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11 DE SETEMBRO DE 2001: AS IMAGENS E O MARCO

Os filmes definem o padrão e essas pessoas copiaram os filmes. Ninguém teria pensado em cometer uma atrocidade como essa a menos que eles tivessem visto em um filme. Como continuamos a mostrar esse tipo de destruição em massa nos filmes? Eu apenas acredito que criamos essa atmosfera e os ensinamos a fazê-la. Robert Altman97

O poder das imagens dos ataques terroristas planejados pela Al-Qaeda, e sua exibição constante, inundou o cotidiano do estadunidense com inúmeros takes do Pentágono e principalmente das Torres Gêmeas, sendo explorados ao extremo pelos meios de comunicação em massa – principalmente por jornais, fotografia, rádio e televisão. No mesmo dia dos ataques se recorreu aos registros históricos de atentados anteriores ao território estadunidense, a fim de buscar eventos semelhantes ou alguma aproximação histórica, uma forma de agir frente ao acontecimento, bem como estipular um novo marco, um novo fato histórico.

Esse capítulo da história dos EUA é impossível de ser escrito sem as imagens veiculadas, pois elas interferiram no imaginário estadunidense através do espetáculo televisionado. Os ataques pareciam terem sido elaborados com storyboards e roteiros; cenas que foram arquitetadas para serem exibidas para todo o mundo como takes produzidos nos próprios estúdios hollywoodianos. O grupo Al-Queda priorizou o efeito espetacular, o qual foi intensificado pela exploração televisiva e, posteriormente, pelos pronunciamentos dos governantes dos EUA.

As transmissões televisionadas foram cruciais para a divulgação dos atentados terroristas, com uma mídia acessível e capaz de transmitir ao vivo para bilhões de pessoas ao redor do globo. Praticamente todas as redes de TV dos EUA cobriram o impacto do do Voo 175 da United Airlines, às 09:03 hs, na Torre Sul do WTC, com toda essa vasta audiência acompanhando ao vivo. Da mesma forma, foram feitas as coberturas em tempo real ao Pentágono (às 09:37, com o Voo 77 da American Airlines) e, posteriormente, a queda do Voo 93 da United Airlines na Pensilvânia.

97 BATES, Alan. Altman says Hollywood “created atmosphere” for September 11. The Guardian,

Londres, 18 Out. 2001. Disponível em: <https://www.theguardian.com/film/2001/oct/18/news2>. Acesso em: 10 set. 2017.

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Algo notável dessa sequência de acontecimentos foi seu encadeamento, não apenas no plano tático, mas como espetáculo arquitetado. Todas as redes de TV interromperam sua transmissão rotineira para levar ao ar a cobertura do que havia acontecido na Torre Norte do WTC há poucos minutos. Nesses primeiros instantes, não haviam ainda declarações ou mesmo uma explicação; os repórteres dialogavam com seus correspondentes via telefone se questionando se tratava-se de um ataque ou uma explosão acidental.

Durante a cobertura da Torre Norte em chamas se iniciou o “segundo ato”. Em meio aos diálogos dos jornalistas, ao fundo do enquadramento, surge o Voo 175 diretamente contra a Torre Sul. Tal cena, se não tivesse sendo exibida ao vivo na TV, facilmente seria confundida com um filme exibido na programação e o espectador o consumiria como uma ficção, apenas a simulação de um atentado aos EUA. A conclusão é simples: os atentados do dia 11 de setembro de 2001, especialmente contra as torres do complexo do WTC, foram planejados para serem filmados e transmitidos ao vivo.

Há outro fator a ser considerado nessas transmissões televisivas: a valorização cinematográfica das imagens do WTC. Como se tratavam de imagens ao vivo, não houve um preparo ou se seguiu um roteiro preestabelecido, pois não foi uma matéria jornalística planejada. Os contratempos técnicos e o enquadramento das imagens ao vivo são reflexos do cinegrafista, que se torna os olhos dos espectadores. Preocupados em entender e explicar a situação, poucos narradores observaram o Voo 175 se aproximando no horizonte, dando-se conta do ocorrido apenas segundos após o impacto. Ninguém imaginaria, nesse momento, uma sequência de ataques, o que explicita muito bem a linguagem televisiva que possui uma característica que acentua a audição ao vislumbre visual.

