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D. QUALIDADE E RELEVÂNCIA.

26. De uma educação em que a extensão é uma atividade

complementar, a uma em que o vínculo sistemático, dinâmico e sinérgico com o meio-ambiente e com a comunidade, numa perspectiva económica, social, am- biental e cultural, é central no processo de formação e desenvolvimento de capacidades e valores.

3.6. A necessidade de um Terceiro Contrato Social

de Educação.

Ao longo da história, diferentes comunidades humanas che- garam a grandes acordos sociais para que seus cidadãos pu- dessem viver juntos e progredir. Cada grande contrato social, por sua vez, forjou um acordo educacional de referência. Se nos referirmos ao que aconteceu desde o século XIX, é onde começa a ser forjado o Primeiro Contrato Social de Educação, por meio do qual e tacitamente foi acordada a educação básica, universal, obrigatória e gratuita para todos os meninos e meninas. um acordo que os países adotaram de forma gradual e desigual. Em grande medida, o acordo foi baseado nas necessidades crescentes da Revolução In- dustrial de produzir disciplina de trabalho e trabalhadores obedientes que executavam tarefas repetitivas na fábrica, no campo ou na administração.

Na frase de Henry Ford (“o ruim cada vez que peço que dois braços funcionem, é que eles estão acompanhados de um cérebro”), fica claro que o sistema de produção não exigia gente crítica, autônoma e criativa; bastava que fossem obe- dientes e dotados de conhecimentos básicos de cálculo, lin- guagem, comunicação e conhecimento de seu entorno.

O Primeiro Contrato Social de Educação baseou-se na aqui- sição de competências básicas para o funcionamento pes- soal e profissional. A promessa em que se fundamentou pode ser resumida nesta afirmação: “aprenda o básico para se dar bem na vida, desenvolva a disciplina e a obediência, aprenda um ofício e terá um trabalho decente para ganhar a vida ...”. Por volta da segunda metade do século XX e de forma assi- métrica entre países e regiões, com o desenvolvimento da economia industrial e a necessidade de mão-de-obra espe- cializada em negócios e administração, abriu-se a porta para um Segundo Contrato Social de Educação pelo qual o acesso das classes populares ao ensino técnico e superior foi faci- litado.

O Segundo Contrato assentou-se na aquisição de compe- tências técnicas e profissionais, fomentando o crescimento de universidades e centros de estudos técnicos e superiores em todo o mundo. A promessa na qual se sustentava era: “es- tude muito, esforce-se, tire boas notas, escolha uma carreira e você vai ter um bom emprego para o resto da vida ...”. As pessoas que vieram ao mundo no final do século 20 e início do 21 nasceram em uma realidade diferente, onde as circunstâncias tecnológicas, econômicas e trabalhistas se transformaram radicalmente mas não se renovou o contrato social, gerando grandes disfunções e uma anomalia históri- ca.

Milhões de famílias e estudantes em todo o mundo que acei- taram o Segundo Contrato vivem em profunda frustração diante de condições que não podem ser atendidas, como acesso a um emprego compatível com o nível de estudos ou um emprego vitalício.

Apesar de termos assistido a uma autêntica revolução na ciência, na tecnologia, na sociedade, na economia ou no mundo do trabalho, o Segundo Contrato não foi renovado e estamos empenhados em concretizar um Terceiro Contrato Social de Educação. Este é o desafio que KAIRÓS assume, para que se crie uma nova educação que responda às ne- cessidades sociais, econômicas e trabalhistas do século XXI, contando com a união de atores educacionais de todos os países e continentes.

Com o Terceiro Contrato Social de Educação, além de incor- porar o desenvolvimento das capacidades básicas do primei- ro e a aquisição das capacidades técnicas e profissionais do segundo, os valores e o desenvolvimento das capacidades do século XXI que se explicitam no Contrato são promovidos. Os alunos devem desenvolver criatividade, inteligência emo- cional, inovação, competências de preservação do meio-am- biente, ação transformadora e liderança, além de todas as competências-chave para o século 21: competências genéri- cas ou softskills, compromisso com a busca do bem comum e da verdade, convivência e geração de dinâmicas de solida- riedade e convivência da comunidade para a busca da paz como modelo de convivência, bem como o domínio das no- vas tecnologias, que serão a base do seu desempenho pes- soal e profissional.

O Terceiro Contrato Social de Educação é uma visão global do desenvolvimento corporificado em um documento vivo, inacabado e aberto que se adapta às realidades educacio- nais de um mundo que está inexoravelmente mudando de uma forma contínua. Isso permite a incorporação de novas visões, estratégias e ações à medida que surgem novas ne- cessidades nas diferentes esferas socioterritoriais, do global ao local.

Como KAIRÓS, promovemos um movimento global pela transformação da educação, trabalhando lado a lado com organizações e instituições internacionais, regionais, nacio- nais, provinciais e locais, sem entrar em competição, mas complementando e articulando os esforços das pessoas que as compõem, comprometidas, por meio da educação, com a construção de sociedades mais justas, equitativas, solidárias e sustentáveis, nas quais ninguém fica para trás.

A construção do Terceiro Contrato Social de Educação é uma tarefa coletiva de atores educacionais, econômicos e sociais de todo o mundo. Está em um processo que visa promover uma educação para o exercício pleno das faculdades distin- tivas da espécie humana: pensar, imaginar, antecipar, inovar, criar com a capacidade de ser o arquiteto da própria vida, aproveitando o seu talento e potencialidades e procurando, de forma permanente, ultrapassar seus limites e fragilidades para o seu bem viver, o de sua família e o de sua comunidade. O desafio educacional do século XXI em torno do Tercei- ro Contrato Social de Educação é mais árduo e complexo do que os anteriores, pois implica enfrentar um mundo em constante mudança, dominado pela incerteza, bem como o combate às desigualdades. Isso requer formação ao longo da vida (nômades do conhecimento) e, além de adquirir com- petências básicas e profissionais, as pessoas também devem incorporar competências genéricas ou transversais.

O Terceiro Contrato Social de Educação deve levar em con- sideração as desigualdades históricas entre grupos, povos, comunidades, países e regiões para, por meio de ações afir- mativas, com atenção especial às minorias e setores margi- nalizados, promover um desenvolvimento mais justo e equi- tativo, e que respeite a diversidade cultural.

A partir das abordagens anteriores e como etapa preliminar à formulação de uma proposta para o Terceiro Contrato So- cial de Educação, passamos a lançar as bases que irão cons- tituí-lo, cuja abordagem foi realizada no “Congresso Mundial de Educação para o Terceiro Contrato Social de Educação” promovido por KAIRÓS e realizado em novembro de 2020.

3.7. Objetivos fundamentais do Terceiro Contrato

Social de Educação.

Os objetivos fundamentais que sustentam o Terceiro Con- trato Social de Educação são mencionados a seguir:

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