, por exemplo, uma questão séria que se tinha na época era professor, porque não tinha, você não tinha, Chapecó não tinha profissionais preparados para dar aula no curso superior. Tanto que hoje a gente tem um fluxo grande de professores que vem dar aula aqui em Chapecó nos cursos de pós-graduação, nos cursos de mestrado, nos cursos de doutorado, o mesmo movimento que a gente tem hoje nesse nível, a gente tinha para os cursos de graduação. Vinha professor de Passo Fundo, de Porto Alegre, de Curitiba, de Florianópolis, imagina em uma época que não tinha voos, ônibus eram poucos né, então, as principais discussões era nessa questão, da qualificação do ensino, né. (OLIVEIRA, 2019, p.15)132.

Junto disso, vale apontar um momento de protagonismo do DCE, o qual, dentro no nosso recorte, possivelmente foi o mais combativo, indicando inclusive que, mesmo predominando o tom de harmonia nas ações da entidade e nas relações com a instituição, os estudantes estavam dispostos a defender sus interesses de forma mais incisiva quando necessário. Assim, em 1981,

já havia sido vice-prefeito de Chapecó, primeiro suplente no Senado e secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento. Ele faleceu vítima de um infarto em seis de fevereiro de 1995, com aproximadamente 42 anos de idade.

131 BIEGER, Beno Nicolau. Beno Nicolau Bieger: depoimento oral [22 nov. 2018]. Entrevistador: Vinícius de

Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2018. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó-SC (1977-1986).

132 OLIVEIRA, Hugo Paulo Gandolfi de. Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira: depoimento oral [12 fev. 2019].

Entrevistador: Vinícius de Almeida Peres. Chapecó: UFFS, 2019. Mídia digital. Entrevista concedida para a pesquisa de dissertação de mestrado Organização Estudantil e Luta Política: o caso do CES/Fundeste de Chapecó- SC (1977-1986).

os estudantes, devido a desentendimentos no relacionamento com duas professoras – ao que é indicado, apresentavam uma postura mais autoritária somado a um desempenho acadêmico insatisfatório –, organizaram um boicote ao pagamento das mensalidades como forma de reivindicar o afastamento das mesmas. Segundo Beno Nicolau Bieger