Segundo Pierre Sorlin, a linguagem televisiva não exige que o espectador esteja todo o tempo em frente à tela, analisando as imagens a todo o instante.98 Apesar de usar

mais close-ups do que na narrativa fílmica, bem como planos médios (como nos telejornais), a fim de mostrar a seriedade dos âncoras, o espectador concentra-se mais no elemento auditivo do que no visual. Em um evento que foge à norma, como os de 11 de

Setembro, o que chama a atenção do espectador é a manchete, a exaltação do ocorrido.

98 SORLIN, Pierre. Television and our understanding of history: a distant conversation. In: BARTA, Tony.

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A TV trabalha com uma linguagem prática, através da qual o cidadão comum consome os acontecimentos – carregados de interpretação – de forma informal, para além do âmbito educacional. A classificação de “momento histórico”, “a história sendo escrita”, “a história acontecendo”, “primeira vez na história”, dentre outras frases de impacto, sempre foram e serão utilizadas pelos meios midiáticos; são jargões que chamam a atenção do espectador e delineiam o sentido do que será noticiado. É pertinente a exposição sobre a TV e o “Mostrar ocultando” feita por Pierre Bourdieu99 sobre a seleção

das palavras feitas pelos profissionais que trabalham nesse mídia, bem como a condução da recepção da imagem através da incitação pela palavra que trará uma espécie de legenda para o que é mostrado. Contudo, a apreciação de Bourdieu sobre os jornalistas é bem negativa, afirmando que eles não compreendem as palavras e continuam “[...] sem compreender que não as compreendem”.100

Há no meio televiso um apelo constante pela história, principalmente quando utilizam imagens para ilustrar uma matéria no telejornal – como se faz ainda hoje nos livros didáticos de História. Tal debate extrapola os limites aqui propostos, mas o que se pretende destacar é como a incidência de certas abordagens tem impacto sobre o público, bem como são utilizadas a fim de chamar a atenção para a que é transmitido na tela. Trata- se, muitas vezes, de dialogar com a cultura história do espectador, em nosso caso a dos EUA.

Em uma obra literária, por exemplo, como afirma Wolfgang Iser, o leitor está na sua estrutura formal. Tal premissa pode ser pensada para mídias como o cinema e a televisão, não obstante suas diferenças e particularidades, pois todas têm como foco o consumidor final, ou seja, o leitor ou o espectador. A TV possui uma vantagem, assim como a internet, pela possibilidade do imediatismo. Todavia, em uma transmissão ao vivo se torna mais complexo pensar esse espectador, como no caso das cenas da queda das Torres Gêmeas, já que com horários não programados, no qual a faixa-etária não pode ser estabelecida, de certa forma se transmiti para a nação e o mundo sem um controle mínimo de quem irá receber. Nesse ponto, a emissora deve de antemão estabelecer parâmetros sobre como tratar o evento, que tipo de abordagem será adotada, já que a transmissão de

99 Tais exposições foram produzidas quando o autor debateu sobre a participação de intelectuais na TV

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um acontecimento, mesmo ao vivo, está carregada de interpretação e, eventualmente, de um posicionamento político.

Os ataques de 11 de Setembro se tornaram marco no momento de sua transmissão ao vivo, somado ao drama público que se tornou a cobertura televisiva sobre o evento e das ações antiterroristas nos meses/anos seguintes. Se tornaram um marco periodizador e, nesse dia, alocou-se uma significação para os estadunidenses: o território foi atacado. Inicialmente não houve considerações acerca do processo histórico, apenas na definição de quem os cometeu, dos “novos” inimigos.

Muitas das explicações sobre os atentados optaram por uma explicação factual, a priori não o “porquê”, mas “quem?”, o “autor”. Essa forma de explanação se aproxima da feita por Jörn Rüsen em Reconstrução do Passado, no qual discuti o “Esquema de explicação intencional” de A. Donagan, dando o exemplo do assassinato de César por Brutus.101 Evidentemente que o Rüsen se atem aos aspectos referentes a teoria e o trabalho

do historiador, mas tal exposição se aproxima ao tratamento da mídia e de muitas reconstruções do passado acerca do 11 de Setembro, pensando-o enquanto marco para as interpretações e orientações que seguiram a apreciação dessa experiência temporal.

