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De Proa à Popa: O início do naufrágio da economia campinense

DESENVOLVIMENTISMO E A ARRANCADA DO CAMPINISMO

3.1 De Proa à Popa: O início do naufrágio da economia campinense

Mediante o quadro que retrata o apogeu e os primeiros instantes da crise econômica de Campina Grande, se faz preponderante dimensionar as nuanças financeiras e administrativas, e o trágico resultado final destas oscilações, o declínio socioeconômico que a cidade passou a atravessar depois de iniciado o processo de centralização político-administrativa interpelado pelos militares. Com isso, os graves problemas da cidade relativos ao abastecimento de água, esgotamento sanitário, fornecimento de energia elétrica, habitacional, e de cunho educacional, não foram totalmente resolvidos com a administração municipal chefiada por Williams Arruda. Sem nenhum ranço apologético, o que houve no período de 30 de setembro 1964 a 31 de janeiro de 1969, foi algo novo na política municipal, a ideia de planejar cuidadosamente os diferentes setores da economia, e o consequente desenvolvimento

90 social de Campina, isto feito em um período extremamente conturbado da história nacional.

Finalmente, os problemas básicos da sociedade campinense tinham projetos específicos, que progressivamente vinham estruturando a cidade, não em sua totalidade, pois, só uma política de abrangência nacional pode alcançar tamanho êxito. Mas, dentro do município de Campina Grande, os primeiros passos rumo a este objetivo maior estavam sendo iniciados. As empresas criadas durante a gestão aludida em nosso estudo ratificam esta premissa.

É indiscutível o fato das empresas municipais de capital misto implantadas no período referente à administração Williams Arruda, estarem num grau quantitativo e qualitativo superior as empresas equivalentes, não só na região Nordeste, mas, em parte relevante do país. Ao ponto de a única empresa que fazia parte das fornecedoras dos serviços públicos municipais que não havia sido criada durante a gestão Williams Arruda era, justamente, a única empresa de utilidade pública, a qual era frequentemente criticada pela população, sobretudo, pela péssima qualidade dos seus serviços, a SANESA, que apesar da Prefeitura Municipal de Campina Grande deter algumas de suas ações, cabia ao Governo do Estado da Paraíba a sua administração. Interessante frisar, que ainda com a discutível atuação da SANESA e posteriormente da ainda mais sofrível, CAGEPA, Campina Grande dispõe de uma cobertura de ruas saneadas superior a média nordestina, e até mesmo, em relação a capital do Estado.132

Como destacamos no segundo capítulo, a falta de água era um problema antigo e constante no município de Campina Grande, não apenas o Bairro do Centro e na Prata (os mais nobres), como também, em todos os bairros da cidade, a SANESA então presidida pelo “Coroné” Veneziano Vital do Rego, estava tão desorganizada, que chegou a ter seu fornecimento de energia elétrica cortado pela CELB, motivado pelo atraso do pagamento da conta de energia elétrica, perfazendo o valor de 118 mil cruzeiros novos, como nos chama atenção o presidente da CELB, Edvaldo do Ó afirma que

(...) os dirigentes da CELB, por diversas vezes, haviam mantido contatos com a SANESA, visando a um acordo, o que não evitou que o problema cada vez mais se agravasse, em decorrência da grande displicência administrativa dos dirigentes daquela empresa. (...)

132 Dado extraído do censo 2010, disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb/pnsb.pdf. Acessado em, 02/05/2012.

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Somente com medidas desta natureza os dirigentes da SANESA terão mais responsabilidade. (DIÁRIO DA BORBOREMA, 16 de dez. 1967, p.9. )

As Autarquias Municipais campinenses tinham a boa prestação de serviço como sua principal característica, especialmente, a CELB, que até mesmo, mais de trinta anos após sua fundação, continuava a ser a empresa de serviços públicos campeã absoluta, no que diz respeito, a excelência na qualidade de seus serviços. Enquanto, a CAGEPA, empresa criada a partir da absorção da SANESA, ainda na década de 1990, “era” a empresa pública que “tinha” os seus serviços mais criticados pela população.

Williams de Souza Arruda e sua equipe administrativa, pensavam de acordo com o que havia de mais moderno no seu tempo, ainda que o desenvolvimentismo na economia nacional tenha causado rupturas até hoje não recuperadas,133 em Campina Grande esta ideologia proveu bons frutos, a cidade crescia galgada em projetos econômicos sólidos (ainda que alicerçados na polêmica política de incentivos fiscais), e o fato de Williams, antes de tornar-se prefeito, não ter sido um grande entusiasta da política desenvolvimentista, compunha mais um fator interessante aos rumos que a política econômica municipal se destinou a partir da sua posse, como afirmou este personagem político em entrevista concedida a Damião de Lima em 10 de novembro de 1995, quando deixou claro que inicialmente não era um entusiasta da industrialização, maiormente, devido a sua formação política ter sido originada de setores tradicionais da política local, mas posteriormente, “durante a convivência com o prefeito [Newton Rique] passou a entender a importância do projeto desenvolvimentista para o município e, por isso, resolveu dar continuidade ao projeto iniciado pelo prefeito cassado” (LIMA, 2004. p. 144.).

Ao dar início a sua administração, Williams Arruda definitivamente compactuou com o ideário desenvolvimentista, ao destacarmos seu principal secretário, o economista Edvaldo do Ó. É impressionante como este entusiasta da industrialização estava presente em todas as iniciativas da Prefeitura durante a gestão analisada.

Williams Arruda montou sua equipe de governo visando encampar os projetos desenvolvimentistas, trazendo estes ideários para prática através das verbas oriundas do governo federal.

133 Para maior conhecimento das consequências relativas às medidas desenvolvimentistas em relação à

92 O parágrafo anterior mostra como Williams soube barganhar com a sempre desconfiada ditadura militar, tanto que, os recursos federais para o desenvolvimento dos projetos delineados pela Prefeitura, foram conseguidos sempre que o prefeito os solicitasse, ainda que demorassem em chegar aos cofres da Prefeitura, as instituições federais estavam através de vários convênios ligadas à Campina Grande.

As instituições nacionais como a SUDENE, que representava o órgão federal de maior envergadura no Nordeste, foi constantemente sondada, levando em consideração o fato de Campina Grande ser durante a década de 1960, nada menos, a quarta cidade nordestina, no que se refere ao envio e aprovação de projetos destinados ao crivo da SUDENE, ficando atrás apenas, das três metrópoles nordestinas, Recife, Salvador e Fortaleza. Eis quadro demonstrativo relativo às indústrias que se instalaram em Campina Grande e receberam vários outros incentivos via Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste:

QUADRO Nº16