A explicação midiática e governamental construída ilustrou a Al-Qaeda, com Osama Bin Laden, no seu objetivo de destruir a democracia e a liberdade ocidental, em uma situação em que os EUA eram o inimigo que representava tais valores. Para resolver a situação, deveriam ser atacados, disseminando o terror. Evidentemente trata-se de um compêndio muito simples: existe um motivo e uma ação, um inimigo a ser reconhecido. Afinal, é muito mais fácil relacionar um acontecimento histórico a um sujeito ou grupo

101 “Tomemos o assassinato de César por Brutus para dar um exemplo da aplicação desse esquema. Por

que Brutus assassinou César (explanandum)? A resposta é (explanans): 1) Brutus queria salvar a República. 2) Brutus estava convencido de que a República estava sendo ameaçada de morte por César e que ele o poderia matar. 3) Brutus estava convencido de que a República só poderia ser salva se ele liquidasse César. Com essas três asserções fica clara a razão de Brutus ter assassinado César. [...] Nesse esquema de explicação, o fato a ser esclarecido não é posto em um contexto objetivo e regrado de outros fatos (condições antecedentes) – tal como acontece no esquema da explicação nomológica –, mas sim em correlação de sentido com intenções. Salta à vista que tais explicações só podem funcionar em relação a ações, e mesmo assim só quando não se vê nas ações meros fatos no sentido de ocorrências empiricamente observáveis (portanto, mais do que apenas comportamento), mas acontecimentos cujo significa determinado por intenções (conscientes ou inconscientes) daqueles que as executam. As ações são vistas, por assim dizer, “de dentro para fora”, da perspectiva da intencionalidade da vida humana concreta. Explicá-las significa reconstruir as razões motivadores. Elas são explicadas mediante a ‘compreensão’, por recurso ao conhecimento das intenções que levaram à ação. Esse conhecimento não está construído nomologicamente”. RÜSEN, Jörn. Reconstrução do passado – Teoria da história II: os princípios da pesquisa histórica. Tradução de Asta-Rose Alcaide. Brasília: Ed. UnB, 2010b, p. 36- 37.

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específico, tendo em conta ainda as diversas menções como o “maior atentando da história”, “nunca vista na história”. Nesse ponto, Rüsen destaca que o significativo “[...] ‘histórico’, em termos de ações do passado, é o que não se pode explicar intencionalmente, ou seja, uma conjunção de acontecimentos que não são compreensíveis como resultado de uma intenção que buscasse justamente o que aconteceu”.102

Segundo Rüsen, não se pode compreender os acontecimentos históricos como resultados apenas de intenções humanas, pois “[...] a maior parte das mudanças temporais que os homens provocam, em si próprios e em seu mundo, não correspondem às intenções que pudessem ter orientado as ações. Em geral, tudo acaba por ser diferente do que se tinha planejado a princípio”.103 O que não está presente nessa explicação intencional é

justamente a experiência temporal que se torna fundamental para a constituição da identidade do pensamento histórico. Conceber o processo histórico como a sucessão cronológica de intenções e ações elimina a experiência do tempo e se esvai a produção de sentido da narrativa histórica.104

Deve-se considerar dentro dessa experiência temporal o espaço de

experiência105 estadunidense, bem como com o horizonte de expectativa106 que se

formou. Por um lado, temos a grosso modo toda a experiência histórica dos EUA, desde fins dos anos de 1970 interferindo progressivamente no Oriente Médio, no contexto da Guerra Fria. Por outro, os vislumbres estéticos que os filmes hollywoodianos proporcionavam ao espectador, com cenas/sequências de ataques e explosões das mais inimagináveis possíveis eram “vivenciadas” na tela do cinema. O efeito das imagens dos atentados transmitidas pela TV era parte do tempo histórico, no qual poucos poderiam ter um horizonte de expectativa107 que não fosse permeado pela ideia de uma inevitável

guerra, propagada pelo discurso oficial no mesmo dia dos ataques em uma espécie de retorica de vingança em vistas as intenções e ações terroristas.

102 RÜSEN, Jörn. Reconstrução do passado – Teoria da história II: os princípios da pesquisa histórica.

Tradução de Asta-Rose Alcaide. Brasília: Ed. UnB, 2010b, p. 41.

103 Ibid. 104 Ibid.

105 KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de

Janeiro: Contraponto, Editora Puc-RJ, 2006.

106 Ibid. 107 Ibid.

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Nesse universo, muito além de pensar apenas no direcionamento político dos conglomerados televisivos, com suas coberturas 24h por dia, ressalta-se que o que sustenta a TV não são apenas algumas tomadas de cenas impressionantes/chocantes, mas o que se seguirá, ou seja, a exploração intensa para seus espectadores. Tendo em conta que a televisão existe por conta de patrocínios, propagandas e necessita de audiência. Nesse sentido, para a TV, os ataques terroristas serviram como um combustível que tinha por base o drama, numa espécie de epopeia televisiva aos moldes hollywoodianos. O meio mais apropriado para encontrar a narrativa adequada a esse momento histórico, que atraísse o espectador, era evidenciar o ethos estadunidense, unir a nação em torno de um bem maior, pois o que estava em jogo não era apenas as perdas físicas, mas a própria democracia e a liberdade na nacional.

Desde os primeiros minutos das exibições dos atentados, houve uma incansável cobertura televisa, que foi prolongada e enquadrada até se tornar um “drama público”. Segundo o sociólogo estadunidense Brian A. Monahan, os telejornais transformam determinados casos criminais, dentre outros eventos que fogem à norma, em dramas televisivos, utilizando elementos narrativos do cinema ou mesmo de outras produções televisivas, como seriados, etc.108 Monahan apresenta inúmeros “dramas públicos”, mas

selecionou como foco de sua análise a cobertura televisiva do 11 de Setembro, que, em sua opinião, foi o evento que recebeu maior cobertura televisiva na era da mídia e sobre o qual praticamente todos os cidadãos do país tomaram conhecimento a partir da visão construída pela TV. Posteriormente, a incidência do drama estadunidense foi utilizado politicamente pelo governo.109

A transmissão televisiva dos atentados suprimiu o anseio do público por uma representação cinematográfica, em grande parte pela particularidade de como tais ataques foram planejados, locais e horários pré-estabelecidos, cenário e roteiro prontos para a gravação e transmissão. Não obstante, a forma como a mídia em geral os tratou, especificamente os telejornais, desenhou personagens (terroristas) e criou heróis (bombeiros), estabelecendo uma sequência cronológica, ou seja, levou ao espectador todos os elementos essenciais de uma trama baseada em “fatos reais”, uma espécie de deleite cinematográfico.

108 MONAHAN, Brian A. The Shock of the News: coverage and making 9/11. New York & London: New

York University Press, 2010.

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Não havia necessidade de uma nítida posição política da TV, há muito havia representações do árabe como ameaça. Portanto, a televisão utilizou-se da simples prerrogativa da objetividade, da pretensa apresentação do “real” aos espectadores, conforme entrava em consenso com o discurso oficial, a tragédia nacional. Como se tratou de um evento “delicado”, o cinema por muitos anos ficou subjugado ao tratamento que foi dado pela TV na construção do 11 de Setembro, principalmente na exibição das imagens do choque do voo 175 e da queda das Torres Gêmeas. Havia, portanto, um efeito da dramatização dos ataques que percorreu o governo de George W. Bush – e ecoou no mandato de Barack Obama. Sobretudo, para além e em conjunto com o aspecto político, o cinema hollywoodiano, durante o primeiro mandato de Bush, ficou limitado em suas abordagens sobre os referidos eventos. A ideia construída pelos acontecimentos do dia 11 de setembro foi imediatamente transposta para o cinema em consonância com os objetivos políticos da Casa Branca, num esforço de guerra, como será tratado no segundo capítulo.

A exploração feita pelas inúmeras redes de TV foi semelhante, já que não poderiam ficar atrás de suas concorrentes. Em outros termos, a transmissão era obrigatória. Tal como destacou Pierre Bourdieu sobre a homogeneidade dos produtos jornalísticos, como nos telejornais, pode-se dizer que o 11 de Setembro também seguiu esse movimento e as imagens se tornaram o sujeito e a fonte das reportagens. O movimento nos meses seguintes abordou largamente o terrorismo fundamentalista islâmico, em grande parte reflexo da concorrência, o que também se observou entre os jornais online e impressos versus a TV.

A abordagem televisiva, principalmente nos EUA, utilizou-se da cultura

histórica110 e da política do período. É necessário destacar que, o final da década de 1990

foi marcado por um período de instabilidade sociocultural no país, resultado das

110 Acerca do termo Cultura histórica utilizar-se-á a concepção de Jörn Rüsen: “La ‘cultura histórica’

contempla las diferentes estrategias de la investigación científico-académica, de la creación artística, de la lucha política por el poder, de la educación escolar y extraescolar, del ocio y de otros procedimientos de memoria histórica pública, como concreciones y expresiones de una única potencia mental. De este modo, la 'cultura histórica' sintetiza la universidad, el museo, la escuela, la administración, los medios, y otras instituciones culturales como conjunto de lugares de la memoria colectiva, e integra las funciones de la enseñanza, del entretenimiento, de la legitimación, de la crítica, de la distracción, de la ilustración y de otras maneras de memorar, en la unidad global de la memoria histórica”. RÜSEN, Jörn. Que es la cultura histórica?: Reflexiones sobre una nueva manera de abordar la historia. Tradução F. Sánchez Costa e Ib Schumacher. In: FÜSSMANN, K.; GRÜTTER, H.T.; RÜSEN, J. (Ed.). Historiche

Faszination, GeschichtsKultur Heute. Keulen, Weimar and Wenen: Böhlau, 1994, p. 3-26.

Disponível em: <http://www.culturahistorica.es/ruesen/cultura_historica.pdf>. Acesso em: 04 maio 2016.

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mudanças históricas e historiográficas dos anos 1970/80. Sendo a unidade da nação questionada desde meados de 1980, já não havia uma narrativa uníssono para os EUA e a Guerra do Golfo ainda era um assunto não finalizado, o que também foi intensamente explorada pela mídia nos anos de 1990.

Em um plano de referência histórico, cabe ressaltar que houve uma tendência conservadora que tomou de assalto setores diversos nos EUA, principalmente no alinhamento das redes de TV com o programa político oficial. Um ótimo exemplo foi a Guerra do Golfo, pois grande parte da imprensa limitou as críticas ao governo, apesar da intensa cobertura da intervenção militar.111 O espetáculo televisionado e a exploração do

esforço de guerra foi analisado por Marilyn B. Young, que expôs:

A televisão teve um papel menor na Guerra da Coréia e foi culpada por perder a Guerra do Vietnã. As coisas ficaram melhores no Golfo. A guerra de alta tecnologia, a guerra como um videogame, foi bem. Toda a população tinha a experiência de estar na ponta do nariz de um míssil quando desceu para o seu alvo e todos, exceto os que estavam no chão, foram poupados do que aconteceu a seguir. Durante mais de um mês de bombardeio e uma semana de luta no chão, nenhuma estimativa de perdas iraquianas foi oferecida, nem a imprensa os exigiu. O resultado foi uma guerra televisiva relativamente inocente de cadáveres: uma guerra que, exceto o bombardeio de um abrigo de ataques aéreos de Bagdá e os repetidos tiros de cormorões desesperados, não estragaria o jantar. No final da guerra, tornou-se possível levar o inimigo como não pessoas, mas máquinas; os tanques fugiram por conta própria, de modo que seus cascos carbonizados não continham restos humanos. Havia, portanto, uma aparente e visual pureza para a vitória dos EUA que máscara com sucesso sua selvageria. Parece difícil imaginar que o maior serviço que os meios de comunicação poderiam oferecer seria um estado de guerra.112

Frente a esses elementos, torna-se interessante a exposição de Noam Chomsky: “Quando se tem a mídia e o sistema educacional sob controle absoluto e a universidade